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Crónica
Desportiva
Hélio Fernandes
Voluntariamente, ou talvez
não, temos vindo progressivamente a afastar-nos do futebol, provavelmente
por saturação de uma ambiência que de todo em
todo já não corresponde aos pressupostos que fizeram com
que desde os tempos da infância nos tivéssemos apaixonado
pelo considerado desporto rei. De facto já não vibramos como
noutros tempos, a satisfação pelas vitórias ou a tristeza
pelas derrotas já não acusam um tão elevado desnível
no estado emocional, e já nos confunde se é a devoção
ou a obrigação que nos leva até ao Municipal 25 de
Abril nos dias de jogo, sendo que a segunda hipótese várias
vezes se revela como mais provável, por força do compromisso
que há mais de um quarto de século nos liga a órgãos
da informação escrita.
Evidentemente que quando se fala de futebol se está
a fazer uma referência global, em todas as vertentes, e então
aí vamos encontrar as possíveis razões porque muitos,
como nós, se vão desencantando com esse mundo tão
peculiar, não obstante continuar a alimentar muitas mais paixões,
a dar origem às mais desencontradas polémicas, a ser tema
para encher diariamente toneladas de papel de jornal. Enquanto espectáculo,
dentro das 4 linhas, ainda se pode considerar o mal menor, apesar de invariavelmente
se assistir a jogos de fraco nível, pouco emotivos, onde o chamado
amor à camisola há muito que deu lugar ao amor ao cifrão.
Isto, obviamente, em termos de profissionais, porquanto ao nível
da formação as coisas são naturalmente diferentes,
basta atentar no que se passa com o Penafiel, onde centenas de jovens se
entregam de corpo e alma à prática do seu desporto favorito
e veja-se com que excelentes resultados. Ainda dentro do espaço
de jogo temos as arbitragens, também invariavelmente com actuações
muito discutíveis, ficando sempre a incógnita se apenas por
incompetência. Ora o mundo futebolístico nacional torna-se
também e fundamentalmente menos atractivo quando se observa o que
se passa à margem do jogo, os bastidores, onde se manipulam todos
os interesses, quantos inconfessáveis, que toldam a verdade desportiva,
e daí o descrédito, e o contribuir para que cada vez se veja
menos público nos estádios.
Para além de tudo isso, a nossa menor ligação
ao futebol terá também como causa próxima o basquetebol,
com o surgimento do Clube de Basquetebol de Penafiel de que somos, orgulhosamente,
um dos fundadores. É um projecto altamente aliciante, que tem sido
por demais absorvente, mas felizmente com todos os indicadores para
o sucesso. Um pouco em relação ao que do futebol foi dito,
e num arremedo de paralelismo, deve dizer-se que no basquetebol as coisas
são um pouco melhores, ainda que nem tudo é inocente, e também
aqui algumas notas críticas se podem assacar ao sistema. Como o
C.B. Penafiel apenas comporta os escalões de formação,
não tem sido agradável constatar que a esse nível
seja possível, por exemplo, haver arbitragens tão incompetentes,
para não dizer tendenciosas, a desvirtuar a verdade do jogo, e por
consequência alguma frustração nos jovens atletas.
Basta referir o que se passou com a equipa de Cadetes, a de maior poder
competitivo, altamente prejudicada em vários jogos, o bastante para
não se qualificar entre os 3 primeiros lugares, com direito a disputar
a prova inter-associações, deixando antever que esses lugares
já tinham ocupantes cativos. Se atentarmos que isso se passa com
jovens de 13/15 anos, não deixa de ser preocupante que a esse nível
já se " trabalhe " nos bastidores para que uns saiam beneficiados
em detrimento de outros. Há também alguma permissividade
no sistema, quando se observa que é possível utilizar impunemente
um atleta de escalão superior em jogo de escalão inferior,
já que não existe efectiva fiscalização para
o evitar. Poderão ser situações menores comparativamente
ao que se passa no futebol, apenas confirmam que muito ainda se terá
de fazer para uma verdadeira forma de saber ser e estar no desporto.
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