JORGE ELVIS

A História de Little Richard

O homem que inventou o

a-Wop-Pop-A-Loo-Bop-Lop-Bam -Boom

Rock'n'roll quer dizer balanço, tumulto, barulho, confusão, excesso de energia. E, se já houve um cantor que encarnasse tudo isso, foi certamente Little Richard. Tinha tanto balanço e explosão que fazia Elvis parecer uma tartaruga e uma voz tão veloz quanto um carro de Fórmula l - qualidades capazes de tornar impossível qualquer tentativa de imitação.

Dias de glória

Hoje em dia, Richard é uma pálida imitação de si mesmo. Vestido e cantando como um legítimo representante do gay power, apoiado por uma banda que é uma versão acinzentada daquela que tinha nos dias de glória, ele já não é o mesmo. Que diferença dos dias em que Tutti Frutti. e Long Tall Sally faziam todo mundo pular!

Estas músicas estouraram em 1955 e 1956, respectivamente. Quando Richard abria a boca ou martelava as teclas do piano, não havia Bill Haley ou Pat Boone que pudesse competir na venda de discos. Durante o tempo todo, ele gritava, roncava, guinchava - e, algumas vezes, também cantava. Tarzan não estava com nada, diante de Little Richard. Seu massacre vocal só permitia que se compreendesse as letras a muito custo e, na verdade, a princípio, elas pareciam pura onomatopéia! Mas a wop-bop-a-woo-bop-lop-bam-boom significa alguma coisa, para quem quisesse entender. Era uma linguagem particular que não dizia nada para os quadrados.

Mas, para os que compraram seus discos, Little Richard não desapontava. Sua aparência era tão louca quanto sua maneira de cantar: pés espalhados, joelhos curvados e juntos, o tronco inclinado para trás, os braços numa posição que pareciam prontos para atacar o teclado do piano. De qualquer maneira que estivesse, era difícil descrever corretamente a jeito dos braços e das pernas de Richard, porque o tipo de roupa que usava estava realmente fora do gibi.

O paletó caía até os joelhos e as calças pareciam gigantescas bandeiras de gabardine. Seu corte de cabelo, à Pompadour, tornava sua cabeça maior e suas expressões faciais davam força às interpretações. Seu rosto alternava entre o terror e a serenidade, enquanto os olhos reviravam o tempo todo, como bolas de gude. Como toque final, cultivava um bigodinho tão fino que parecia ter sido traçado a nanquim. Era difícil acreditar que ele fosse real. Mas no filme Dont Knock the Rock, ele estava lá, para quem quisesse ver.

Suas apresentações ao vivo faziam todo mundo dançar, ao som de sucessos como Rip ít up, Lucille, Good Golly Miss Molly e outros. No palco, ele não sentava para tocar piano: ficava de pé, sacudindo o corpo, de frente para a platéia. De repente, sem perder um acorde, levantava a perna, colocando-a sobre o instrumento, e enquanto o público rompia em aplausos e gritos.

Urro Colossal

Hoje, seus shows são um pouco diferentes. Richard ainda canta e toca, mas dá muita importância ao número de stríp-tease em que joga sua camisa, colares e meias para o público. Depois, ele pula para a platéia, cantando e ouriçando todo mundo, enquanto a banda continua a tocar lá no palco. Outras vezes, cai exausto no chão e é logo socorrido por seus guarda-costas que o cobrem com toalhas e o abanam de todo jeito. Os músicos param de tocar e procuram ajudar. Os garotos olham, assustados: por que não tiram o cara dali, de uma vez? De repente, a vítima desperta do colapso, revira os olhos e geme: ooooo mah sooooooull Num instante, o danado está de pé outra vez, cantando, e a platéia solta um urro colossal de alegria.

É demais - mesmo para Little Richard. Ele termina o espetáculo tão rapidamente quanto pode e volta, minutos depois, vestindo um robe branco, como se fosse um grande boxeador, e ergue o braço. Richard é o maior!

As coisas nem sempre foram assim. Little Richard tinha 20 anos quando Tutti Frutti vendeu um milhão de cópias. Até então, tinha cantado em igrejas e, aos quinze anos, já era um intérprete dos blues. Durante o declínio do rocknroll, Richard voltou para a igreja, dedicando-se integralmente à música religiosa. Ele, que já servira a Deus, voltou a fazê-lo, para cumprir uma promessa. Um dia, porém, voltou ao rock'n'roll. As novas canções não eram tão boas quanto as antigas, mas ninguém se importava. Todo mundo queria voltar aos velhos tempos e ouvir Tutti Frutti, Long Tall Sally, ou Keep a Knockin'.

É o Maior

O que estava acontecendo, na verdade, era um renascimento do interesse pelo rocknroll clássico, do qual Richard tinha sido uma das maiores figuras. Esse renascimento começou a se verificar por volta de 1970, quando as condições do mercado se mostraram maduras para isso. Ao que parece, a garotada tinha tido tantas novidades, desde a explosão dos Beatles em 1963, que parecia ter chegado a hora de voltar ao passado. Até coisas novas podem, em excesso, provocar tédio e enjôo. Numa circunstância dessas, a tradição, o redundante, o conhecido é que podem aparecer como a verdadeira novidade, a mais excitante.

De fato, um garoto de dezessete anos que curtia o Cream, por exemplo, em 1968, desconhecia inteiramente as origens de sua música favorita. O lance não podia dar errado. Era só pegar Bill Haley, Jerry Lee Lewis, Fats Domino, Bo Diddley ou Little Richard, colocá-los diante de uma platéia de cabeludos, cantando suas velhas canções - e ver o que acontecia. Foi assim que todos esses antigos rockers voltaram à atividade, um pouco diferentes do que eram, é verdade. Bill Halley, que já não era criança nos anos cinqüenta, parecia ainda mais velho e cansado. Jerry Lee Lewis, mais sossegado do que nos velhos tempos, não escondia sua preferência pela vida no campo.

Essa volta mostrou, não mais um monstro do rock'n'roll, mas uma estrela do show business, preocupado com os efeitos de sua túnica. Os fãs, sem dúvida, preferem o passado. Mas ele insiste, aos gritos: "Little Richard ainda é o maior!"

fonte: Revista Rock Espetacular nº 1, 1976/77, Rio Gráfica e Editora AS

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