Orientação Sexual

Abrir a cabeça dos jovens, acabar com as desigualdades sociais, enterrar a hipocrisia. Será que o orientador sexual pode compreender e atingir todas pessoas para consertar o mundo?



Ao exercer sua função, o orientador é o porta-voz de uma ideologia, entendida, segundo a professora de história e filosofia política da USP Marilena Chauí, como "um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem fazer e como devem fazer".

O próprio termo orientador sexual já embute a idéia de que ele sabe o que é certo o que é errado. O orientador sexual é escolhido para esse trabalho por ter um quadro de valores éticos, morais e religiosos coerente com a visão dominante na sociedade. Há 40 anos atrás, por exemplo, a orientação sexual era muito simples: não pode! Tudo era pecado. Esta era a crença reinante naquele momento.

Até mesmo nas informações aparentemente mais imparciais e objetivas, a ideologia está presente. Por exemplo, ao esclarecer sobre um método contraceptivo, ele parte da crença de que a outra pessoa não deve conceber. Portanto, a ideologia sustenta todo trabalho de orientação sexual.

Assim, o orientador não deve se iludir: o que ele expressa e acredita ser correto, embora aceito pela maioria da sociedade, não representa valores universais. No máximo são os valores do segmento social ao qual ele pertence.

Não é por acaso que os orientadores vindos das classes média e alta têm dificuldades para realizar seu trabalho em favelas, saindo-se muito melhor em colégios com valores semelhantes aos seus, onde a população reage pouco contra a ideologia dominante.

Será que alguém já se perguntou, por acaso, por que lutamos tanto contra a Aids? Por ser uma doença para a qual não existe cura ainda, responderiam alguns. Cuidar de quem tem Aids e combater a doença são valores dominantes no nosso meio. Atualmente no Brasil, uma pessoa soropositiva recebe, por parte do governo e principalmente das ONGs, muito mais atenção, medicação e cuidados do que, por exemplo, um menino de rua que passa o dia fumando crack ou um doente mental que perambula embaixo dos viadutos.

Isso não quer dizer que devemos parar de lutar contra a Aids. De modo algum! Mas precisamos sempre questionar o que estamos fazendo, refletir sobre a nossa ação, ter os olhos abertos e uma postura crítica perante a realidade.

Será que um garoto que cheira cola na rua, embaixo da ponte, não está tendo uma resposta absolutamente adequada? É o modo que encontrou de lidar com a miséria. Cheirar cola disfarça a fome, faz dormir... e assim ele não sente a condição subumana em que (sobre)vive.

Precisamos parar e discutir essas questões. O trabalho de prevenção às drogas para um garoto de rua é completamente diferente do trabalho realizado em escolas particulares. O que determina essa diferença são as condições social, econômica e ideológica. Temos que nos ater ao contexto dos orientados. É impossível abarcar todas as diferenças, porque a realidade é muito diversa.


Mas o objetivo do trabalho pode ser amplo: a educação sentimental. Esse conceito que já existia desde a antigüidade, antes mesmo de Sócrates, na Grécia, foi encarado como absurdo nos anos 60: como é possível educar os sentimentos?


A finalidade não é fazer as pessoas pensarem ou sentirem igual, para que fique tudo padronizado. A idéia é educar os adolescentes para não se machucarem, nem machucarem outro. Isto, sim, é fundamental!


Fonte: Manual do Instituto Kaplan


INSTITUTO KAPLAN - TEXTO DO MÊS

Hosted by www.Geocities.ws

1