PLANEJAMENTO DO PROCESSO ENSINO --- APRENDIZAGEM

Prof J. O. Nascimento

 
Falar em planejamento escolar é falar, antes de tudo, em participação. Ninguém pode planejar sozinho: deve haver uma troca necessária de idéias e experiências entre os que se atualizam e buscam novas experiências de ensino. Estamos falando de planejamento crítico participativo, onde todos os elementos envolvidos no processo ensino --- aprendizagem, cada qual com seus registros de observação, decidem sobre as mudanças que devem ser efetivadas para a implementação da qualidade de ensino.

É costume, na maioria das escolas, dividirem os professores em grupos, pelo critério de disciplina, para que planejem para o ano letivo subseqüente. Na ocasião, desarquiva-se o planejamento do ano letivo vigente e, com base nele, fazem-se algumas alterações superficiais de natureza conteudística, passa-se tudo a limpo, e está pronto o "novo" planejamento. Às vezes, apenas se extrai uma cópia xerográfica do documento antigo, após alteração da data. Essas reuniões duram cerca de quinze minutos. Reconhece-se que os professores não podem ser responsabilizados por essa situação. Não poderiam agir de outra maneira, por falta de instrumentação pedagógica e de informações sobre os dispositivos legais que regem o assunto. E sem discussão prévia do projeto pedagógico da Escola, sem a intervenção da equipe técnico-pedagógica, essas reuniões tornam-se inúteis.

Algumas observações cabem aqui, a respeito dessa prática antipedagógica e contraproducente. O planejamento moderno deve ser crítico-participativo e não tecnocrático. Não deve apenas cumprir um papel burocrático. A própria LDB dá às escolas autonomia suficiente para organizarem os respectivos currículos, respeitada a base comum, e discutirem seus projetos político-pedagógicos.

O planejamento por conteúdo, que vem sendo praticado nas escolas, deixou de existir há quase trinta anos, quando cedeu lugar ao planejamento por objetivos. A nova LDB reitera essa posição pedagógica. E mais: o planejamento hoje deve ser de natureza político-social. Deve-se planejar ações que venham a dotar o aluno das condições para se inserir no mercado de trabalho; de autonomia intelectual, para prosseguir seus estudos; de capacidade de reflexão, para exercer conscientemente seu papel de cidadão crítico. É isso que o alunado precisa e é isso que a lei prescreve.

Se o planejamento é por objetivo, a primeira fase da reunião pedagógica de fim de ano seria para discutir os objetivos gerais da educação, e envolveria todas os professores, independentemente da disciplina que lecionem. O planejamento é interdisciplinar no que tange às ações pedagógicas. Na Segunda fase, em que os que lecionam a mesma disciplina se reúnem, deve-se levar em conta somente os conteúdos que atendem aos quesitos de uma educação de qualidade: experiência prévia, competências, capacidades, atitudes, procedimentos, valores, reflexão crítica. Isso quer dizer que os conteúdos devem sofrer uma ressignificação.

O planejamento anual não pode ser apenas um momento isolado no calendário escolar. Deve ser o corolário de decisões coletivas, tomadas ao longo do ano letivo, nos conselhos de classe e nas reuniões pedagógicas, quando esses eventos devem evitar o marasmo da ultrapassada pedagogia liberal tradicional. Caso esses conselhos de classe e reuniões não abordem de frente, de uma maneira crítica e responsável, os problemas de natureza pedagógica, certamente o planejamento anual será um arremedo de planejamento.

Num sistema escolar onde não tenha havido esforço significativo no sentido de mudar, de progredir, onde não tenha havido ações essencialmente educativas durante o ano, o planejamento anual fica seriamente comprometido, ou até mesmo inviabilizado. É que o planejamento, da forma que o concebe a própria LDB, deve ser resultado de ações educativas: observações, registros, reflexões, sínteses, avaliações, replanejamentos.

Se os conselhos e reuniões se realizam para discutir apenas provas e notas, e a única preocupação é registrar para aprovar ou reprovar, a escola não está cumprindo o seu papel. Está considerando como um fim aquilo que não passa de um meio. Nada restará ao professor, no fim do ano, a não ser discutir que conteúdos dar no próximo ano letivo. E isso não é planejamento.

Quando as reuniões são levadas a sério, não tratam de assuntos afetos à área administrativa, mas só abordam os da instância pedagógica, ganha a escola, ganha o professor e ganha o aluno. São momento de reflexão e discussão sobre a prática do professor e da equipe pedagógica. Nelas se discutem competências técnicas e teóricas, o que propiciará mudanças positivas no processo ensino --- aprendizagem.

Uma escola que valoriza o pedagógico, caminha para um planejamento crítico, visando à formação de cidadãos críticos, que é o papel do espaço escolar. Caso contrário, será uma escola onde nada acontece de importante para a Educação, o que compromete até mesmo a luta da classe em suas reivindicações.

Enquanto os docentes são os principais agentes, diretores e equipes técnico-pedagógicas são os articuladores das mudanças que se fazem necessárias na escola que pretende ser moderna. Ninguém pode cruzar os braços, sob pena de adentrar o Terceiro Milênio com a nítida e constrangedora impressão de estar andando para trás , quando o bom-senso e a responsabilidade de educador exige avanços. Não é o caso de abandonar práticas antigas e inoperantes, de repente; é preciso, porém, não incrementar tais práticas. Pensar em mudar, planejar mudanças, seria um bom começo.

Que o último planejamento deste milênio, pelo menos este, em todas as escolas públicas, seja um acertar de passos na caminhada para o Terceiro Milênio, já que muitas dessas escolas, mesmo após a entrada em vigor da nova LDB, em 1996, tende a pisar forte com o pé esquerdo e entrar com ele no Ano 2000.


 

* * *

Hosted by www.Geocities.ws

1