O PROFESSOR E A SÍNDROME DE BURNOUT
 
Reportagem de Marcos Patrício e Martha Neiva Moreira

Pelo menos metade dos professores da rede pública de ensino do Brasil está sofrendo distúrbios emocionais. A constatação é de um estudo realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pela Universidade de Brasília (UnB), que ouviu 52 mil profissionais de ensino de 1.440 escolas de primeiro e segundo graus em todos os estados brasileiros.

Um dado do estudo é extremamente preocupante: 48% dos profissionais de ensino __ incluem-se aí funcionários administrativos, merendeiras e vigias __ já apresentam um quadro ainda mais grave do que o do estresse, tão comum entre os trabalhadores do setor. Eles manifestam      sintomas da chamada Síndrome de Burnout, um distúrbio ainda pouco conhecido pelos rnédicos e que se caracteriza por angústia, depressão, fadiga, distúrbios gastrointestinais, insônia e alergias. 0 resultado é um número cada vez maior de professores demonstrando atitudes negativas frente a seus alunos e revelando um flagrante desinteresse pelo trabalho.

"0 estresse está associado à insatisfação do profissional dentro daquilo que ele faz. Quando a pessoa está em busca do reconhecimento e ele não vem, o quadro se manifesta", explica a terapeuta Anna Sharp, que vêm fazendo conferências sobre o assunto. Segundo ela, o estresse é uma reação orgânica que também está associada a um alto estado de ansiedade e ao excesso de trabalho.

Para a professora Mary Yale, que dá aula de Saúde do Trabalhador, na Universidade Federal da Paraíba, e está pesquisando o assunto para sua tese de doutorado no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a síndrome é mais comum do que se pensa. "0 número de afastamentos de professores é muito grande. A maior parte deles, em razão de transtornos mentais", argumenta. O grande motivo para o esgotamento profissional do professor é, na opinião de Mary, a falta de respeito ao trabalho.

"É uma profissão que não tem um reconhecimento social. As condições de trabalho são péssimas. Normalmente, não há material suficiente, as turmas são superlotadas, as relações com a direção são ruins, a remuneração é baixíssima e não há um projeto de capacitação permanente desses profissionais.

Além disso, muitos deles são muito bem qualificados e obrigados a assumir funções muito aquém de suas capacidades. Isso tudo acaba desestimulando o profissional", explica a professora.

Ela conta que, em sua pesquisa, encontrou vários casos de professores que estavam desenvolvendo a síndrome a tal ponto que não conseguiam mais ouvir a voz dos alunos. "0 que era uma relação extremamente prazerosa, acaba se tornando incompatível."

OS NÚMEROS DO ESTUDO
Professores que sofrem da Síndrome de Burnout
48%
Professores que têm mais qualificação que a necessária
24%
 

(Transcrito do Jornal de Educação - O Dia, de 26 Jan 99)

 

 
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