A PARÁBOLA DO CAVALO QUE SONHAVA

(Esta  parábola mostra que não é suficiente estar juntos para constituir uma equipe. É preciso que haja interação e um objetivo comum a perseguir.)

                                                               J. O. Nascimento


Havia, em um certo país, um fazendeiro que, como outros, criava cavalos para a lavoura. Possuía quatro animais, que eram criados livremente, com o mínimo de interferência do proprietário.

Os animais eram ligados uns aos outros através de cordas, ou seja, de um nó partiam as quatro cordas com a mesma extensão. Como o nó não estava preso a nenhum mourão, eles ficavam livres para pastar onde quisessem, sem se afastar muito uns dos outros.

Os cavalos trabalhavam em equipe. Atrelados à mesma carroça ou ao mesmo arado, formavam belas parelhas. No campo, costumavam pastar no mesmo local, alimentando-se das mesmas ervas, anos após anos.
 Próximo do local habitual de pasto havia um pequeno monte em cujo platô vicejava um capim muito verde, que parecia suculento, apetitoso.

Um dos cavalos ficava tão embevecido com a visão daquele monte, que deixava, às vezes, de juntar-se aos colegas para se alimentar (se podia chamar de alimento aquelas ervas mirradas e ressecadas).

Os colegas, com os quais tentara conversar a respeito do monte, não só recusavam a ouvi-lo, como também riam muito dele. Onde já se viu deixar de comer um capim bem à altura do focinho, para ficar sonhando com aquela vegetação em um local de acesso tão difícil ?

Um dia, não se sabe por quê (ação de alguma formiga carregadeira ou de algum pássaro atrás de insetos ?) uma folhinha de capim, lá no alto do monte, soltou-se e foi carregada pelo vento. Voou graciosamente, girou no ar, planou por alguns instantes e, depois, foi descendo, pousando bem em frente do cavalo sonhador. O animal pegou a ervinha e a saboreou com uma certa cerimônia. Maravilha ! Um maná dos céus !

Provada a iguaria, o cavalo sonhador juntou-se aos colegas, para comunicar-lhes a descoberta. Todos deviam, segundo ele, deixar aquele sitio semi-estéril e buscar um modo novo de alimentação. Os companheiros o chamaram de louco, visionário e burro. Ora veja ! Querer escalar um outeiro, quando havia comida tão perto ! E se o dono aceitasse aquela idéia maluca e os obrigasse a subir aquilo ?

O fazendeiro notou a insistência do cavalo sonhador em ficar olhando para o alto do monte e, às vezes, forçando a corda para tentar alcançá-lo. O homem ficou preocupado. Aquele animal estava prejudicando a equipe. Os outros andavam reclamando que estava se tornando difícil trabalhar com ele na mesma parelha. E, quando se reuniam para comer, o colega esticava tanto a corda que quase os impedia de alcançar as touceiras de capim. Que animal burro !

De nada adiantou castigar o cavalo teimoso. O fazendeiro resolveu então trocar sua corda por outra mais comprida, sem separá-lo, contudo, dos demais.

O cavalo sonhador sondou o novo espaço conquistado e aproximou-se, emocionado, do sopé do monte. Em pouco tempo encontrou um meio de escalá-lo e atingir o plâto verdejante. Lá desfrutou de um lauto banquete, enquanto os colegas o observavam de longe, sem entender a razão de todo aquele esforço.

As idas do cavalo “burro” ao monte começaram a irritar os demais. Queriam ignorar aquele utopista, mas os repetidos puxões de corda os incomodavam. Mas, havia sempre o risco de o dono deles obrigá-los um dia a subir lá também. Pois não é que o danado estava ficando mais forte, mais ágil do que eles ? E seu “papo” sobre a nova teoria de nutrição estava ficando cada vez mais chato.

O fazendeiro notou, com tristeza, que já não possuía, como antes, duas parelhas perfeitas, integradas, para o serviço do campo. O serviço não rendia. Chamou, pois, um amigo especialista no assunto, que avaliou atentamente a situação, observou a vegetação do monte,, recolheu amostras e examinou todos os cavalos. Tirou do bolso um bloco e tomou algumas notas.

Uma semana depois, o especialista voltou com seu parecer. Afinal, aquele cavalo teimoso tinha razão, por incrível que pudesse parecer. Brigar um cavalo a agir igual aos três companheiros parecia uma coisa lógica, mas seria, na verdade, uma coisa desastrosa para o bom andamento da fazenda. Os animais não deviam ser deixados ao léu, sem qualquer controle do dono, seguindo cada um a própria cabeça. Seria um caos. Para manter o grupo coeso, o fazendeiro deveria ter traçado um objetivo comum. Uma alimentação sadia seria um ótimo objetivo, pois todos ganhariam com isso: os animais, a lavoura, o próprio fazendeiro. Este deveria determinar o local de pasto, após ouvir um técnico em nutrição. A maneira de pastar ficaria ao alvitre de cada animal, desde que o objetivo fosse atingido. A troca de experiências no novo sistema de nutrição só traria benefícios. Facilitaria a integração dos animais e promoveria a necessária interação no trabalho diário.

O fazendeiro não tinha nada a perder se tentasse. Passou a fazer reuniões freqüentes com os animais, para discutir a nova proposta nutricional. O cavalo sonhador aceitou coordenar as discussões, a pedido dos colegas. Após algum tempo, ajudou os companheiros a vencer os primeiros obstáculos da subida e, assim, passaram a partilham o novo modelo nutricional, que ele denominava modelo progressista, no inicio; transformador e libertador, mais força.
Explicava que, tornando-se melhores, teriam mais força moral para negociar com o dono melhores condições de trabalho e uma alimentação balanceada. Tendo uma nutrição de qualidade, poderiam enfim sonhar com uma vida igual aos cavalos das haras dos grandes proprietários: a liberdade das pistas, a disputa dos grandes prêmios, a glória !

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