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O FIM DOS SAMURAIS A passagem do sabre as mãos nuas Até o século12, o Japão foi dirigido por uma linhagem de imperadores.
Estes tinham por hábito conceder o
título de “Shogun” ao general chefe dos exércitos de campanha. O título
de “Shogun” era atribuído por um período determinado e destituído no
final do conflito em questão. No final do século 12, o conforto entre os clãs
Taira e Minamoto termina com a vitória deste último. Yoritomo
Minamoto, chefe do clã Minamoto, proclamou-se então “Shogun” para o resto
da vida. Toma posse dos poderes executivo e legislativo e relega ao imperador um
papel secundário. A partir daí a vida social do Japão muda. Até aquele
momento, o poder encarnado pelo imperador era “de origem divina”, e somente
os herdeiros das famílias imperiais podiam ter pretensões ao trono. Com a
instauração do “shogunato”, a porta abre-se um novo tipo de poder: o da
força militar. Os chefes de clã se defrontam sem piedade pela posse do título
de “Shogun”. O Japão entra em longo período chamado de “Guerra dos clãs”
e os samurais tornam-se os novos donos do país. Reinam pela violência sobre
toda as demais classes sociais. Somente eles tem o direito de portar os sabres
(espadas), manejar armas e fazer a guerra. Representam a nova classe nobre do
Japão e desprezam as outras classes, sobretudo as dos camponeses. No início do século 17, um novo Shogun, Ieyasu Tokugawa, toma o poder e chega a instaurar uma era de paz relativa no interior do país. Essa era de paz ficou conhecida como época Tokugawa. Mas o poder do Shogun Tokugawa se esvazia e, em 1868, o último Shogun Tokugawa abdica em favor de um jovem imperador: Mutsuhito. O imperador anuncia então que o Japão entra numa nova era chamada Meiji (era da luz). Aboli os privilégios feudais das classes guerreiras, dissolve oficialmente os clãs militares e, ainda, proíbe o porte do sabre, símbolo do poder dos guerreiros. O
GIGANTE DE KAGOSHIMA
Uma
impotente estátua de bronze emerge no parque Ueno, em Tóquio, tendo resistido
intacta, à ocupação americana do general Mac Arthur. Ela representa Takamori
Saigo comprimindo em seu flanco esquerdo um katana. General
e homem de Estado que iria convulsionar o Japão, Saigo nasceu em Kagoshima, na
grande província de Satsuma ma ilha de Kyushu. De
seu pai, homem poderoso e lutador de Sumo, Saigo herdou uma estrutura física
fora do comum para seu tempo: 120kg, um pescoço de touro e membros imensos. Era
chamado o gigante de Kagoshima. Tornou-se também lutador de sumo. Em
1851, Nariakira Shimazu tomou a
direção do clã Satsuma. Saigo tinha então 24 anos, foi tomado de admiração
por seu daimyo (chefe de clã) que o levou consigo a Edo. Teve assim inúmeras
oportunidades de freqüentar tanto a capital imperial de Kyoto como os quartéis
generais do governo militar, em Edo. Em seus 30 anos, era o homem de confiança
de Nariakira Shimazu. Mas
o destino reserva surpresas lúgubes, e Shimazu adoeceu de repente, vindo a
morrer em seguida. Saigo conhece então um exílio
de 5 anos, ordenado pelo novo chefe do clã. Em 1862 Saigo pode voltar a
Kagoshima, mais foi novamente banido da sua cidade natal, só retornando em
1864. O JAPÃO COPIA O OCIDENTE Em janeiro de 1868, depois de inúmeras
retratações, o último Shogun do Japão anuncia aos chefes de clãs que
entrega oficialmente o poder nas mãos
do imperador Mutsuhito. Começa a despontar o Japão da era moderna. Mesmo
assim houve uma batalha: batalha de desespero, de ultimar Kyoto. Cinco mil
samurais leais a Satsuma, Choshu e Tosa, liderados por Takamori Saigo reduzem a
nada o sonho dos revoltosos. A vitória foi definida. Saigo mostra-se totalmente
aliado ao imperador, despontando como herói da restauração imperial. Toda
nação Japonesa começa a se
remodelar segundo os padrões estrangeiros, a fim de fazer face a pressão vinda
da índia e da China. A revolução Meiji foi espantosa: as reformas atingiam até
aqueles que haviam outrora feito a grandeza do país e agora viam-se fadados a
desaparecer... os samurais. O
FIM DOS SAMURAIS
A
perspectiva de serem “rebaixados” ao nível de indivíduos comuns faziam os
samurais estremecerem. O Japão novo não os apreciava mais! O descontentamento
era grande e nova ameaça de conflito armado se delineava. Depois
da vitória de 1868, Saigo passou a recusar todas as honras que lhe propunham, o
que aumentou sua popularidade e seu prestígio, mas não foi visto com bons
olhos pelos oficiais. Aos 43 anos, mesmo assim, foi posto à testa da guarda
imperial, de 100,000 homens, ainda exclusivamente recrutados da antiga classe
dos samurais. Em 1872, Saigo foi nomeado general chefe de todas as forças
armadas do país e, no ano seguinte, chegou ao grau supremo de marechal. Sabia,
entretanto, que os samurais já estavam condenados definitivamente como elite
militar. Em 1873, Aritomo Yamanaga promulgou uma lei segundo a qual todos os
homens de 21 anos seriam, independentemente de sua origem social, inscritos nos
registros de seleção do novo exército japonês. A fronta aos samurais estava
consumada. O
HERÓI MUDA DE CAMPO
Takamori
Saigo chega ao apogeu de sua existência. No contexto do novo Japão mostra-se
um idealista. Em
1873, a Coréia decide romper relações com o Japão. Para Saigo, trata-se de
uma afronta intolerável. Ele se junta ao grupo que preparava uma sanção
militar imediata a decisão coreana. Mas o governo central japonês evita
o
conflito e Saigo, desgostoso, pede demissão.
Volta a Kagoshima onde abre escolas privadas nas quais são ensinadas as artes
da guerra e a ética samurai. O clima em Kyushu torna-se explosivo. Em Kagoshima,
principalmente, onde as escolas de artes marciais de Saigo tornaram centros de
contestação. Era evidente que o antigo herói da restauração Meiji encarnava
agora uma revolta samurai que não conseguia mais ocultar. O
drama iria precipitar-se em janeiro de 1877. o governo imperial decide confiscar
um estoque de armas considerável situado em Kagoshima. Na ausência de seu
mestre, os alunos de Saigo atacam os barcos destinados a levar as armas e
apoderam-se destas. Saigo tomou conhecimento do ocorrido ao voltar de uma caçada.
Viu-se então declarado “inimigo do governo imperial, sem local entre o céu e
a terra”. O príncipe Taruhito Arisugawa e o general Aritomo Yamanaga foram
designados para levar adiante a campanha contra Saigo. Ironia do destino, eles
dirigiam as tropas que o próprio Saigo havia formado, quando marechal. O exército
imperial se compões de 60.000 homens, equipados a moda européia e treinados
por instrutores também europeus: possui uma artilharia pesada e 11 navios de
guerra. O essencial do exército imperial é formado por conscritos de origem
camponesa. Outra ironia do destino: estes jovens combatentes, vindos de um meio
social para qual o mundo dos samurais fora visto como um mundo de deuses invencíveis
e todo poderosos, iriam defrontar-se diretamente com adversários dos quais
tinham, na infância, , por heróis. Saigo cometeu o erro de subestimá-los.
Achava que aqueles jovens recrutas não agüentariam muito adiante de seu exército
de samurais profissionais: 14.000 homens combatendo em território deles,
sabendo manobrar fusis e pistolas. Em
17 de
janeiro, Saigo deixa Kagoshima com o objetivo de tomar o castelo de Kumamoto
antes da chegada do grosso das tropas imperiais. Mas o cerco ao redor do castelo
não sai como planejado e quando o exército dos conscritos chega ao local
encontra um exército de samurais já enfraquecido. O resto das operações se
reduz a uma fuga através do território de Kyushu. Os samurais revoltosos de
Satsuma são perseguidos e dizimados em combates furiosos. O último ataque teve
lugar em 24 de setembro de 1877. Sob uma chuva de projéteis, Saigo e
os últimos Samurais de Satsuma avançavam desafiando a morte. O gigante de
Kagoshima é abatido de súbito, por uma bala perdida. Shinsuke Beppu, um de
seus seguidores mais fiéis, o carrega nos ombros e o coloca longe da linha de
fogo. Saigo se põe então de joelhos, em direção ao palácio imperial, e abre
seu ventre, cometendo suicídio, antes que Beppo decepe sua cabeça com um golpe
de sabre, segundo costume. A seguinte Beppu junta-se aos companheiros e atira-se
com eles às balas inimigas. As nove horas da manhã tudo estava terminado. Era
o fim da história gloriosa dos samurais do sol nascente. Takamoto Saigo entrou
na lenda dos heróis do Japão.
Depois de alguns anos, seu nome foi reabilitado pelo governo Meiji como exemplo
de devotamento e lealdade. DOIS
MILHÕES DE SAMURAIS SEM TRABALHO
A
marginalização dos samurais se deu em várias etapas. Primeiro os poderosos
“Daimio” perdiam suas funções, depois seus castelos eram confiscados e
seus exércitos eram dispensados. Pagavam-lhe, todavia, confortáveis pensões e
essa situação era mais ou menos aceita conscientemente que estavam de que a
manutenção de seus feudos estaria acima de suas posses. Os
samurais passavam a duas categorias: Shizoku (pequena nobresa) ou Sotsuzoku
(soldados), já que um novo tipo de exército começava a despontar. A
perspectiva de serem rebaixados ao nível de indivíduos anônimos, com direito
a um soldo vulgar, era algo mais temido que a morte. Algo inaceitável!
Entretanto um dos resultados espetaculares da revolução Meiji foi de destituir
de suas funções dois milhões de samurais que logo passaram a sofrer privações
pois não sabiam fazer outra coisa. A solução encontrada peloi governo, a
atribuição de pensões, na verdade não cobria mais do que um terço das
despesas dos antigos guerreiros. As pensões foram então convertidas em títulos
garantidos pelo estado... Depois
acabaram de joga-los nas colonizações de terras principalmente na ilha de
Hokkaido. O mundo dos samurais desabava de vez. O
ÚLTIMO GUERREIRO
A
era Meiji desferiu sobre as artes marciais japonesas um golpe quase fatal.
Numerosas escolas de armas conheceram enormes dificulades. Aquele que é considerado o último samurai, Sokaku Takeda, não tinha ainda 17 anos quando a revolta de Satsuma, mas já era um temido guerreiro. Sua vida era o sabre: instrutor da polícia, guarda-costa, encarregado de missões especiais. Era sempre requisitado graças a suas habilidades no manejo dessa arma. Seu encontro com o mestre Tanomo Saigo seria determinante na evolução das artes marciais no Japão. Saigo disse-lhe um dia: “A vida do sabre está terminando. O mundo muda. É preciso mudar também. Você tem que aprender a arte do combate com as mãos nuas se quiser que sua escola sobreviva”. No princípio Takeda recusou, depois acabou por aderir a visão de Saigo e empreende seriamente o estudo do método Oshikiuchi, ensinado por Saigo. Takeda cria, em seguida, sua própria escola chamada Daito-Ryu. Em 1915, na ilha de Hokkaido, ao norte do Japão, local de colonos e samurais, encontra um jovem experto e faz dele seu discípulo e utideshi. Anos mais tarde Ueshiba se tornaria o fundador do AIKIDO. Ref:
Revista Combat Sport ano5 nº21 - Grandes Imperios e Civilizações
"Japão" - Vol II. |
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