A Fiat aliou o espaço, a segurança e o conforto, presentes nas versões mais simples de seu hatchback, à performance do motor multiválvulas. O resultado foi um automóvel familiar com espírito esportivo. Se fosse preciso descrever o comportamento do Fiat Tipo 2.0 16V em apenas uma palavra, o adjetivo mais adequado seria "bravo". Para os italianos, uma macchina, digna de admiração. Para os brasileiros, um carro valente, feroz. Foi isso que provou ao ser avaliado. Apesar de sua concepção de carro familiar -- espaçoso, confortável, seguro--, ele se mostrou ágil e robusto. Bom na estrada e na cidade.

O Tipo 2.0 16V veio ampliar a linha de importados da montadora italiana, em 1995, e era a empresa que mais trazia carros para o Brasil. E ganhava o título apenas com o volume de importação do hatchback: 64.398 unidades em agosto de 1993 (mês em que desembarcou por aqui o 1.6 i.e., unicamente com a carroceria de 2 portas) a novembro de 1994, quando a família já crescera com a chegada do 1.6 de 4 portas e do SLX 2.0.

O sucesso do Tipo se traduziu em dois números. Ele possuiu mais de 55% do mercado dos médios, segmento que disputava com Chevrolet Kadett, Volkswagen Logus e Ford Escort e Verona. Em novembro de 1994, com 11.678 unidades comercializadas, ficou atrás somente de

VW Gol e Fiat Uno entre os automóveis mais vendidos no país, considerando-se tanto modelos nacionais quanto importados. Em relação às outras duas versões do Tipo, o 16V possui o diferencial da motorização mais potente, com cabeçote multiválvulas e duplo comando. Enquanto o propulsor do 1.6 gera 82 cv de potência e o do SLX 2.0, 109 cv, o do 16V chega aos 137 cv. Analizando a relação peso/potência de cada versão, a braveza do 16V se explica: com 8,8 Kg/cv -- contra 12,8 Kg/cv e 10,8 Kg/cv, respectivamente --, cada cavalo empurra menos quilos.

Nos testes, o Tipo 16V saiu-se melhor do que concorrentes da época, como, por exemplo, o Citroen ZX 2.0 16V, avaliado. O italiano, com seus 137 cv de potência e peso de 1.215 Kg, acelerou de 0 a 100 Km/h em 9s85, enquanto o francês (155 cv e 1.190 Kg) levou 10s93. Graças à sua boa aceleração, o Tipo era um dos poucos carros que alcançavam, de fato, a velocidade máxima -- 206,7 Km/h -- em menos de 2.700 metros. Antes de chegar ao final desta distância, o propulsor

do esportivo já havia atingido o regime de potência máxima, em 6.000 rpm. O Citroen marcou, na mesma prova, 194,5 Km/h. Em comparação a seu "primo" Tempra 2.0 16V, que possui o mesmo motor, só que feito na Argentina, o Tipo 16V também revelou-se superior. O Tempra testado, acelerou de 0 a 100 Km/h em 9s85 e cravou 195,5 Km/h de velocidade máxima. Justifica-se a maior máxima do hatchback pelo seu coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,31, um pouco melhor que os 0,32 do sedã, e também pelo seu peso, 45 Kg mais leve. Nas acelerações, a vantagem do Tipo se anulou devido às suas relações de marcha mais longas -- tanto que a marca dos dois Fiat foi idêntica: 9s85.

Considerando-se as retomadas, que constituem um fator importante no aspecto segurança -- interessando muito, portanto, a quem transporta a família --, outra vez o Tipo superou os

demais. Gastou 21s73 para ir de 40 a 100 Km/h, em 5ª marcha. O Tempra realizou a prova em 21s79 e o ZX, em 23s97. Como todo veículo dotado de motor multiválvulas, o Tipo 16V dá as melhores respostas nas altas rotações -- ou seja, em situações em que se exige mais de seu propulsor. Atinge seu pico de torque, de 18,4 Kgfm, a 4.500 rpm. Mesmo assim, em conjunto com as relações de marcha bastante elásticas, mostrou-se versátil também em baixas rotações: no trânsito urbano, onde se roda nestas condições, ele revelou esperteza com arrancadas rápidas e respostas imediatas ao mais leve toque no pedal do acelerador.

Para domar essa agilidade, possui direção hidráulica, que proporciona firmeza e comodidade, e freio a disco nas quatro rodas, com ABS opcional. Durante os testes, vindo a 80 Km/h, o Tipo precisou de 28,9 m para parar. Um pouco pior que os 28,3 m percorridos pelo Citroen ZX e os 28,7 m do Tempra -- ambos equipados com ABS (no caso do Fiat, também opcional).

A suspensão, recalibrada, deixou o esportivo um pouco duro. Perdeu conforto, mas, em compensação, ganhou estabilidade. Em função da suspensão, o Tipo recebeu pneus mais largos, 195/60, com aros de 14 polegadas -- o que, certamente, contribuiu para sua boa aderência lateral, de 0,93g. Com seus pneus 185/65 R14, o SLX 2.0 i.e., obteve 0,91 g na mesma prova. Outro resultado positivo dessas mudanças é que permitem ao motorista perceber com mais facilidade as reações do carro.

A segurança passiva do hatchback fica a cargo de barras de proteção contra colisões laterais, embutidas nas portas, reforço no teto e cintos de segurança retráteis nos assentos laterais traseiros e na frente -- estes com regulagem de altura. O volante, de quatro raios, foi projetado para absorver a energia dos choques frontais e podia receber air-bag como opcional.

Por R$ 26.500, comprava-se um esportivo acrescido de alguns equipamentos. Vinha com rodas de liga leve e pára-brisas degradê

entre os ítens de série. Já os bancos Recaro eram opcionais. Seu painel é mais completo que o dos irmãos. Traz, por exemplo, indicador de pressão e mostrador de temperatura do óleo, instrumentos necessários em veículos de competição. Das corridas, o Tipo 16V herdou também um pedal de acelerador vazado. Nos carros de competição, normalmente, todos os pedais são assim: de alumínio polido (que minimiza o atrito dos movimentos dos pés), maiores e mais largos, facilitam as manobras rápidas. Quem quiser realizar um punta-taco com a pedaleira de plástico do Tipo, entretanto, não terá dificuldades. Ainda mais porque tanto ela quanto as outras estão bem posicionadas.

Os trunfos da família se mantiveram inalterados na versão esportiva: ergonomia, espaço interno e conforto. Três pessoas se acomodam bem no banco traseiro. Os mais altos que a média não correm risco de bater a cabeça: a Fiat fez um ressalto no revestimento do teto, para aproveitar melhor o espaço. A única ressalva fica por conta do acesso à parte de trás, dificultada pela carroceria de 3 portas. O banco do motorista, Recaro, conta com regulagem mecânica de altura do assento, distância dos pedais e inclinação do encosto, o que, aliado ao ajuste da altura da coluna da direção, possibilita encontrar a melhor posição de dirigir com facilidade. Tanto o volante quanto a manopla do câmbio são revestidos em couro.

A carroceria recebeu minissaias, que lhe dão um aspecto mais agressivo mas não diminuíram sua resistência ao ar: o coeficiente aerodinâmico (Cx) do carro permaneceu o mesmo, ou seja, 0,31. Novas lentes nas lanternas traseiras, frisos vermelhos nos pára-choques e rodas com desenho exclusivo completavam a ornamentação esportiva. No puxador da porta traseira, lê-se: "sedicivalvole", 16 válvulas em italiano. Para não deixar dúvidas de que se trata de uma macchina por vocação. Mais Carros

Hosted by www.Geocities.ws

1