A aceleração de 0 a 100 Km/h em apenas 10,91 segundos é ótima para nossos padrões. Em estabilidade, ele é excelente, sem deixar de ser macio e silêncioso. Prova de seu alto desempenho na época é ter ganho as edições de 86 e 87 do Campeonato Brasileiro de Marcas.
Seu motor, o AP-800S ( o mesmo do Gol GTS),
é considerado um dos melhores já fabricados no Brasil, juntamente com o AP-600 da linha
Gol/Voyage/Parati, e que equipa também o Passat GL. Isso se traduz em robustez e confiabilidade mecânica.
Some-se a isso o amplo espaço interno -- é um dos poucos carros que temos em que se viaja razoavelmente
bem atrás --, o consumo razoável ( bem menos, é claro, no GL), o baixo nível de ruído, entre outras
coisas, e chega-se à simples conclusão de que "é mais carro pelo seu dinheiro". E, embora
seja bem mais caro que o Passat comum, é possível achá-lo bem mais barato que o Gol GTS.
Defeitos? Sempre é possível encontrar alguns, sobretudo num carro que a bastante tempo saiu fora de linha. Assim, o Pointer ganhou em 88 um novo volante: bonito, mas a buzina fica muito exposta e é tocada sem querer. O voltímetro e o termômetro de óleo ficam no console, por cima do rádio e parcialmente encobertos pelo volante: estariam melhor no painel. No lugar do eixo traseiro rígido, também seria melhor o eixo semi-independente de barras em V, usado nas linhas Santana e Gol. E faltam detalhes de refinamento: rodas originais mais modernas e bonitas, como as do Gol GTS, e comandos elétricos para vidros e retrovisores. Nada que não pudesse ser facilmente corrigido: apenas sinais de discriminação contra o carro, que na época já estava em fim de carreira.
Mas, por que, afinal, a VW acabou com o Passat, se continua até hoje com o Gol e o Santana? Será que não tinha valido a pena tentar manter o carro em produção? A estratégia da VW brasileira baseava-se na linha Gol/Voyage/Parati, projetada e lançada aqui -- contra a vontade da matriz alemã, mas que teve sucesso em nosso mercado e também no bom volume na época de exportações do Voyage/Fox para EUA e Canadá.
Nosso Passat é velho em estilo. A carroceria foi desenhada por Giugiaro
para o lançamento do carro, em 1973, na Europa. Contraria tendências atuais muito fortes, como as frentes em cunha
e a suavização dos ângulos, que melhoram a aerodinâmica. O Passat atual não tem nada a ver
com o velho Passat. Ele equivale ao Santana, só que muito mais moderno. Nosso Passat é
o avô do Passat alemão. Numa inversão da tendência de alguns anos atrás, os modelos hatchback,
como o nosso Passat, estão fora de moda no mundo todo. Até agora só reunimos razões de marketing, que interessaram mais
à própria VW. E nós, como ficamos? Simplesmente lamentando que a VW brasileira matou o Passat,
sem colocar nada parecido em seu lugar. Mas nós não deixaremos que o Passat termine como
um fantasma nas tabelas de preços. Estaria a VW certa? Em 1982, quando a montadora suspendeu
a produção da brasília, um engenheiro de lá não se conteve: "Mataram o carro errado" (o
"certo" no caso, seria o Fusca, só extinto em 1986, e voltando na "era Itamar", e agora,
como New Beetle). Tinha lá suas razões: a Brasília oferecia, na ocasião, a mesma consagrada
mecânica do Fusca, num carro muito mais espaçoso e três décadas mais moderno. Será que a Volkswagen do Brasil
matou o carro "errado" de novo? Afinal, a anciã Kombi continua por aí, sem nada a ver com
sua correspondente européia.
É. Tudo indica que mataram o carro errado. Mas vamos continuar torcendo por ele.