Só podemos achar lamentável que o Passat tenha saído de linha. Boa parte dos 600 mil donos de Passat no país certamente concorda conosco. Afinal estão entre os mais satisfeitos com seus carros. E têem boa razão para isso. Quatorze anos de produção, e depois de tanto tempo fora de linha, ainda é um dos melhores carros que temos -- praticamente em tudo --, principalmente se for um modelo esportivo, o Passat GTS Pointer: sua velocidade máxima de 169 Km/h é muito boa até para os padrões atuais -- de sua época, só superada pela pesada linha Opala de seis cilindros.

A aceleração de 0 a 100 Km/h em apenas 10,91 segundos é ótima para nossos padrões. Em estabilidade, ele é excelente, sem deixar de ser macio e silêncioso. Prova de seu alto desempenho na época é ter ganho as edições de 86 e 87 do Campeonato Brasileiro de Marcas.

Seu motor, o AP-800S ( o mesmo do Gol GTS), é considerado um dos melhores já fabricados no Brasil, juntamente com o AP-600 da linha Gol/Voyage/Parati, e que equipa também o Passat GL. Isso se traduz em robustez e confiabilidade mecânica. Some-se a isso o amplo espaço interno -- é um dos poucos carros que temos em que se viaja razoavelmente bem atrás --, o consumo razoável ( bem menos, é claro, no GL), o baixo nível de ruído, entre outras coisas, e chega-se à simples conclusão de que "é mais carro pelo seu dinheiro". E, embora seja bem mais caro que o Passat comum, é possível achá-lo bem mais barato que o Gol GTS.

Defeitos? Sempre é possível encontrar alguns, sobretudo num carro que a bastante tempo saiu fora de linha. Assim, o Pointer ganhou em 88 um novo volante: bonito, mas a buzina fica muito exposta e é tocada sem querer. O voltímetro e o termômetro de óleo ficam no console, por cima do rádio e parcialmente encobertos pelo volante: estariam melhor no painel. No lugar do eixo traseiro rígido, também seria melhor o eixo semi-independente de barras em V, usado nas linhas Santana e Gol. E faltam detalhes de refinamento: rodas originais mais modernas e bonitas, como as do Gol GTS, e comandos elétricos para vidros e retrovisores. Nada que não pudesse ser facilmente corrigido: apenas sinais de discriminação contra o carro, que na época já estava em fim de carreira.

Mas, por que, afinal, a VW acabou com o Passat, se continua até hoje com o Gol e o Santana? Será que não tinha valido a pena tentar manter o carro em produção? A estratégia da VW brasileira baseava-se na linha Gol/Voyage/Parati, projetada e lançada aqui -- contra a vontade da matriz alemã, mas que teve sucesso em nosso mercado e também no bom volume na época de exportações do Voyage/Fox para EUA e Canadá.

Nessa estratégia não havia lugar para o Passat, cuja produção teria acabado em 1985 não fosse o grande contrato de exportação desse modelo firmado então com o Iraque, à base de 35 mil carros por ano. Para entender por que o Passat sobrava nesse plano, bastava comparar Passat GL e Voyage GL: com desempenho e consumo equivalentes, o Passat oferece bem mais espaço interno e conforto ( afinal, o Voyage é um Gol três volumes), e ainda custava 7% menos. A vantagem é maior ainda nos casos dos esportivos: o Passat GTS tem desempenho semelhante e muito mais espaço que o Gol GTS, e custava muito menos. Em termos de marketing, isso não parecia bom para a linha Gol/Voyage.

Nosso Passat é velho em estilo. A carroceria foi desenhada por Giugiaro para o lançamento do carro, em 1973, na Europa. Contraria tendências atuais muito fortes, como as frentes em cunha e a suavização dos ângulos, que melhoram a aerodinâmica. O Passat atual não tem nada a ver com o velho Passat. Ele equivale ao Santana, só que muito mais moderno. Nosso Passat é o avô do Passat alemão. Numa inversão da tendência de alguns anos atrás, os modelos hatchback, como o nosso Passat, estão fora de moda no mundo todo. Até agora só reunimos razões de marketing, que interessaram mais à própria VW. E nós, como ficamos? Simplesmente lamentando que a VW brasileira matou o Passat, sem colocar nada parecido em seu lugar. Mas nós não deixaremos que o Passat termine como um fantasma nas tabelas de preços. Estaria a VW certa? Em 1982, quando a montadora suspendeu a produção da brasília, um engenheiro de lá não se conteve: "Mataram o carro errado" (o "certo" no caso, seria o Fusca, só extinto em 1986, e voltando na "era Itamar", e agora, como New Beetle). Tinha lá suas razões: a Brasília oferecia, na ocasião, a mesma consagrada mecânica do Fusca, num carro muito mais espaçoso e três décadas mais moderno. Será que a Volkswagen do Brasil matou o carro "errado" de novo? Afinal, a anciã Kombi continua por aí, sem nada a ver com sua correspondente européia.

É. Tudo indica que mataram o carro errado. Mas vamos continuar torcendo por ele.

Ficha Técnica

Hosted by www.Geocities.ws

1