História das Plantas Medicinais
EVOLUÇÃO
HISTÓRICA DO USO DOS FITOTERÁPICOS.
Para determinar a idade do homem na terra, desde sua aparição até nossos dias, Arruda
(1998) registra que o hominídeo mais antigo que se tem registro é o Homo habilis, que viveu há cerca de
200.000
a.C. Este hominídeo utilizava alguns objetos e utensílios
rudimentares pontiagudos. Essa descoberta indicou a África, e não o Oriente
Médio ou a Ásia, como região do aparecimento da raça humana. Este autor
ressalta, ainda, que somente no Neolítico (8000-5000 a.C.) aconteceu a
passagem da economia predatória para a da produção
agrícola.]Relatam
Quer (1973) e Alzugaray (1983) que já no ano 3.000 a.C., a China se
dedicava ao cultivo da plantas medicinais, prática iniciada por Sheu-ing. A obra
do imperador Cho-Chin-Kei, é o que há de mais destacado na farmacognosia chinesa
antiga. Nela, a raiz de Ginseng é consagrada como essencial na cura de todos os
males, sendo mencionadas, ainda, as virtudes do ruibarbo, do acônito e da
cânfora.
O país com
mais longa e ininterrupta tradição na utilização das ervas é a China. Quando
morreu em 2698
a.C., o lendário imperador Shen Nung já provara 100 ervas
e menciona em seu "Cânone das Ervas" 252 plantas, muitas delas ainda em uso na
atualidade. Cem anos mais tarde, o Imperador Amarelo, Huang Ti, formalizou a
Teoria Médica no Nei Ching.
No século
VII, o governo da dinastia Tang imprimiu e distribuiu pela China uma Revisão do
Cânone de Ervas. Em 1578, Li Shizhen completou seu "Compêndio de Matéria
Médica", onde listou 1800 substâncias medicinais e 11.000 receitas de compostos.
Placas de
barro de 3.000
a.C. registram importações de ervas para a Babilônia
(trocas de ginseng com a China aconteceram por volta de 2.000 a.C.), cuja
farmacopéia abrangia 1400 plantas.
Quer (1973),
Alzugaray e Alzugaray (1983) e Almeida (1993) fazem referências aos Papiros de
Ebers do Egito, descobertos em 1872, datados de 2278 e 2263 a.C., nos quais se cita
o uso de ervas medicinais, purgantes, vermífugos, diuréticos, cosméticos,
especiarias e ervas aromáticas para a cozinha. Além disso, grande quantidade de
líquidos perfumados, anti-sépticos, gomas e diversas matérias de origem vegetal
eram utilizadas no embalsamento de cadáveres.
A crença no
poder das plantas devia ser geral na mais antiga Grécia e no Egito e dela se
serviu Hipócrates (450-377
a. C), denominado o "Pai da Medicina", para aperfeiçoar os
seus estudos, reunidos na obra Corpus
Hippocraticum, que representa a síntese dos conhecimentos médicos de seu
tempo e que indica para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento
adequado. Hipócrates, assim como os textos chamados hipocráticos, estiveram
muito acima do saber médico egípcio, qualificado por Platão como ciência de
tendências. Com isto, queria indicar principalmente, que a ciência egípcia era
prática, fato que os sábios gregos menosprezavam
ostensivamente.TeofrastosTeofrastos
Na Grécia do
século XIII a.C., um curandeiro chamado Asclépio, (também denominado Esculápio
de Cós, filho do deus Apolo e da ninfa Corônis), grande conhecedor de ervas, concebeu um
sistema de cura, fundando o primeiro spa de que se tem conhecimento, em
Epidauro, com tratamentos baseados em banhos, jejum, chás, uso terapêutico de
música, teatro e jogos.
Silva (2000),
relata que Teofrastos (370-285
a. C.), considerado o pai da Botânica, discípulo de
Aristóteles, refletiu as doutrinas filosóficas do seu mestre e as de Platão,
professor de Aristóteles, na sua História
plantarum, descrevendo e classificando, grosseiramente, cerca de 480 plantas
diferentes.
No início do
primeiro milênio, destacou-se Claudius Galeno (216-129 a.C.), que segundo Dias (1997), nasceu em Pérgamo,
quando esta era colônia romana, tendo também ali estudado medicina. Foi médico
de gladiadores e viveu em Roma em 161 a.C., onde atingiu uma posição conceituada,
sendo nomeado médico do filho do imperador Marco Aurélio, Cómodo, que foi
igualmente imperador em 180
a.C. Galeno baseou-se na medicina hipocrática para criar
um sistema de patologia e terapêutica de grande complexidade e coerência
interna. É considerado o Pai da Farmácia, tendo escrito mais de 200 obras, cuja
influência durou cerca de mil e quinhentos anos como doutrina indiscutível, que
qualificam os remédios vegetais ou os preparados de composição indefinida, como
o extrato, tintura, xarope etc.
Do início da
era Cristã até a Idade Média, a medicina e o estudo das plantas medicinais
sofreram um longo período de estagnação. Afirmam Alzugaray (1983) que, nessa
época, os livros de Teofrastos, Galeno, Plínio e Dioscórides eram consulta
obrigatória. Para os monges, que freqüentemente também eram médicos, cuidar dos
doentes era um ato de piedade cristã. Fora dos mosteiros, os viajantes e
curandeiros recorriam aos rituais de mágicas.
Na Idade das
Trevas, a Pérsia tornou-se o centro de perfeição da época, com os médicos
gregos, como Avicena (978-1036), sendo traduzidos para o árabe. Na Europa, os
progressos foram dificultados pela Igreja que não via com bons olhos a
aprendizagem científica e encarava a doença como um castigo. A medicina das
plantas restringiu-se aos monges nos mosteiros e a algumas mulheres de aldeias
remotas.
Em meados do
século XIII, no período da inquisição, eram considerados heréticos os
curandeiros, as bruxas, as pessoas que ministravam passes, os conhecedores de
plantas medicinais e os alquimistas. Enfim, todos os adeptos de correntes
místicas eram acusados de desviar-se da “verdadeira“ fé cristã.
No
Brasil, as missões jesuítas tiveram um papel fundamental no estudo do
comportamento indígena e exploração econômica da selva, especialmente para a extração de drogas para o
comércio.
Nesse
período, descobriu-se a guaraná (Paullinia cupana HBK), a andiroba
(Carapa guianensis Aubl.), planta medicinal, inseticida e
anti-helmíntica, a Quassia amara L., atualmente usada como antimalárico,
a salsaparrilha (Smilax officinalis e S. syphylitica), planta que
se introduziu rapidamente na farmacopéia popular de América e Europa por seus
efeitos depurativos do sangue e sua ação anti-sifilítica. A quina-quina
(Cinchona sp.), a coca (Erytrhoxylum coca) e o açafrão (Bixa orellana L.), notável
por seu corante e efeitos terapêuticos.
Segundo Diniz
(1997), no Brasil, a partir de 1995, o consumo de medicamentos caiu a níveis
alarmantes, isso provavelmente deveu-se ao progressivo arrocho e perda
salariais. Pesquisa do SOS FARMA, para levantar as causas deste fato, concluiu-se que das 400 famílias pesquisadas,
91,9% se automedicavam com ervas e 46,6% cultivavam plantas medicinais nos
quintais. Dados da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica apontam que
as vendas de medicamentos sintéticos cresceram 16% naquele ano, enquanto o
consumo de fitoterápicos subiu 20%. Tanto assim que a Central de Medicamentos
(CEME), financiou, na época, diversas pesquisas em universidades.
O Ministério
da Saúde apoiou investigações científicas nessa área, através do Programa de
Pesquisas de Plantas Medicinais, da CEME, implantado em 1983 e estruturado com o
objetivo de propiciar a avaliação das propriedades terapêuticas de espécies
vegetais utilizadas pela população, com o fim principal de desenvolver
medicamentos ou preparações que servissem de suporte ao estabelecimento de uma
terapêutica alternativa e/ou complementar.
A
respeito disso, Di Stasi (1996) fala da grande importância da magia, feitiçaria
e alquimia, que se caracterizam como a gênese da ciência moderna e da enorme
contribuição que estes procedimentos de estudo e interpretação da natureza
trouxeram ao conhecimento científico. O método usado para incorporar as espécies
vegetais à medicina tradicional é o mesmo método da tentativa e erro, usado no
popular, muito comum e útil em pesquisas de diversas áreas do conhecimento
científico, que serve para mostrar a forte ligação entre estes conhecimentos e
para demonstrar que a prática utilizada por ambos é igual, embora a abordagem
científica seja mais sistemática.
CLASSIFICAÇÃO
DOS VEGETAIS
Cabe aos
botânicos a função de providenciar a determinação correta e a descrição
morfológica das espécies vegetais, além da compilação de dados em herbários,
onde são obtidas informações mais precisas sobre as espécies. Matos (1989)
acrescenta que essa etapa deve ser complementada pelo levantamento
bibliográfico, usando-se o nome do gênero como palavra-chave, na busca das
referências.
Simões et al.
(1988) afirmam que basta uma simples visita a qualquer ervanário ou raizeiro,
nos mercados e feiras para avaliar a dimensão do problema diante da mistura de
raízes, cascas, folhas, sementes etc., quase sempre secas. Matos (1989)
acrescenta que a escolha correta dos informantes é essencial para obtenção de
bons resultados, sendo os melhores informantes, geralmente, as pessoas mais
velhas, com mais vivência do problema, seja como “receitadores” ou como
“usuários”, isto é, raizeiros,
rezadeiras, benzedeiras, parteiras ou familiares mais
idosos
Um dos
problemas, freqüentemente, enfrentados pelo usuário ou pelo estudioso das
plantas medicinais é a determinação e classificação botânica.
Matos (1989)
alerta que, apesar de existir uma ciência, a fitotaxonomia, cujo objetivo é
determinar, descrever e classificar as plantas, é muito comum ver-se pessoas
menos experientes ou menos capacitadas tentando identificar as plantas através
de busca, nos dicionários, de seus nomes vulgares e de descrições
correspondentes, dados pela comunidade.
A
classificação das espécies vegetais medicinais é de grande importância, uma vez
que os nomes vulgares das plantas variam de acordo com a região. Para se chegar
a uma classificação científica, tem-se que classificar a planta quanto à família
para depois se chegar ao nome científico.
|
|
|
Neolítico (8000-5000 a.C.)
|
Aborígenes, mostrando a Poaia
|
Gunseng |
|
|
|
Quina-quina, Chicona
|
Guaraná
|
Hypocrates
|
|
|
|
|
|
|
Dioscorides (40-90 d.C)
|
Claudius Galeno (216-129 a.C.)
|
Pastores observando o café.
|
|