WRIGHT, Robert. O Animal Moral. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1996. 416p.
Segundo escreveu Emile Durkheim,
o pai da moderna sociologia, na virada do século: a natureza humana é
"meramente o material indefinido que o fator social molda e transforma".
A história revela, diz Durkheim, que mesmo as emoções mais
profundas como o ciúme sexual, o amor do pai por seu filho ou filha,
ou o amor filiar pelo pai, estão "longe de ser inerentes à
natureza humana".
A seleção natural
parece ter ocupado os nossos verdadeiros eus dos nossos eus conscientes. Na
visão de Freud, não temos idéias das nossas motivações
mais profundas - mas de maneiras mais crônicas e abrangentes (e até,
em alguns casos, mais grotesca) do que ele imaginou.
O altruísmo, a compaixão,
a empatia, o amor, a consciência, o senso de justiça - tudo isso
que mantém a sociedade coesa, que permite à nossa espécie
pensar tão bem de si mesma, agora podemos afirmar, confiantes, que possuem
uma sólida base genética. Esta é a boa notícia.
A má notícia é que, embora tais coisas sejam, sob certos
prismas, bênçãos para toda a humanidade, elas não
evoluíram para o "bem da espécie" e não se pode
utilizá-las com segurança para tal fim. Muito pelo contrário:
vemos agora com maior clareza que nunca como (e precisamente porque) os sentimentos
morais são usados com brutal flexibilidade, ligados e desligados de acordo
com os interesses pessoais; e com que naturalidade e freqüência não
notamos essa operação.
Tudo que a teoria da seleção
natural diz resume-se no seguinte: Se em uma espécie há uma variação
nas características hereditárias dos indivíduos, e algumas
são mais úteis à sobrevivência e à reprodução
do que outras, então tais características (obviamente) se disseminarão
mais amplamente na população. O resultado (obviamente) é
que o conjunto de características hereditárias da espécie
muda. E está tudo dito.
Darwin certa vez resumiu a seleção
natural em dez palavras: "Multiplicar, variar, que o mais forte sobreviva,
que o mais fraca morra". Aqui "o mais forte", como ele bem sabia,
não significa o mais vigoroso, mas o melhor adaptado ao ambiente, seja
por meio de camuflagem, seja por astúcia ou qualquer outro mecanismo
que ajude a sobrevivência e a reprodução.
... é assim que a seleção
natural enfrenta as diferenças - sem levar realmente a melhor... A lata
de lixo da história genética transborda de experiência malsucedidas,
longas seqüências de códigos que tinham a vibração
de um verso de Shakespeare até aquele fatal rompante de incoerência.
Seu abandono é o preço de se desenhar por tentativa e erro...
A seleção natural é um processo inanimado, destituído
de consciência, porém é uma incansável purificadora,
uma engenhosa artesã.