WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 208p.
Aos meus pacientes, que pagaram
para me ensinar.
Estou, portanto, estudando a substância
da ilusão, aquilo que é permitido ao bebê e que, na vida
adulta, é inerente à arte e à religião, mas que
se torna marca distintiva de loucura quando um adulto exige demais da credulidade
dos outros, forçando-os a compartilhar de uma ilusão que não
é própria deles. Podemos compartilhar do respeito pela experiência
ilusória, e, se quisermos, reunir e formar um grupo com base na similaridade
de nossas experiências ilusórias. Essa é uma raiz natural
do agrupamento entre os seres humanos.
... na saúde, o objeto transicional
não "vai para dentro"; tampouco o sentimento a seu respeito
necessariamente sofre repressão. Não é esquecido e não
é pranteado. Perde o significado, e isso se deve ao fato de que os fenômenos
transicionais se tornaram difusos, se espalharam por todo o território
intermediário entre a "realidade psíquica interna" e
"o mundo externo, tal como percebido por duas pessoas em comum", isto
é, por todo o campo cultural.
Quando o simbolismo é empregado,
o bebê já está claramente distinguindo entre fantasia e
fato, entre objetos internos e objetos externos, entre criatividade primária
e percepção.
O objeto transacional jamais está
sob controle mágico, como o objeto interno, nem tampouco fora de controle,
como a mãe real.
A 'mãe' suficientemente boa
(não necessariamente a própria mãe do bebê) é
aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do
bebê, uma adaptação que diminui gradativamente, segundo
a crescente capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação
e em tolerar os resultados da frustração.
A mãe suficientemente boa, como afirmei, começa com uma adapatação quase completa às necessidades de seu bebê, e, à medida que o tempo passa, adapta-se cada vez menos completamente, de modo gradativo, segundo a crescente capacidade do bebê em lidar com o fracasso dela.