Formiguinhaz1
Priscila Loss Fighera e Cíntia de Oliveira Olsen2

 

 

PERSONAGENS

Z-4195- personagem principal e herói da história. Operário de uma colônia de formigas que habitam o Central Park Está muito descontente com sua vida de carregar pedras e incorformado com a posição que ocupa no formigueiro, passa o tempo todo reclamando. Acredita que existe um mundo melhor do que aquele que vive.


Bala- é a mocinha do filme. Sucessora da Rainha-mãe, se sente descontente por ter que casar com o General da colônia, que mal conhece. Não está conformada com seu destino. A missão de Bala, conforme o relato da Rainha, é continuar o seu trabalho, tendo os filhos.

General- é quem manda na colônia. Militar mal-intencionado que acha que todos os operários são fracos, apesar de não ser culpa deles pois nasceram assim. Seus planos são o de promover uma raça pura, uma espécie de Holocausto. Rival direto de Z. Nunca encontra tempo para ficar com sua noiva Bala, estando sempre ocupado com a construção de um "Mega Túnel" cuja finalidade permanece um mistério para todos


Rainha-Mãe- apesar de ser a Rainha sempre segue os conselhos do General. Está sempre colocando larvas, que apenas pega nas mãos por alguns segundos e passa adiante, uma atrás da outra, numa atitude repetitiva. A Rainha acha melhor do que carregar pedras.


Weaver- soldado e melhor amigo de Z. Seu desejo é arrumar uma namorada, gostaria de passar mais tempo com as mulheres do formigueiro. Troca de lugar com Z, virando um operário.

Asteca- operária amiga de Z e futura namorada de Weaver. Pensa apenas na sua carreira.


A HISTÓRIA

O filme se passa num formigueiro e conta a história de uma formiga que estava muito descontente com sua vida. A primeira cena retrata exatamente essa questão, quando Z, a personagem principal está em plena sessão de psicoterapia. Ele diz o seguinte:

"A minha vida inteira eu morei e trabalhei em cidade grande. Pensando bem isso é um problema porque eu nunca me senti confortável no meio de multidões. É sério, eu fico angustiado em lugares fechados, eu me sinto asfixiado. Eu sempre fico me dizendo que deve haver alguma coisa melhor lá fora, mas talvez eu pense demais. Eu acho que tudo se deve ao fato de eu ter sido uma criança muito ansiosa, sabe, minha mãe nunca tinha tempo pra mim. Quando se é o filho do meio de 5 milhões, dar atenção é impossível, né? Eu sempre tive Complexo de Abandono, meu pai era basicamente um zangão, ele saiu voando, eu era só uma larva. E meu trabalho, eu não quero nem começar a falar, eu fico doente só de pensar, eu não fui feito para ser um operário, isso eu tenho absoluta certeza, eu sou totalmente inadequado. Minha vida inteira eu nunca fui capaz de levantar mais de dez vezes o meu próprio peso, e pensando bem, carregar entulho não é bem a minha idéia de uma carreira promissora. E esse negócio de super-organismo eficiente, eu não consigo engolir. Eu tentei mas eu não consigo sabe, será que eu tenho que fazer tudo pela colônia? E os meus desejos? E eu? Eu tenho que acreditar que existe um lugar melhor fora daqui. Senão é melhor me encolher em posição larval e chorar. Todo esse sistema me faz sentir... insignificante."

A queixa de Z retrata o sentimento de toda uma colônia, e é isso que o filme vai mostrar.

A colônia se estrutura através do trabalho, e cada formiga tem sua função pré-determinada, de modo que o sistema funcione sem nenhuma falha. Folhas de árvore com dizeres estimuladores como "Let's Work" ou "Descanse uma vez, trabalhe duas" estão espalhadas por todos os lados, como se fossem out-doors.
No momento do nascimento cada larva tem sua futura função designada: ou operário ou soldado. Conforme a função é entregue uma foice ou um capacete. As formigas não tem nomes próprios e sim uma numeração ( A-1, A-2, A-3 ... Z-1, Z-2, Z-3 )

O formigueiro está o tempo todo estão em movimento. Parte do tempo livre é usado para treinar, uma cena mostra os operários se exercitando com as foices, fazendo movimentos simuladores de escavação.

Os momentos de "lazer" também tem um rígido funcionamento. Uma cena mostra Z conversando com um soldado amigo seu (Weaver) num bar. Ele está reclamando o fato de ter nascido operário e diz que ser soldado deve ser melhor, pois eles conhecem insetos interessantes nas suas aventuras. Weaver diz que pode até ser, mas que ele não passa o dia inteiro na companhia de formigas fêmeas, só os operários. Weaver corta o assunto dizendo que quer relaxar pois no outro dia ocorrerá uma inspeção real do exército. Toma cerveja como todos os outros. Z não bebe. Weaver exalta as formigas e diz que elas são as donas da terra. Z insiste que deve haver um lugar melhor.

Um soldado bêbado sentado ao lado escuta a conversa e fala para Z sobre a Insetopia, um lugar onde ninguém manda no seu nariz, onde as ruas são cobertas de comida e ninguém diz o que se deve fazer. Não há guerras, nem colônia.

Z acha que o cara deve estar com um parafuso a menos.

Bala decide ver a vida dos operários e soldados, pois está entendiada. Vai até o bar disfarçada de operária. O alto-falante anuncia a hora da dança e todos automaticamente vão dançar. Todos dançam igual, os mesmos passos.

Z, que ainda está sentado no bar pois não quis dançar fica resmungando que todos são "zumbis sem cérebro catriculando perante a opressão do sistema". Bala chega e o tira para dançar.

Z começa a improvisar a dança, inventa novos passos, diferente das outras formigas. Alguns soldados não gostam e começam a brigar, arma-se a maior confusão. Z descobre que Bala é uma princesa. Ela vai embora e diz que os dois nunca mais irão se ver.

A partir daí Z fica obcecado para conhecer melhor Bala. Faz uma proposta a Weaver, para que Z vá na inspeção no lugar dele. Após alguma resistência, Weaver topa.

No outro dia, começa a apresentação do exército para a inspeção geral. Z tenta chamar a atenção de Bala, que não o nota de meio das milhares de formigas marchando.

O General discursa para o exército: "Sacrifício! Para alguns é só uma palavra, para outros é um código. Um soldado sabe que a vida de uma formiga sozinha não vale, o que vale é a colônia. Ele está pronto para lutar por ela. Viver por ela. Morrer por ela. Sei que cumprirão seu dever."

Os soldados são convocados para atacar a colônia de cupins inimiga, numa missão suicida, e Z vai junto, pois estava no lugar de Weaver. Os soldados cantam:

"Formigas marcham só para vencer, vencer.
Matamos com prazer, prazer.
Nossa vitória pois virá, virá.
Nossa história será, será.
Eles terão seu triste fim.
Fará nosso destino, assim fará."

As formigas atacam a colônia de cupins e Z acaba sendo o único sobrevivente. No meio de tantos mortos encontra um soldado ferido, que diz a Z: "Não cometa os mesmos erros que eu. Não cumpra ordens a vida inteira, pense por si mesmo". E morre.

Z volta como herói de guerra. O General não consegue acreditar que tenha havido um sobrevivente, pois havia mandado seus soldados mais fracos para eliminá-los, sem causar suspeitas.

Weaver por sua vez trabalha como operário, e acha a tarefa muito divertida. Diz: "Repetição! Exercita os braços, fortalece o tórax". Durante o trabalho conhece Asteca, que não gosta muito da eficiência de Weaver, que é muito mais forte que os operários, e pede para ele ir mais devagar. O chefe dos operários pega os dois conversando e repreende-os. Asteca responde ao chefe e como castigo ele corta a sua ração do dia.

Z é apresentado á família real.Bala lembra dele e revela que ele não é soldado. Bala exalta a bravura de Z, pois mesmo sendo um operário ele foi o único sobrevivente. Arma-se uma confusão e Z para se defender seqüestra Bala.

No formigueiro Z vira mito e todas as formigas comentam. Começam a se dar conta de que podem ter escolhas. Falam que ele e Bala fugiram juntos, desafiaram o General. Weaver diz que também teve escolha pois era um soldado e agora era operário. Os operários começam a falar que controlam os bens de produção, que eles que detêm o poder. Desobedecem as ordens do chefe, que manda todos pararem de conversar. Começa a se armar uma rebelião. Formigas rasgam as faixas com dizeres estimuladores.

Bala e Z estão do lado de fora da colônia, e numa tentativa de resgaste frustrado dos soldados do General acabam se perdendo. Bala quer voltar para a colônia mas Z se nega a levá-la. Primeiro quer encontrar a Insetopia. Não quer voltar a carregar pedras, diz que Bala não sabe o que é trabalhar. Bala diz que Z não sabe o que é ter que passar a vida inteira pondo 1 larva a cada dez segundos.

O General não gosta do rumo que as coisas tomam no interior do formigueiro. Conversa com Carter, o coronel, e pergunta se pode contar com ele.

Fala aos operários em rebelião: "Ouvi falar muito desse tal de Z. Até tive o prazer de conhecê-lo. Mas onde ele está agora? Alguém pode dizer? Se esse Z se preocupa tanto com vocês, então porque não está aqui? Eu digo porque. Porque Z não dá a mínima para nós. Por isso raptou a princesa, por isso ele fugiu. Z não é um herói. Nós somos os heróis. Nós garantimos o futuro da colônia. Quando tivermos terminado essa grande colônia, nós colheremos benefícios. Mais comida e menos trabalho. E como recompensa cada um terá um dia de folga para a cerimônia de inauguração do túnel."

O General vê Weaver no meio das operárias e manda chamá-lo para o interrogatório. Quer saber informações sobre onde anda Z. Precisa recuperar Bala, pois sem ela a colônia não terá futuro.

As formigas operárias voltam a construir o grande túnel.

Enquanto isso Z e Bala acham a Insetopia. Passam um dia agradável, com comida a vontade, descanso, lazer. Insetopia é o paraíso.

Durante o interrogatório Weaver entrega Z. Diz que Z iria provavelmente procurar a Insetopia. O Cel. Carter diz que esse lugar não existe. O General confirma a existência do lugar e manda o Cel. Carter buscar Bala e matar Z. O Cel. Carter não concorda, mas obedece as ordens de seu superior. O General diz que o individualismo é perigoso, nos torna vulneráveis.

Bala conversa com Z. Ela diz que Z é bem estranho, não é como os outros. Ele diz que tem certas peculiaridades, excentricidades. Z sai de perto de Bala para buscar mais lenha. Nisso o Cel. Carter chega na Insetopia e leva Bala de volta. Bala mente que Z está morto, para salvá-lo.

Ao chegar na colônia Bala briga com o General na frente de outros soldados e diz que não vai mais casar com ele. O General a faz de prisioneira.
Z pega carona com uma abelha e chega de volta ao formigueiro. Consegue entrar disfarçado de operário comum, passando pelos guardas. Consegue libertar Bala, que conta que descobriu o grande plano do General: ele fecharia todas as saídas da colônia, prendendo todas as formigas operárias em seu interior. No momento em que estas terminassem de escavar o túnel este inundaria de água, e mataria a todos, inclusive a Rainha-Mãe.

As formigas estão reunidas no centro da colônia para a cerimônia de inauguração do túnel. O General discursa que aquela é a realização de um grande sonho, de uma colônia pura, renascida. O passado será limpo. Aquele seria o início de uma grande era.

O Cel. Carter está com receio de continuar com o plano, e diz que os operários são eficientes, senão não teriam construído o túnel.

Bala avisa a todos do grande perigo que correm, mas é tarde demais, Z não consegue impedir os operários de continuar cavando. A água começa a inundar o formigueiro.

A Rainha pede calma, mas começa uma confusão. Um operário grita: "Cada formiga por si".

Z decide formar uma escada de formigas, para que consigam atingir o topo do formigueiro e escapar para a rua. E diz: "Se construirmos essa escada, então podemos fazer qualquer coisa:" Uma operária ajuda a Rainha a fazer parte da escada também.

Do lado de fora do formigueiro estão todos os soldados. General diz que os fortes devem sobrepujar os fracos.

Neste momento Z chega ao topo e o General o vê. Surpreso pergunta o que é aquilo. O Coronel Carter diz em tom de deboche que são os elementos "fracos". O General pede a Z que desista, para o bem da colônia. Z diz: "Nós somos a colônia".

O Coronel Carter derruba o General e pede a todos soldados para ajudar a resgatar a colônia. O General briga com Z e os dois caem de volta ao formigueiro. O Coronel Carter salva Z, pois pode voar.

A colônia toda é salva e o General morre. Soldados e operários se unem, reverenciando Z e Bala. Z fica tímido, mas admite que pode se acostumar com a idéia de ser reverenciado. E diz:

"É a típica história do rapaz simples que conhece a moça. O rapaz gosta da moça, o rapaz muda a ordem social estabelecida. Reconstruímos a colônia. Ficou até melhor do que antes. (...) Eu e Bala estamos pensando em constituir uma família. Sabe, só um ou dois milhões de filhos, só pra começar. E eu tenho um novo analista, sabe, maravilhoso, maravilhoso. Ele me colocou em contato com meu verme interior. E sabe de uma coisa? Eu acho que finalmente encontrei o meu lugar, e sabem o que mais? É exatamente o mesmo do começo. A diferença é que desta vez eu é que escolhi".


ANÁLISE CRÍTICA DO FILME


Tudo começa quando Z, uma formiga operária, está insatisfeito com sua vida; questionando seus desejos, sua profissão e principalmente o sistema no qual está inserido. No diálogo inicial Z demonstra bem este sentimento, e se condena até por pensar demais.

Num formigueiro onde prevalece a Organização Científica do Trabalho ( OCT ) que visa o aumento da produtividade com base na exploração das formigas operárias, realmente pensar demais é um problema, pois faz com que o sujeito saia da completa alienação e sofra psiquicamente, se dando conta de que o formigueiro é um sistema maciço que aprisiona o sujeito desejante, fazendo com que este se sinta insignificante.

O modelo Taylorista-Fordista está presente fortemente em todo o filme, sob forma de economia do pensamento por parte do operário ( que leva a uma não crítica ) e do trabalho parcelar.

Z é só mais um dentre tantos, ou seja, ele é insignificante dentro de todo o contexto, como indivíduo. Seu trabalho não tem valor visto individualmente, o que há é a valorização da equipe e do trabalho, o que reforça a desvalorização subjetiva que Z sente. As formigas são vista como executoras de tarefas e nada mais. A massificação é tão poderosa que existem faixas com dizeres estimuladores por todos os lados, aumentando a alienação e reforçando o sistema. Até mesmo o tempo livre é usado para treinar.

Semelhante ao funcionamento de uma fábrica o operário é só mais um, sendo reconhecido como um número, bem como acontece no formigueiro, onde o nome de nosso herói é Z-4195.

Os momentos de lazer envolvem movimentos mecânicos, semelhantes ao do trabalho, mostrando que as formigas não conseguiam se desvencilhar deste tipo de funcionamento nem mesmo em momento de "lazer". Um exemplo é a hora da dança, que é anunciada por alto-falantes e tem um tempo pré-estabelecido. Os passos são iguais impossibilitando um espaço de criação. Quando isso acontece, ou seja, no momento que Z vai dançar com Bala, causa surpresa a todos, e cria a maior confusão. Z antes de dançar ainda comenta que todas aquelas formigas são "zumbis sem cérebro".

Como não poderia faltar há a presença de uma relação de hierarquia. O General controla todo o sistema. Sempre ressaltando que a vida de uma formiga sozinha não vale. Os soldados devem morrer pela colônia se necessário. Os operários por sua vez nunca podem parar a produção, precisam acabar no prazo. Neste contexto, o foco central está na produtividade x lucratividade e não no sujeito.

Quando Z troca de lugar com Weaver e sequestra Bala começa a se criar uma rebelião. As outras formigas começam a perceber que podem ter escolhas, que podem ser seres desejantes e que são eles que controlam os bens de produção e detêm o poder. Se eles param o sistema não existe.

Para acalmar os trabalhadores o General mente para as formigas dizendo que quem trabalhasse receberia um dia de folga para ver a cerimônia de inauguração do túnel, ou seja, se utiliza da introdução dos benefícios aos trabalhadores como forma de motivação e de apreciação de seu próprio trabalho, fazendo com que estes voltem a produzir.

No dia da inauguração do túnel, que na verdade era uma grande cilada, todas as castas do formigueiro acabam se unindo, até mesmo a Rainha-Mãe passa a fazer parte da colônia, como um todo. Agora sim eles são uma colônia, formando realmente uma equipe produtiva de trabalho, com liberdade de escolha.

Para Z a solução não era viver no paraíso de Insetopia e sim poder escolher o seu lugar no funcionamento do formigueiro.
Para as outras formigas, que estavam "presas" tão fortemente ao desejo da Instituição foi preciso um movimento bastante significante por parte de Z, para que todos se permitissem desejar algo próprio de suas subjetividades.

A diferença estava entre escolher ou ser escolhido.


DADOS DO FILME

FormiguinhaZ ( 1998)
Original: AntZ
Gênero: Animação Computadorizada
Tempo de Duração: 82 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1998
Site Oficial: www.pepsi.com/antz
Estúdio: DreamWorks SKG / Pacific Data Images
Distribuição: DreamWorks Distribution L.L.C. / UIP
Direção: Eric Darnell e Tim Johnson
Roteiro: Todd Alcott, Chris Weitz e Paul Weitz
Produção: Brad Lewis, Aron Warner e Patty Wooton
Música: Harry Gregson-Williams e John Powell
Desenho de Produção: John Bell
Direção de Arte: Kendall Crockhite
Edição: Stan Webb
Efeitos Especiais: Pacific Data Images


Elenco (Vozes)
Woody Allen (Z)
Sharon Stone (Princesa Bala)
Gene Hackman (General Mandíbula)
Jennifer Lopez (Azteca)
Danny Glover (Barbatus)
Sylvester Stallone (Weaver)
Christopher Walken (Coronel Cutter)
Dan Akroyd (Chip)
Anne Bancroft (Rainha)
Jane Curtin (Muffy)
Paul Mazursky (Psicólogo)


Notas

1 - Texto produzido na cadeira de Organizações e Relações de Trabalho I, abril de 2001. (UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS)
2 - Graduandas em psicologia pela UNISINOS. e-mail: [email protected]


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