Quem Nos Impede de Aprender?1

Morgana Mengue Saft2

 

Quem nos impede de aprender? Esta é uma questão que não me canso de fazer... Porque é interessante, por vezes, que de nada saibamos? Saber remete a poder, e este, por sua vez, deve permanecer na "mão" de alguns... poucos?

Nem questiono o papel da Igreja Católica neste aspecto, por todos os segredos não ditos, que muitas vezes nem existiam. Mas, bom, como manter seu rebanho sem as cercas invisíveis do pecado, da punição e da ignorância? Como estas cercas se manteriam se o saber, com sua possibilidade de questionamento viesse à tona? As cercas possivelmente seriam derrubadas. Foram épocas de escuridão; e de silêncio...

E onde tudo isto começa? Não sei. Vejo a Igreja, enquanto uma poderosa e manipuladora instituição, como o potente veículo, mas está aí, realmente, o início de tudo isto? Será o processo civilizatório, a dominação do homem, a lei, enfim, é aí que a detenção de um saber aparece como forma de poder? Como forma de civilizar e não permitir o caos?

Até hoje acreditamos que controlamos o outro e nos proporcionamos um certo conforto com o controle que acreditamos ter também, sobre nós. E isto provoca gozo/prazer.

Prazer lembra, bom, pelo menos durante muito tempo, prazer esteve muito atrelado a pecado. Então não temos prazer... A não ser, aquém dos olhos do outro.

E o que carregamos disto hoje? Já não basta sabermos todo o mal caosado pelos segredos em nome de controle/poder, ditos em nome da salvação?

Como unir aprendizagem e prazer?

Existem marcas deixadas em nós, enquanto civilização que permanecem visíveis por muito tempo.

O processo de aprendizagem vejo como um deles. Afinal, a que serve a "maçã", contada como a gênese da nossa história, o acesso a "árvore do conhecimento" e seu conseqüente castigo sobre a humanidade?

Porque ainda ouvimos que aprender, o "aprender" é obtido/construído a custa de muito sofrimento? E se há sofrimento, alguém precisa ser colocado como possibilitador deste "sofrer".

Questiono também o lugar ocupado, a não sei que propósito "pela professora" , neste "fazer sofrer". Me parece que sempre ela é a "culpada" pelo não aprender de seus alunos, ainda que se fale em família, escola, social, enfim, sempre volta-se a ela.

Será este "suposto" impedimento ao conhecer uma expiação ao pecado de Eva/mulher?

Por tudo que acima escrevi, penso que estas relações com o aprender, o saber, poder, estão muito além da professora, do diretor, da escola e sim, implicado nos nossos mitos, crenças, valores, no social também, enquanto mantedor do um sistema (capitalista), internalizado de alguma forma em nós, do que foi por muito tempo lei: Não saber e assim, não sofrer!

 

Notas

1 - Comentário baseado no Filme "O Nome da Rosa". São Leopoldo, maio de 2000.

2 - Graduanda em psicologia pela UNISINOS. E-mail: [email protected]


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