O Mal-Estar na Civilização (Sigmund Freud)1
Alex Tavares, Ana Paula Almeida, Carolina Eidelwein, Cibele Kramer e Cristina Rocha2

 

Freud estabelece um antagonismo na relação do homem com a sociedade, como se os desejos deste fossem algo contrário à civilização, a cultura oprimindo o desejo do ser humano. O indivíduo seria dotado de desejos e instintos, contra os quais a sociedade adotaria leis e regras para possibilitar a vida em comunidade. Aparece claramente no discurso do autor a dicotomia indivíduo-sociedade, sendo que os desejos do homem vão de encontro à cultura, como se a cultura não fabricasse algum tipo de desejo nesse homem e como se ele mesmo não fosse além de produto, também produtor da cultura.

Para Freud, a construção da civilização se deu devido ao castramento dos instintos humanos. O homem, que segundo ele é determinado a viver em competição com seus semelhantes, vê-se obrigado a abrir mão de sua força bruta individual utilizando-se da força comunitária em prol da civilização.

A repressão dos instintos é o preço que se paga para que a civilização possa se desenvolver e aqui nós questionamos se o instinto humano não seria ele próprio produtor da cultura. Parece-nos que muitas pessoas produzem utilizando-se principalmente de seus instintos, como os artistas, por exemplo. Freud refere-se a eles como pessoas que se utilizam da arte para sobreviver à opressão da civilização, como se fosse um modo de extravasar aquilo que está em seu interior (arte: medida paliativa para sobreviver à civilização).

O autor coloca que é somente controlando seus instintos agressivos que o homem conseguirá viver em sociedade, afirmando que não há maneira de negar tais instintos, afinal em algum lugar eles aparecerão, Um bom exemplo desse fato consiste na crença religiosa: não é a toa que existe um deus bom e um diabo ruim, deve ser porque ninguém consegue ser contido o tempo todo e a agressividade aflora de algum jeito. Para Freud, se não existisse um lado "ruim" no ser humano, não existiriam as regras, se o homem nunca tivesse o impulso de matar, não haveria um mandamento contra esse ato - "não matarás".

Ele retoma a dicotomia homem-sociedade estabelecendo o ego como uma estrutura delimitada, com linhas de demarcação muito claras e nítidas. Afirma que apenas para o sentimento de amor o ego não veria seus limites, não distingüiria o eu do objeto amado.

Freud parece colocar-se numa posição de medo em relação ao sofrimento e às mudanças que são inerentes à vida e devido a isso parece tentar, ao longo do texto, estabelecer regras para que se possa fugir disso (como se isso fosse possível!). Acaba, desse modo, entrando em um processo de racionalização dos sentimentos. Será que ele não pensou o sofrimento e a mudança como fatores imprescindíveis para a expansão da vida? Para ele aquilo que produz mudança gera infelicidade, se causar instabilidade é sofrimento.

Nesse momento remetemo-nos a Nietzsche quando ele afirma que o sofrimento gera também o crescimento, salientando que a vida que aí está deve ser aproveitada em todos os seus momentos, que o sofrimento não deve ser evitado.

Freud coloca que o homem está fadado ao sofrimento em três direções: a decadência e a dissolução de seu próprio corpo, as ameaças do mundo externo e o relacionamento com os outros homens. A partir desse pressuposto ele diz que o homem passa a buscar medidas que o protejam dos sofrimentos advindos dessas fontes.

A respeito da religião, Freud diz que ela dá uma fórmula de vida aos fiéis, impondo dogmas e instigando o sentimento de culpa a todo instante. Nietzsche fala da culpa dando-lhe o nome de ressentimento (re-sentir). Ele afirma que muitas pessoas prendem-se a esse sentimento, colocando a culpa de tudo o que acontece de ruim em suas vidas no outro. Para ele, quem submete-se às regras - o "bom" para a religião- é justamente aquele que é fraco, sendo que quem seria passível de admiração é o "opressor", aquele que cria as regras, que faz com que os outros o sigam.

Na visão de Freud a mulher é tida como um objeto passivo, que não participa do processo de desenvolvimento da civilização. Ela é apenas uma renegada, que fica cobrando mais atenção do marido que investe grande parte de sua libido na construção da civilização.


Notas

1- Texto desenvolvido na cadeira de prática disciplinar II no curso de Psicologia da UNISINOS.

2 - Graduandos em psicologia pela UNISINOS.


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