FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro : Imago, 1997. 116p.


"No auge do sentimento de amor, a fronteira entre o ego e objeto ameaça desaparecer. Contra todas as provas de seus sentidos, um homem que se ache enamorado declara que "eu" e "tu" são um só, e está preparado para se conduzir como se isso constituísse um fato. Aquilo que pode ser temporariamente eliminado por uma função fisiológica (isto é normal) deve também, naturalmente, estar sujeito a perturbações causadas por processos patológicos."

"Há casos em que partes do próprio corpo de uma pessoa, inclusive partes de sua própria vida mental - suas percepções, pensamentos e sentimentos - lhe parecem estranhas e como não pertencentes a seu ego. Assim, até mesmo o sentimento de nosso próprio ego está sujeito a distúrbios, e as fronteiras do ego não são permanentes."

"Na vida mental, nada do que uma vez se formou pode perecer - tudo é, de alguma maneira, preservado e em circunstâncias apropriadas (quando por exemplo, a regressão volta suficientemente atrás), pode ser trazido de novo à luz."

"Se quisermos representar a seqüência histórica em termos espaciais, só conseguiremos fazê-lo pela justaposição no espaço: o mesmo espaço não pode ter dois conteúdos diferentes. Nossa tentativa parece ser um jogo ocioso. Ela conta com apenas uma justificativa. Mostra como estaremos longe de dominar as características da vida mental através de sua representação em termos pictóricos."

"É sempre possível que, mesmo na mente, algo do que é antigo seja apagado ou absorvido - quer no curso normal das coisas, quer como exceção - a tal ponto que não possa ser restaurado nem revivescido por meio algum, ou que a preservação em geral dependa de certas condições favoráveis. É possível, mas nada sabemos a esse respeito. Podemos apenas prender-mos ao fato de ser antes regra, e não exceção, o passado achar-se preservado na vida mental."

"Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto a da proteção de um pai. Dessa maneira, o papel desempenhado pelo sentimento oceânico, que poderia buscar algo como a restauração do narcisismo ilimitado, é deslocado de um lugar em primeiro plano. A origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de desamparo infantil."

"Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de lamentáveis atos retrógrados."

"A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muito sofrimento, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-las, não podemos dispensar as medidas paliativas. "Não podemos passar sem construções auxiliares", diz Theodor Fontane. Existem talvez três medidas desse tipo: derivativos poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraça; satisfações substitutivas, que a diminuem; e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a ela."

"O que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer. Esse princípio domina o funcionamento do aparelho psíquico desde o início. Não pode haver dúvida sobre sua eficácia, ainda que o seu programa se encontre em desarcodo com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo quanto com o microcosmo. Não há possibilidade alguma de ele ser executado; todas as normas do universo são-lhe contrárias. Ficamos inclinados a dizer que a intenção de que o homem seja "feliz" não se acha incluída no plano da "Criação"."


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