Adler - Conceitos Principais

Christian Svoboda1

 

Inferioridade e Compensação

Adler, como médico interessado principalmente em processos fisiológicos, estava interessado em descobrir a resposta para a permanente questão de se saber por que é que as pessoas ao se sentirem aflitas ou doentes, expressam-no sempre em determinadas regiões do corpo. O corpo poderia, em virtude de herança ou de alguma anomalia do desenvolvimento, apresentar uma inferioridade numa determinada região. Verificou então, que uma pessoa portadora de defeito em algum órgão em geral procura compensar essa fraqueza pelo fortalecimento deste, através de treino e exercícios. Se existe uma inferioridade no organismo, existe meios de compensá-la. Não são raros os exemplos como Demóstenes, que mesmo gago, se tornou um dos maiores oradores de todos os tempos. Adler disse também que os sentimentos de inferioridade não são, em si, anormais, mas são a causa de todo progresso na situação da espécie humana. Criou então, o termo "complexo de inferioridade", quando ampliou sua investigação sobre inferioridade orgânica para o estudo do sentimento psicológico de inferioridade. Um complexo de inferioridade forte implicaria no impedimento de um crescimento positivo, isso enfatizasse principalmente às crianças; e um complexo moderado, seria suficiente para despertar o desejo de crescer e motivar o indivíduo para realizações futuras.


Luta pela Superioridade

Superioridade para Adler é um esforço no sentido de completar-se, ou como disse o próprio Adler o "grande impulso para cima". O termo superioridade foi substituído do termo agressão, porque mesmo que lembrasse a hostilidade, o sentido era de evolução, superação de obstáculos. O escopo final da superioridade era a motivação para aperfeiçoarmos, para desenvolvermos nossas capacidades e potencial. A luta pela superioridade, segundo Adler, é inata no sentido de que faz parte da vida, uma luta pela perfeição, um algo sem o qual a vida seria inimaginável. Se essa luta não fosse inata ao organismo, nenhuma forma de vida poderia preservar-se. Relaciona-se com o processo evolutivo de adaptação contínua ao meio ambiente, onde as espécies devem evoluir ou sucumbir para a extinção. Cada indivíduo procura relacionar-se o melhor possível com o seu meio ambiente. A luta pela superioridade conduz a pessoa de um estágio de desenvolvimento a outro superior.


Objetivos de vida

Cada indivíduo desenvolve um objetivo de vida específico que funciona como centro de realização, influenciado por experiências pessoais, valores, atitudes e personalidade, formando-se no início da infância. Os objetivos são formulados a partir da infância quando a criança procura formas de compensação de sentimentos de inferioridade, insegurança e desamparo num mundo adulto. Adler salienta que os traços de caráter necessários para atingir o objetivo de vida não são nem inatos nem imutáveis, sendo adotados como facetas essenciais da direção do objetivo do indivíduo.


Estilo de vida

O estilo de vida é o princípio do sistema responsável pelo funcionamento da personalidade; o todo que comanda as partes; o princípio que explica a singularidade de uma pessoa. O estilo de vida é o caminho único que um indivíduo escolhe para buscar seu objetivo. É um estilo integrado de adaptação e integração com a vida em geral, visando atingir a superioridade. Segundo Adler, o estilo de vida forma-se na infância por volta de quatro ou cinco anos. Por isso, uma pessoa pode adquirir novas maneiras de expressar seu estilo de vida, mas estas serão apenas expressões concretas e particulares do mesmo estilo básico adquirido na infância. Disse ainda Adler, que o estilo de vida é, em grande parte, determinado pelas inferioridades específicas que a pessoa apresenta, sejam elas reais ou imaginárias.


O esquema de Apercepção

Apercepção se refere à percepção envolvendo uma interpretação subjetiva do que é percebido. É a concepção de que cada indivíduo desenvolve de si mesmo e do mundo, dentro de um estilo de vida. O conceito de mundo de uma pessoa é que determina seu comportamento. Entretanto, nossos sentidos não percebem fatos reais, mas apenas imagens subjetivas deles, como se fosse um reflexo do mundo externo. Por isso, determinado estímulo, como o medo, pode auto-reforçar a leitura que fazemos do ambiente. Dessa forma, uma pessoa medrosa perceberá ameaças no meio ambiente, reforçando a crença que o ambiente é ameaçador.


O Poder Criativo do Self

Do contrário da visão pessimista do ser humano criada por Freud, Adler salientava que respondemos ativa e criativamente às várias influências que afetam nossas vidas. Por isso, segundo Adler ainda, não somos objetos inertes que aceitam de forma passiva todas as forças externas; procuramos ativamente certas experiências e rejeitamos outras. O self criador é o fermento que age sobre os fatos e os transformam em uma personalidade que é subjetiva, dinâmica, unificada, pessoal e única em seu estilo. O processo de formação de um objetivo de vida, estilo de vida e esquema de apercepção é essencialmente um ato criativo. O conceito de self criador demonstra a noção que Adler tinha de homem como ser autoconsciente, capaz de planejar e dirigir suas ações, com plena convicção do sentido delas para a sua autorealização. O homem, então, era dono de seu destino ao invés de ser vítima. Adler salienta ainda que moldamos nossas próprias personalidades, com a matéria-prima da hereditariedade e da nossa própria experiência.


Interesse Social

Adler disse que todo comportamento humano é social porque crescemos num meio social e nossas personalidades são socialmente formadas. Mais do que um interesse social, o conceito remete a um "senso de solidariedade", incluindo sentimentos de afinidade com o desenvolvimento da comunidade ideal de todo o gênero humano, o que seria o último estágio da evolução. O ideal de uma sociedade perfeita substitui a ambição puramente pessoal de ganho egoísta. Trabalhando para o bem comum, o homem compensa sua fraqueza individual. O interesse social também é inato, sendo o homem uma criatura social por natureza e não por hábito. Portanto, o interesse social, traduz-se no auxílio que o indivíduo pode prestar à sociedade, a fim de que ela atinja o ideal de perfeição. É a verdadeira e inevitável compensação pela natural fraqueza dos seres humanos individuais (definição do próprio Adler). Dessa forma, o homem é motivado por um interesse pessoal ao bem-estar comum, em que a imagem do homem perfeito, vivendo em uma sociedade perfeita, apagou a figura do homem forte e agressivo, que domina e explora a sociedade. O interesse social substitui o interesse próprio.


Cooperação

A cooperação como método de sobrevivência da raça humana é uma das formas mais efetivas de adaptação ao meio ambiente. Adler acreditava que somente através da cooperação com outros, e operando como um membro cooperativo eficaz da sociedade, podemos superar nossas inferioridades reais ou nosso sentimento de inferioridade. Adler observou que aqueles que contribuíram substancialmente para a humanidade são os indivíduos mais colaboradores e os trabalhos dos grandes gênios sempre têm uma orientação social. Já a falta de cooperação e um conseqüente sentimento de inadequação e malogro são as raízes de todo estilo de vida neurótico ou inadaptado.

 

 

Notas

1 - Graduando em psicologia pela UNISINOS. E-mail: [email protected]


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