BERGERET, Jean. Personalidade Normal e Patológica. 2º ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. 291p.
Estruturas Neuróticas
1 - Obsessiva.
2 - Histérica de angústia.
3 - Histérica de conversão.
Estruturas Psicóticas
1 - Esquizofrênica.
2 - Paranóica.
3 - Melancólica.
Meus principais critérios de classificação, próximos
das referências de L. RANGELL (1965), serão similares para todas
as categorias examinadas e essencialmente centrados em quatro fatores:
- natureza da angústia latente;
- modo de relação de objeto;
- principais mecanismos de defesa;
- modo de expressão habitual do sintoma.
1. A linhagem estrutural psicótica
... a linhagem psicótica
parte do nível das frustrações muito precoces, originando-se
essencialmente do pólo materno, pelo menos no que concerne às
frustrações mais primitivas.
Um ego que sofre sérias fixações e permanece bloqueado,
ou então regressa em seguida a este nível, se pré-organiza
mui rapidamente, em uma primeira etapa, conforme o modelo já exposto
anteriormente, segundo a linha estrutural psicótica, posta assim em funcionamento
de modo bastante determinante.
Isto apenas pode ocorrer durante a fase oral ou, o mais tarde, durante a primeira
parte da fase anal, determinada por ABRAHAM como a fase anal de rejeição.
Esta linha divisória situa-se,
segundo ABRAHAM, do ponto de vista do desenvolvimento pulsional, entre o primeiro
subestágio anal de rejeição e o segundo subestágio
anal de retenção. Todas as regressões e fixações
situadas a montante desta linha de separação fundamental corresponderiam
às estruturações psicóticas: a estrutura esquizofrênica
apresentar-se-ia como a mais arcaica, a seguinte seria a estrutura melancólica
(ou os comportamentos maníacos defensivos da mesma organização),
depois viria, por último, bem encostada à linha divisória,
a estrutura paranóica, a menos regressiva do grupo das estruturas psicóticas,
no plano pulsional.
Aquilo que, em contrapartida, se situasse da "divided line" de K.
ABRAHAM, corresponderia às estruturações do modo neurótico,
começando pela estrutura obsessiva, continuando depois pela estrutura
histérica...
... casos de eventual desvio da linhagem psicótica pré-estruturada para uma linhagem de estruturação definida de tipo neurótico por ocasião da adolescência (e possível unicamente neste momento) mostram-se, infelizmente, muito raros, embora realizáveis... somente uma psicoterapia bastante profunda, no plano da análise das defesas, na transferência, pode levar a uma mudança de linhagem estrutural.
Os principais mecanismos de defesa
psicóticos são: projeção, clivagem do ego (interior
do ego, e não pela simples clivagem de imagos objetais), negação
da realidade; todos estes mecanismos concorrem para com o nascimento de fenômenos
de despersonalização, de desdobramento da personalidade, ou ainda
de simples desrealização.
2. A linhagem estrutural neurótica
... se um sujeito desta linhagem
adoecer, não poderá fazê-lo senão conforme um dos
modos neuróticos autênticos: neurose obsessiva e histeria (de angústia
ou de conversão), correspondentes às duas estruturas possíveis
de se encontrar no seio da linhagem estrutural neurótica em geral, a
estrutura obsessiva e a estrutura histérica.
A maneira como é vivido o
Édipo matiza todas as variedades neuróticas no seio da mesma linhagem.
O superego apenas entra em jogo de forma efetiva depois do Édipo, do
qual é o herdeiro. Não se pode falar de superego propriamente
dito, senão nas estruturas neuróticas. O conflito neurótico
situa-se entre o superego e as pulsões e desenrola-se no interior do
ego.
A defesa neurótica característica
foi longamente descrita por FREUD sob o vocábulo "Verdrängung",
traduzido por nós como "recalcamento". Embora outros mecanismos
acessórios possam vir em auxílio deste recalcamento conforme as
variedades neuróticas, jamais se apela, contudo, à negação
da realidade, mesmo de forma parcial. A realidade pode achar-se transformada
pela elaboração defensiva, mas permanece nãp negada. As
exigências do princípio do prazer sempre ficam mais ou menos submetidas
ao controle do princípio da realidade.