BARTHES, Roland. Aula. São
Paulo: Cultrix, 1989. 89p.
... a honra pode ser imerecida,
a alegria nunca o é.
o poder (a libido dominandi) aí
está, emboscando em todo e qualquer discurso, mesmo quando este parte
de um lugar fora do poder.
chamo discurso de poder todo discurso
que engendra o erro e, por conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe.
Esse objeto em que se inscreve o
poder, desde toda eternidade humana, é: a linguagem - ou, para ser mais
preciso, sua expressão obrigatória: a língua.
... a língua, como desempenho
de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista;
ela é simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir
de dizer, é obrigar a dizer.
... em cada signo dorme este monstro:
um estereótipo.
A ciência é grosseira,
a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura
nos importa... a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe
de alguma coisa; ou melhor: que ela sabe algo das coisas - que sabe muito sobre
os homens.
O real não é representável,
e é porque os homens querem constantemente representá-lo por palavras
que há uma história da literatura.
... fale isto ou aquilo segundo
as perversões, não segundo a Lei.
... o poder se apossa do gozo de
escrever como se apossa de todo gozo, para manipulá-lo...
... as ciências (pelo menos
aquelas de que tenho alguma leitura) não são eternas: são
valores que sobem e descem numa Bolsa, a Bolsa da História.
... o desejo é mais forte
do que sua representação.
... língua e discurso são
indivisos, pois eles deslizam segundo o mesmo eixo de poder.
o signo deve ser pensado - ou repensado
- para que melhor se decepcione.
... toda imagem é, de certo
modo, uma narrativa.
... o que pode ser opressivo num
ensino não é finalmente o saber ou a cultura que ele veicula,
são as formas discursivas através das quais ele é proposto.
... meu corpo é bem mais
velho do que eu, como se conservássemos sempre a idade dos medos sociais
com os quais o acaso da vido nos pôs em contacto. Portanto, se quero viver,
deve esquecer que meu corpo é histórico, devo lançar-me
na ilusão de que sou contemporâneo dos jovens corpos presentes,
e não de meu próprio corpo, passado.