FREUD, Anna. O Ego e os Mecanismos de Defesa. 3º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A., 1974. 149p.


A. Teoria dos Mecanismos de Defesa
I. O Ego como sede de Observação

A opinião sustentada era que o termo psicanálise devia ser reservado para as novas descobertas relativas à vida psíquica inconsciente, isto é, o estudo dos impulsos instintivos reprimidos, dos afetos e fantasias. A psicanálise não tinha por que interessar-se, propriamente, por problemas tais como o da adaptação de crianças e adultos ao mundo exterior, por conceitos de valor como os de saúde e doença, virtude e vício.

Desde o começo, a análise, como método terapêutico, preocupou-se como o ego e suas aberrações: a investigação do id e de seus processos de funcionamento, foi sempre um meio, apenas, para se alcançar um fim. E o fim era invariavelmente o mesmo: a correção dessas anormalidades e a recuperação do ego, em sua integridade... Atualmente, definiríamos a tarefa da análise da seguinte maneira: adquirir o máximo conhecimento possível de todas as três instituições que acreditamos constituírem a personalidade psíquica a aprender quais são as suas relações mútuas com o mundo externo. Quer dizer: em relação ao ego, explorar o seu conteúdo, suas fronteiras e funções e apurar as influências no mundo externo, no id e no superego pelas quais foi moldado; e, em relação ao id, dar um explicação dos instintos, isto é, do conteúdo do id e acompanhar as transformações por eles sofridas.

O nosso conhecimento do id - a que se dava antes o nome de Inconsciente - só pode ser adquirido através de derivativos que abram caminho e se apresentem nos sistemas pré-consciente e consciente.

Segue-se, teoricamente, pelo menos, que o id não é acessível à observação sob todas e quaisquer condições.
A situação é diferente, clarom no caso do superego. O seu conteúdo é, em sua maior parte, consciente e podemos alcançá-lo diretamente, pois através da percepção endopsiquica. Não obstante, a nossa imagem do superego tende sempre para tornar-se confusa e enevoada quando existem relações harmoniosas entre ele e o ego.

O superego, tal como o id, passa a ser perceptível no estado que gera dentro do ego: por exemplo, quando a crítica suscita um sentimento de culpa.

Vários impulsos instintivos estão perpetuamente forçando sua introdução no ego, a partir do id, para ganharem acesso ao aparelho motor, por meio do qual obtém gratificação. Nos casos favoráveis, o ego não faz objeções aos intrusos, mas coloca suas próprias energias à disposição daqueles, limitando-se por sua parte a perceber; assinala o desencadear do impulso instintivo, o aumento de tensão e os sentimentos de "dor" que a acompanham e, finalmente, o alívio de tensão quando é obetida a gratificação.

... nós só tomamos conhecimento da repressão quando se torna evidente que está faltando alguma coisa. Quero dizer com isto que, quando tentamos formar um juízo objetivo sobre um determinado indivíduo, damo-nos conta da ausência de certos impulsos do id, cujo aparecimento no ego seria de esperar, em busca de gratificação. Se não emergirem, em momento algum, só poderemos então partir de princípio de que lhes foi negado permanentemente o acesso ao ego, isto é, que tais impulsos sucumbiram a repressão.

Regra geral, o ego nada sabe sobre a rejeição do impulso ou sobre o conflito geral que resultou na implantação de uma nova característica.

 


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