A MORTE
Havia tempo que não visitaba aos defuntos. Na enorme necrópole verifiquei, uma vez máis, o destino inevitável de quem segue o caminho da carne.
Milhares dos túmulos com milhares dos corpos aos que eu estarei unido algum dia. Então o dilemma apresenta_se: qual é a melhor maneira de viver antes da certeza, a única que nós temos, da morte?
Na uma mão, o caminho dominante na sociedade atual, o hedonismo selvagem sintetizado na expressão típica desde ha umasr décadas do "sexo, drogas e do rock and roll". Após cavilar ums minutos, a conclusão é inequivoca: esta maneira é na aparência a máis prazenteira, mas tem dois defeitos. A forma descrita de vida, sem dúvida aceleraria a minha conversão em um outro cadáver frio como aqueles que me cercam, porque o corpo resiste, mas até um limite.
E, na outra mão, as expectativas chegado a este momento não parecem muito melhores tampouco. Prestando atenção aos túmulos, as diferenças entre eles não existem, e são impossíveis discernir aqueles mortos que fizeram uma vida hedonista dos outros da vida mais murcha. Tudo é carne, ossos e vermes a engordar.
Eu estou receoso que, uma vez mortos, as alegrias da vida são tão insignificantes quanto efémeras. Não, digo_me, que não é o caminho ao que dirigir os meus pasos . Eu prefiro ir ao Reino da Luz Perpetua e o Amor. O Paradiso prometido por Deus aos homens dignos merecê_lo.
A dúvida? pertungarão muitos. A dúvida é inevitável quando a evidência irrefutavel não existe. E a evidência definitiva não existe porque a liberdade da seleção não seria então possível. Em todo caso, nós aceitamos o fato. Talvez ao final, nada de todo isto seja feito como nós pensmos. Talvez o famoso Paradiso não exista e nós não sejamos mais que uma vulgar experiência fracassada de alguma Entidade Criadora.
Mas, ao fim, a racionalidade prevalece: nós não temos grande coisa que perder e uma eternidade que ganhar. Vale a pena se arriscar.
COM A MORTE COMEÇA A VIDA AUTÉNTICA
Isto é o que se deduz inequivocamente das palavras de Jesus. Este que nos o cerca é um mundo inferior ao que nós viemos nos examinar. Tudo o que nos cerca é limitado no tempo, esta realidade é finita, o homem, seus projetos, o céu, o mar, a o planeta Terra, o sol, o universo inteiro, ao fim desaparecerão.
Jesus confirmou_o: O CÉU E A TERRA DESAPARECERÃO, MAS MINHAS PALAVRAS
NÃO DESAPARECERÃO.Esta é a única realidade a que nós podemos amarrar-nos com segurança
total. Deus, o Eterno, tende_nos sua mão com o sacrifício de seu filho, Jesus, de modo que nós nos
livremos das cadeas que nos amarram ao mal. EU VIM DAR MINHA VIDA PELA SALVAÇAO
DE MUITOS. So uma vez purificados do pecado com o sacrifício de Cristo (a qual nós somos
unidos por meio da Comunião Eucarística do seu corpo e do seu sangue), pode o homem alcançar a
dignidade para a qual foi criado: para ser filho Deus, e para viver na Sua presença per saecula
saeculorum. AMEN A MORTE COMO ENCONTRO COM O PAI 1. Depois de ter reflectido sobre o destino comum da humanidade, o
qual se realizará no fim dos tempos, agora queremos chamar a
atenção para outro tema que nos concerne directamente: o
significado da morte. Hoje é difícil falar da morte, porque a sociedade
do bem-estar está propensa a remover esta realidade, cujo
pensamento causa angústia. Com efeito, como observou o Concílio,
�é em face da morte que o enigma da condição humana mais se
adensa� (Gaudium et spes, 18). Todavia, sobre esta realidade a
Palavra de Deus oferece-nos uma luz que ilumina e consola, embora
de maneira progressiva. No Antigo Testamento, as primeiras
indicações são dadas pela comum experiência dos mortais, ainda não
iluminada pela esperança de uma vida bem-aventurada além-morte.
Pensava-se sobretudo que a existência humana se concluísse no
�sheol�, lugar de sombras, incompatível com a vida em plenitude.
Muito significativas a este propósito são as palavras do Livro de Job:
�Não são breves os dias da minha vida? Deixa-me só para que possa
ter um pouco de conforto antes que parta, a fim de não mais voltar
para a região das trevas e das sombras da morte, terra de espantosa
confusão e desordem, onde a mesma luz é como a obscuridade� (10,
20-22). 2. Nesta dramática visão da morte, a revelação de Deus progride
lentamente, e a reflexão humana abre-se para um novo horizonte que
receberá luz plena no Novo Testamento. Compreende-se antes de
mais que, se a morte é aquele inexorável inimigo do homem, que
procura derrotá-lo e reconduzi-lo sob o seu poder, Deus não a
poderia ter criado, porque não pode alegrar-se com a perdição dos
vivos (cf. Sb 1, 13). O projecto originário de Deus era diferente, mas
foi contrastado pelo pecado cometido pelo homem por influxo
demoníaco, como explica o Livro da Sabedoria: �Com efeito, Deus
criou o homem para a incorruptibilidade, e fê-lo à imagem da sua
própria natureza. Por inveja do demónio é que a morte entrou no
mundo, e prová-la-ão os que pertencem ao demónio� (2, 23-24).
Também Jesus evoca esta concepção (cf. Jo 8, 44) e nela está
assente o ensinamento de São Paulo sobre a redenção de Cristo,
novo Adão (cf. Rm 5, 12.17; cf. 1 Cor 15, 21). Com a sua morte e
ressurreição, Jesus derrotou o pecado e a morte, que é a sua
consequência. 3. À luz de quanto Jesus realizou, compreende-se a atitude de Deus
Pai diante da vida e da morte das suas criaturas. Já o Salmista intuíra
que Deus não pode abandonar os seus fiéis no túmulo, nem permitir
que o seu Santo veja o sepulcro (cf. Sl 16, 10). Isaías indica um
futuro em que Deus eliminará a morte para sempre, enxugando �as
lágrimas de todas as faces� (25, 8) e ressuscitando os mortos para
uma nova vida: �Os vossos mortos reviverão, os seus cadáveres
ressuscitarão, despertarão jubilosos os que jazem no sepulcro!
Porque o vosso orvalho é um orvalho de luz, e a terra das sombras
dará à luz� (26, 19). Assim, à morte como realidade niveladora de
todos os vivos sobrepõe-se a imagem da terra que, como mãe, se
prepara para o parto de um novo ser vivo e dá à luz o justo,
destinado a viver em Deus. Por isso, embora os justos �aos olhos
dos homens sejam atormentados, a sua esperança está cheia de
imortalidade� (Sb 3, 4). No segundo Livro dos Macabeus, a
esperança da ressurreição é confirmada magnificamente por sete
irmãos e pela sua mãe, no momento de padecerem o martírio. Um
deles declara: �Do céu recebi estes membros do corpo, mas agora
desprezo-os por amor das leis de Deus, e d'Ele espero recebê-los de
novo� (7, 11); outro, �prestes a expirar, disse: "É uma felicidade
perecer pela mão dos homens, com a esperança de que Deus nos
ressuscite"� (7, 14). Heroicamente, a sua mãe encorajava-os a
enfrentar a morte com esta esperança (cf. 7, 29). 4. Já na perspectiva do Antigo Testamento, os profetas
admoestavam a esperar �o dia do Senhor� com o espírito recto, pois
de outra forma este seria �de trevas e não de luz� (cf. Am 5, 18.20).
Na plena revelação do Novo Testamento salienta-se o facto de que
todos serão julgados (cf. 1 Pd 4, 5; Rm 14, 10). Mas diante disto, os
justos não deverão temer, enquanto eleitos destinados a receber a
herança prometida; eles colocar-se-ão à direita de Cristo, que os
chamará �benditos de meu Pai� (Mt 25, 34; cf. 22, 14; 24, 22.24).
A morte que o fiel experimenta como membro do Corpo místico abre
o caminho rumo ao Pai, que de facto nos demonstrou o seu amor na
morte de Cristo, �propiciação pelos nossos pecados� (1 Jo 4, 10; cf.
Rm 5, 7). Como afirma o Catecismo da Igreja Católica, a morte
�para aqueles que morrerem na graça de Cristo é uma participação
na morte do Senhor, a fim de poderem participar na sua
Ressurreição� (n. 1006). Jesus �ama-nos e com o seu sangue nos
lavou dos nossos pecados... e fez- nos reis e sacerdotes para Deus,
seu Pai� (Ap 1, 5-6). Sem dúvida, é necessário passar através da
morte, mas já com a certeza de que encontraremos o Pai, quando
�este corpo mortal se revestir de imortalidade e quando este corpo
corruptível se revestir de imortalidade� (1 Cor 15, 53-54). Então,
ver-se-á claramente que �a morte foi tragada pela vitória� (Ibid., 54)
e poderá ser interpelada com atitude de desafio, sem temor: �Onde
está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?�
(Ibid., 55). É precisamente em virtude desta visão da morte que, no
Cântico das Criaturas, São Francisco de Assis podia exclamar:
�Louvado seja, ó meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal�
(Fontes Franciscanas, 263). Diante desta consoladora perspectiva,
compreende-se a felicidade anunciada pelo Livro do Apocalipse,
como que coroação das bem-aventuranças evangélicas: �Felizes os
mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que
repousem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham�
(14, 13). Quarta-feira 2 de Junho de 1999
IOANNES PAULUS II
A MORTE, O JUÍZO , O CÉU E O INFERNO
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