Refere
o Armorial Lusitano que a nobilíssima família dos Coutinhos "é
uma das mais antigas e ilustres de Portugal, que atingiu grande brilho pelas suas
valorosas acções e alianças que teve com membros da Casa Real". Tem por
armas um escudo de ouro, com 5 estrelas de 5 raios de vermelho, postas em sautor,
e por timbre um leopardo de vermelho, armado e lampassado de ouro, carregado de
uma estrela de 5 raios do mesmo na espádua, tendo uma capela de flores na garra
direita.
Descendentes do rico- homem D. Garcia Rodrigues, Senhor de Leomil,
residiram em Penedono (vide nota), pelo menos desde o último quartel do século XIV.
Vasco Fernandes Coutinho
(c. 1340), Senhor do Couto de Leomil, foi alcaide dos
castelos de Trancoso, Marialva, Moreira e Sabugal e meirinho-mor do Reino. Em 6
de março de 1372, fez-lhe o rei D. Fernando mercê de Penela, Póvoa, Paredes e
terras de Magueija, com todos os direitos, menos o das apelações do crime e da
correição; e em 1383 a doação perpétua e plena do castelo de Penedono.
Casou com Beatriz (ou Brites) Gonçalves de Moura, a qual, depois de viúva,
foi aia da rainha D. Filipa de Lencastre e ama do rei D. Duarte. Entre outros
filhos, tiveram Mécia Vasques Coutinho e Gonçalo Vasques Coutinho .
Mécia
casou-se com Martim Gonçalves de Taíde, "bom e
honrado fidalgo português" - diz Fernão Lopes - alcaide de Chaves, que
teve voz por Castela. Não querendo entregar aquela praça forte a D. João I,
retirou-se para Monterrei, no reino vizinho, com a mulher e os filhos.
Gonçalo Vasques Coutinho
- "bom fidalgo da comarca da
Beira", conforme o designa o autor da Crónica de D. João I -
marechal do Reino, fronteiro da comarca da Beira, alcaide de Trancoso, Lamego e
outros lugares, foi o herói da batalha de Trancoso. Já de idade madura, tomou
parte da conquista de Ceuta, onde "praticou feitos dignos da sua brilhante
fama". Na corte, desempenhou o elevado cargo de copeiro-mor da rainha D.
Filipa de Lencastre. As suas façanhas levaram Mem Rodrigues de Vasconcelos, no
cerco da cidade castelhana de Coira, a considerá-lo "tão bom como D.
Tristão", famoso cavaleiro da Távola Redonda. Mas, como "não
há bela sem senão", também Gonçalo Vasques Coutinho teve os seus
defeitos - e grandes! Às suas brilhantes qualidades de guerreiro
contrapuseram-se ações menos louváveis, apenas desculpáveis atendendo à
mentalidade da época. Desmedidamente ousado, ambicioso e prepotente - como
verdadeiro senhor feudal que era... - inquietava constantemente os vizinhos,
fazendo tábua rasa dos privilégios alheios, mesmo outorgados pelo próprio
rei. Nem os bens da Igreja respeitava!...
Teve o senhorio de quase todos os reguengos na diocese de Lamego. Em 1408,
fez-lhe o monarca doação desta vila de Penedono, incluindo a jurisdição de
Aveloso e Trevões. Faleceu em data posterior a 1433. Do seu casamento com Leonor
Dias de Azevedo nasceram, entre outros filhos, D.
Vasco Fernandes Coutinho,
herdeiro da casa de seus maiores e 1° Conde de Marialva, e Álvaro
Gonçalves Coutinho
- o legendário Magriço - de queem tanto se orgulham os naturais desta
terra.
Cremos que ninguém desconhece - mormente em Penedono - o episódio famoso de Os
Doze de Inglaterra, por Camões celebrado no canto VI (estrofes 42 a 69) de
Os Lusíadas. Por isso, não iremos rememorá-lo aqui. Somente diremos
- perfilhando a hipótese de A. de Magaalhães Basto - que é natural que Camões
conhecesse e seguisse de perto o texto da Crónica Breve das Cavalarias dos
Doze de Inglaterra, manuscrito quinhentista existente outrora em Coimbra,
no Mosteiro de Santa Cruz, em que se descrevem os feitos do Magriço,
em Londres, na França e na Flandres.
Acerca da existência real do "cavaleiro andante" de Penedono e da
autenticidade das suas façanhas, escrevia o mesmo Magalhães Basto, na revista
portuense "O Tripeiro", em janeiro de 1954:
"Não há dúvida que o historiador não possui fundamentos suficientes
para aceitar a veracidade deste gracioso episódio da gentileza cavalheiresca
dos portugueses que Os Lusíadas imortalizaram. Todavia, tal episódio
não tem nada de impossível e ninguém pode contestar que o Magriço
existiu (...). Ninguém pode também pôr em dúvida que Magriço foi
um valente cavaleiro português que no estrangeiro, em tempo de D. João I,
praticou altas façanhas guerreiras. Há pelo menos um documento dos começos do
século XV que atesta indiscutivelmente: é uma carta, datada da cidade de Gand,
aos 26 de dezembro de 1411, e publicada por Braamcamp Freire, pela qual o Conde
de Flandres faz grandes concessões aos mercadores portugueses, como prova de
gratidão pelos serviços que Álvaro Gonçalves, O Magriço, lhe
prestara nas lutas contra França".
Acrescenta o mesmo ilustre investigador e cronista saboroso do passado portuense,
"que no Porto foi armado o navio em que onze de Os Doze de Inglaterra
partiram para Londres; e que no Porto se despediu o Magriço dos
companheiros, seguindo por terra".
Assevera João Rodrigues de Sá, alcaide-mor do Porto no século XVI e grande
genealogista, que Álvaro Gonçalves Coutinho viveu naquela cidade e lá deixou
geração de Magriços.
D. Vasco Gonçalves Coutinho, irmão
de Álvaro Gonçalves, herdou a grande casa e preeminências de seus
antepassados. Considerado como uma "das mais notáveis pessoas do
reino e dos mais esclarecidos heróis que floresceram em armas e
merecimentos em Portugal", foi marechal e meirinho-mor do Reino, senhor do
Couto de Leomil, Marialva e muitas outras terras, e alcaide-mor de Trancoso. Na
companhia do Infante D. Henrique, tomou parte em 1437 na malograda expedição a
Tânger, onde o Infante D. Fernando - O Infante Santo - ficou preso
como refém. Tendo em atenção os altos serviços prestados à
Coroa,
concedeu-lhe D. Afonso V o título de Conde de Marialva. Tal qual como seu pai,
teve contendas com o cabido da Sé de Lamego, cujos direitos pretendeu lesar. A
lamentável atitude que tomou, ao chefiar a conjura contra o Infante D. Pedro,
morto em Alfarrobeira, alienou-lhe muitas simpatias e fez recair sobre o seu
nome uma mancha escura.
Casou em 1412 com Maria de Sousa, dama do paço, filha legitimada de D.Lopo
Dias de Sousa, mestre da Ordem de Cristo,à qual em dote de casamento deu el-rei
D. João I 6000 coroas de ouro em dinheiro de França. Morreu em janeiro de
1462. Jaz sepultado no Mosteiro de Salzedas, em moimento próprio, cuja legenda
diz ter sido "mui nobre e esforçado". No mesmo túmulo ficou sua
mulher, falecida em 1472.
D. Gonçalo Coutinho, filho e sucessor dos 1.ºs condes, foi do
conselho de el-rei, meirinho-mor do reino, alcaide-mor de Lamego, etc, etc.
Tendo sido encarregado de armar gente das comarcas da Beira para a defesa do País,
tamanhos excessos praticou nessa missão, "tais violências e desacatos
cometeu, que D. Afonso V o mandou prender, e lhe tirou a alcaidaria-mor de
LAmego e a menagem de todos os castelos que tinha à sua guarda". Mais
tarde, porém, a rogo da Rainha de Castela, o mesmo rei lhe perdoou e o
restituiu aos seus cargos e honras, à excepção da alcaidaria-mor.
Casou0se com Brites de Melo, filha de Martim Afonso de Melo, Senhor de Barbacena,
alcaide-mor de Évora, Olivença, Campo Maior e Castelo de Vide, guarda-mor de
D. João I, e de sua mulher D. Briolamja de Sousa. Morreu a combater heroicamente defronte dos muros de Tânger, em 20
de janeiro de 1464.
D. João Coutinho, 3.º Conde de Marialva, filho e herdeiro dos 2.ºs
condes, morreu solteiro, sem geração, aos 22 anos de idade, na tomada de
Arzila. Diante do seu cadáver, retalhado de golpes, "el-rei D. Afonso V
armou cavaleiro o príncipe D. João, seu filho, dizendo ao apontar o corpo do
malogrado herói: "Deus te faça tão bom cavaleiro como este que aqui
jaz".
Seus restos mortais vieram traslados para
o Mosteiro de Salzedas, jazida de seus avós, e encerrados num túmulo de pedra
com uma legenda em latim, cuja tradução, feita por Fr. Bernardo de Brito, diz
o seguinte:
"Aquele a que esta pedra cobre é D. João Coutinho, claríssimo conde de
Marialva, que sendo de 22 anos, no combate de Arzila que el-rei D. Afonso o
Quinto, de gloriosa memória, adquiriu por força de armas no ano de Cristo de
1471, morreu gloriosamente, dando e recebendo feridas, na mesquita, que agora é
dedicada à gloriosa Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo".
D. Francisco Coutinho, 4.º Conde de Marialva, irmão do precedente,
sucedeu diretamente a seu pai no ofício de meirinho-mor. No seu tempo, atingiu
a enorme Casa de Marialva o apogeu da prosperidade, graças às novas mercês
feitas por D. Manuel.
Lê-se na História Genealógica da Casa Real que, além de
meirinho-mor, D. Francisco foi Senhor das vilas de Castelo Rodrigo, Leomil,
Penela, Póvoa, Valongo, Avelãs do Caminho, Queimada, Alqueira (?), Orta, Vila
Nova de Foz Côa, Paredes, Nogueira, Armamar, Mondim, Sever, Sernancelhe, Fonte
Arcada, Cedovim, Penedono, Castelo Bom, Numão, Tavares, Cinfães e outras
terras, e do morgado de Medelo, alcaide-mor de Lamego e, pelo casamento, 2.º
Conde de Loulé e senhor da casa de seu sogro. Teve o padroado de 50 igrejas
paroquiais nos bispados de Lamego, Viseu, Guarda e Porto, e o da capela de S.
Pedro, sita na Sé de Lamego.
"Foi senhor de grande autoridade no seu tempo, em que serviu 4 reis,
conseguindo grande reputação na paz e na guerra, em que sempre era atendido
seu voto". Contrariando o que impunha a sua qualidade de meirinho-mor,
recusou-se a assistir à morte do duque de Bragança, condenado por sentença a
ser degolado na praça de Évora, atitude que mereceu o apreço dos seus
contemporâneos.
Casou duas vezes, a primeira em 1476, com Maria de Ulhos, filha de João de
Ulhoa, do conselho de el-rei e alcaide-mor de Castelo Rodrigo, sem geração; a
segunda com D. Brites de Meneses, 2.ª condessa de Loulé. Deste casamento
nasceu filha única Guiomar Coutinho, 5.ª Condessa de Marialva, 3.ª
condessa de Loulé, duquesa da Guarda e Infanta da Portugal pelo seu casamento
com o Infante D. Fernando, filho do rei D. Manuel.
D. Francisco faleceu em 1483 e jaz em artístico mausoléu com sua mulher D.
Brites, na igreja do Convento dos franciscanos de Santo António de Ferreirim,
por ele fundado e dotado largamente.
O projeto do casamento de Guiomar Coutinho com o Infante D. Fernando foi,
durante vários anos, contrariado pelo marquês de Torres Novas, que alegava
haver casado clandestinamente com Guiomar.
Afinal, por pouco tempo gozaria a 5.ª condessa de Marialva as honras de Infanta
de Portugal. A morte, implacável, espreitava-a de perto: a ela e a toda a família.
Com efeito, no curto espaço de dois meses, decorridos de outubro a dezembro de
1534, baixaram ao túmulo sua filha única, D. Luísa; o Infante seu marido; e,
por último, a própria D. Guiomar. E desse modo se extinguiu a opulenta Casa de
Marialva, uma das maiores de Espanha...
Fonte: http://www.terravista.pt/nazare/1408/jphp/penedcou.htm
Nota: Uma descrição da vila de Penedono pode ser encontrada em
http://www.janelanaweb.com/viagens/penedono.html