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IAP em Piedade organizada em 23 de abril de 1963
Revista de Estudos nas Escolas Bíblicas da Igreja Adventista da Promessa
LIÇÃO 08: COLOSSENSES 2:14
Esse texto prova que a guarda do sábado foi cancelada na cruz de Cristo?



Autor: Pastor Aléssio Gomes de Oliveira
Lição Bíblica 273, sábado, 19 de novembro de 2005

OBJETIVO: Mostrar ao estudante o real sentido do que Paulo diz, em Cl 2:14, para que seja fortalecido na fé, através da prática dessa verdade.

TEXTO BÁSICO: ... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz. (Cl 2:14)

INTRODUÇÃO: Dando continuidade à nossa tarefa de explicar corretamente alguns textos sagrados referentes às doutrinas bíblicas da alimentação saudável e do santo sábado do Senhor, hoje, analisaremos Cl 2:14, texto que, segundo alguns cristãos, anula a guarda do sábado no sétimo dia. Ao estudá-lo, dentro do seu contexto, entretanto, constataremos que o quarto mandamento da lei de Deus não foi cancelado na cruz de Cristo. Tal verdade já ficou evidenciada na lição número 6, quando vimos o tratamento respeitoso que o Mestre Jesus e seus discípulos deram a esse dia, tratamento este que deve ser imitado por todos os cristãos na face da terra, a fim de que tenhamos cumprida a promessa que nos diz: Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. (Jo 14:21)

I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Alguns cristãos interpretam Cl 2:14 como uma declaração geral de Paulo a respeito dos efeitos da obra de Cristo na cruz, em relação à Lei, ou seja, com seu sacrifício, o Senhor Jesus teria cancelado todas as ordenanças, todos os rituais, todos os preceitos que eram como sombra da obra gloriosa que realizara no Calvário, incluindo, nesse cancelamento, preceitos da Lei Moral, os Dez Mandamentos, especialmente a guarda do sábado no sétimo dia da semana. Em razão desse suposto cancelamento, os cristãos ficaram desobrigados de se subordinarem a esses preceitos divinos. Essas pessoas entendem que Cristo anulou a Lei, e com isso, trouxe a liberdade tão sonhada e esperada aos seres humanos; afirmam, ainda, que o ministério da graça manifestado por Jesus é incompatível com qualquer tipo de compromisso com a Lei de Deus, que chamam de “lei de Moisés”.

Outro fator a ser considerado é o levantado sobre a Lei Moral e a Lei Cerimonial. É verdade que nem uma nem outra lei recebe escrituristicamente tais designações, dentro da Bíblia Sagrada; entretanto, é bom lembrarmos que o fato de isto não aparecer na forma escrita, não invalida sua essência, pois o princípio claro nos mandamentos escritos por Deus, nas tábuas de pedra, são princípios morais e eternos, ao passo que grande parte dos escritos que Deus mandou Moisés escrever contem princípios cerimoniais, militares, civis, ou seja, preceitos circunstanciais, transitórios, etc. Estamos convictos de que nenhum cristão fiel às Escrituras se oporia a veracidade da doutrina da Trindade pelo simples fato de tal nomenclatura não fazer parte da escrita bíblica; porém, o que importa, em ambos os casos, é a essência da qual derivam as suas definições.

A verdade por trás de todo esforço empreendido no sentido de desobrigar os cristãos do compromisso integral para com os Dez Mandamentos de Deus, afirmados por Cristo na Nova Aliança, visa tão somente enfraquecer um único desses preceitos: a vigência do santo sábado do Senhor como um dia instituído por ele para que suas criaturas, em todos os tempos e lugares, tenham um dia separado para adoração, para se recordarem de seu Criador e reconhecerem nele o Senhor Libertador, absoluto na história e digno de ser obedecido por seus servos, por meio da graça de Cristo. Entretanto, apesar dos ventos contrários, a graça de Cristo faz que nossos corações anelem pela Lei de Deus e nosso interior suspire por sua vontade, verdade esta que levou o salmista, séculos atrás, a declarar: Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano (Sl 143:10); e que moveu o apóstolo João a dizer: Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos (I Jo 5:3).

II – A INTERPRETAÇÃO CORRETA

Antes da interpretação propriamente dita, é importante conhecermos o contexto geral da epístola aos Colossenses, cuja autoria é atribuída ao apóstolo Paulo, pela maioria dos teólogos. Cria-se, todavia, desde os tempos mais antigos, que esta epístola havia sido escrita em Roma, com as epístolas aos Filipenses, Filemom, I e II Timóteo e Tito, no período em que o apóstolo Paulo esteve aprisionado naquela cidade; entretanto, a linha de pensamento que hoje prevalece entre os estudiosos é a de que tais epístolas possam ter sido escritas por Paulo em uma de suas prisões, como no caso de Cesaréia ou Éfeso.

Algumas passagens nesta carta (Cl 1:4, 2:1) deixam evidente que Paulo não conhecia a maioria dos crentes de Colosso, o que dificilmente o credenciaria para ser reconhecido como o fundado da igreja naquela localidade. Colosso era uma cidade que pertencia à província romana da Ásia e é possível que o evangelho a tenha alcançado durante o período em que o apóstolo Paulo esteve evangelizando a cidade de Éfeso (At 19:10), fazendo, possivelmente, com que, através de Epafras, que era cidadão colossense, a mensagem de Cristo chegasse à cidade de Colosso (Cl 1:7, 4:12).

Se retrocedermos ao cenário da religiosidade cristã, nos tempos do apóstolo Paulo, iremos encontrá-lo envolvido, dividido e bombardeado por algumas correntes destoantes do genuíno evangelho de Cristo, que procuravam encontrar simpatizantes para suas teorias. A jovem igreja que se instalara na cidade de Colosso, assim como as igrejas da Galáxia, de Éfeso e Roma, dentre outras, muito sofria pelas divergências internas promovidas por judeus recém-convertidos ao Cristianismo, mas com enormes dificuldades em se desligarem completamente do antigo modo de vida ritualista que mantinham no judaísmo. Como se isto não bastasse, tentavam impor o mesmo modo de vida aos cristãos daquela localidade.

Hoje, temos séculos de Cristianismo, que nos proporcionaram experiência e maturidade para fazermos distinção clara entre uma coisa e outra; infelizmente, os irmãos de Colossos, não podendo desfrutar deste mesmo benefício, deixaram-se enredar por práticas judaicas que não tinham lugar no Cristianismo. Entre as práticas que os judeus novos convertidos lutavam por introduzir ao Cristianismo destacava-se a observância da lei cerimonial, notadamente os dias de festa, como a páscoa, o pentecostes, o dia da expiação, a festa dos tabernáculos, da lua nova e outras celebrações. Naturalmente, o apóstolo Paulo ensinou à igreja de Colosso que tais ordenanças e festividades foram riscadas ou cravadas na cruz, por Cristo, e que, ali, cessaram, automaticamente, os tipos de "sombras" que para ele apontavam.

É importante, nesse contexto, sabermos que os colossenses também eram profundamente assediados por mestres do gnosticismo (crença baseada no conhecimento como fonte de libertação espiritual – Cl 2:8); haviam absorvido práticas cerimoniais do judaísmo, como as doutrinas da alimentação, das festas de dias, etc. e radicalizado esses preceitos, através da abstenção absoluta de todos os tipos de carne e da inércia absoluta nos dias de sábados festivos e no sábado do Senhor. Isso os levou para um ascetismo rigoroso, por considerarem o isolamento uma das melhores formas de manterem sua suposta pureza espiritual. Com isso, criaram uma forma de legalismo (crença na libertação espiritual através das obras da lei) mais severo que o praticado pelos fariseus. Como isso não bastasse, através de vãs filosofias, colocaram Cristo na mesma igualdade dos anjos (Cl 2:18); criaram o culto tendo anjos como mediadores dos homens (Cl 2:18) e incluíram essas idéias como parte do evangelho de Cristo (Cl 2:20-23). Em outras palavras, os mestres do erro, os gnósticos de Colosso, estavam levando o Senhor da Igreja, Jesus Cristo, à insignificância.

Diante de tamanho perigo, Paulo escreveu aos colossenses para protegê-los dessa heresia mortal, e o fez com oração (Cl 1:3-14); aplicou-lhes a forte doutrina sobre o poder e o senhorio absolutos de Cristo na igreja (Cl 1:15-27); deu-lhes o seu próprio exemplo de vida, como apóstolo (1:24 a 2:5), e explicou-lhes os valores espirituais que devem modelar a vida cristã (Cl 2:6–4:6). É nesse contexto geral que devemos compreender o texto que ora estudamos. Desta forma, ao afirmar: ... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz, Paulo não está dizendo que a Lei dos Dez Mandamentos fora abolida, mas está ensinando que a morte substitutiva de Jesus foi suficiente para pagar a nossa dívida pecaminosa. Assim sendo, os que, pela fé, acreditam na eficácia do sacrifício de Cristo, têm sua dívida cancelada, isto é, paga diante de Deus, e estão aptos a desfrutarem de uma nova vida, resultante da graça de Cristo.

Reiteramos que o texto de Cl 2:14 não ensina que a Lei de Deus foi encravada na cruz, e, sim, que a dívida de todos os pecadores arrependidos fora perdoada e a justificação de todos aqueles que, pela fé em Jesus, alcançaram a comunhão com o Pai fora proporcionada. Consideramos cristalino o que Paulo está ensinando: ele não está dizendo que a cruz de Cristo inutilizou a Lei de Deus, mas, sim, que, na cruz, o Senhor proporcionou o perdão dos pecados para a humanidade. Com isso, o apóstolo está dando uma dura resposta aos judeus legalistas e aos gnósticos libertinos, afirmando-lhes que a rigidez cerimonial, a autojustificação proveniente das obras da lei não pagam a dívida pecaminosa que a lei evidencia, e, neste sentido, ela é contra nós (Rm 7:7; Cl 2:14). Por essa razão, afirma Paulo, somente Cristo tem poder para cancelar essa dívida, e o fez na cruz.

Na mente do apóstolo, em nenhum momento existiu a idéia de que a cruz de Cristo tenha anulado a Lei Moral de Deus ou tenha extraído dessa lei o santo sábado; ele mesmo disse: Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei (Rm 3:31). O que ele afirma, em Cl 2:14, é que a cruz de Cristo anulou as leis cerimoniais que regiam os sacrifícios de animais, “sombras” do sacrifício da cruz, e as inúteis posturas legalistas de autojustificação baseadas na Lei Moral, praticadas pelos mestres do erro.

Portanto, a crença comumente difundida de que o apóstolo Paulo ensinou, em Cl 2:14, que o sábado não mais fazia parte das obrigações dos cristãos, é totalmente despropositada. Conforme Carlyle B. Haynes, Supõem alguns que o apóstolo Paulo se referia à mudança do sábado quando escreveu aos colossenses: Ninguém vos julgue por causa dos dias de festas, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. O sistema cerimonial do Velho Testamento possuía muitas festividades, dias santificados e sábados anuais. Este sistema, imposto até ao tempo da correção, havia expirado com Cristo, para quem apontava. O crente em Cristo não devia, portanto, voltar a esses tipos e sombras. [1]

Desta forma, insistimos em que o texto refere-se a questões espirituais que são consideradas sombras das coisas futuras, o que, obviamente, não diz respeito ao sábado do Senhor, que, segundo as Escrituras, deve ser guardado no sétimo dia da semana e não tem um direcionamento prioritariamente para o futuro, como os demais sábados das festividades judaicas, uma vez que, ao contrário destes, o sábado do Senhor, além de restaurar o vigor físico, tem a finalidade de fazer que os adoradores de Deus, em todos os tempos, tenham sua visão voltada para o passado, para a obra divina da Criação e da Redenção concedida aos nossos antepassados (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15).

A cada sétimo dia, portanto, o povo de Deus, de quaisquer tempo e nação, reúne-se para recordar e celebrar o poder criador e redentor do Deus Todo-Poderoso. CONCLUSÃO: Conscientizados de que o texto de Cl 2:14 não cancela a Lei de Deus, e, por assim dizer, não abole o santo sábado do Senhor, mantenhamos nossa fé firmada na verdade, e, a cada sétimo dia da semana, façamos do sábado momentos em que possamos nos apresentar diante do Senhor com um coração adorador disposto a reconhecer que ele é Criador de toda existência, é Deus Libertador das nossas vidas e Soberano sobre toda a criação: De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu criador atribuirei a justiça. (Jó 36:3).

QUESTIONÁRIO:

1) Como os defensores da extinção da guarda do sábado no sétimo dia da semana interpretam Cl 2:14?

2) Com base no segundo comentário e em Cl 2:16-23, explique quais as heresias que os opositores do evangelho de Cristo estavam tentando implantar da igreja de Colosso.

3) Com base no segundo comentário e em Cl 1:15-23, explique os argumentos usados por Paulo para combater as heresias. Qual o principal fundamento que sustenta a igreja?

4) Agora, explique a interpretação correta do texto básico (Cl 2:14).

5) Em que sentido Rm 3:31 confirma a interpretação correta de Cl 2:14?

6) Da interpretação correta e da interpretação incorreta, que lições você tira para a sua vida espiritual?

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[1] Carlyle B. Haynes, Do sábado para o Domingo, p 31, Ed. CPB.

 
 
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