Exemplificação No Lar
Em todas as oportunidades que a via terrena oferece, o Homem,
com raras exceções, reflete, nos seus gestos, nas suas ações e na sua
sensibilidade, os ambientes domésticos em que viveu ou em que vive, copiando
dos pais, por vezes, a mesma maneira de ser e de agir. Daí a grande
responsabilidade que temos na formação moral dos nossos filhos
Ë no seio da família -como pais, filhos e irmãos e no da
parentela - avós, tios, netos e sobrinhos, genros e noras, primos e primas -
que se reencontram geralmente os grandes afins ou desafetos, bem como todos os
que, de algum modo, têm recíprocas faltas a resgatar, e, como trazemos na alma
o somatório de erros de um passado milenar, carente de reparação, a única
forma capaz de nos reequilibrar, intimamente, é a firme determinação de nos
melhorarmos, reeducando-nos de acordo com os preceitos evangélicos e nos esforçando
constantemente por agirmos com correção, contribuindo assim para a melhoria
dos que conosco vivem.
Como a Escola de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil é a continuação
do Lar, não podem os evangelizadores silenciar sobre o seu papel de coadjutores
na formação moral da criança, mormente quando se trata de um trabalho de
reavivamento, no espírito infantil, dos maravilhosos ensinamentos deixados aos
homens pelo Meigo Nazareno.
E, considerando a Escola, não podemos dela dissociar o evangelizador,
companheiro de jornada responsável pela radiosa tarefa de preparar, ora
secundando o trabalho materno-paternal, ora conduzindo, sozinho, os pequeninos,
os adolescentes e os jovens para uma vida melhor, pautada pelas virtudes que,
por seu intermédio, lhes são transmitidas.
É nas classes de aula que se completam os ensinamentos hauridos no Lar e
é no Lar que se demonstram as lições aprendidas na Escola de Evangelização
Espírita Infanto-Juvenil. Logo, deve existir um constante intercâmbio entre
pais e evangelizadores, a fim de que nada seja desperdiçado na obra de preparação
de seres equilibrados, capazes de tornar mais harmoniosa a vida, por isso que,
além de complexa, é difícil a transformação do nosso mundo íntimo.
Assim sendo, referiremos um fato que bem serve para ilustrar
o que vimos de dizer.
Conhecemos, há tempos, pessoa amiga, possuidora de uma casa tranqüila,
onde a vida se escoava placidamente, plena de compreensão e harmonia, que se
refletia na dúlcida ternura com que se tratavam os componentes de sua família.
Por força das circunstâncias, essa pessoa viu-se na contingência de
abrigar, no seu lar, os sogros; daí por diante aquele ambiente, outrora tranqüilo
e remansoso, passou a ser palco de tumultos e desentendimentos, até então
ignorados, a ponto de um dia, em conversa com um filho, menino ainda, dele
ouvir:
- Mamãe, a nossa vida já não é a mesma!
- Que vamos fazer, meu
filho? - respondeu-lhe nossa amiga; amanhã, seremos velhos também e
precisaremos de alguém que nos ajude a passar o tempo, de alguém que nos
conduza até o grande dia da libertação, pois é somente dando que recebemos,
tolerando que somos tolerados! ... Vamos orar meu filho, vamos pedir a Deus forças
para vencermos na luta redentora.
Eis aí, em linhas gerais, um exemplo de conduta cristã
digno de nota, e, em o referindo, fazemo-lo apenas para ressaltar a imperiosa
necessidade de nos educarmos, porque somente assim faremos que o Evangelho se
reflita, com toda a intensidade de sua luz, no âmago da alma de nossos filhos,
com frutos no curso de suas vidas.
Meditemos sobre quantos lares há desajustados e de como, com uma pequena
parcela de tolerância, diminuirse-lhes-iam os motivos e proporções de
desequilíbrios, de atritos e dissensões.
Reconhecemos a dificuldade em que se encontra, nos dias que correm, a
tarefa de educar convenientemente a infância e a adolescência, mas não
desconhecemos que, com uma boa dose de força de vontade, num trabalho que
demande realmente perseverança e dedicação, muito se pode fazer e conseguir,
de vez que para tanto contaremos com a assistência carinhosa e constante dos
Amigos educadores de outros Planos mais evoluídos, levando a bom termo a tarefa
conjunta, de pais e evangelizadores, da formação espírita-cristã dos
caracteres de Espíritos reencarnados que alvorecem para os prélios redentores
da trajetória terrena.
Tal a obra de suma importância, do interesse de todos nós, num esforço
persistente e inquebrantável, objetivando nosso maior entendimento e
atendimento quanto à conduta evangélica que se deve ter em um lar cristão, e
a influência exercida por tal conduta na estrutura moral e sensorial da criança.
Elisabete
do Vale
REFORMADOR, MAIO, 1984