Cenas de Sexo e Violência na TV
Os doutores Aidan McFarlane e Ann McPherson, autores do livro "Diário
de um adolescente hipocondríaco", sucesso em mais de 20 países, foram
entrevistados no Brasil.(1) Questionados se os adolescentes brasileiros são
iguais aos ingleses, responderam que as diferenças são sutis. No entanto,
perceberam que os brasileiros são sexualmente mais precoces.
McFarlane disse que quando perguntou aos alunos, na faixa de
12 anos, sobre a questão que os deixava aflitos, um deles respondeu, sem
constrangimento, que era saber quando aconteceria a sua primeira relaação
sexual. O pediatra comentou que isso jamais aconteceria numa escola inglesa e
atribuiu esta precocidade às novelas que passam nas televisões brasileiras.
Informaram, ainda, que os adolescentes ingleses assistem novelas apenas humorísticas,
feitas especialmente para eles.
O período entre os 10 e os 20 anos é também decisivo na
vida das pessoas, uma vez que o homem parece definir-se entre os 15-20 anos. É
necessário nesta fase dar-lhes um porque para viver, urna vez que os
fracassados dão à vida um sentido privado e apresentam grande vazio interior.
Se não receberem amor não aprenderão a amar, o único caminho possível da
felicidade na sociedade cristã. "Amarás teu Deus.., e ao próximo..."
No currículo da escola do amor existem matérias que exigem
muito estudo e dedicação. Muitos ficam em recuperação por causa das aulas práticas
na disciplina da comunicação, do diálogo e do perdão.
Uma notícia de jornal(2) chama-nos a atenção:
"Governo vai coibir cenas de sexo e violência na TV." São os próprios
telespectadores que estão querendo mais rigor para a programação televisiva.
Em resposta a pesquisa do Ibope e da Retrato Consultona e Marketing, pais
solicitam mais controle sobre o que seus filhos assistem. Das duas mil pessoas
consultadas, 64% sugeriram classificação por faixa e horário, 32% pediram
censura pura e simples e 5% não responderam. Um total de 75% dos entrevistados
têm fortes expectativas de que algo seja feito para permitir a adequação de
assuntos julgados impróprios para os mais jovens a horários mais avançados.
Os telespectadores apontaram filmes, novelas e programas que mais rejeitam, pelo
conteúdo pornográfico e apelativo.
O povo, que alguns
consideram inconsciente, parece revelar maturidade e não poderá ser rotulado
de "moralista". Nem mesmo quando, no contra ou a favor, tem-se
mostrado contrário à legalização camuflada do aborto.
Os entrevistados parecem ter tido acesso ao Editorial do Arquivo Brasileiro de
Pediatria, escrito pelo Dr. Ricardo R. Barros, que é Presidente do Departamento
de Adolescência, da Sociedade Brasileira de Pediatria, e Chefe do Serviço de
Adolescentes da Universidade Federal do Rio de laneiro.
Diz o Dr. Barros que os meios de comunicação, cada vez mais
ágeis, exercem intensa influência nos jovens de hoje; a televisão, que entra
nos lares indiscriminadamente, exibe valores ético-morais e consumistas nem
sempre adequados à formação de suas identidades.
Anteriormente, quando discutimos os níveis de consciência
na novela "O Rei do Gado", lembramos que os pais não são
onipresentes e que o argumento de que o aparelho possui um botão para desligar
não parece ser válido(4).
O Dr. Barros1 lembra
que a sexualidade já não é mais tabu, que a genitalidade precoce é
evidenciada no aumento da gravidez, no número maior de abortos e no índice
crescente das doenças sexualmente transmissíveis.
No questionário do Ibope(2) o povo demonstrou lucidez ao
aceitar cenas dentro de determinado contexto, a exemplo do filme "A Lagoa
Azul" e ao rejeitar a dança, não só ortopedicamente preocupante, de
Carla Perez, por entender que ela erotiza o corpo infantil. É preciso estar
atento à sensualidade camuflada em programas infantis.
A preocupação com a (des)educação sexual na adolescência
vem sendo demonstrada pelos brasileiros e o psiquiatra Dr. Luiz Fernando
Pinto(8), analisa no Jornal de Pediatria, em 1995 o papel do erotismo na televisão
como fator disfuncional na educação sexual da juventude. Afirma, o professor
da Universidade Federal da Bahia, que na televisão os adolescentes encontram
informações que satisfazem a sua curiosidade acerca do mundo sexual dos
adultos. Isso ocorre por um processo de erotização cada vez mais explícito,
que abusa de urna liberdade de expressão e exibição cada vez mais liberal e
veicula informações sexuais de todos os tipos:
ora fiéis e corretas, ora tendenciosas, preconceituosas, ambíguas e
distorcidas.
Com o resultado obtido pelo Ibope(2), o Ministro da Justiça,
no Brasil, mostrou a pesquisa a representantes da Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e TV, com quem discutiu uma fórmula conjunta de controle da
qualidade. O Ministério espera que as emissoras apresentem sugestões, evitando
que o Governo seja obrigado a impor regras.
A notícia é luz no fundo do túnel. Anteriormente a ela os
espíritas aprovaram, em 1993, por unanimidade, o lançamento da Campanha
"Viver em Família" (5). Na sua apresentação, advoga-se que "o
Espírito encarnado durante o período infantil é mais acessível às impressões
que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem
contribuir aqueles responsáveis por sua educação".
No ternário da Campanha encontramos, no item 7, a Educação
Sexual, e no item 9, que recebeu o título de Desequilíbrios no Lar, diversos
subtemas, tais como: a violência familiar; os problemas do sexo; prostituição
e promiscuidade; doenças sexualmente transmissíveis, Aids e Outros. Como se vê,
os espíritas não estão escondendo a cabeça na areia.
Aos pais pertence o direito e o dever da educação sexual,
tarefa que fito pode ser transferida para a escola.
O Dr. Luiz Fernando (7)
Pinto adverte que a televisão tem assumido o papel de principal educador de
crianças e adolescentes e que isso aconteceu não por opção, mas por omissão
dos segmentos responsáveis pela educação das novas gerações. O pediatra
afirrna que não há dúvida de que a TV é um educador sexual eficaz e
importante até porque os genitores, as escolas e os companheiros são fontes
ineficazes.
A TV é consumida em grande escala desde os 2 anos de idade,
durante a infância e a adolescência. A programação e os anúncios da TV são
freqüentemente sensuais e, muitas vezes, os adolescentes acreditam que aquilo
que vêem na TV seja real. Essa crença na realidade é maior entre crianças e
adolescentes mais jovens, que são os maiores consumidores de TV, e entre as
adolescentes, grupo em que ocorrem os maiores índices de gravidez.
O aparecimento de uma informação inadequada na televisão,
numa tarde de domingo, no decorrer de um jogo de futebol importante ou durante
um capítulo de novela, com alto índice de audiência, pode destruir o trabalho
de cinco anos de investimentos e esforços de Instituições que mantêm
programas dirigidos à saúde. Por isso o esforço dos governos na substituição
de nomes de doenças curáveis que carregam consigo fortes cargas emocionais,
acompanhadas de preconceitos, como é o caso da Hanseníase que luta até hoje
com leproestigma.
As pessoas que assistem aos programas de entretenimento podem
não ter a intenção de aprender noções sócio-político-filosóficas, mas
aprendem ao longo dos programas. É verdade que isto é uma forma secundária de
aprendizagem, mas certamente não é subliminar.
É preciso desconfiar da televisão porque nela nossos jovens
vêem e ouvem mais acerca de abortos e estupros do que acerca da contracepção.
Com a mídia muitos acabam se confundindo na distinção entre amor e sexo,
chegando posteriormente até ao tédio sexual.
Emmanuel afirma que "a Universidade pode fazer o cidadão,
mas somente o Lar pode edificar o homem".
Anália Franco(8) diz
que devemos envolver nossos filhos na palavra de bênção, que vence o orgulho,
e na luz do exemplo que dissipa as sombras da rebeldia. Eles perceberão que o
Espiritismo gera consciências livres e que devemos provar semelhante verdade
pelas próprias ações de renúncia e discernimento, conjugando o bálsamo do
carinho com a rédea da autoridade. Assim, pois, embora muitas vezes torturados
na abnegação incompreendida, mostremos a nossos filhos que a Lei Divina é
insubornável e que todo Espírito é responsável por si próprio.
Referências Bibliográficas
Fonte: Revista : "Reformador"
1. O
Globo, O jovem brasileiro é sexualmente precoce. Jornal da Família, domingo,
19 de maio de 1996.
2. O Globo, Governo vai coibir cenas de sexo e violência na TI': Medida atende
a desejo dos telespectadores, de acordo com pesquisa. O País, pág. 9,3 set.
1997.
3. BARROS. R.R. A medicina de adolescentes dos anos 90. Arquivo Brasileiro de
Pediatria, 4 (3): 71, 1997.
4. FORMIGA, L.C.D. A novela "O Rei do Gado" e os níveis de consciência.
Fraternidade, Lisboa, 404: 44-45,1997.
5. Campanha "VIVER EM FAMILIA". Subsídios para implantação e
desenvolvimento. REFORMADOR, março de 1994.
6. FORMIGA, LC. Educa ção Sexual:
na família ou na escola. Folha Espírita, dezembm de 1996.
7. PINTO, LF.M. Televísão e educaçdo sexual. Jornal de Pediatria 71(5):
248-254, 1995.
8. FRANCO, A. Vigília Maternal. ln Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. O
Espírito da Verdade, 1ª edição, ,págs.
108-110,FEB 1962.