Carnaval: Grande Festa... De enganos!

 

Etimologicamente, a palavra carnaval quer dizer abstinência da carne e deriva da expressão latina carnem levare. Sob o aspecto moral, aplica-se, também, com o sentido de conforto da carne, satisfação da carne, etc.

Sua introdução no Brasil se deu nos idos de 1840, quando os proprietários de famoso hotel carioca resolveram programar bailes de máscaras nos seus salões, à feição do que já se fazia nos luxuosos ambientes da Europa.

De lá para cá, transformou-se o Carnaval numa festa de enorme alcance popular em que se misturam máscaras, fantasias, músicas e danças excitantes, acrescida de “lança-perfume” que se travestiu de tóxico nos sofisticados ambientes de nossa Sociedade.

Restrito que estava, inicialmente, aos Estados do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, o período carnavalesco (3 dias que antecedem à Quaresma, do domingo da qüinquagésima à terça-feira, véspera de cinzas) alastrou-se para todo o País. Nem mesmo as mais pacatas cidades interioranas lhe estão infensas.

A forte herança cultural-religiosa trazida pelos africanos, que aqui aportaram no escuro tempo da escravidão, deu ao Carnaval do Brasil características próprias, e hoje seus descendentes, compondo nossa etnia, imprimem colorido diferenciado ao império de Momo.

   Tambores e tamborins, cuícas e pandeiros, roncam por 72 horas consecutivas, fazendo explodir tensões e ansiedades refreadas, liberando complexos e recalques intensamente reprimidos nos dias comuns.

Não fossem os excessos, o Carnaval, como festa de integração sócio-racial, poder-se-ia tornar um acontecimento transitoriamente aceitável, se considerarmos o nível de materialismo da Humanidade que nos serve de família, ainda muito distante das manifestações superiores do Espírito eterno. Não admitir isto é incorrer em erro de intolerância.

Lamentavelmente, os excessos existem e respondem pelos males que, nesse curto espaço de dias, vitimam milhares de lares por toda uma existência (quando não vão além!), fazendo-os sofrer o amargor de decepções e dramas no trajeto da vida comum. Deixarão de ser ninhos de luz e esperança de conquistas nobres, para se constituírem em oficinas de expiação e dor.

O “Correio Brasiliense”, principal jornal da Capital Federal, publicou, com o título de “Psicólogos analisam o carnaval”, interessante matéria que, parcialmente, transcrevemos:

“(...) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigadas (cenas de ciúme, etc.); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três para os homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas (homens e mulheres, no caso) no carnaval, pelo menos sete se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia-a-dia, como álcool, o entorpecente ...) Dizem ainda que tudo isto decorre do êxtase atingido na Grande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas também da orgia e depravação, somado ao abuso do álcool, leva as pessoas a se comportarem fora do seu normal (...)"

Não bastassem a inferioridade e a ignorância, na base desses sofrimentos, a elas se associa a ação perniciosa dos que vagueiam no submundo da Espiritualidade sem Luz, à espreita dos invigilantes prontos a propiciarem elementos de sintonia com as forças desagregadoras dos bons costumes.­

Assim, vai aumentando o triste concerto do “choro e ranger de dentes” (1) na superfície do Planeta, porque esses desventurados companheiros do caminho respondem com sofreguidão aos escusos apelos de animalidade ainda muito viva em dois terços da população terrena.

Em “Devassando o Invisível”, cap. V, edição da FEB, Yvone A. Pereira dá-nos uma idéia precisa desse processo:

“Acreditamos, mesmo, que tais falanges influenciam, durante o Carnaval, os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, Espíritos, se locupletam de todos os gozas e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram.”

Por mais refratários que sejamos a esta festividade e nos revistamos da prudência necessária, não estaremos a salvo de prejuízos. A simples andança nas ruas, mesmo em pleno dia, para as obrigações domésticas, nos expõe a riscos. O entrudo, hábito trazido pelos portugueses imigrados no período colonial e monárquico, incorporado aos festejos do Carnaval, propõe, a título de brincadeira, certas agressões que humilham e ferem. Talco, tintas, substâncias ácidas, cal, etc., são atirados nos passantes e não são poucos os casos que requerem internação hospitalar.

O esquecimento temporário, amortecimento vibratório da memória, com que Deus nos premia a encarnação, é por demais abençoado, ao sabermos que a lembrança nos levaria fatalmente a quedas espetaculares no difícil trapézio da vida. Mas a ligação sintônico-negativa, possibilitada pelo Carnaval, faz romper os diques de contenção dos deslizes passados, trazendo-os à consciência e pondo a perder chances douradas de soerguimento no Bem.

Se o Carnaval é uma ameaça ao bem-estar social, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque uma das tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de lutar por dispositivos de preservação dos valores mais dignos da Sociedade, sem que se violente o direito soberano do livre-arbítrio de cada um.

Urge a tarefa de reeducação com o Cristo. Mesmo que as dificuldades se nos pareçam insuperáveis, “Trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada no deserto das consciências. Todos somos dos chamados ao grande labor e o nosso mais sublime dever é responder aos apelos do Escolhido.”(2)

(Carlos Augusto )

(1) Mateus, 22:13.

(2)“A Caminho da Luz”, Emmanuel — F. C. Xavier, 11’ ed. FEB.

Revista: "Reformador", fev/83

 

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