Auto Avaliação

 

Sabemos ter Jesus formulado no Sermão do Morte uma verdadeira síntese de sua pregação divina ao afirmar que cada um de nós deve pro­curar ser perfeito como o é o Pai Celestial, O Mestre foi bem categórico na referida passagem evangélica ao enfatizar: sede perfeitos como o Pai que está nos céus.

Todavia, não se depreenderá desta frase de Jesus que iremos viver com mania de perfeição, com idéias de perfeccionismo, sentindo o complexo de inferioridade, o sentimento de culpa porque ainda temos — e como temos! — muitas imperfeições.

Claro que a exortação do Cristo não nos leva a este extremo procedimento de fundo neurótico. Ter a preocupação.excessiva em ser o melhor, o mais capaz, o mais perfeito, diferente do comum das criaturas é exigir de si mesmo um comportamento irreal, uma ficção, com a qual não coa­duna a natureza humana. E poderá até gerar a hipocrisia.

Não é bem este o ensino de Jesus.

Vamos fazer uma auto-análise, uma autoavaliação do que somos, do que falamos, do que pensamos, de como é que estamos vivendo. E aqueles pontos que acharmos devam sofrer re­formulação, melhoria, aperfeiçoamento, que estes pontos sejam reformulados, melhorados, aperfeiçoados, mas de maneira espontânea, despretensiosa, sem intenções de adquirir as graças dos céus a título de salvação.

Foi dito acima e convém repetir: a busca da perfeição, da melhora íntima, do próprio aperfeiçoamento é algo que pede espontaneidade, em que pese às batalhas íntimas que não raro tra­vamos com nós mesmos nesta luta por reforma moral. Nada de afetação. Nem de pretensões salvacionistas. Ë preciso que a criatura desabroche para as leis de Deus assim como as pétalas de uma flor se abrem às carícias da brisa e aos beijos da luz do sol primaveril.

Há de ser um trabalho persistente e contínuo, não resta a menor dúvida. E até penoso, muitas vezes. Mas em todos os casos, em todas as circunstâncias há de ser também um trabalho natural, silencioso, consciente e, sobretudo —convém mais uma vez repetir —, espontâneo, algo que sai de dentro para fora sem exibição balofa e improdutiva.

         Partindo deste principio, então façamos a nossa auto-avaliação, a nossa auto-análise, a nossa autocrítica. Miremos nossa vida, nosso estilo de viver, nossas aspirações, nossos costumes, nossos pensamentos, inclusive, no espelho de um exame mais profundo. E poderemos, sem demora, perceber em que trechos a nossa conduta social, familiar, profissional, religiosa, enfim, em que setores de nosso comportamento podemos imprimir sensíveis melhoramentos.

         Para auxiliar esta pesquisa íntima, vamos relembrar algumas regras de Benjamin Franklin, o célebre político, diplomata e inventor norte-americano. Dir-se-ia poder a criatura fazer os 13 pontos desta estranha Loteria Esportiva da sua reforma moral caso acertasse em cheio nos seguintes itens:

 

“1 — Temperança — Não comas até o entorpecimento; não bebas até a exaltação.

2 — Silêncio — Não fales senão para beneficiar aos outros ou a ti; evita conversa frívola

 3 Ordem — Que todas as tuas coisas tenham os seus lugares; Que cada parte de tua atividade tenha seu tempo.

4 —. Resolução — Resolve realizar o que deves; realiza sem faltar com o que resolveste.

5 Frugalidade — Não faças despesa alguma, a não ser para o bem de outros ou de ti, isto é, não desperdices coisa alguma.

6 Diligência — Não percas tempo, emprega-o em algo útil; suprime as ações desnecessárias.

7 — Sinceridade — Não uses ardis lesivos; pensa com coerência e justiça e, se falares, fala do mesmo modo.

8— Justiça — Não prejudiques ninguém fazendo o mal ou omitindo os benefícios que são do teu dever.

9Moderação — Evita os extremos; não te ofendas com injúrias, mesmo quando pensas que não as mereces.

10 — Limpeza — Não toleres falta de limpeza no corpo, nas roupas ou na habitação.

11 — Tranqüilidade — Não te perturbes com ninharias ou com acidentes comuns ou inevitáveis.

12 — Castidade — Usa raramente dos prazeres carnais apenas por motivo de saúde ou reprodução, nunca até o entorpecimento, a fraqueza ou em prejuízo de tua paz ou reputação de outrem.

13 — Humildade — Imita Jesus e Sócrates.”

                 Como seria difícil adquirir o hábito de todas essas virtudes ao mesmo tempo, Benjamin Franklin resolveu fixar-se em uma de cada vez. Após dominá-la passaria a concentrar sua atenção na seguinte, e assim por diante.

Talvez, de início, tenhamos de facear dificuldades. Todo começo é mesmo difícil. Mas, aos poucos, a disciplina nos levará à aquisição de novos hábitos. Hábitos, porém, sadios, nobres, superiores. E aí estaremos — espontaneamente         — avançando, progredindo, evolvendo para a per­feição, seguindo o ensino eterno de Jesus

Celso Martins

Revista : "Reformador", abril/83

 

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