Ante à Crítica
Muitas vezes, quando nos sentimos identificados por algumas
pessoas, como suscetíveis de receber críticas e censuras por algum ato
impensado, que tenhamos praticado — ou mesmo quando alguém opina sobre nós,
nos colocando na condição de ineficiente, ou quando discordam de nossos pontos
de vista pessoais —, nos inquietamos, nos acabrunhamos e, às vezes,
chegamos ao ponto de desanimar na execução de tarefas importantes, que pedem o
nosso empenho decidido para que as referidas tarefas sejam executadas, como
penhor da nossa fidelidade ao glorioso ideal da divulgação do Espiritismo.
Ninguém
está livre de receber reprovações e até mesmo de ser alvo de observações
descabidas. Cada criatura vive no círculo de sua própria capacidade
espiritual, sem compreender, numerosas vezes, as necessidades e os problemas do
seu semelhante; e por isso mesmo, cada espírito só pode alcançar a visão
daquilo que o seu entendimento determina, em razão do que se estabelecem na
convivência social, manifestações variadas acerca de um mesmo episódio ou de
um mesmo fenômeno.
Dessa
forma, quando críticas e comentários desairosos venham a focalizar o nosso
nome e algumas vezes
surjam
como motivo para alterar a nossa condição de tranqüilidade pessoal, é
importante que, além de buscar o recurso providencial da prece em favor
daqueles que nos criticam, acendamos a luz do perdão no nosso íntimo e reconheçamos
que aqueles que discordam de nós podem ser instrumentos da nossa própria evolução,
levando-nos a reconhecer nossas possíveis omissões e deficiências.
O
espinho que nos fere pode representar um grito de advertência para que não
venhamos a resvalar na inconseqüência e no erro ante o precipício que se nos
depara à frente. Saibamos, pois, receber a discordância que alguém venha a
endereçar-nos, mesmo quando isso represente para nós obstáculo à realização
dos nossos mais iluminados anelos.
Todos
os mártires e heróis, ao longo de sua caminhada, contaram com a presença de
adversários, os quais, algumas vezes, mesmo sem se constituírem detratores de
suas personalidades, discordaram de suas idéias, no elevado tentame de contribuírem
para que eles corrigissem suas
possíveis faltas, que eram imperceptíveis aos seus olhos, mas perfeitamente
visualizadas pelos opositores. É preciso considerar, nesse caso, que aqueles
que nos criticam não são nossos adversários, mas, sim, colaboradores que
nos vigiam os passos, para que não venhamos a cair ou tropeçar ante as pedras
que se interpõem em nossa marcha, ou os espinhos que nos ameaçam ferir.
Jesus
nos deu exemplo da paciência e da resignação quando, diante daqueles que O
escarneciam e Lhe dirigiam palavras agressivas, soube manter a serenidade e a
paz, aproveitando os momentos mais difíceis para legar à Humanidade lições
de profunda sabedoria, esculpindo nas páginas da História humana o hinário de
eterna beleza do Seu alcandorado amor. Quando Pedro decepou a orelha
do soldado Malcus, o Celeste Amigo teve a frase lapidar: “Pedro, embainha a
tua espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão".E,
perante o momento culminante do sacrifício, na cruz, exclamou:
“Pai,
perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem".
Se
alguém nos critica ou discorda de nós, tenhamos, pois, coragem de continuar
praticando o bem, como o agricultor previdente e laborioso que não se cansa de
plantar árvores benfeitoras ao longo do caminho; guardemos a certeza de que,
prosseguindo faina luminosa, anos depois, aqueles que hoje se nos erigem na
condição de nossos opositores, amanhã se curvarão, em silêncio, ante a visão
do plantio abençoado que houvermos realizado mesmo com suor e lágrimas!
Ismael
Ramos das Neves
Revista Reformador - Fevereiro de 2003