Primeira
Parte
INTRODUÇÃO
Justiça,
uma palavra que impera ordem e organização, equiparando
todas as classes sociais a um mesmo veredicto, a um mesmo direito. Mas
esta palavra, tão simples em seu contexto gramatical e clamada
por várias vozes, quase nunca exerceu o seu verdadeiro fator
nos anais da história da humanidade. Muitas vezes, somada á
outras palavras gramaticalmente simples: “Poder”, “Clero”
e “fidalgos”; a Justiça deixou de exercer sua função
matriz devido as suas terríveis companheiras.
É
impossível clamar por justiça ou conceituar a verdade
se não conhecemos o passado, e principalmente, a nossa própria
essência. Com certeza o arcebispo de Bordéus, Clemente
V, conseguiu efetuar a sua justiça. Não somente pelo fato
de levar a fogueira os cavaleiros da ordem, mas principalmente, após
séculos do acontecido ainda existir uma massa nebulosa sobre
a verdade história dos Templários e muito misticismo sobre
suas tradições.
Iremos
começar aqui uma série de artigos sobre os Templários.
Começaremos com o “Processo e Vingança dos Templários”,
através da narração de Stanislas de Guaita, caminharemos
sob detalhes do golpe que levou os Templários a fogueira e a
estratégia para uma nova ordem.
+
Domenium +
Texto
Dinâmico: No decorrer
do texto haverá comentários adicionais, explicações
extra conteúdo e referencias bibliográficas que serão
definidas com duas chaves e o número da citação
– (?). Ao clicar
neste ponto você irá direto ao comentário extra. |
O
PRINCIPIO DA QUEDA
Estamos
no principio do século 14: a ordem, metade religiosa, metade
militar, estabelecida no Oriente em 1118 por Hugues
des Payes prosperou prodigiosamente. Os templários
possuem na Europa perto de dez mil propriedades e sua opulência,
tornada proverbial, centraliza em suas mãos poder quase ilimitado.
Por outro lado, ainda que pareçam inclinar-se com respeito diante
das autoridades civil e religiosa, a eles são atribuídos
projetos tão ambiciosos que chegam à loucura. Herdeiros
- orgulham-se pelo menos - da tradição joanita que constitui
o âmago esotérico do cristianismo, realizam na sombra e
no silêncio de seus comandos, ritos estranhos e secretos...
A
voz do povo que os incrimina de feitiçaria, denuncia igualmente
costumes infames. Esta última acusação nunca foi
assentada em provas irrefutáveis; mas se os apologistas da ordem
puderam estabelecer a favor dos templários o benefício
da dúvida, jamais conseguiram reabilitá-lo à luz
do dia da controvérsia histórica, lavando assim sua memória
de qualquer suspeita.
Jules
Garinet assim resume as queixas contra os templários:
"Dizia-se que ao receber a ordem, o recebedor
era conduzido a um quarto escuro onde negava Jesus Cristo, cuspindo
três vezes sobre o crucifixo; aquele que era recebido beijava
a boca do que o recebia, a seguir in fine spinae dorsi et in virga
virili; que os templários em seus capítulos gerais
adoravam uma cabeça dourada, com longa barba, bigodes grossos
e caídos; no lugar dos olhos havia dois grandes carbúnculos
brilhantes como fogo...." Eram ainda acusados de fazer voto
de sodomia e de nada recusarem entre eles...
"No
Languedoc, três comandantes da ordem torturados, confessaram que
havia assistido a vários capítulos da ordem; que em um
desses capítulos realizados em Montpellier, à noite, segundo
o costume, havia sido exposta "uma cabeça"; que imediatamente
o diabo apareceu na forma de um gato que haviam adorado; o gato falava
bondosamente com uns e com outros; que a seguir vários demônios
vieram na forma de mulheres e que cada irmão teve a sua. "(1)
O
que quer que se pense dessas estranhas acusações, que
levaram tantos bravos cavalheiros à fogueira, é impossível
não notar a semelhança que há entre essas cenas
(sejam elas verdadeiras ou inventadas) e o Sabat dos feiticeiros de
um lado, tal como Stanislas
(2) descreve no capítulo II
de seu livro "O Templo de Satã"(5),
e de outro, as reuniões orgíacas e místicas ao
mesmo tempo, imputadas em todos os tempos aos sectários da gnose
dissidente, pelos autores contemporâneos que tratam de seus ritos
e de seus mistérios.
O
marquês de Saint-Yves,
em um livro notável sob muitos aspectos, glorifica o que chama
a "Missão dos Templários".
Neles saúda os ortodoxos do esoterismo tradicional, os mandatários
da paz social, os fundadores e inspiradores dos Estados-Gerais - verdadeiro
esboço da sinarquia - que foram, ao longo de nossa história,
o orgão intrépido e moderado das reivindicações
populares e como uma grave voz, firme e respeitável saindo das
próprias entranhas da nação.
Se
assim é, os Estados-Gerais de Tours (maio 1308) foram parricidas
ao negar o templo e abandonar os templários ao furor de seus
carrascos. De resto, com sua lealdade habitual, Marquês de Saint-Yves
proclama ele mesmo esse fato indiscutível, que será, para
os menos profundos, um dos obstáculos à sua hipótese:
"A unanimidade das três ordens estendeu
a Felipe o Belo o ferro eo fogo..." (3)
Não
é um fato novo ver o filho seguir as tradições
do pai depois de havê-lo condenado; o operário revive em
sua obra, depois de morto por ela. E sem ir muito longe, São
Pedro, que negou seu mestre Jesus
Cristo nem por isso deixou de ser o primeiro chefe da
igreja cristã. Portanto não serão esses argumentos
que nos oporão ao ilustre apóstolos das missões.
Por
mais nobre que seja a tese que sustenta, desejaríamos, para torná-la
aceitável, vê-la baseada em qualquer fato comprovadamente
histórico. Sem abordar a discussão nesse terreno, vamos
dizer por que no terreno da metafísica a tese nos parece arriscada.
Os cavaleiros eram depositários de uma certa doutrina social
e religiosa. Isso é historicamente certo; resta saber qual.
Que
o tempo possuísse a tradição ortodoxa, não
é de maneira alguma sustentável. A famosa ordem está
dogmaticamente maculada pelo maniqueísmo. Mignard
principalmente, aproximou provas indiscutíveis
em apoio dessa opinião. As figuras emblemáticas esculpidas
em relevo no pequeno cofre de pedra de
Essarois (4),
prova criminal (entre mil) que ele detalha com competência e sagacidade,
não deixam qualquer dúvida. O caráter de misticismo
obsceno próprio a esses símbolos diárquicos parece
de uma exatidão muito típica, para servir de traço
de união entre duas grandes censuras feitas contra os templários:
a goecia maniqueana e o vício impuro.
Os
templários não passavam por simples heréticos a
olhos alheios. Afora a imputação de maniqueísmo,
os cavaleiros eram ainda acusados de magia negra e sodomia. Eram crimes
capitais para a jurisdição da Idade Média. Por
mais graves que parecessem aos juízes do século 14, não
foram senão um pretexto invocado, uma desculpa para o golpe de
Estado de 1307. É preciso dizer: que excelente ocasião
para o Rei da França e para o Papa, sua criatura, abolir com
um golpe o poder desses soberbos defensores do trono e do altar, mil
vezes mais perigoso que o pior inimigo; e que pretexto tão natural
para dividir entre si os preciosos despojos!
De
há muito o sucessor de Pedro e o herdeiro de Hugnes Capet haviam
preparado este Golpe de Mestre; só esperavam a hora propícia
para agir de comum acordo...
O
Golpe de Mestre contra os Templários |
|
|
Foi
graças à proteção de Felipe o Belo
que Bertrand de Goth, arcebispo de Bordéus, chegou ao trono
pontifício em 1305, com o nome de Clemente
V. Para ganhar a benevolência do monarca,
o futuro papa subscreveu por juramento seis condições
formais, das quais a última, mantida em segredo, forçava-o
a prosseguir com a destruição dos templários
e até abolir a ordem. Assim sendo, os protestos de Clemente
V, tão fracos, tão evidentemente pro forma, apenas
para edificação das galerias, não eram senão
odiosa comédia. Isto ficou patente diante da prontidão
com que ratificou tudo depois de um simulacro de Inquérito
em Poitiers. (Foto Clemente V) |
Enfim
soou a hora. Várias denúncias formais, entre outras a
de dois templários apóstatas deram motivo a ação
de improviso para envolver todos os cavaleiros nas mesmas malhas. A
rede foi jogada na noite de 12 para 13
de Novembro de 1307, quando todos os governadores e
oficiais do rei receberam, em carta lacrada, a ordem fatal.
Já
pela manhã os templários estavam sendo presos em toda
a França e seus bens sequestrados. Em Paris 140 cavaleiros foram
postos a ferro; procederam com eles com insólito rigor. Nunca
a tortura foi mais cruelmente inflingida. Imbert, inquisitor da fé,
dirigiu os interrogatórios, assistido por comissários
nomeados pelo rei. À frente estava
Guillaume de Nogaret (imagem a esquerda), homem colérico,
de um fanatismo que chegava ao delério.
Na
provìncia o inquisitor delegou poderes e comissões eclesiásticas,
e os interrogatórios começaram. De todos os processos
lavrados contra esses infelizes, restam oito listas autênticas:
as de Caen (onde 13 templários
foram postos a ferro); de Pont de I' Arche
(10 templários); de Cahors
(7 templários); de Carcassone
(6 templários); de Beaucaire
(45 templários); de Troyes
(5 templários); Bayeus
(5 templários); e de Bigorre
(11 templários).
Em
Caen prometeram aos acusados completo perdão; os refratários,
contudo, foram torturados. Enquanto o caso era posto e julgado nos Estados,
Felipe o Belo convidou
os potentados da Europa a imitá-lo em seu rigor.
A
Alemanha não se apressou em responder ao apelo; mas a
Sicília, a Itália,
Castela, a
Inglaterra, Aragão,
seguiram exemplo da França. Na Flandres houve menor rigor. Em
Chipre a poderosa ordem tornou a tarefa dos persiguidores árdua
e delicada: Amaury, regente
em lugar do jovem Hughes IV,
viu-se forçado a atrasar a repressão diante da atitude
ameaçadora dos cavaleiros fortificados em Nivore.
O
processo arrasta-se por toda parte, com alternativas de confissões
e retratações: os escrivões alteraram vários
depoimentos, causando debates sem fim.
|
|
Em
muitos pontos as risões levaram à absolvição
dos cavaleiros, como em Revennes, Mayance, Salamanca (1310). Fosse
qual fosse, aliás, o resultado dessas sentenças
individuais, a ordem, abolida pelo concílio de 1311, não
subsistiu em parte alguma, pelo menos abertamente e sob seu verdadeiro
nome. Em portugal a "Ordem
de Cristo" levantou-se sobre suas ruínas.
Em Aragão, os templários resistiram orgulhosamente
a mão armada, não sem sucesso... |
Mas
à pressão do rei da França, lembrando seus compromissos,
o papa lança bula sobre bula para acelerar a marcha dos acontecimentos;
fulmina uma sobre as outras, chegando a sete (1308). Novos processos
entregues aos bispos não dão resultado. São reunidos
concílios provinciais...
Em
resumo, o papa Clemente V lança
em 1310 nova bula para ordenar o julgamento definitivo dos templários.Uns
poucos negaram; outros confessaram, muitos, como já disse, retiraram
suas confissões. Os concílios de Sens e de Reims criaram
4 categorias de acusados: classes 1, 2, 3: arrependidos e reconciliados
com a Igreja ficaram liberados, ou para uma penitência eclesiástica
ou para a prisão perpétua; os outros, classe 4, declarados
relapsos, foram entregues aos seculares e começaram as execuções...
Em
10 de Maio de 1311, em frente a abadia
de Santo Antônio, foi queimado vivo o primeiro
condenado, na esperança de intimidar os outros que se haviam
retratado e reconduzi-los à expressão de suas primeiras
confissões. Mas ficaram inabaláveis. Oito dias depois,
54 foram para a fogueira, construída no mesmo lugar. Essa execução,
lenta bastante para a morte viesse devagar e mais atroz, fez estourar
a constância e a bravura desses mártires que tomaram o
céu como testemunha de que morriam inocentes. Nos dias seguintes
foram queimados, em duas vezes, 15 templários que recusaram dizerem-se
culpados.
Na
Provença e no Piemonte, sucediam-se execuções semelhantes.
Enquanto
isso o grão-mestre Jacques de Molay
enfraquecia posto a ferro juntamente com seus grandes priores. Subiu
ao cadafalso a 18 de Março de 1313, em companhia de príncipe-delfim,
que o seguiu na retratação solene de suas primeiras declarações.
Os dois foram queimados a fogo lento, na ilha situada entre os jardins
do rei e os agostinianos, no lugar preciso onde está hoje a estátua
eqüestre de Henrique IV, no terrapleno da Ponte Nova. No dia seguinte
o cavaleiro Aumont e sete templários “disfarçados
em pedreiros” recolheram piedosamente as cinzas da fogueira. Nascia
a Ordem dos Franco-maçons....
Stanislas
de Guaita
VEJA
NA SEGUNDA PARTE...
Na
Segunda Parte deste artigo, Processo e Vingança dos Templários,
veremos como Felipe o Belo aboliu totalmente a prática e existência
da ordem, assim como sua queda a derradeira e inesperada desgraça.
A organização dos sobreviventes e o retorno da ordem com
uma nova postura, após séculos, dentro da sociedade.
Quem
é Stanislas de Guaita? |
|
Stanislas
de Guaita (ou marques Marie Victor Stanislas de
Guaita), nasceu a 6 de Abril de 1867 em Paris e morreu a 19 de
Dezembro de 1897. Guaita foi o principal discípulo de Eliphas
Lévi e fundador da Ordem Cabalística Rosa-Cruz.
Foi um dos mais destacados ocultistas franceses. Começou
sua carreira literária ligado à escola de Baudelaire.
Seu interesse pelo ocultismo transparece em alguns de seus versos
(Les Fleurs du Mal). Desde cedo dedicou-se exclusivamente a esse
estudo e a colecionar textos de Eliphas Lévi, a publicações
de trabalhos monumentais sobre esotéricos e especialmente
sobre magia deram um grande prestigio a seu nome nos círculos
especializados franceses. |
Texto
Dinâmico
(1) Histoire
de la Magie en France, págs. 78 - 79 [voltar
ao topo]
(2)
Stanislas de Guaita descreve em seu livro "O
Templo de Satã", capítulo II, todos os caracteres
idealizados na Idade Média sobre a composição eritualização
de um Sabat. [voltar ao topo]
(3)
Está na página 216 de "La France
Vraie, Mission des Français, 1887, 2 vols. in-18, tomo I"[voltar
ao topo]
(4)
Mignard estudou a ligação dos templários
e sua forte ligação com o maniqueísmo, tais provas
estão contidas em seus trabalhos; o cofre de pedra deEssarois
está contido na continuação da monografia "Preuves
du Manicheisme dans I' Ordre du Temple, Paris, grand in-4"[voltar
ao topo]
(5)
Neste ponto o autor do site (Domenium) faz um complemento
às fontes de Guaita, pois referente ao Sabat que em certa parte
do texto é descrito, já foi mencionado em capítulos
anteriores de “O Templo de Satã” [voltar
ao topo]
Fonte:
“O Templo de Satã (I)” Stanislas de Guaita. Edição
em português datada de 1973 pela Editora Três. Edição
original “Le Temple de Satan” (Le Serpent de la Genèse)
datada de 1891, Libraire du Merviveileux, Paris.
Imagens:
Em pintura “Carlos Fonseca”
Ilustrador; Google e Livros
Contatos: [email protected]
(Domenium) - [email protected]
(site Histórias Ocultas)