Crenças,
Fatos e Acontecimentos Reais
Em março
de 1996, um jornal da África Ocidental
informou que histeria em massa havia irrompido pela Costa do Marfim.
De acordo com o relato, quatorze supostos feiticeiros foram assassinados
por multidões, dois foram mortos em Abidjan e doze vítimas
conheceram seu fim brutal em Gana. Jovens africanos haviam ficado
desesperados porque acreditavam que seus pênis haviam desaparecido
(ou encolhido) quando estranhos usaram um "aperto de mão
enfeitiçado" para cumprimentá-los! Durante
a violência resultante, o governo de Gana respondeu com
força armada para acabar com os linchamentos. A histeria
estava baseada na crença local de que feiticeiros roubam
genitália para fins abomináveis e mágicos.
(Pela África Ocidental há um tráfico secreto
de partes do corpo para uso em Ju Ju, uma forma de magia semelhante
[sympathetic magic]. A obtenção física de
partes de corpo humano por praticantes Ju Ju pode ter alimentado
o medo de africanos Ocidentais de que poderiam ser separados de
partes de sua anatomia até mesmo magicamente. Anteriormente,
em outubro de 1988, dez dos cidadãos de Gana foram condenados
à morte por envolvimento no tráfico secreto de órgãos
humanos. )
Porém,
nem a corda da forca nem o pelotão de fuzilamento detiveram
o pensamento mágico de séculos de idade no continente
africano. Os últimos cem anos do milênio africano começaram
com a trágica rebelião Maji-Maji de 1904. Ela demonstrou
as conseqüências temerosas do pensamento mágico.
Foram mortos mais de 120.000 crentes na revolta Maji-Maji porque
alguns médiuns espirituais prometeram tornar todos que usassem
um remédio de guerra especial (água misturada com
óleo de rícino e semente de millet) imunes a rifles
alemães. Apesar de uma das refutações mais
severas na História das alegações de poderes
mágicos por meros mortais, sistemas de convicção
baseados em mágica continuaram prosperando na grande massa
de terra africana. Pessoas desesperadas buscando se livrar dos colonizadores
europeus continuaram acreditando em poderes paranormais como um
caminho para a liberdade.
Em março
de 1947, a ilha de Madagascar foi varrida por uma sangrenta revolta
nativa contra os colonialistas franceses. Feiticeiros das aldeias
prometeram aos oprimidos Malagasies uma vitória fácil
contra os soldados franceses. Os feiticeiros contaram aos rebeldes
que os feitiços deles fariam os rifles franceses atirar apenas
água! Inicialmente, alguns brancos foram mortos, mas quase
11,000 rebeldes morreriam. Quando a proteção mágica
provou ser uma fraude, os feiticeiros mantiveram a rebelião
viva usando profecias. Estes homens mágicos contaram aos
Malagasies (armados apenas com lanças e machetes) que os
EUA ajudariam seu exército rebelde. Qualquer sonho de que
as forças americanas iriam logo aparecer na ilha desapareceu,
e a Revolta das Lanças foi esmagada em dezembro de 1948.
Governos
coloniais nunca tiveram nenhum sucesso muito grande em erradicar
crenças africanas na magia, feitiçaria e bruxaria.
O pensamento mágico permaneceu profundamente arraigado como
crença cultural. Após o êxodo europeu do continente
africano, o pensamento mágico remexeu os ânimos de
violência e inquietação revolucionária.
Em 1962, a cena política da Rodésia do norte viu a
ascensão de uma sacerdotisa Voudon chamada Alice Lenshina.
Ela pregava às massas que havia sido trazida dos mortos por
Deus! Esta sacerdotisa carismática logo ganhou sessenta mil
discípulos e lançou uma caça brutal por bruxas.
O governo Rodesiano condenou o programa de erradicação
de bruxas de Lenshina, e interveio com o exército. Lenshina
disse para seus discípulos que não temessem as balas
dos soldados porque ela as faria virar água com sua magia.
Estrondos seguiram, e setecentos seguidores de Alice foram despachados
provando que feitiços não farão seu corpo imune
a disparos de rifles. Os distúrbios terminaram quando a sacerdotisa
foi capturada pelas autoridades.5 Até onde eu sei, Alice
Lenshina nunca se ofereceu pessoalmente para demonstrar sua própria
habilidade de transformar balas em H2O.
Convicção
mágica era uma parceira conveniente para políticos
africanos; homens subiram ao poder em várias novas nações
africanas usando convicções locais em magia para sua
vantagem. Um desses homens foi Francisco Nguema. Durante os anos
setenta, Nguema conseguiu convencer a maioria da Guiné Equatorial
de que ele era um grande feiticeiro. Este ditador cruel acreditava
que retirava seus poderes ocultos de uma coleção de
crânios guardada na casa dele! Infelizmente, a maioria dos
cidadãos de Guiné acreditou nele. Nguema usou os muitos
feiticeiros daquela nação para espalhar propaganda
sobre seus poderes para todos os cidadãos. O ditador era
especialmente notado por suas conversas com os mortos -- especialmente
com aqueles que ele tinha mandado matar! Nguema criou histórias
de fugas de assassinos para aumentar sua reputação
sobrenatural. Durante um reinado de dez anos, estima-se que Nguema
executou cinqüenta mil pessoas.6 Quando o ditador foi deposto,
não se pôde encontrar voluntários para executar
o velho feiticeiro. Os cidadãos de Guiné Equatorial
acreditavam que Nguema podia mudar de forma [shapeshifter] e que
poderia voltar dos mortos como um tigre para buscar vingança.
Um pelotão de fuzilamento teve até mesmo que ser importado
do Marrocos muçulmano para levar a cabo a pena de morte deste
estranho homem. Em 1979, Nguema foi executado. Até onde sabemos,
não há relato de nenhum tigre espreitando as cidades
ou aldeias da África central. Quem sabe o Marrocos tenha
sido palco para a vingativa rematerialização de Nguema
na forma de tigre? Crença em magia de semelhantes, feiticeiros
e bruxas continuou causando destruição nas antigas
colônias européias.
Portugal
foi uma das últimas nações européias
a sair da África. O governo português abandonou a colônia
de Moçambique enquanto o feiticeiro Nguema estava no ápice
de sua carreira. O governo Marxista da Frelimo (Frente de Liberação
do Moçambique) tomou o poder e foi desafiado por um exército
insurgente, chamado Renamo, patrocinado pela Rodésia. Em
1975, um conflito sangrento começou a se arrastar pelos anos
noventa e custou quase um milhão de vidas africanas! Tanto
as unidades militares Renamo quanto Frelimo possuíam muitos
partidários da magia dentro de seus escalões. Guerreiros
Renamo usaram curandeiros para preparar seus corpos com ervas antes
de batalhas. Estas ervas deviam agir como um tipo de colete mágico
à prova de balas para soldados. Quando a magia falhava, os
guerreiros Renamo arrastavam os corpos de seus companheiros mortos
para enterrá-los secretamente. Foi desta maneira que sua
reputação de magia seria mantida para intimidar soldados
da Frelimo.Às vezes, guerreiros Renamo eram levados à
luta por um curandeiro abanando um rabo de cabra para transformar
balas em água! Isto não é tão incrível
quanto a crença dos insurgentes antigovernamentais de que
certos ritos mágicos os faziam invisíveis para o inimigo.
Um general Renamo, de acordo com documentos capturados, empregou
até mesmo um ajudante para registrar milagres do campo de
batalha. Este militar acreditava que espíritos ajudantes
enganavam os soldados inimigos a atirar uns nos outros.10 Se os
milagres de campo de batalha houvessem sido a ordem do dia, talvez
os civis de Moçambique não tivessem morrido em números
tão grandes.
E quanto
à magia e os soldados da Frelimo durante esta guerra civil
do Terceiro Mundo? Evidentemente, os soldados Frelimo também
não eram racionalistas; eles acreditavam na existência
de bruxas! Em março de 1988, a Frelimo condenou duas mulheres
velhas à morte por lançar feitiços. A liderança
socialista do Moçambique era tão frustrada por magia
que recorreram a acampamentos de re-educação para
centenas de feiticeiros, adivinhadores e curandeiros locais. O governo
Frelimo falhou em sua missão de extinguir a convicção
mágica, e nenhum grande abalo foi feito nas convicções
paranormais da população do Moçambique. Não
obstante, Moçambique não era o único país
vexado por convicções em magia. A próxima Uganda
logo se tornou o campo de batalha para guerreiros vodu.
Em 1987,
a Uganda estava em tumulto pelo vácuo de poder deixado pela
fuga de seu ditador, Idi Amin Dada. Dada havia sido um crente em
magia; ele estabelecia a política de acordo com o conselho
de adivinhadores. Ele interpretava seus sonhos e alegava orientação
divina, usando adivinhadores locais para difundir boatos de seus
poderes.É alguma surpresa que a Uganda fosse terreno fértil
para a reencarnação de Alice Lenshina da Rodésia
no disfarce de uma nova sacerdotisa voudon que chamava a si mesma
Alice Lakwena? 1987 seria um ano triste para a Uganda. Alice Lakwena
logo reuniu um grupo grande de Ugandenses para ajudá-la em
uma revolta. Ela tocou de leve os seguidores dela com óleo
de noz para lhes dar imunidade ao fogo de artilharia e então
somou feitiços de proteção para seus guerreiros
do Espírito santo desarmados. Suas tropas besuntadas de óleo
então foram buscar luta com os soldados ugandenses. Lakwena
armou seus guerreiros com fetiches vodu que eram nada mais que armas
de madeira e brinquedos de arame. Ela contou para suas tropas não
buscarem cobertura das balas na batalha. E se munição
fosse necessária? Felizmente a sacerdotisa instruiu os guerreiros
dela em como transformar abelhas em balas. Ela também contou
ao seu exército que pedras lançadas contra o inimigo
iriam explodir. Uma grande parte das tropas de Lakwena morreu em
ataques suicidas acreditando no poder dela! Mais de mil membros
das tropas de Lakwena morreram em ataques suicidas no período
de um ano; uma estimativa falava de vários milhares. Felizmente,
Alice Lakwena foi capturada por autoridades do Quênia, levando
a revolta a um fim. Se apenas a revolta vodu de Alice fosse o capítulo
final na dança trágica da África com magia...
Porém, sistemas de convicção mágicos
não morrem facilmente. O fim do século trouxe ao continente
perseguições a bruxas!
De 1984
a 1994 a África do Sul foi tomada por uma histeria de bruxas
provinciana que rivalizou a da Inquisição. Mais de
quatrocentas pessoas foram mortas por habitantes depois de cerimônias
por médicos feiticeiros e devido à paranóia
dos próprios vizinhos. A queima, às vezes depois de
julgamentos através de tortura, era o método preferido
da justiça de vigilantes. Entre 1990 e 1996, o Quênia
e o Congo se tornaram o palco mortal para trezentos e sessenta supostas
bruxas, linchadas pelos supersticiosos. O problema de assassinatos
africanos de bruxa ficou tão agudo que foram criados até
mesmo acampamentos para proteger aqueles acusados de bruxaria, particularmente
na África do Sul e Gana. Se a Quênia tivesse seguido
este exemplo, talvez dez pessoas inocentes não tivessem sido
queimadas até a morte dentro de suas fronteiras por uma turba
rural em setembro de 1998. Assim o que devem fazer estes assolados
estados nação do Berço da Civilização
para quebrar a corrente de irracionalidade de seu povo? Será
que seus cidadãos permanecerão eternamente presos
a convicções em causalidade simplista? A tragédia
aflige sociedades que se agarram a uma visão de mundo que
seria melhor deixada no passado. John F. Kennedy tinha razão
ao dizer que a paranóia associada com convicção
mágica poderia fazer a vida em certas sociedades horrenda.
Esperemos que a ciência e a racionalidade ajudem a corroer
as convicções antigas que infestam a África
na aurora de um novo milênio. Porém, a última
década do milênio viu uma população de
200,000 curandeiros praticando feitiçaria apenas na África
do Sul!22 As matanças não baixaram com o novo governo
democrático da África do Sul -- as queimas continuam!
Desde o fim dos anos 80, a conta de mortes por linchamento de bruxas
na África do Sul está provavelmente em algum lugar
entre 1,000 e 2,000 pessoas. Quatro crianças e um adulto
foram queimados vivos por feitiçaria em Balasi, África
do Sul, em janeiro de 1999. Assim eu permaneço pessimista
sobre o futuro da África no século 21. A irracionalidade
cobra um alto preço em vidas humanas.
Autor:
Richard Petraitis, publicado em REALL News, vol.8
Bibliografia:
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March 8, 1996), available from http://alpha.mic.dundee.ac.uk/ft/r...ricapenisshrinkerscarespreads.html;
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3.
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5.
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6.
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Boulder Co., Westview Press, 1989, pp. 52-54.
7.
Decalo, Samuel, Psychoses of Power: African Personal Dictatorships,
Boulder Co., Westview Press, 1989, pp. 52-54.
8.
Finnegan, William, A Complicated War: The Harrowing of Mozambique,
Los Angeles, University of California Press, Berkeley, 1992, pp.
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9.
Finnegan, William, A Complicated War: The Harrowing of Mozambique,
Los Angeles, University of California Press, Berkeley, 1992, pp.
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10.
Finnegan, William, A Complicated War: The Harrowing of Mozambique,
Los Angeles, University of California Press, Berkeley, 1992, pp.
64-67.
11.
Finnegan, William, A Complicated War: The Harrowing of Mozambique,
Los Angeles, University of California Press, Berkeley, 1992, pp.
64-67.
12.
Malaby, Sebastian, After Apartheid: The Future of South Africa,
New York, Random House Inc. (Time Books), 1992, p. 172.
13.
Decalo, Samuel, Psychoses of Power: African Personal Dictatorships,
Boulder Co., Westview Press, 1989, pp. 15-16.
14.
Decalo, Samuel, Psychoses of Power: African Personal Dictatorships,
Boulder Co., Westview Press, 1989, pp. 118-120.
15.
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of stories that appeared in the Jan. 1, 1988, Sports Final and the
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created by W.J. Bethancourt III, site accessed Sept. 7, 1999.
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Agyekwena, Bernice, "Witch Villages In Ghana Mean Exile And
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UPI, "10 Suspected Witches Burned," September 7, 1998,
available