Império
da Escuridão*
Os
Papas acima de Deus
Vamos
uma vez falar de papas sem papas na língua. O poder dos papas
na Idade Média alcançou uma magnitude dificilmente avaliável
nos dias de hoje. Basta lembrar que o papa Bonifácio
VIII, em seu curto reinado de 1294 a 1303, sentiu-se muito à
vontade para emitir uma bula liberando os clérigos de impostos,
e uma outra onde declarava que o poder espiritual e temporal dos papas
era superior ao dos reis... O poeta Dante
visitou Roma durante o seu reinado e parece não ter comungado
dessa opinião, pois logo depois descreveu o Vaticano como “esgoto
da corrupção”. No século XIII, o pontífice
romano dispunha de mais vassalos feudais do que qualquer outro suserano,
e a lei canônica era aplicada indistintamente a todos os países
cristãos do continente europeu. Qualquer súdito suspeito
de heresia era taxado por Roma não apenas de inimigo da fé,
mas de “inimigo da sociedade”!
O
poder do papa era tão imenso nesse período, que acabou
dando origem ao chamado “Grande Cisma”, o qual manteve a
Igreja dividida entre os anos de 1378 a 1417. O que aconteceu foi que
o papa eleito em 1378, Urbano VI, se opôs
aos cardeais não italianos, que, devido a isso, resolveram eleger
por conta própria um outro papa, Clemente
VII, suíço de nascimento. Urbano VI era apoiado
pela Inglaterra, Polônia, Dinamarca e Suécia, enquanto
que Clemente VII contava com o apoio da França, Escócia
e países ibéricos. A sede de Urbano VI era Roma, a de
Clemente VII a cidade de Avignon, na França. Nessa época,
todo europeu encontrava-se excomungado pelo papa a cujo pálio
não se submetia, e cada lado acusava o outro de ter o Anticristo
como chefe. Com o propósito de resolver o impasse, visto ter
fracassada uma singela tentativa de solução pelas armas,
o Concílio de Pisa, com apoio da Universidade de Paris, elegeu
o papa Alexandre V em 1409, que não
pôde resolver o caso porque inoportunamente morreu logo em seguida,
tendo sido substituído pelo primeiro João
XXIII.
Embora declarados ilegítimos pelo Concílio, os dois papas
anteriores, o de Roma e o de Avignon, mantiveram-se firmes em seus postos,
de modo que a Igreja passou a contar nessa época com três
Vigários de Cristo a zelar pela doutrina, cada qual se esmerando
em anátemas e excomunhões. Durante alguns anos, as salvas
dos tríplices anátemas papais cruzaram a Europa de ponta
a ponta, qual mísseis medievais, municiados com ogivas de ignorância
e estupidez, escurecendo ainda mais os céus já cinzentos
da tenebrosa Idade Média papista. O conflito só serenou
quando o Concílio de Constança (1415 - 1418) se reuniu
e depôs os três papas briguentos, elegendo um quarto, Martinho
V, daí novamente o único pontífice universal,
reconhecido por todos, e com isso a pax romana retornou ao seio da Igreja
de Roma.
O
termo pontífice provém do vocábulo pontifex -
“construtor de pontes”, título sacerdotal usado
nos ritos pagãos da Roma antiga, designando aquele que, por seu
ofício de sacerdote, formava o elo ou ponte entre a vida na Terra
e no Além . A forma pontifex maximus (sumo pontífice)
era uma das expressões do culto divino dirigido ao imperador
romano, e apenas a este. Unicamente o imperador era o pontifex maximus.
Essa denominação foi surrupiada pelo papado pouco depois
do seu início, na gestão de Leão
I, chefe da Igreja entre os anos 440 e 461. Foi ele quem deu
início à concorrida linhagem de césares papais
ao tomar para si o título de “sumo pontífice”,
encantado com a magnificência do rótulo. Com isso desejava
mostrar que, como bispo de Roma, tinha natural jurisdição
sobre as demais comunidades cristãs. Segundo sua opinião,
“uma vez que Pedro fora o primeiro dentre os apóstolos,
a Igreja de São Pedro deveria receber primazia entre as igrejas.”
Leão I queria, leoninamente, ser considerado o primo inter pares
- “primeiro entre os iguais”. Podemos então afirmar
que o Império Romano nunca se extinguiu de fato, mas continuou
existindo, inclusive sob esse mesmo nome, até a idade moderna.
A única diferença é que seus súditos e vassalos
não eram mais constrangidos pela lança e os louros do
imperador, mas pelo báculo e a mitra do bispo de Roma. Quase
nada mudou. O costume de manter arquivos papais deriva da prática
imperial romana, e o transporte do papa no alto, na chamada sedia gestatoria,
é igualmente um meio de transporte oriundo da Roma antiga. Mesmo
o Código de Direito Canônico foi inspirado no Direito Romano.
Até
recentemente, qualquer um que não comungasse da fé católica
tornava-se efetivamente um novo “bárbaro” aos olhos
da Igreja e do mundo ocidental. E tal como seu antecessor, o atual Império
Romano da Igreja, fundado em concepções errôneas
das palavras de Cristo, foi igualmente conservado pelo medo e expandido
pela força. O termo “papa” é formado pela
junção das primeiras sílabas de duas palavra latinas:
pater patrum - “pai dos pais”. A própria História
comprova como muitos papas - os “pais dos pais” da Igreja
- mandaram utilizar paternalmente o punhal e o veneno, contra seus próprios
pares, na consecução de objetivos puramente terrenais.
Quem
inaugurou, ou melhor, foi inaugurado no estilo de morte papal por envenenamento
foi João VIII, assassinado no remoto
ano de 882. Cerca de dez anos depois foi a vez do papa Formoso ser misteriosamente
envenenado na Santa Sé. Seu sucessor, Estêvão
VII, aparentemente incomodado com esse rápido falecimento
enigmático, fez questão de exumar o corpo do papa morto,
excomungá-lo solenemente com as vestes pontificais, mutilá-lo,
arrastá-lo pelas ruas de Roma e lançá-lo no rio
Tibre. O misericordioso Estêvão VII acabou morrendo pouco
depois, trucidado pelo povo. Em 904 o papa Leão V foi assassinado
pelo seu sucessor, Sérgio III, que
já havia tentado antes se apoderar do trono pontifício,
sem sucesso. Poucos anos mais tarde, o papa João
X foi envenenado pela filha de sua amante, essa última
mãe de seu sucessor, João XI.
O papa João XI foi liquidado em 936. Em fins do século
XIII, o papa Celestino V foi envenenado
pelo seu sucessor, Bonifácio VIII.
Especial destaque homicida merece ser dado ao papa Alexandre
VI, um sátrapa que ascendeu ao trono pontifício
no ano de 1492 e logo cuidou de transformar o palácio papal um
bordel. Seu tristemente célebre reinado de terror ficou marcado
tanto pelo punhal como pelo veneno, freqüentemente utilizados por
seus correligionários, com grande habilidade, para abrir caminho
nas fileiras dos opositores. Traições sucessivas, luta
de facínoras pelo poder, sangue derramado aos borbotões
- tal é o enredo secular da história dos papas.
Em
relação a outros temas o currículo deles não
é melhor. Os catálogos feitos para provar a ligação
ininterrupta dos papas desde o início do cristianismo são
falsificações, reconhecidas hoje, inclusive, por membros
honestos do clero. Baseiam-se na chamada “Doação
de Constantino” e nas “Pseudo-decretais”, documentos
forjados no século IX e impingidos ao povo como “provas”
da transferência da autoridade papal aos ocupantes da cadeira
de Pedro desde a época do imperador romano Constantino, no século
III. A Doação de Constantino é uma carta forjada
desse imperador, que teria sido dirigida ao papa Silvestre I em 30 de
março de 315, na qual lhe concede autoridade sobre todos os episcopados
existentes, doando-lhe o palácio de Latrão, as insígnias
e os poderes imperiais romanos, não só sobre a Itália
como sobre todas as demais províncias do Império.
Não
se sabe o que Silvestre I pensou ao ganhar
de presente um certo patriarcado de Constantinopla, citado textualmente
na “Doação”, mas que ainda não existia
no ano de 315... A Igreja de Roma afirmava que Constantino havia depositado
seu documento de “Doação” sobre o cadáver
de S. Pedro, como uma oferta pessoal ao primeiro dos papas. Há
também um outro documento falsificado, atribuído a Clemente
I, papa de 88 a 97, segundo o qual o apóstolo Pedro lhe
teria dito que o bispo de Roma detinha o poder de abrir e fechar os
portões do Paraíso. Já a comprovação
“espiritual” da ligação dos papas com Cristo,
cabeça da Igreja, foi pespegada aos católicos com o dogma
da infalibilidade papal, decretado durante o Concílio Vaticano
I, no século XIX. Os bispos reunidos nesse Concílio chegaram
até a ter uma oportunidade de rejeitar essa loucura blasfema,
mas preferiram recuar. Numa das reuniões para debater o assunto
da infalibilidade, uma tempestade desabou sobre a Basílica de
S. Pedro. Amplificada pelo interior acústico da Basílica,
uma trovoada acabou quebrando uma das janelas mais altas. Esse incidente,
relatado pelo jornal londrino The Times, assustou sobremaneira alguns
dos dignitários ali reunidos, que concluíram tratar-se
de um sinal claro de que era errado o que pretendiam fazer.
No entanto, essa opinião não prevaleceu, o episódio
foi rapidamente abafado e os papas tornaram-se dali em diante infalíveis
em questões de fé e moral, preservados pelo Senhor de
quaisquer erros. Também a prepotência espiritual da casta
papal ainda está para ser avaliada, em sua real magnitude, por
historiadores independentes. No início eles se denominavam vigários
de Pedro, mas não demorou a serem promovidos a vigários
de Cristo. O papa Gelásio I, redator do primeiro catálogo
de livros proibidos pela Igreja, foi quem iniciou, já no século
V, a longa série de desvarios pontifícios com sua “teoria
das duas espadas”. De acordo com essa tese, dos dois poderes legítimos
que o Criador teria outorgado para o governo no mundo, o poder espiritual
- representado pelo papa - sempre teria supremacia sobre o poder secular.
No século XI, o papa Gregório VII
proclamou a absoluta perfeição da Igreja de Roma: “A
Igreja nunca errou, nem jamais errará, segundo as Escrituras”,
esclareceu. Como testemunho dessa perfeição doutrinária,
e para justificar o solene culto em latim, o qual sempre foi completamente
ininteligível para qualquer fiel, esse papa emitiu uma bula declarando
“ser agradável ao Onipotente que Seu culto fosse celebrado
em língua desconhecida, e que muitos males e heresias haviam
surgido por não se observar essa regra.” Gregório
VII deliberou calmamente que todos os príncipes deveriam beijar
os pés do papa, e que um apelo à corte pontifícia
teria total preponderância sobre os julgamentos de qualquer outro
tribunal terreno. Na sua opinião, o papa era automaticamente
feito santo, pelos méritos de São Pedro. Seu colega de
profissão, Bonifácio VIII,
também não corou ao explicar o papel do papa na salvação
das almas humanas: “Declaramos, afirmamos, definimos e pronunciamos
que é totalmente necessária à salvação
de toda criatura humana sua sujeição ao pontífice
romano.” (*) O catecismo do Concílio de Trento respaldou
indiretamente essa opinião de Bonifácio VIII, ao definir
a Igreja como “corpo de todos os fiéis que até agora
vivem na Terra, com uma cabeça invisível, Cristo, e uma
cabeça visível, o sucessor de Pedro, que ocupa a Sede
Romana.”
Pouco
depois dessa declaração, Inocêncio III conseguiu
sobrepujar por larguíssima margem a arrogância de seus
predecessores quando, num incontido arroubo de modéstia pontifícia,
anunciou ao mundo que “o pontífice romano é o representante
sobre a Terra não de um mero homem, senão do próprio
Deus.” Essa opinião se manteve nos séculos seguintes.
Segundo a escritora Ellen White, até o ano de 1612 ainda era
possível encontrar documentos eclesiásticos onde se lia
o intróito: Dominum Deum Nostrum Papam - Nosso Senhor Deus o
Papa. Agora me pergunto: Qual a diferença entre esse ensandecido
Inocêncio III e o desvairado Domiciano, imperador de 51 a 96d.C,
que exigia de seus súditos o tratamento de “Senhor e deus”?
Ou de sacripantas como Calígula e Nero, que também declararam
em vida sua origem divina? O terceiro Inocêncio da Igreja, divindade
de veneta aqui na Terra, já havia condenado numa desaforada bula
as tímidas iniciativas de tradução da Bíblia,
ameaçando de morte “qualquer simplório e ignorante
que tivesse a audácia de tocar na sublimidade da santa Escritura
ou de pregá-la a outrem”. Foi ele também quem pronunciou
a desairosa máxima: “fora da Igreja não há
salvação”, durante o Concílio Latrão
IV, em 1215, pouco depois de declarar ser Maomé o Anticristo.
Com
um caráter assim tão pouco ecumênico, logo sentiu-se
encorajado a perseguir os albigenses ou cátaros, um grupo cristão
dissidente que surgiu na França no século XII, que rejeitava
totalmente o culto aos santos, os dogmas da ressurreição
da carne, do nascimento virginal de Jesus e de sua presença real
na eucaristia. Durante a perseguição, como que tocado
por um lampejo de caridade cristã, o inocente Inocêncio
III ordenou a seus sequazes: “Se necessário, suprimi-os
com a espada!” O mefistofélico Inocêncio III não
foi, porém, o único papa a desautorizar a leitura da Bíblia
em língua vernácula. No século XVI, o papa Paulo
IV emitiu uma bula em que excomungava quem fizesse uso de qualquer tradução
da Bíblia. Algumas décadas depois, Paulo V colocou a seguinte
observação ao lado da lista de Bíblias em vernáculo
constantes do Índice de Livros Proibidos da Igreja - o Index
Librorum Prohibitorum: “Não se pode ler, imprimir-se ou
possuir-se, sem licença do Santo Ofício, as edições
da Bíblia em língua vulgar.” Em 1816, Pio VII emitiu
um documento em que chamava as traduções vernáculas
da Bíblia de “a mais astuta das invenções,
pela qual se abalam os fundamentos da religião e se levam os
fiéis a beberem nessas fontes o letal veneno.”
Alguns
anos depois da declaração peçonhenta de Pio VII,
o papa Gregório XVI tachou a hipótese de uma eventual
liberdade de consciência humana como “idéia monstruosa
e absurda”. Só para arrematar essa diminuta amostragem
de prepotência papal, quero citar uma, apenas uma das pérolas
que compõem o rosário de petulâncias da “Súmula
de Erros” emitida pelo papa Pio IX, no ano não tão
distante assim de 1864: “Os princípios de filosofia, ciência
moral e as leis civis podem e devem ser feitos para se curvarem às
autoridades divinas e eclesiásticas.” Pronto, acho que
já é suficiente. Voltemos a respirar. Mesmo porque agora
já temos permissão para isso, conforme estabelece o cânone
nº 1.536 do Concílio Vaticano II (1962-1965): “Este
Sínodo Vaticano declara que a pessoa humana tem direito à
liberdade religiosa.” Que bom, não?
Falsos
Papas – Fatos Obscuros**
79 - 90: Anacleto (ou Cleto)
Tinha uma prostituta como amante, cometeu incesto com a irmã
e alguns outros parentes femininos; violentava freiras.
366
- 384: Dâmaso I
Assassinou seus rivais ao Papado. Julgado por adultério em 378,
perdoado pelo Imperador.
432
- 440: Sisto III
Julgado por estuprar uma freira, mas foi liberado por não haver
testemunhas...
904
- 911: Sérgio III
Gostava de sexo com meninas menores de idade. Quando tinha 45 anos,
sua amante contava com apenas 15 anos de idade.
936
- 939: Leão VII
Morreu de ataque cardíaco enquanto fazia sexo
955
- 964: João XII
Ateu, bisexual, invocada o demônio durante o sexo, castrou um
cardeal, morto pelo marido irado da mulher com quem ele estava copulando.
965
- 972: João XIII (João de Nardi)
Enforcou um prefeito com seu cabelo, deflorou a própria sobrinha,
morreu como seu pai, João XII, morto pelo marido irado da mulher
com quem ele estava copulando.
1033
- 1046: Bento IX (Teofilato de Túsculo)
Assassino, acreditava em bruxaria, praticava bestialismo, promoveu selvagens
orgiais bisexuais, casou com a própria prima e então vendeu
o papado.
1484
- 1492: Inocêncio VIII (Giovanni Battista Cibo)
Pai de diversos filhos
1294
- 1303: Bonifácio VIII (Bento Gaetani)
Conquistou o Papado assassinando seu predecessor, Celestivo V. Ateu,
homosexual, julgado por heresia, estupro, sodomia e comer carne durante
a Quaresma
1342
- 1352: Clemente VI (Pierre Roger de Beaufort)
Dúzias de amantes
1410
- 1415: João XXIII (Baldassare Cossa)
Começou carreira como pirata. Conseguiu o papado com a força
das armas. Foi acusado de pirataria, assassinato, sodomia, estupro e
incesto.
1458
- 1464: Pio II (Enea Silvio de Piccolomini)
Escrevia literatura erótica. pai de 12 filhos
1464
- 1471: Paulo II (Pietro Barbo)
Morreu enquanto estava sendo sodomizado por um pagem
1471
- 1484: Sisto IV (Francesco della Rovere)
Teve seis filhos ilegítimos, fazia sexo com a irmã e iniciou
a Inquisição Espanhola.
1492
- 1503: Alexandre VI (Rodrigo de Bórgia)
Cometeu o primeiro homicídio aos 12 anos. Pai de diversos filhos
1503
- 1513: Júlio II (Giuliano della Rovere)
Pedófilo, fazia sexo com garotinhos e freqüentava prostitutos.
1513
- 1521: Leão X (Giovani de Medici)
Homosexual, tão corrupto que inspirou Lutero a escrever suas
95 teses.
1534
- 1549: Paulo III (Alessandro Farnese)
Envenenou a mãe e a irmão, mantinha uma relação
incestuosa com a própria filha, matou cardeais por causa de uma
discussão teológica, foi o maior cafetão de Roma,
com 45 mil prostitutas trabalhando para ele e pagando tributos.
1550
- 1555: Júlio III (Giovanni Maria del Monte)
sodomizava garotinhos, mantinha relações com o próprio
filho ilegítimo, escreveu para ele o poema "em louvor à
sodomia".
Artigo:
Roberto C. P. Júnior *
& Márcio Domenes**
Imagem:
Márcio Domenes
Fonte:
"Vivemos os Últimos Anos do Juízo
Final" - Roberto C. P Júnior e trechos de livros teologia