CIÊNTISTAS
LOUCOS
Entre a realidade e a ficção
Part I
Conheci
o caro Gunther von Hagens
em uma reportagem da revista “Veja”,
depois saíram algumas publicações de seus trabalhos
na "Folha de S. Paulo", intitulado,
"As formas da morte", que divulgava
e explicava a "plastinação",
uma técnica desenvolvida pelo próprio Gunther para a conservação
de cadáveres (será detalhada nos próximos artigos).
Dias após, Von Hagens era assunto no programa Fantástico
da Rede Globo, “o cientista louco”,
mas não comentarei sobre reportagem tão fútil.
Von
Hagens, de acordo com a mídia, enquadra-se no estereotipo clássico
dos cientistas loucos, presentes nos clássicos da literatura
e do cinema. Aliás, tudo fora dos "padrões éticos"
é loucura. Mas neste artigo farei apenas um paralelo entre a
ficção e a realidade, entre a loucura e a ignorância,
a verdade e a mentira e todos os fatores que conjuram a ciência
como o conhecimento bastardo contra as leis divinas. Para isso vamos
começar a analisar os cientistas loucos da literatura e do cinema.
|
A
técnica de "plastinação de Von Hagens |
Desde
o início dos tempos, a imaginação popular sempre
circulou ao redor de figuras arquetípicas que transmitiam uma
imagem de conhecimento esotérico. Shamans e curandeiros inspiravam
respeito e medo, principalmente sobre os rumores de suas habilidades
em conjurar bestas e criar demônios. Suas características
(e efeitos no inconsciente coletivo) foram transmitidas aos cientistas,
incluindo comportamento excêntrico, reclusão e suposta
habilidade de criar vida.
Quando
a Igreja Católica supriu essas crenças,
as lendas foram transferidas para outro arquétipo de ser humano
com poder sobre a natureza, o alquimista. Os alquimistas eram conhecidos
por agirem de forma estranha, geralmente como resultado de envenenamento
por mercúrio, como no caso de Isaac
Newton. Uma habilidade em comum era a capacidade de
criar.
|
Dr.
Victor Frankenstein |
No
cinema e na literatura os cientistas loucos fizeram história.
Mary Shelley deu vida ao cientista louco
mais conhecido da literatura, "Dr.
Victor Frankenstein", que ao presenciar o despertar
de sua cria, gritou "Agora eu sei como
Deus se sente!". Essa afirmação foi considerada
controversa o bastante para que versão filmada de 1931 fosse
censurada.
Outro
clássico que representada a excentricidade dos cientistas é
o cult movie "The Island of Dr. Moreau"
(A ilha do Dr. Moreau) baseado na obra do fantástico H.G
Wells. Este romance de ficção científica
fala de um médico que da vida a criaturas monstruosas em uma
ilha tropical. Moreau é um cientista obcecado pela idéia
de transformar animais em homens através de cirurgias e hipnose.
A chamada vivissecção é o crime de que Moreau é
acusado ao fazer suas experiências dolorosas em animais. Isto
o leva a se refugiar na ilha onde desenvolve suas idéias. Há,
nesta obra, toda uma discussão sobre religião, ética
científica, behaviorismo e evolução.
|
|
"The
Island of Dr. Moreau" versão de 1977 |
Re-Animator |
Com
tantos filmes baseados em obras clássicas da literatura não
poderia deixar mencionar o grande H.P Lovecraft
e o clássico movie cult "Re-Animator".
O filme conta à história de um jovem médico, o
sinistro Herbert West,
que cria uma composição química capaz de reanimar
cadáveres. Trata-se de um líquido verde fluorescente,
o tal “Reanimator” do título. Realmente no decorrer
da história o jovem Dr. West fica obcecado pela idéia
de trazer vida aos mortos, desvelar a tênua linha que existe entre
a vida e a morte. Seus escrúpulos vão cedendo aos seus
objetivos, levando o insano West a uma verdadeira caçada de cadáveres
frescos!
|
Anthony
Hopkins com Dr. Van Helsing |
Menos
insano é Abraham Van Helsing,
personagem do romance Drácula de Bram Stoker.
Interpretado por Anthony Hopkins e dirigido
por Francis Ford Copolla na versão
para o cinema “Dracula de Bram Stoker ” de 1990.
Natural
de Amsterdã, Países Baixos, Van Helsing é o célebre
professor de antropologia e filosofia, também, um especialista
em doenças obscuras, além de ser um cientista ortodoxo,
que com isso consegue usar símbolos religiosos para derrotar
seus inimigos. Dentre os vários artefatos de seu largo arsenal,
algumas preferências: estacas, água benta, alho e uma adaga
muito afiada e abençoada, capaz de decapitar um vampiro. Mas
a sua grande arma é o conhecimento com as ciências antigas.
Tanto no livro quanto no filme mostra sábios conhecimentos de
metafísica, gnose e alquimia.
No
romance, a caçada de Van Helsing começa em Londres e termina
na própria Transilvânia, onde o professor consegue destruir
Drácula depois de uma aventura comovedora. Nos filmes, atores
consagrados deram vida ao personagem, como Peter Cushing, Laurence Olivier
e até Hugh Jackman.
Ao
contrário dos outros cientistas citados, Van Helsing usa seu
vasto conhecimento para combater o mal. Ao contrário da idéia
de conhecimento incutido no estereotipo social, onde qualquer conhecimento
ou vontade de descobrir o “por quê” das coisas é
uma afronta às leis divinas. A literatura nunca deixou de explorar
a “loucura dos cientistas”, que ao meu ver passa a seguinte
idéia: “o conhecimento não é para todos”.
O homem sempre teve sede de ser onipotente perante o seu semelhante.
O conhecimento sem sabedoria é isso, ignorância intelectual,
dogmatismo religioso, Deus sem fé e fé baseada em submissão.
Um
bom exemplo da sede por poder vemos na obra literária de Goethe,
Fausto (Faust), produzida
em duas partes, tendo sido escrita e reescrita ao longo de quase sessenta
anos. A primeira parte - mais famosa - foi concluída em 1808
e a segunda, em 1832 - às vésperas da morte do autor.
Dizem que a inspiração para tal personagem veio de um
certo doutor que realmente existiu no século 16. Goethe conseguiu
neste romance misturar a fantasia gótica com o primado da ciência.
|
"Fausto"
de Goethe |
Considerado
símbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de
proporções épicas que relata a tragédia
do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento
de seu tempo, faz um pacto com o demônio
Mefistófeles, que lhe enche com a energia satânica
insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso. Esta
mesma energia, porém, faz de Fausto um homem desdenhoso das conseqüências
e estragos de sua Ciência, tornando-o um gênio leviano,
um louco obcecado pelo progresso e cego para tudo mais.
Como
podemos ver, a sede por conhecimento leva os homens à alienação
do saber, Fausto transformou suas qualidades em ruínas. Mas a
dualidade entre a “sabedoria racional”
e a “bestialidade do conhecimento”
não ficou tão evidente quanto na obra do Sr.
Robert Louis Stevenson e seu famoso clássico
“O Médico e o Monstro”
(The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde). Clássico cuja
história retrata um cientista essencialmente humano cujas experiências
resultam em um alter-ego monstruoso.
O
personagem do filme “A liga extraordinária” é
um leve parâmetro para a verdadeira essência dos personagens
Dr. Jekyll e Mr Hyde, então beba da fonte, recomendo
(se não leu), deguste o clássico em sua fiel versão
– o livro!
Mas
com certeza a figura da “loucura” fica realmente expressa
nas faces obscuras do Doutor Caligari
no clássico do Expressionismo Alemão:
"O Gabinete do Doutor Caligari (1919)" Um clássico
do terror realizado no tempo em que o cinema ainda não falava.
Mas as belíssimas imagens (que criam um tom meio surrealista)
valem mais que mil palavras. O filme trata da história do malvado
Dr. Caligari que hipnotiza um jovem e o induz a matar várias
pessoas. Tudo se complica quando ele se recusa a assassinar uma bela
jovem. Num toque de mestre, realiza um filme sob a ótica de um
louco: daí as distorções e deformações
das ruas, casas e pessoas.
Como
podemos ver a “loucura” e a
“sabedoria” sempre andaram de mãos dadas,
pelo menos na ficção cientifica. Mas a realidade a nossa
volta não está muito diferente dessa óptica. Loucos
foram venerados como Reis e sábios foram excomungados com loucos
e hereges. Porém e engraçado perceber que os hereges da
inquisição são os santificados da atualidade, ou
seja, a mesma instituição que os puniu, trouxe a absolvição.
Agora fica a pergunta: “O que é
loucura?”.
Artigo:
Domenium
Fonte:
http://www.brimstone.org
http://educaterra.terra.com.br
Catalogo de filmes Set Video
Arquivos próprios: Vídeo e Literatura