10 de Agosto
Umi no Kitsune
 

O tempo parou e mesmo assim, tudo mudou. Que dor tão grande é essa que sobe pelo meu peito e alcança a minha garganta preenchendo-a com não sei o que de tão desconfortável e incômodo como uma grande bola que impede a movimentação da minha respiração? Só dói quando respiro... então não respiro. Deixo-me morrer.

Mas quero viver, eu preciso viver! Quero respirar, andar, correr, fazer e acontecer. Criar com minhas próprias mãos, materializar o meu sonho, quero ser feliz! Quero tanto ser feliz... tanto... mas parece impossível sem ela. Sem o apoio dela, sem a presença, a voz, o olhar, os carinhos que eram só pra mim.

Eu era uma princesa. Uma princesa feliz, com todos os mimos e vontades satisfeitos, não. Mas com uma educação que me ensinou como saber quando pedir e quando fazer por mim mesma. E ela me amava desse jeito. Fazia as minhas vontades de princesa, mas não todas. Sabia me mostrar o certo e errado e ter a paciência de sorrir quando eu insistia, teimosa, em errar.

Muita, muita, muita ou pouca, pouca, pouca? Ela perguntava ao telefone. Muita, muita, muita!!! Era a minha resposta feliz e chorosa ao mesmo tempo. O carinho gostoso na orelha, as cem escovadas antes de dormir para deixar o cabelo brilhante, os bolinhos de chuva que só ela sabia fazer.

Peixe era a sua especialidade, fazia pratos deliciosos, mas nunca experimentara um sequer. Detestava peixe. Também não gostava de morango e nem de coca-cola, o famoso refrigerante de marca registrada. E eu absorvi um pouco desse gosto dela. Não como peixe com espinha, só filé e também não tomo coca. Que fresca!  Pelo menos adoro morango.

E por que? Ela teve que me deixar sozinha... por que? Eu sei que estou rodeada de gente que me ama, que nunca estarei sozinha, mas ela faz falta. É tão, mas tão estranho pensar... nesse vazio. Nesse buraco que ela deixou. Na falta que o abraço dela me faz ou o cafuné gostoso enquanto assistíamos a novela.

No começo, foi muito difícil. Não dava para acreditar que ela nunca mais estaria comigo. Simplesmente... não dava. Sempre ficava, no meio daquela dor enorme, uma esperança de que tudo não passasse de um pesadelo e que eu seria abraçada de novo, beijada de novo, embalada de novo. Pode parecer estranho, mas até hoje essa esperança existe.

Agora, pensando... hoje completam-se três anos de pequena esperança. Que eu, boba, insisto em manter. Também sádica, eu me vejo e até deixo minhas risadas escaparem, percebendo como minha mente consegue confundir essa esperança com a saudade e fazer uma tremenda bagunça com meus pensamentos deixando que tudo acabe em lágrimas.

É hora de admitir, eu sei disso. Ela não está mais comigo. Faz três anos que ela não pode mais me abraçar. Essa esperança boba e estupidamente infantil tem que morrer. Eu tenho que viver. E mesmo sem ela, vou realizar todos os meus sonhos. Vou sonhar com o que ainda existe, vou viver e praticar com os outros o que ela sempre fez comigo. Me fez muito feliz.

Porque...? Porque a saudade ainda existe e sempre me lembrará da felicidade que era ter ela junto comigo.

“Oi, minha princesa!”

“Oi, vovó! Que saudades!”

“Ficou com saudades? Mas muita, muita, muita ou pouca, pouca, pouca?”

“Muita, muita, muuuita saudades!!!”
 
 

Esta estória é dedicada a Oraide de Paula Adurens (*1928 †1998)



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