Ninguém, ao passar, adivinharia...

 Nívea
 
 
Aquele menino sempre o fascinara. Ele era como os gatos, cujo olhar contém toda a inocência do mundo e, não importa o quanto você os alimente, algum dia, os que se deixaram enganar por tal olhar, carregarão uma cicatriz causada por suas garras. Não por seus dentes. Os gatos raramente são sinceros a esse ponto. Isso é para os cães. Soujirou era a própria traição em forma de criança.

Kenshin já não tinha certeza se estava indo encontrar uma criança. O garoto tinha dizimado uma aldeia inteira, sem nenhum motivo aparente. E os que corriam para ver o desastre, não deixavam de pousar uma mão carinhosa na cabeça de criatura tão encantadora, não desconfiando que foi das mãos dela, que caminhava calmamente, sorrindo, na direção contrária, que a morte surgiu.
 
"Tão cedo, Retalhador?" Soujirou estava sentado na margem do lago que determinava o local do encontro, olhando para seu reflexo impresso nas águas.

"Não me chame assim!"
 
Kenshin analisou seu inimigo. Muito belo! Jamais vira pele tão perfeita. Nem nas mulheres. Mas o que estava a sua frente não tinha nada de mulher. Mesmo o componente andrógeno que as crianças carregam, não estava nele. A voz e os movimentos eram por demais sensuais. E sua postura possuia a essência masculina, a despeito de sua aparência enganadora. Ainda assim, não via nada de feminino no rival.

"Certo! Desculpe! Qual o objetivo do encontro?"

"Por que matou aquelas pessoas?"

"Meus dias estavam muito vazios. Um tédio..."

"Que abominação! Você deveria ter nascido morto! Não é o único que sofre nessa terra, sabia? Você é um fraco! Tem pena de si mesmo!"

"E quem é você para me julgar? Tirou mais vidas do que eu."

"Sei disso! E sofro até hoje! Acredite, Seta, não vale a pena..."

"Cale a boca! Você não sabe de porra nenhuma! Tem idéia do quanto fui espancado? Sem ao menos entender por quê? O quanto tive que sustentar o peso de outro homem sobre mim, quando sequer suportava o meu próprio peso nas pernas? Todos queriam o seu suposto sofrimento, Kenshin! Matar multidões, e sair ileso. E, depois que viu a quantidade de sangue suficiente, vem cheio de arrependimento. Porque a vida humana; as pessoas... Não sei quem é o mais dissimulado dos dois.

"Parece que te mutilaram ainda no berço, garoto! Você tem razão! Mas, nem todas as pessoas são más como as que te fizeram sofrer. Foi Shishio que abusou de você?"

"Julga-se um homem, e tudo que vejo em você é ingenuidade. Nem todas as pessoas são más? Pegue o homem mais humilde que conhece e ofereça-lhe poder. Em pouco tempo, terá um monstro dos mais sádicos na sua frente. Não, não foi Shishio. Deito-me com ele sim, mas porque o desejo. Ele nunca me forçou. O peso que senti foi de homens repugnantes. Makoto não é um deles. Está envolto em ataduras agora, queimado, mas, no passado, era lindo! Continua sendo, na verdade."

"Realmente, Shishio era muito bonito! Não imaginava que você, Soujirou, fosse iniciado nas artes do sexo. Não falo dos estupros, posto que não é sexo e, sim, violência, mas você faz amor com Makoto e... Deus! Tão jovem!"

"Não se iluda com o exterior, Battousai! Minha alma tem milênios. A propósito, você não me parece muito experiente! Aposto que nunca tocou em Kaoru. E Sanosuke?"

"Gosto de Kaoru! É dedicada! Mas não me desperta nada. Já Sano..."

"Compreendo! Acha o quê de mim, Retalhador?"

"Disse para não me chamar..."

"Ah, pare de fingir! Sei que gosta! Errei?"

"Não gosto! Porém, vindo dos seus lábios..."

" Posso te beijar, Kenshin?"

"Você é uma criança!"

"Acha mesmo? E vai abdicar das delícias infantis?"

"Não é uma criança não! É uma aberração! Mas, quero! Quero muito que me beije!"

Sua boca foi tomada. A língua deslizou por toda a superfície de seus dentes e arremeteu em sua garganta, enquanto sua roupas eram rasgadas. Soujirou, com a rapidez que nem ele podia alcançar, estava desnudo, roçando o corpo que, para sua surpresa, apresentava todos os músculos definidos, no dele.

Pele macia... Acariciou o corpo por cima do seu com satisfação, admirando as curvas trabalhadas. Não soube como, mas levou uma mão ao sexo que pressionava o seu. Somente o rosto era de menino. Tanto no corpo como ali embaixo era um homem. Seus cabelos foram soltos e estavam sendo beijados até uma ponta que descansava em seu braço. O beijo agora estava em seus dedos, mas foi breve. Logo a boca de Seta se fechou em seu sexo, sorvendo o líquido que já escorria, em pequenas gotas. Sentiu seus testículos num lugar quente, muito quente, e urrou.

"Quero me esquivar desses golpes, criança, mas são tão letais... Pára, por favor!"

"Quer mesmo que eu pare?"

"Não! Continua!"

"Vou te mostrar outro golpe. Nele, o retalhador sou eu!"

Fez com que Kenshin envolvesse sua cintura com as pernas bem feitas, e foi penetrando-o devagar, ao mesmo tempo que roçava o polegar na cicatriz em forma de cruz.

Pensava em manter um ritmo suave, mas quando se viu dentro daquele que, secretamente, venerava, não resistiu. Suas estocadas tornaram-se brutais, fazendo com que o sangue escorresse. Pensou que Kenshin tentaria se afastar, mas ele foi abraçado com força, enquanto as pernas em torno de sua cintura abriram-se, permitindo que entrasse todo naquela fenda preciosa.
 
No mesmo instante, perdeu a razão. Investia com tal ímpeto dentro daquele que, por natureza, era um assassino, que via o sangue manchar a grama embaixo de Kenshin, devido aos ferimentos causados pelo atrito das costas com o chão.

Gozou, então, e seu gemido de êxtase soou quase infantil. Entretanto, não havia o sorriso peculiar em seu rosto. Esboçava uma expressão de abandono, de entrega. Olhou para o sêmem em suas mãos... A mesma cor das pérolas. Provou um pouco do gozo do amante e, tirando os dedos de sua própria boca, levou-os à cicatriz que tanto apreciava, espalhando nela o líquido de seu dono.
 

"Olhe para mim!"

"Não posso, criança!"

"Por quê?"

"Sabe quando você está andando, em meio a uma tempestade, e se depara com um abismo, e você tem que passar por ele? Já passei por muitos. Mas você é um rastro fino e enganoso, Seta. Jamais se espera que a queda venha da sutileza, dos pormenores. E é justamente por isso que perecemos. Porque, quando derrotados, esperamos olhar para cima, e encontrar a face do que é grandioso, imponente."

"Mas é essa a face que encara todos os perdedores, Retalhador! Simplesmente, não conseguem reconhecê-la."
 
"Como é fácil apaixonar-se por você!"

"É um erro!"

"Talvez, precise de carinho, criança!"

"Você não estava lá quando precisei."

"Não pode cobrar!"

"Mas posso pedir, não posso?"

"Peça! O que quiser!"


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