Falsos Sonhos

Hakura Kusanagi

Yukito continuava a comer sua pilha costumeira de comida numa pequena bancada da festa, esperando seu amigo chegar. Em segundos, seus olhos bateram naquela figura alta, de kimono escuro com apenas alguns detalhes dourados.

- Aqui, To-ya! Ele sacudiu as mãos gritando.

- Estou indo, estou indo. - o rapaz sacudiu a cabeça trazendo alguma coisa nas mãos enquanto se aproximava.

- Céus, como come!

- Eu tentei te esperar mas meu estômago começou a roncar e ... aí foi realmente impossível! - o rapaz sorriu, fechando os olhos.

- Como sempre, né? Pelo menos deixou algo pra mim?

- Ah... claro, To-ya! Olha, consegui guardar um prato só pra você! - Yukito empurrou um dos pratos de comida - que agora estavam todos vazios - e mostrou ao amigo, cedendo um lugar pra se sentar.

- Quero saber quando vai parar de comer como um esfomeado.

- Uhm... não sei... talvez quando Yue-San se estabilizar melhor com Sakura-Chan.

- Melhor esquecer... aquela mostrenga nunca vai chegar lá.

- Ah.. não fale isso da sua irmã, To-ya! Até parece que não sabe o quanto ela se esforça pra ajudar.

- Hñ! Vai continuar sendo uma mostrenga!- Você gosta mesmo de implicar com Sakura-Chan, né? Por que não diz logo que a ama? Seria mais fácil do que falar ao contrário.

- Cala a boca, Yuki!

- He! He!

Yukito deu uma pequena risada ao ver seu amigo grunhir e voltar pro prato de comida.

Após a comida e a sobremesa, ambos se levantaram e foram caminhar por ali.

- To-ya, o que é isso? - ele apontou pra caixa em suas mãos.

- Ah! Esqueci de te dar.

- Me dar?!!

- É.. não sei onde estava com a cabeça que não te entreguei isso na hora que estava comendo. Bom, tome. É um doce.

- Arigatou gozaimasu!

Touya foi entregar a caixinha nas mãos do rapaz quando um grupo de pessoas passou correndo por eles, empurrando Yukito pro chão, junto com o objeto. Ele perdeu o equilíbrio, deixando os óculos caírem do rosto junto com o presente do amigo.

- Yuki, você está bem?

- Ah... hai..

- Esse bando de gente mal educada não vêem ninguém na sua frente! Hunf! - ele se abaixou pra tentar ajudar o amigo.

- Tudo bem. O doce não foi perdido. - seus olhos baixaram na caixinha aberta no chão junto com seus óculos.

- Deixe- me te ajudar, Yuki.

O moreno se aproximou um pouco mais de suas mãos, olhando fixamente para os olhos azuis do colega. Mas quando ia entregar a caixinha, alguém passou próximo demais dele, fazendo com que seus rostos se juntassem. Então, o inesperado aconteceu. Os lábios de Touya caíram discretamente nos de Yukito.

Não se pode dizer que não houve intenção... ele queria exatamente isso, há muito tempo... não naquele momento é claro! Mas aconteceu. O pequeno esbarrão se tornou um beijo longo e suave, parecia que o tempo tinha parado em volta deles, aquela cena dos rostos de ambos ligeiramente curvados, as mãos de Touya apoiadas no chão bem ao lado das de Yukito... era um clima perfeito!

Então, de repente, aquilo parou, o moreno se afastou ao ouvir a voz estridente de uma mulher:

- T-O-U-Y-A!!!! ONDE VOCÊ ESTÁ? ESTÁ NA HORA DE TRABALHAR! T-O-U-Y-A-A-A-A!!!!

" Ah, droga! Aquela chata da Nakuru! - ele olhou para o rosto de Yukito e caiu em si - K'so! Gomen, Yuki! Gomen ne! Eu não sei como uma coisa dessas foi acontecer, me desculpe mesmo! não tive a mínima.... bem... intenção de te beijar!

- Ah... ah... - sem voz.

- Droga! Eu... eu... - ele gaguejou, preocupando-se em colocar todas as coisas do chão em suas mãos. - Eu... preciso ir trabalhar antes que a Nakuru venha me buscar...!

Yukito levantou, totalmente atordoado, segurando as coisas como se estivessem nas suas mãos.

- Ah... hai...

- Olha... eu... ah... bem... mais tarde nos encontramos. É.. isso mesmo! na saída, tá certo?!

- H...hai.

- Então ... tchau! E me desculpe mesmo Yuki! Sayonara!! - ele saiu correndo pelo corredor de gente.

- Ah.. bye... Tou... ya...

As pessoas continuavam a transitar por todos os lados, passando por Yukito como se nem existisse e ele se sentia assim agora. O rosto coberto pela pequena sombra de suas franjas, não permitindo que seu a olhos fossem vistos, então finas gotas começaram a descer por suas bochechas... os soluços logo surgiram, meio tímidos, junto com o balançar de seu peito.

De repente a caixinha escorregou de sua mão e o doce que estava nela caiu na grama, se espatifando inteiro.

- Eu... eu... pensei tudo errado!

******

- YUKITOO!!!

- Nihao... Sakura-Chan, Li-San, Tomoyo-San... - o garoto sorriu com um ar meio entristecido para as crianças.

- Aconteceu alguma coisa errada, Yukito?

- Não... não.. Sakura-Chan.

- Mas você parece tão triste... tem certeza?! - ela falou bem próxima do rapaz, para que só os dois ouvissem.

- Ah... hai... eu só estou um pouco cansado.

- Trabalhando demais, Yukito-San?

- Hai... Li.. acho que trabalhei demais hoje. - ele passou de leve a mão pelo topo da cabeça do menininho, que corou em segundos.

- E onde está meu irmão?

- Uhm... deve estar acabando com o serviço por agora, Sakura-Chan. Eu não sei ao certo... deve ser naquele lugar ali. - Yukito apontou para uma das casas de madeira.

- Então vamos lá, Sakura!

- Hai, Tomoyo! Vem, li!

- Hñ! Estou indo, estou indo...

Yukito seguiu as crianças para onde estava seu amigo ainda terminando de arrumar as coisas do pequeno dojo.

Assim que eles se aproximaram, Touya deu um pequeno sorriso, mas quando viu li, torceu o lábio no mesmo instante.

- Nihao, niisan!

- Oi, monstrinho!

- Grr... chato!

O moreno deu um "oi!" pra todos e fechou o dojo, acompanhando todos pra casa.

- Podemos voltar pra casa agora. - Touya disse.

- Ótimo, compramos algumas coisinhas pra jantarmos.

- Tá querendo dizer o quê com isso, monstrinho?! Que vou Ter que aturar essa coisa aí na minha casa?! - ele olhou pra li com ódio que devolveu o mesmo olhar para o rapaz, as faíscas saindo pelo ar.

- Ele vai sim! e o Yukito também, né? - a garotinha deu um olhar fofo para o rapaz esperando a resposta.

- Ah... Sakura-Chan gomen ne. Eu estou muito cansado. Hoje vou pegar um ônibus aqui e vou direto pra casa.

- Yuki, pode ficar lá em casa. Ninguém vai te apurrinhar.

- Isso mesmo! - as crianças responderam num coro só.

- Arigatou, crianças. Mas preciso mesmo voltar pra casa, fazer meus deveres e depois dormir. Muito obrigado mesmo. - ele fez uma pequena reverencia com um sorriso.

- É isso mesmo que quer, Yuki?

- Hai, To-ya.

- Então te levamos até lá.

- Arigatou, Sakura-Chan.

Todos acompanharam Yukito até o ponto de ônibus e se despediram dele quando foi embora.

******

- Niisan... - a cabecinha de Sakura surge na porta do meu quarto, me olhando, me olhando com aquela carinha de preocupada .

- O que foi? Algum deles está precisando de ajuda?

- Não. Meus amigos estão bem, eu queria conversar com você.

- Entra logo. - ela entra e se sentia na cama , ficando de frente para mim.

- O que está querendo tanto falar comigo?

- Ah... bem.. é sobre o Yukito.

- O que tem ele?

- Você não achou o Yukito um pouco tristinho? Aconteceu alguma coisa de errada na festa?

- Não que eu saiba.

- Tem certeza?

- Ai, que saco. Por que tá perguntando tanto, sua monstrenga?

- Poxa, Touya. Vai me dizer que não notou o quanto Yukito estava caidinho, nem sequer quis vir pra cá... e eu senti que ele estava escondendo alguma coisa de nós.

- Talvez esteja apenas cansado como ele mesmo disse. Nós trabalhamos bastante hoje.

- Mas ainda acho que o problema não foi esse. Parecia mais que alguém o magoou bastante.

- Credo! Pare de imaginar besteiras. Nada aconteceu com Yuki entre o período que estava no dojo e a nossa saída. Pare de enfiar caraminholas na sua pouca cabecinha só porque Yuki não quis dividir seu dia com uma companhia tão chata quanto você!

- GRR... você é muito chato! Não dá pra conversar com você!

Ela sai furiosa, com uma louca vontade de me bater, mas só a porta, me xingando.

Bom, eu sempre faço isso de propósito, mas hoje foi necessário, ela estava atingindo o ponto principal do meu problema.

Eu me jogo na cama, apagando a luminária, e olho para a Lua que estava bem na janela do um quarto... ela me lembra mais dele...

- Ah... o que fio fazer hoje?

Ainda lembro... como poderia me esquecer da coisa mais importante da minha vida? Jamais! Mas foi o momento errado, erradíssimo... não deveria ter acontecido aquele beijo... não tão de repente, sem ao menos uma conversa entre nós dois!

Quando olhei para o rosto de Yuki, vi surpresa. Talvez até uma forma de rejeição... porém, os lábios dele pareciam estar compartilhando os meus... ah... foi tão rápido. E eu estraguei tudo!

Droga! Como posso ser tão inteligente pra certos assuntos. Entender tudo e não conseguir sequer declarar meus sentimentos pro meu melhor amigo? Há tempos que isso acontece, não sei a data ou o momento certo, só que, quando notei, estava lá... todas aquelas formas de carinho, os sorrisos, as afeições... a vontade de ficar ao seu lado, protegê-lo... foi só aumentando e ... aumentando.

Ele surgiu do nada na escola, com aquele sorriso encantador e conquistando todos a sua volta. Tão sozinho e nunca o via com alguém de sua família. Então Yuki me cativou mais do que devia ter acontecido. Tão fofo e desligado mas conhecendo-o a fundo logo notei que ele sabe utilizar as palavras na hora certa.

Eu sempre soube que Yuki tinha algo de especial, não podia ser normal... não podia ser humano. Mas não foi por isso que gostei dele, que me apaixonei tão loucamente. Não tem haver com o poder que a Lua exerce sobre as pessoas que têm "dons" especiais. Não e não! É algo diferente.... é amor.

Para mim, Yukito é tudo, desde que notei que tinha alguma coisa nele de anormal... especial, resolvi protegê-lo, talvez certas vezes seja coincidência estarmos juntos mas na maioria delas eu faço questão de estar ao seu lado. Sinto quando está com problemas ou simplesmente precisando falar com alguém.

Não me importo quem ele seja, vou continuar sentindo o mesmo!

O problema todo é que certas horas tenho absoluta certeza que isto está na cara de nós dois, mas mesmo assim sou incapaz de chegar... e falar tudo que sinto por Yukito de verdade, com todas as letras. E isso só piora tudo. As certezas dele podem não ser as mesmas que as minhas e aí... acontece como hoje.

Yue ajudou a perceber o quanto Yuki se preocupa comigo, o quanto pode ser frágil e estar se entregando aos meus cuidados... mas por que, apesar disso tudo, não tenho jeito de falar "Ai shiteru, Yuki-Chan!"?? palavras tão fáceis mais que se tornam o maior obstáculo de toda a minha vida!

Sei que talvez Yukito esteja no mínimo constrangido com uma situação dessa, porém, depois de todas as merdas que falei hoje de tarde, será que vai entender alguma coisa? Simplesmente disse exatamente tudo ao contrário em relação ao que queria expressar... devia ter ficado apenas no beijo e só!

Como vou mudar tudo isso?

Eu o amo, sei disso... o problema é dizer...

- Ai... ai... só espero que não esteja tão magoado comigo. Preciso de sua amizade para me encorajar e abrir o jogo.

Meus dedos deslizam os lábios e fecho os olhos, ainda sentindo seu perfume em mime vendo seu rosto nos meus sonhos...

******

Eu olho para a carteira vazia, onde Yuki devia estar sentado, mas hoje não veio ainda. Logo hoje que precisava conversar com Yuki, nem passou por onde costumamos nos encontrar, isso é mal.

Se pelo menos ele aparecer na hora da prova...

MAIS TARDE...

- Não.. eu me senti mal. Me desculpe, professor.

A voz dele soa pela porta e quando a abro, ele está acabando de conversar com o professor com um ar cansado e nem seu sorriso está contagiante como sempre.

Então seus olhos batem nos meus enquanto entra na sala.

- Nihao... Touya.

- O que aconteceu, Yuki?

- Eu perdi a hora. Passei um pouco mal ontem.

- O que sentiu ontem? Por que não me ligou para ajudá-lo?

- Não precisa se preocupar, To-ya. Eu só fiquei um pouco enjoado e com sono. Não houve necessidade de chamar ninguém, eu posso me virar sozinho.

- Mas você quase perdeu a prova.

- Eu sei. Mas o professor me deixou entrar e fazê-la. Agora vou colocar meu material na carteira antes que a prova comece.

Ele passa por mim e vai para o seu lugar e o sigo, tentando arranjar um jeito de chegar ao assunto.

- Yuki.

- Hai?!

- Eu queria conversar contigo.

- Pode falar, Touya.

- Eu ... sabe... queria... falar sobre...ontem... preciso dizer... o que... eu...

_ Por favor, sentem-se todos! A prova vai começar! O professor grita.

- Eu acho melhor falar depois, né, To-ya?

- Ah... sim.... boa prova Yuki.

- Pra você também.
 
 

*****

- Yuki!! - minha mãos seguram seu ombro, fazendo-o parar no meio do portão do colégio - Calma, não vá com tanta pressa, eu ainda quero falar com você.

- Gomen, eu ia só buscar comida, mas o que quer? - ele sorri.

- É... preciso te dizer... algo importante.

- Sim?!

- Ontem, eu fiz uma besteira... não devia... ser assim... quer dizer...

- T-O-U-Y-A-A-A!!!

Ah, não... a Nakuru agora não!

É só virar de lado pra ver aquela desgraçada pular no meu pescoço e se enroscar em mim como um gato.

- Me larga, que saco!

- Gomen, To-ya. Mas preciso ir.

- TCHAU! TCHAU!

- Matte, Yuki! Merda, me larga sua chata!

- Nhé!

Droga, por que essas coisas têm que acontecer comigo?

******

"Não posso atender agora, por favor, deixe seu recado que assim que meus problemas acabarem retorno sua ligação."

- Yuki, atenda! Preciso realmente falar com você! por que não foi a aula e nem atendeu a porta? Ah, droga! Me ligue. Abraços, Touya.

Ah.. droga! Onde será que ele está? Por desapareceu assim sem mais nem menos?

O telefone vai pro gancho quando o barulho da porta me chama atenção.

- Sakura, é você?

- Hai... o seu rosto surge na brecha da porta e a parede e aquele bichinho vem bem ao seu lado.

- O que quer?

- Você estava ligando pro Yukito?

- Hai.

- O que aconteceu que ele não foi a aula hoje?

- Não sei. Estou tentando ligar mas só a secretária atende e na casa dele acontece o mesmo.

- Acha que foi por causa dos poderes?

- Não.. seu bicho intrometido.

- Só estava tentando ajudar. - aquela coisa amarela se enrosca atrás de minha irmã e se cala.

- Melhor ajuda aquele que não atrapalha. Hñ!

- Você fez alguma coisa pro Yukito?

- Como? Que pergunta é essa?

- Quero saber se fez alguma coisa que deixasse o coração de Yukito magoado?

- Eu não sei do que está falando, mostrenga!

- Sabe sim e fez algo, não foi? Se ele desaparecer por sua causa, eu vou te espancar até morrer! - ela grunhiu pra mim, furiosa.

- Cuidado com o que fala comigo, monstrenga deformada! Agora saia do meu quarto logo.

- Eu vou cumprir a promessa.

- SAI AGORA!

Ela sai batida enquanto eu fecho a porta e me grudo atrás dela com o coração na mão.

- Como essa pivete pode saber tanto do que se passa no coração das pessoas a sua volta?

Sakura adivinhou... minha própria irmã sabe o que sinto por Yuki e eu nem sequer consigo falar pra ele.

Isso está ficando vergonhoso! Preciso me encontrar com ele urgentemente, nem que faça plantão na porta de sua casa mas vai ter que sair amanhã essa declaração.

- Só tenho que dizer EU TE AMO YUKITO!!
 
 

*****

Como posso ser tão inocente assim? Passei a manhã inteira tentando encontrar Yuki em algum lugar do colégio, mas tenho certeza que está fugindo de mim mas só consegui ficar sabendo que sua doença piorou ontem e não pôde aparecer na aula.

- Droga! Por que tenho que ter tanta porcaria pra fazer aqui dentro? Tenho que achar onde ele está agora!

Eu me aproximo da janela da sala e de lá posso ver quem procuro.

- Não acredito! Ele está na aula de basquete! Por que não pensei nisso antes? Hoje é dia de treino?!

- Oi.. Touya!

- Agora não, Nakuru!

Passo correndo por ela, quase jogando-a pro outro lado da sala e vou direto pra quadra de basquete correndo de tanta pressa! Por que tenho tanta certeza de que tem alguma coisa errada acontecendo com Yuki?

- Pegue essa Yukito!

As garotas gritam num coro que em segundos fica mudo pra mim. Meus olhos focalizam Yuki bem no momento em que ia pular pra lançar a bola na cesta. Só que algo de errado ocorre, suas pernas tremem e a bola escorrega de suas mãos tão rapidamente quanto seu corpo perdendo os sentidos.

- YUKITO!

minha voz sai com toda a vontade e num pulo estou afastando todos com empurrões até chegar nele.

- Como isso foi acontecer? - um dos rapazes fala assustado.

- Sai da frente! Chame logo o professor!

Falo, gritando mais uma vez, já com seu corpo nos meus braços. Seu rosto pálido mais do que o normal, os olhos fechados com fundas olheiras e os fios cinza tocando suavemente sua testa suada, as mãos caídas no chão e os joelhos sangrando por algumas raladuras feitas com a queda.

Parece estar fraco e isso é mau!

- Yuki, fale comigo! Sou eu, seu amigo! Me responda!

Minhas mãos trazem seu rosto mais próximo do meu peito e seus olhos começam a fraquejar, trêmulos.

- To.... ya... é você?

- Hai! Como você está se sentindo?

- Estou.. tão can... sado. - seu olhos tremem e nem posso ver a cor deles, as mãos agarram minha blusa e o rosto se enfurna no meu casaco.

- O enfermeiro chegou!

Alguém grita e o enfermeiro aparece no meio dos alunos.

- O que aconteceu?

- Ele não está se sentindo bem, desmaiou durante o jogo, senhor.

- Touya, você pode carregá-lo para a enfermaria?

- Hai.

Eu o coloco no colo e sigo o enfermeiro até o local indicado. Assim que o coloco na cama, o rapaz analisa tudo e fala:

- Não se preocupe, Touya-San. Seu amigo está apenas dormindo. Foi apenas um cansaço físico ocasionado pelo esforço excessivo. Ele deve ter acabado de sair de um gripe forte, provavelmente.

- E quanto aos joelhos?

- Já fiz os curativos. Vai ficar tudo bem. Melhor tomar conta dele enquanto dorme. Se puder, é claro!

- Não... não. Eu posso! Vou ficar aqui até acordar.

- Então vou cuidar dos meus assuntos. - ele sai do quarto.

- Ah... Yuki, está acontecendo de novo, né?

Meus dedos deslizam por seu rosto, contornando-o conforme suas mãos tremem por dentro das cobertas e os olhos começam a abrir pouco a pouco.

- Uhm... To-ya?! Onde estou?

- Está na enfermaria, Yuki. Desmaiou na quadra.

- Só me lembro de ter pego a bola... e depois meu corpo caiu num profundo cansaço....

- Você precisa de energia, Yuki. Está acontecendo de novo!

- Não... não... To-ya.

Suas mãos sacodem no ar enquanto se senta na cama, depois esfrega os olhos, bocejando.

- Viu?! Não está se agüentando! Precisa de ajuda e sabe que posso fazer isso pelo meu melhor amigo! Foi o que te disse no início!

- Não preciso.. sei o que estou falando... estou apenas cansado por causa da doença...

- Que doença foi essa, ein?! Não foi o Yue pedindo por algo que não seja comida?

- Não... eu juro que não é! Olha só pra mim. - ele estende os braços na minha direção - Viu? Não estou desaparecendo!

- É?! E quer que eu espere isso acontecer?

- Você precisa.... trabalhar... precisa estar acordado e... eu não vou explorá-lo quando não... necessito disso!

- Não comece, Yuki! somos amigos e eu...

- Por isso... mesmo, nós somos muito amigos, ne?! Ele coloca uma das mãos na minha e a aperta.

- Hai...

- Amigos não exploram o outro... desse jeito eu não quero fazer isso.

- Yuki...?!

- Então ficamos assim... você só me ajuda quando for extremamente necessário... certo?! - ele sussurra e sorri pra mim fechando os olhos em seguida - Diga pra Sakura-Chan não se preocupar... nós dois... estamos bem...

- Ami...go - seu rosto cai pela almofada e ele adormece.

Como posso ser tão idiota e o deixo assim, sem falar nada além de "amigo" pra todos os lados, quando o que queria mais era dizer que faria tudo por ele porque o amo e qualquer sacrifício é o mínimo.

- Por favor. Yue, me deixa ajudá-los, eu sei que estão precisando de mim. Vamos, fale comigo!

Então, aquela energia aparece de novo e Yue surge entre seus cabelos brancos e olhos de gato e com sua face habitual.

- Por que me chama tanto?

- Quero ajudá-los. Só isso.

- Não precisamos...

- Como não?! Está acontecendo de novo?!

- Não precisamos de você... hoje não; apenas leve-o pra casa. Está com sono e eu também... se é que pode me entender, Touya?!

Seus olhos frios se voltam para mim e em alguns instantes Yukito toma seu lugar de volta.

- Eu preciso resolver isso logo. Estou prejudicando os dois com a minha incompetência.

Foi só olhar nos olhos de Yue pra Ter certeza absoluta do quanto está magoado comigo e que sente o mesmo por mim, talvez por tanto tempo que nem tenha notado.

******

- Como está se sentindo, Yuki?

- Melhor... acho que dormi o suficiente, To-ya.

Ele espreguiça, ajeitando os óculos e vem na minha direção.

- Ótimo. Então pode comer, não é?

- Hai! Estou faminto, To-ya!

- Então sente aí que vou trazer a comida.

O deixo sentado na mesa da minha sala, enquanto busco a bandeja com comida suficiente para satisfazer mais de dez pessoas.

Bom, mas Yuki vai comer isso até repetir de novo e de novo. Também, dormiu o dia todo, o suficiente para deixá-lo esfomeado

- Prontinho. Sirva-se!

- Uhm... cheiro bom! A comida deve estar uma delícia, To-ya! Arigatou gozaimasu, tomodachi!

- A Sakura mandou uns bolinhos de sobremesa e é capaz de vir aqui te dar um "oi".

- Nossa, deixei gente demais preocupada comigo, me perdoem.

- Nada disso, um dia adormecido foi o suficiente para todos da minha casa e da escola irem atrás de você.

- ...

Ele cora, fechando os olhos num sorriso que adoro. Não demora muito tempo para olhar a comida e devorá-la, acabando com tudo em menos de cinco minutos.

- Amei tudo, To-ya! Doumo arigatou. - Yukito faz uma reverência e sorri.

- Agora que já acabou, podemos ter uma conversa?

- Claro, pode falar.

- Desculpe por tudo.

- Nani?!

- Eu... eu sou o culpado por isso que está acontecendo... não queria que pensasse daquele jeito... porque... eu... eu... te...

- YUKITO!!

Droga! De novo não! Quando olho pra trás, Sakura está correndo como uma louca para os braços de Yuki e, logo em seguida, as outras crianças vêm atrás.

- Sakura-Chan! Que bom lhe ver!

- Ai... Yukito, você está bem?

- Hai!

Ele a abraça num cafuné, enquanto recolhe a mesa, desistindo de qualquer tentativa de conversar com ele.

- Nós vamos ficar aqui fazendo companhia pra você, não é Li?

- Er... bem...

- Claro! Vocês podem ficar aqui e dormir. Vai ser um prazer ter companhia!

Adeus chance... uhm...

******

hoje também não deu. Foi a vez do meu trabalho atrapalhar. Cada um foi para um lugar diferente. Bom, mas pelo menos ele melhorou. Acho que não vai fazer muita diferença ficar calado por mais algum tempo, né?!

Diabos, o que estou falando? Prometi a mim mesmo que iria acabar com essa farsa toda e vou! Tenho que falar todos os meus sentimentos para Yuki.

Ponho o pé em casa com essa decisão e vou indo pro meu quarto tomar banho quando ouço vozes vindas do quarto de minha irmã.

- Eu queria ajudá-lo, Yue-San... mas diga o que posso fazer para que essa sua tristeza acabe.

- Não existe jeito... - a voz de Yue?!

- Deve ter alguma carta que traga o que procura.

- As cartas não podem resolver problemas amorosos, trazer os sonhos para a realidade, ainda mais quando o coração é enganado. Arigatou, Sakura... me ajuda mais me deixando livre por um tempo. Posso?

- Claro. Se é isso que deseja, Yue-San.

- Hai. Desejo muito.

- Mas cuide de Yukito por mim, onegai.

- Arigatou.

Aquela voz me faz abrir a porta urgentemente, gritando por ele, antes que o pior aconteça.

- YUE! YUE!!! MATTE!! Eu preciso te falar!

Os olhos só vêem aquelas asas enormes batendo pra fora da janela e desaparecendo nas luzes da Lua.

- Eu preciso... dizer que te amo... Yukito... - a voz falha e as mãos caem no nada, no vazio que ele me deixou.

- Oniichan...

- Sakura?! - eu olho para as duas bolas brilhantes de minha irmã e ela vem de mansinho para o meu lado, segurando minha mãos e me conduzindo até sua cama enquanto Kerberos me olha com total apatia e eu... eu nem sei o que falar.

- Por que não disse isso logo? Você está fazendo Yukito sofrer.

- Eu sei... não tive chances... ou melhor, coragem... mas o que aconteceu?

- Yue-San veio até mim. Ele pediu para que o deixasse sair, queria ficar sozinho.

- O que ele disse sobre mim?

- Nada. Apenas que alguém não estava correspondendo aos seus sonhos. Que Yukito acreditava nos seus sentimentos, irmão. E agora, ele não acredita em mais nada.

- Ah, droga! Eu estou tentando a tempos falar, mas não sei... acho que sou péssimo pra essas declarações! Todos atrapalham e agora... pra onde ele foi?

- Não sei.

- E seu poder?

- Yue-San disse que estava bem. Mas você tem que falar logo! Abra o jogo pra Yukito, ou vou cumprir minha promessa!

Ela dá um sorriso, me abraçando com força, enquanto prometo a mim mesmo que falarei de todos os meus sentimentos dessa vez.

******

"Ai, foram apenas dois dias, Touya. Não se desespere. Yue vai trazer Yukito de volta logo e tudo vai poder ser explicado. Droga, isso não vai dar certo!

- Merda de chuva!

Eu puxo com mais força a capa pra proteger o resto da roupa quando alguém esbarra em mim.

- Gomen...

- Ah?! Yuki???

Meus olhos batem nele, que parece nem ter me notado ainda. Seus olhos meio que desfocados sobre os óculos respingados, no ombro carregando a mochila e o resto do corpo molhado.

- Gomen... nasai..

- Sou eu Touya, amigo!- seus olhos forçam mais a me ver.

- To... ya???

- Hai, o que está fazendo aqui nessa chuva?

- Não sei...

- Como?!

- Não... me lembro... Eu tenho que voltar pra casa, To... ya.

- Você tem que sair dessa chuva, isso sim! Vem comigo! - eu seguro seu braço, mas por incrível que pareça, ele recusa, tentando se soltar de mim.

- Não precisa!

- Yuki, não fica chateado comigo. Eu estava tentando te dizer isso, não ... queria...

- Eu... sei... você... está certo. Pensei besteira... sou muito bobo pra ... essas coisas... nunca sequer percebi que.. não tinha família e nem parentes... que sempre vivi sozinho... acho que demoro pra notar o que está na cara, né?

- Yuki! Não é nada disso! - eu tento segurá-lo.

- Não.. por favor...

- Yuki?! - quando noto, seus lábios estão tremendo e algo desce de seu rosto que não é a chuva. Céus, ele está chorando!

- Não devia ver isso!

- Fica quieto, Yuki!

suas pernas tremem quando tenta fugir de mim, mas algo acontece, sua sacola escorrega dos ombros e os olhos começam a se fechar lentamente.

- Yuki!!!

Meus braços o agarram o mais rápido que podem sua cintura e só dá tempo de vê-lo desmaiando completamente.

A bolsa no chão, os braços caídos, a cabeça sacudindo nos meus ombros, a roupa encharcada, que provavelmente está causando seus tremores.

- Droga, Yukito! você não está nada bem! Yue mentiu pra minha irmã, não é?

Meus braços o colocam no colo e vou até qualquer lugar que tenha cobertura onde posso colocar a capa para protegê-lo depois encontro onde está a minha moto.

- Agüente um pouco mais, Yuki!

- Uuuhmm.. estou com sono... - ele sussurra.

- Então durma, Yuki. Mas se segure em mim com força.

- Ha... hai.

Seus braços envolvem minha cintura e sua cabeça e sua cabeça tomba mais em meu pescoço, enquanto corro pra casa com a moto.

******

- TOUSAN! TOUSAN!!!

- Ah? O que foi fi... céus! Yukito! - meu pai nos olha assustado.

- Por favor, pai, me ajuda com o Yukito. Ele está passando mal!

- Meu Deus! Vocês dois estão encharcados! O que aconteceu?

- Eu explico depois. Mas me ajuda aqui!

Papai pega Yukito no colo e o leva para o meu quarto. No meio do caminho, Sakura, que provavelmente acabara de acordar com a barulhada, encontra conosco.

- Yukito?! - ela se assusta, tentando chegar perto.

- Por favor, Sakura-Chan. Fique longe, pelo menos até cuidarmos dele. E troque logo a roupa, filho.

- Hai!

Depois que troco de roupa e volto, papai já estava cuidando de Yuki. ele agora está com um kimono e roupas minhas, uma pequena compressa em cima da testa e um copo d'água com um remédio, provavelmente pra ele beber mais tarde.

Minha irmã está sentada na borda da cama, acariciando seu rosto enquanto toousan termina de cobri-lo.

- Touya.. o Yukito está doente.

- Não fique tão triste assim, filha. Ele só está com um pouco de febre e nada mais, vai dormir um pouquinho e logo, logo estará bom e sorrindo como sempre.

- Isso mesmo, Sakura. não se preocupe demais.

Eu afago suas franjas e olho para Yuki que está num sono profundo, com o rosto tão calmo que nem parece que sua energia está vacilando.

- Eu vou levar sua irmã pra cama, Touya. Então pode ficar cuidando dele até que eu volte.

- Não precisa se preocupar, pai. Eu cuido dele.

- Pode fazer isso mesmo, filho?

- Claro!

- Então, dê apenas aquele remédio ali para a febre caso ela volte, certo?

- Pode deixar.

Os dois se vão e eu fico com Yuki sozinho. A primeira coisa que procuro fazer é arrumar uma cama para dormir e ver depois se ele está bem.

- Pronto! Cama feita! Agora posso dormir. Tenha bons sonhos, Yuki. - meus dedos deslizam por suas franjas cinza depois beijo suas bochechas - Por que eu fiz isso, ein?

Ah.. mas eu fiz. Afinal, eu não gosto dele? Qual seria o problema?

- Nenhum. Boa noite, Yuki.

******

- Konnichiwa, Yuki. - ele esfrega os olhos, ainda fraquejando pra levantar, o sono ainda em seu corpo.

- To-ya... onde estou?

- Na minha casa e essa é a minha cama. Você dormiu bastante! Desde ontem a noite até hoje a tarde.

- Me desculpe... por incomodar... toda sua família.

- Sem desculpas. Foi um prazer cuidar de você. a Sakura amou ficar olhando e babando enquanto via você dormindo.

- A.. Sakura-Chan... é um amor!

- E você é um grande mentiroso!

- Euuu?

- Hai. Por que não admitiu que precisava de energia?

- Não.. eu... - ele boceja.

- Seus olhos nem conseguem ficar abertos e nem tem forças para levantar dessa cama! Agora vai me deixar ajudá-lo de qualquer jeito!

- E...u... To-ya... - eu seguro suas mãos com força.

- Você não me deixou terminar a frase quando começou a lutar contra minha mãos ontem.

- Eu... não quero.. ouvir.. o que já sei.

- Não sabe de nada!

- Sei! - suas mãos lutam para se afastar de mim e eu já as vejo desaparecendo.

- Pare com isso! A sua energia está sumindo de novo!

- Me dei...xe - os olhos começam a se fechar e eu só penso em uma coisa que vai valer por mais de mil palavras.

Meus lábios vão diretamente em sua direção e os envolvo com tamanha vontade que o assusta, as mãos segurando sua cabeça e acariciando seus cabelos.

Quando sinto, de repente Yuki envolve seus braços a minha volta e corresponde ao beijo mesmo que timidamente e, aos poucos, minha energia vai recuperando a dele.

Assim que meus olhos se abrem mesmo com muita forca, posso ver Yue já em seu lugar e meu corpo não mais na cadeira ao lado da cama e sim no seu colo, protegido por seus braços que me acariciam enquanto vai absorvendo energia.

- Eu... eu.. - a voz falha, como os olhos.

- Arigatou por tudo, Touya. Nós dois estamos agradecidos por não nos deixar viver em um sonho falso como os que me cercaram durante anos.

Seus dedos finos deslizam pela minha face contornando meus lábios e sinto apenas aquele tecido macio que tantas vezes cobre parte de seu corpo sendo jogado sobre o meu, me aquecendo.

- Ai... shi... te... ru... Yu... ki.. chan.

Os olhos se apagam mas meu sono não me priva de ouvir as últimas palavras de Yue e Yukito.

- Arigatou gozaimasu... por me amar... To-ya. Porque você foi e sempre será meu único e grande amor.

Aquele calor me leva ao melhor dos sonhos onde a única verdade é que Yuki está comigo e eu com ele e nossos lábios e corpos estarão unidos como agora...

FIM



Card Captor Sakura
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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