Separação

Illy-chan

Cap2 – "Alguém para Cuidar"

Distraído, Kurama só percebeu a chegada do elevador quando as portas se abriram pela 2a. vez. A perspectiva de não encontrar mais Hiei em casa gelava seu peito, toda noite, quando chegava do trabalho. Havia duas semanas que sua rotina incluía noites insones, falta de apetite e uma dor constante no coração.

Suas mãos apertaram com força o pacote de supermercado que carregava. Não conseguiu conter as lágrimas... Antes que caísse no choro, porém, entrou no elevador e apertou o botão do andar do apartamento – que agora estava ainda mais solitário, já que sua mãe estava passando uns tempos com o otooto, ajudando-o a se adaptar na nova escola.

Suspirou, enquanto as portas metalizadas se fechavam.

As paredes espelhadas o acolheram, então, silenciosas, refletindo uma imagem triste que não era sua.

Desviou então, o olhar para o painel de controle. Ledo engano: fugindo dos espelhos, acabou despertando a memória...

Fora ali, naquele mesmo elevador, que, uma noite, ao voltarem tarde para o apartamento, Hiei repentinamente apertara o botão de emergência, parando o elevador entre dois andares, suspenso.

Kurama respirou fundo, fechou os olhos, e deixou que as lembranças carregadas de erotismo voltassem à sua mente como um filme: quase podia sentir de novo o cheiro másculo de Hiei, sua força, seu corpo musculoso pressionando-o selvagemente à parede do elevador... Sim, podia rever cada movimento, a partir do instante que o demônio de fogo se aproximara e abrira o zíper de sua calça, e com seus dedos ágeis, alcançara sua cueca, puxando-a até os joelhos, juntamente com a calça.

Chocado com a impetuosidade do amante, mal conseguira perguntar:

"Hiei! O que está fazendo?"

"Eu quero você, raposa... Aqui e agora."

Em geral, era Kurama quem possuía o dom de despertar no Koorime as emoções mais intensas e inesperadas, mas uma coisa ele não podia negar: quando estava inspirado, seu amado youkai deixava muito pouco a dever à Kurama Youko!

Quando sentiu o calor molhado da boca de Hiei em seus mamilos, ondas de prazer o fizeram esquecer-se de onde estavam e deixara-se levar pela fantasia erótica do amante. Sentir a rigidez dele através da calça preta excitou-o ainda mais, e, ao perceber que os braços musculosos o suspendiam, enlaçou-o com suas pernas, entregando-se completamente à aquela loucura.

E acabaram fazendo amor ali mesmo... Não uma vez, mas duas.

Kurama soltou um gemido lânguido, tão profundamente imerso estava em suas lembranças.

"Minamino-San? Daijoubou desu ka?"

Kurama teve um sobressalto ao se dar conta da presença de outra pessoa no elevador: Era Yuri Kanede, vizinha de apartamento. Por Inari, onde estava com a cabeça?

Rápido, tratou de responder à jovem que o olhava, visivelmente preocupada:

"Go...Gomenasai, Yuri-San, eu... Eu estou bem, arigatou gozaimasu"- disse, com um sorriso amarelo no rosto que, podia apostar, estava vermelho como tomate.

"Tem certeza? Eu posso..."

Conhecendo a eterna disposição que a jovem tinha para dar em cima dele, Kurama disparou:

"Claro! Tenho certeza, sim! Não precisa se preocupar... Já passou, viu?"

Enquanto falava, rápido, deixando a pobre Yuri atordoada, Kurama tratou de ir se aproximando da porta do apartamento. Só sossegou quando se viu trancado dentro do apartamento... com a moça do lado de fora.

"Ufa!" - pensou.

Qual não foi seu susto, ao dar de cara com Hiei na sala.

O choque foi tão forte, que ele se viu sem palavras.

Passados alguns segundos, porém, o silêncio foi ficando mais e mais pesado.

"Você não respondeu às minhas tentativas de fazer contato." - As palavras finalmente saíram da boca de Kurama sem que ele percebesse, em alusão ao contato mental existente entre ele e Hiei.

"Hn. Achei que não era necessário, uma vez que você já tinha tomado sua decisão."

Mal terminara a frase, e já tinha a boca amarga de arrependimento e culpa. "Sonna!" - Por um minuto, Hiei esquecera que fora o cinismo dele que causara a maior decepção na vida do jovem ruivo.

Sentiu seu coração se confranger com o aspecto de Kurama, pois jamais o vira tão abatido: cabelos em desalinho, roupas ligeiramente amarrotadas, a aparência mais magra, manchas escuras sob os olhos... Foi doloroso resistir ao seu impulso inicial, que o impelia até ele. Não conseguia desviar a atenção para evitar sucumbir ao desalento que os adoráveis olhos verdes exibiam ao fitá-lo.

Desarmado, Hiei suavizou o tom de voz, apelando para a persuasão:

"Isso é loucura! Kurama, achei que você pudesse ter pensado melhor, e..."

"Não, Hiei: onegai... Minha posição ainda continua a mesma. Eu..."- os olhos de esmeralda imploravam por compreensão ao pedido: - "... eu só gostaria de continuar sendo seu amigo..."

"Amigo? Isso é alguma brincadeira? Não quero um amigo, quero meu amante!" - Hiei gritou, fora de si.

"E eu, amor e compromisso!" - Kurama rebateu.

Falou aquilo sabendo o efeito que produziria no youkai, mas só assim daria um fim àquele tormento. E, para que não restassem dúvidas sobre sua decisão, disse:

"Quero que saiba que estou saindo com alguém."

Aquilo foi mais do que Hiei podia suportar: seus olhos vermelhos arregalaram-se.

"É mentira." - disse.

"Não, Hiei. É verdade."

Em estado de choque, o youkai deu um passo para trás.

Aquele gesto simples dava a medida do quanto Hiei se abalara, portanto, era melhor que ele fosse até o fim: aproveitando a pausa causada pelo choque em Hiei, Kurama concluiu:

"E acho que você deveria fazer o mesmo."- foi o golpe de misericórdia.

O que se ouviu foi um riso estridente, quase histérico:

"Sair com outro? Hahahahaha!" - os olhos de Hiei flamejavam, como labaredas: - "Está louco?" – Rugiu, o cinismo mudando para a mágoa e a raiva - "Sair... com outro? Como, se a única pessoa a quem já me entreguei foi a você? Pelos Deuses, Kurama!" - aqui, a voz diminuiu até quase um sussurro: - "Sinto demais sua falta, kitsune..."

Embargada de emoção, a voz de Hiei alcançou o coração de Kurama, e a mesma saudade transpareceu no olhar angustiado que a raposa lhe dirigiu. Todavia, seus lábios continuaram silenciosos.

Ainda imóvel, Kurama viu Hiei lhe dar as costas, andar pela sala e parar defronte à janela com ombros encurvados, isolado e distante. Dele veio então, um desabafo inesperado.

"Tenho... passado noites sem dormir... Durante as batalhas não consigo me concentrar bem; e a única coisa a me acompanhar é a sua lembrança... Perdi meu rumo sem você, kitsune."

Quando deu por si, Hiei estava parado diante dele.

Abalado, uma vez que nunca imaginara que Hiei conseguiria se abrir daquela maneira, Kurama balbuciou um pedido de desculpas.

"Gomen..."

A reação de Hiei foi explosiva:

"Sinta! Sinta muito, por que é você, o único responsável pelo meu tormento!!" - explodiu, agarrando-o pela camisa e sacudindo-o.

De repente, o youkai o soltou: a fúria passara como um passe de mágica... Kurama sabia que ele nunca o machucaria, por mais furioso que estivesse, mas dessa vez chegara a temer o que poderia acontecer.

Foi quando algo totalmente inesperado aconteceu: a fúria assassina de Hiei sumiu como num passe de mágica, e o youkai tocou-lhe a face, delicadamente, como se tentasse matar a saudade que sentia de estar perto dele... de tocá-lo... Seus dedos tremiam.

Kurama estremeceu.

E os olhos verdes encontraram-se com os vermelhos, mostrando todo o imenso amor que sentiam um pelo outro.

"Hiei, por favor..."

"Por quê? Quero que me diga o porquê!"

Hiei tinha consciência de que havia uma batalha entre o desejo e a razão em Kurama, e, antes que este se esquivasse, encostou seu corpo ao dele. Sem sucesso, Kurama tentou dar um passo para trás, mas uma poltrona o impediu. Hiei quase podia ouvir seu coração batendo descontrolado. À exemplo do seu. Mas, ao invés de tocá-lo, apenas sussurrou:

"Todas as noites vou dormir pensando em você... Quando acordo, sinto tanto desejo que chega a doer... E todas as manhãs eu procuro por seu corpo perto do meu."

Arfante, Kurama sentia na pele a presença máscula de Hiei, tão perto, despertando todos os seus sentidos para a urgência de tê-lo novamente em seus braços.

"Também... Também sinto sua falta." - sua admissão foi como um sopro abençoado, aos ouvidos do Koorime.

Era tudo o que Hiei precisava ouvir: colocando Kurama definitivamente entre ele e a parede, impedindo uma possível fuga, o youkai aproximou-se até colar seu corpo ao dele.

"Então você também acorda procurando por mim?"- com os lábios colados à orelha dele, continuou sussurrando: - "Pensa no calor das minhas mãos e de meus lábios tocando-o... no prazer que temos quando mergulhamos um no outro?"

As mãos firmes espalmadas contra o peito musculoso de Hiei queriam afastá-lo, ao mesmo tempo que se deliciavam com o contato... Um gemido escapou dos lábios de Kurama, antes dele dizer:

"Você... não está jogando limpo, Hiei..."

Em qualquer outra circunstância, o youkai o teria tomado nos braços e eliminado qualquer resistência em segundos, mas, olhando-o nos belos olhos verde-esmeralda, Hiei tentou conter sua impetuosidade: estava tão próximo dele, que...

"Mantenho minha proposta." - o Youko disparou, numa tentativa de impedir aquela sedução.

Em um lampejo, Hiei teve de volta seu autocontrole:

"Ou seja... morar com você?"- perguntou, com os olhos apertados.

"Hai."

A postura gelada e insensível de Hiei dispensou qualquer resposta.

Com o coração doendo a ponto de lhe faltar ar, Kurama disse:

"Então, minha resposta não mudou."

Revoltado, Hiei ainda insistiu:

"Mas por quê, maldição? Nós éramos felizes, até..."

"Até eu perceber que você não pode... ou não quer amar? Ou até a palavra ‘compromisso’ ser mencionada, e eu descobrir que você não queria saber de um futuro junto comigo?" - Raiva e mágoa tomaram conta das feições de Kurama - "Para você, pode ser insignificante ter ou não uma família, ter ou não alguém para amar para sempre... Mas EU QUERO um compromisso assim! Eu quero amar, e ser amado!! Não quero desperdiçar mais um ano ou mais, amando alguém que pode sair da minha vida como entrou, sem compromisso algum!!!"

Hiei estava paralisado.

Nunca imaginara que Kurama fosse capaz de lhe dizer tudo aquilo em voz alta. Nunca!

Sabia que Kurama ansiava por tudo aquilo: amor, companheirismo, convivência... Sabia que era o primeiro a quem Kurama realmente amava... E que, por sua nova natureza, ele esperara pacientemente por ver correspondido todo o amor que lhe dedicava, mas...

Pelos Céus... Não conseguia!

Tudo o que Kurama falara era verdade, mas... Não daquele jeito, não daquela maneira!!

Sabia também que seu amante abrira mão de muitas coisas, fizera muitos sacrifícios, para que ficassem juntos... Mas, de tudo, um dos maiores presentes dado por Kurama fora "tempo": seu amado Youko desde o início sempre intuíra seus bloqueios, e, com calma e dedicação, havia prometido esperar, lhe dar tempo suficiente para superá-los...

Mas, ao que parecia, fizera seu Youko disfarçado de humano esperar demais... e ele, magoado, decidira que não esperaria mais por ele.

Será que, com um pouco mais de paciência e persistência, Kurama não conseguiria fazê-lo mudar de idéia?

Será que ele, afinal, não valia mais o esforço?

"Eu nunca o vi tão... teimoso assim antes, eu..."

Mais seguro de si, Kurama permitiu-se rir.

"Não. E eu também me surpreendi com sua teimosia... Você se revelou muito radical quando o assunto é ‘amor’..."

"Tenho motivos para isso."

"Talvez, não sei... Estivemos juntos por todo esse tempo, primeiro como companheiros de time, depois como amigos, e agora, como amantes... e, de repente, percebo que não o conheço..."

"O que está dizendo, Kurama? Se alguém me conhece, é você!"

"Em alguns aspectos, pode ser..."- disse, apontando para Hiei - "O youkai assassino frio e impiedoso no Makai, o detentor do Kokuryuha, o amante... esses, eu conheço. Mas não estou tão certo se sei quem realmente você é: Onde e como foi sua infância... Seu passado, sua família, e o que realmente aconteceu com ela..." - Com um gesto de mão, impediu Hiei de interrompê-lo - "Algo o fez assim, tão arisco nas relações afetivas, tão... frio e distante das outras pessoas: por Inari, Hiei!! Você sequer considera dizer à Yukina que é o irmão dela!" - balançando a cabeça, Kurama suspirou e continuou, rezando para que suas palavras encontrassem eco dentro daquele que mais amava nos mundos : - "Admiro-o demais: sei que você, hoje, é um dos Youkais mais temidos e poderosos do Makai, tanto em força, quanto em poder... Sei que conseguiu chegar até onde está sozinho, e sem ajuda de ninguém... Mas me responda, Hiei: para quê?"

"Me responda, Hiei... Para quê?"

Aquela pergunta doeu.

As respostas ficaram presas na garganta de Hiei... E, com elas, anos de ressentimento, solidão, medo, dor, ódio... e amarguras.

Quanto mais ele amava Kurama, mais difícil era fazer confidências: o medo de parecer e ser vulnerável emocionalmente o obrigava a fugir... ou a se defender de seu amor. E da única forma que conseguia.

Amar era, para Hiei, como pular da beira de um precipício... e de olhos fechados.

Jamais conseguiria fazer isso. Nunca...

"Como podemos ter uma relação sólida se você nem mesmo conversa comigo?" - a mágoa tomara conta da voz de Kurama.

Sentindo-se acuado, Hiei defendeu-se:

"Mas nós conversamos, Raposa!"

"Claro: sobre mim, sobre minha família, meu trabalho, minhas aulas, ou suas missões! Mas não me lembro de termos dito uma palavra sobre você, seu passado, ou sobre sua família! Talvez por isso, eu tenha cometido o erro de sonhar com coisas que jamais fariam parte de sua vida... Você rejeita o que, para mim, é essencial."

Um silêncio pesado caiu sobre os dois.

Kurama deu um passo à frente, apesar de se sentir tremendo da cabeça aos pés.

"Mas... ainda podemos ser amigos... se quiser."

Hiei pensou que, se quisesse continuar a vê-lo, forçosamente teria que aceitar aquela proposta descabida: só assim teria uma chance para tentar convencer Kurama para que tudo voltasse a ser como era antes. Respirando fundo, estendeu a mão, e disse:

"Hn. Amigos, então." - de pronto, atacou: - "Que tal um beijo para comemorar esse acordo?"

"Não:" - O jovem ruivo preferiu arriscar, e jogar sua última ficha: - "Prefiro um presente."- com as mãos trêmulas, Kurama entregou-lhe um pacote que tirara de dentro da estante. - "Tome, isto é... para você."

"Para mim?" - o olhar brilhante de um menino iluminou o rosto espantado de Hiei, que, àquela altura, desistira de conter as emoções.

Kurama achou graça.

"Para quem mais? Abra logo: comprei para você naquele fim-de-semana em que passamos nas montanhas e fomos visitar a vila, do chalé." - no íntimo, rogava ao Destino que lhe desse mais uma chance.

Ao mencionar aquela viagem, Kurama aguçou-lhe a curiosidade: afinal, durante todo o passeio à tal vila, Hiei não o deixara a sós nem um minuto - afinal, havia muitos ningens masculinos, por ali, e sempre havia o risco de algum metido a besta querer dar em cima de sua Raposa – e nem se lembrava de ter visto Kurama comprar alguma coisa... Prova que, quando se tratava de esconder alguma coisa, Youko Kurama realmente fazia juz ao título de um dos maiores Ladrões do Makai, no passado.

Mal sabia ele o quanto de esperanças estavam depositadas naquela caixa, no presente ali guardado:

"Hn."

Rápido, abriu o pacote...

E viu surgir diante de seus olhos incrédulos uma lembrança, que, pelo resto de seus dias, jamais haveria de esquecer: uma pequena escultura em verde-jade de um Dragão elevando-se aos céus em forma de espiral... à imagem do verdadeiro Kokuryuha, quando evocado por Hiei.

Não disse nada.

Não pôde.

Kurama, ele... conseguira aquela escultura... para ele? Ele, o youkai que fora renegado por sua própria raça ao nascer? Ele, o mesmo youkai que sofrera as penas do Inferno para encontrar o seu lugar no Makai? Ele, que, para contrariar todos que lhe haviam querido morto, lutara dia após dia num mundo sem Lei e sem piedade... e que conseguira, à custa de muita dor e sofrimento, virar o Detentor do Grande Dragão Negro?

Ele... que nunca tivera alguém ao lado, para dividir o orgulho de ter conseguido superar todos os seus temores... e conquistas?

Hiei tentou falar algo...

Descobriu que não podia.

Ficou ali, olhando a estatuazinha repousada em suas mãos... Enquanto sentia um bolo enorme travar sua garganta. "Alguém para dividir tudo."

Pelos Deuses!

Somente Kurama, entre todos, conseguiria entender o verdadeiro significado de se tornar o Senhor do Kokuryuha:

"Alguém para dividir..."

Treino.

"Alguém para dividir..."

Suor.

"Alguém para dividir..."

Disciplina.

"Alguém para dividir..."

Dor.

"Alguém para dividir..."

Lágrimas.

"Alguém para dividir..."

Como as que ameaçavam cair de seus olhos, agora.

Sentindo seu coração de Youkai apertar-se até doer, Hiei curvou-se um pouco para a frente, ainda a segurar a escultura nas mãos.

Kurama virara-se para a parede: bem imaginara a reação que o Koorime teria... e não queria, de modo nenhum invadir aquele momento tão seu.

"Alguém para dividir..."

As palavras ditas por Kurama naquela noite da separação ecoavam em sua mente:

"Alguém para dividir...

Alguém para cuidar,

Alguém para proteger...

Alguém para amar..."

Sua própria respiração faltava-lhe, seu coração parecia explodir, seus olhos estavam rasos de lágrimas... enquanto a verdadeira extensão do presente dado por Kurama alcançava-lhe a mente:

"Alguém para cuidar..."

Quantas vezes aquele Youko maluco o protegera em lutas? Quantas vezes arriscara a própria vida... para salvar a dele? Quantas vezes se preocupara com seus ferimentos? Quantas vezes cuidara dele?

Centenas.

"Alguém para dividir..."

Hiei era o único em quem a Raposa confiaria cegamente até a morte... "...posso fechar os olhos e confiar minha vida à você, durante uma batalha..." ele mesmo dissera aquilo várias vezes, antes... "Da mesma forma que eu lhe confiei tudo o que sou no dia em que me declarei à você..." - Quantas vezes Kurama dividira tudo o que pensava... tudo o que sentia... tudo o que sofria?

"Alguém para amar..."

Se tudo o que Kurama já fizera... e sofrera em sua vida por Hiei, não fosse amor...

"Eu?"

"Ele me ama... Sempre amou."

"E eu?"

"O amo, também... Por quê não consigo dizer-lhe? Por quê"

Trêmulo com tudo o que estava sentindo, Hiei levantou a cabeça, numa tentativa desesperada de tentar conseguir dizer alguma coisa ao jovem Humano parado à sua frente: agradeceu aos Deuses por ele estar de costas - novamente, lá estava Kurama colocando as suas necessidades frente às dele. Sem notar, apertava tanto a pequena estátua, que os nós dos dedos estavam brancos.

"Olhe para mim..."

"Onegai..."

O pedido invadiu a mente de Kurama como uma súplica. A tempo de fazer mais lágrimas descerem silenciosamente por seu rosto... Sem conseguir impedir um soluço, fechou os olhos, sem coragem para olhar o Youkai que tanto amava.

Ao ver o esforço de Kurama para esconder o próprio sofrimento - sofrimento causado por ele -, Hiei tomou uma decisão: não suportaria mais fazer seu adorado kitsune sofrer. Não ele, que deveria sempre ter o mais belo dos sorrisos no rosto:

"Ai..."

O coração de Kurama parou. Seria possível??

A voz de Hiei quebrou-se.

Não conseguia!

Encolhendo-se sobre si mesmo, quase ajoelhando-se no chão, o Youkai trouxe o pequenino dragão de jade junto ao peito, como se fosse um dos seus mais preciosos tesouros, ao mesmo tempo que fechava os olhos.

"Gomen..."

Foi a única palavra que saiu de seus lábios... enquanto que, de seus olhos fechados, uma única lágrima solitária descia-lhe pelo rosto, como sinal de sua derrota ao seu pior inimigo... Ele mesmo.

"NÃO!!!!!" - Kurama gritou, virando-se o mais rápido que podia...

Para descobrir-se sozinho na sala escura do apartamento.

"NÃO!" - murmurou, ao mesmo tempo que suas pernas vergavam-se, fazendo-o cair de joelhos no chão.

"Não, Hiei... Não!! Tão perto! Não me deixe sozinho outra vez... Onegai..." - suas lágrimas pingaram no chão da sala, enquanto sua mão esquerda fechava-se sobre uma das mais belas jóia de Lágrima já choradas por um Koorime... Um koorime que jurara nunca mais chorar.
 
 

***************
 
 

By Illy-chan.

; ___ ;

Continua...



Capítulo 3
Separação
Fics de Yuyu
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hosted by www.Geocities.ws

1