Reencarnações
Hakura Kusanagi
 

Capítulo 2
Dois anos. Longos e tortuosos anos para mim, meu koorime não voltou a si e estou cansado de combater meu próprio ressentimento. A dor, angústia, tristeza cada vez mais se acumulam em meu coração, na minha mente. Eu estou desesperado, a ponto de gritar de angústia ao olhar para Hiei deitado naquela cama.

Tão próximo dele e ele tão afastado de mim....

Minhas mãos escorregam por sua face.... está fria!!!

- O que está acontecendo?

Me ergo da cadeira e olho mais atentamente seu corpo. Hiei tem nos braços fios que controlam seus batimentos cardíacos – estão fracos!

- O dragão! Por Inari, aonde ele está? Meus olhos procuram por sua tatuagem, o coração dispara, um frio sobe por minha espinha ao focalizar os olhos do koorime, estão brancos, sem

mais cor! Os dedos tocam seus lábios... gélidos, trêmulos...

- Não! Hiei! – eu grito ao sentir que toda sua pele está da mesma forma e por não sentir mais seu youki flamejando. Sua respiração fraca aca...bando....

O pânico gela o meu corpo, endurecendo os meus músculos. Os marcadores das máquinas entram num descompasso aterrorizante, pareciam estar entrando em choque. Suas pernas e braços começam a se debater de repente. Eu seguro suas mãos, tentando fazer tudo aquilo parar, tentando salvá-lo de alguma forma... não aceitando que aquilo era a sua... a sua...

- NÃO, Hiei!!! NÃO! Você não pode morrer por minha causa, não pode me abandonar! Não, meu amor! – eu grito com mais força, em desespero. – Rápido! Rápido! Chamem os médicos!

Hiei, meu marido.... ele está morrendo!!

- O quê?!! Youko-Sama? – os guardas o ouviram e correram em busca dos médicos. Mesmo assim, o grito desesperado da raposa não parou e aos poucos, atraiu Yomi, Shura e todos que

estavam dormindo no castelo.

- Hiei! Hiei! Meu amor, viva! Você não pode morrer! Não pode me abandonar, é o meu coração... minha VIDA! Eu te amo, Hiei! Ai shiteru!

Kurama gritava loucamente, agarrando-se às mãos do pequenino, sua face branca, os lábios trêmulos pelos soluços, as lágrimas rolavam pelo pânico. Ele teve que ser afastado pelos

médicos para que pudessem cuidar rapidamente do koorime. As falas apressadas encheram os ouvidos de Kurama:

- O reanimador, rápido! Ampolas de choque!

- Sim, senhor!

As enfermeiras passavam num vai e vem, procurando pelos instrumentos pedidos que foram cobrindo o pequeno corpo do koorime cada vez mais enquanto a raposa se apoiava nos pilares

da porta, em estado de choque.

- Ele não pode morrer... não pode... ele é meu koorime... meu único amor... minha vida está nele. – O Youko sussurrava.

- Kurama?! – duas vozes percorreram os ouvidos da kitsune, fazendo-o se virar, eram Shura e Yomi, seus rostos estavam assustados, pareciam sentir a aura de desespero daquele lugar,

o ki de Hiei desaparecendo aos poucos e os médicos perdendo as esperanças de salvá-lo. O koorime estava morrendo.

Yomi ouviu os fortes soluços do Youko, aquele ofegar desesperado saindo de seus lábios, seu ki em um pânico desconcertante. Alguém frio e insensível como Kurama Youko jamais tinha ficado assim, com certeza, a perda eminente de seu único amor em todos os séculos de vida estava causando um transtorno indescritível.

Tudo isso fez com que Yomi se preocupasse mais ainda, colocando suas mãos no ombro do Youko/humano.

- Yomi! – Kurama olhou para o amigo, desesperado – Hiei... ele... ele...

- Não fale nada, Kurama! Acalme-se! Tudo vai ficar bem.

- Papai! Papai!

De repente, o grito de Shura ativou os sentidos de Kurama e Yomi. A baderna dos médicos havia terminado. Seus olhares eram tristes, as máquinas haviam silenciado. Eles tinham desistido, ou melhor, o koorime fez isso por eles.

Quando Kurama viu o que realmente estava acontecendo, sua face empalideceu, seus olhos saltaram de susto, o corpo todo ficou paralisado, sem movimento algum. A raposa não pôde

conter mais suas lágrimas, que escorreram ao longo do seu rosto quando percebeu o que tinha acontecido com o koorime, o corpo dele estava estático, seus olhos apagados, fechados. Não

havia mais nada a fazer, ele estava morto. O dragão negro desaparecera do seu braço assim como qualquer vestígio do seu youki.

- Oh, não! Hiei! Ele não ... não pode... não pode.... – Kurama gaguejava ao olhar para o estado do seu amor – Você não pode ter morrido... não pode ... me abandonar pra sempre, justo você. Deve ser mentira! Meus olhos estão me enganado, é tudo mentira! Você vai olhar pra mim e fazer aquele bico de sempre, chamar-me de Kitsune Estúpida e aí eu vou poder abraça-lo, dizer que o amo e que não posso viver sem a minha vida! Porque a minha vida é você! O meu koorime de fogo, o meu único amor! Eu passei séculos procurando por alguém e esse alguém é você, Hiei! Não pode morrer!

Kurama colocou as mãos sobre os olhos, dizendo:

- É um sonho. Eu estou sonhando! Tendo o pior dos pesadelos! Tem que ser isso! Quando acordar vai estar tudo bem. Ele vai brigar comigo por ter tido um sonho tão estúpido e depois vai me dar um daqueles beijos selvagens de sempre e dizer: ‘Raposa boba! Eu nunca vou te abandonar, vamos ficar juntos para sempre, somos feitos um pro outro!"

- Kurama! Kurama!

- Youko-Sama?!

- É só um sonho... um sonho... quando acordar vai estar tudo bem.... só preciso dormir... e acordar..."

- Por Inari, acorde, Kurama-San!

- Ele desmaiou!

- Hiei...

* * *

"O rosto pálido de Hiei ali na minha frente, seus olhos fechados para sempre, para sempre!!"

"Um lugar estranho, cercado pelo ar das trevas, uma leve brisa bate em meus cabelos, acariciando a minha face como a suave respiração de alguém. O mar batendo fracamente sobre a areia ...a água, com aquele entardecer, parecendo com seus olhos brilhantes, faiscantes, vermelhos.... Hiei.."

- Kurama ! – uma voz atravessa minha mente e me enche de felicidade. Seu olhar brilhante, reluzindo como dois rubis em minha direção – Perdoe-me, minha raposa... por não ficar ao seu

lado mais tempo, mas eu dou a minha vida pra você, meu amor... chegou o dia... o dia de agradecer por tudo que fez por mim durante esses anos que vivemos um para o outro. Arigatou, Kurama-Youko.

- Não! Nós prometemos um ao outro que seria para sempre! E o nosso juramento selado através dessa pedra? – eu aperto a sua gema de lágrima com os dedos no peito – Nós fizemos essa promessa duas vezes! Nesse anel de casamento e na ligação dos nossos corações através da gema negra!

- Gomen nasai, kitsune. Ainda estarei aí, no seu coração. Mas só em lembranças e espírito. Sayonara, itoshii!

- Não! Não ! Hiei!

Consigo sentir a fragrância de seu perfume, assim como o suave beijo nos meus lábios, como uma borboleta que pousa delicadamente nas flores. O último beijo do meu koorime de fogo... o adeus dito através de um último sorriso e daqueles lindos olhos vermelhos... Ele... ele.... está partindo para sempre.

Minhas lágrimas tocam meus lábios quando ele desaparece para sempre em meio ao fogo que cruza os céus e o oceano.

- Não, Hiei! Não diga adeus! Não me abandone! Eu preciso do seu amor para viver!

- Sayonara, minha linda kitsune prateada!

*****

- Hiei!!!

- Calma, Youko! É só um pesadelo!

Acordo assustado e com o coração disparado. As lágrimas ainda descem dos meus olhos . a voz de Yomi chega meio apagada, assim como sua face que começa a se formar aos poucos, deixando os vestígios do meu sonho menos aparentes.

Era isso! Eu estava tendo um pesadelo horrível, mas era só um sonho, como o próprio Yomi tinha dito. Aos poucos me dou conta de que estou no meu quarto e meu amigo está ao meu

lado, tentando me acalmar.

- Você está melhor, Kurama? Que bom que acordou.

- Eu estou bem, Yomi-San. Foi um pesadelo estúpido. Imagina só, eu estava sonhando que Hiei tinha morrido.

A expressão de Yomi mudou quando Kurama falou aquilo e ele ficou sério e triste em segundos.

- O que foi, Yomi? Algum problema? Onde está Hiei? – Yomi continua com a mesma expressão estranha enquanto que suas mãos percorriam seus ombros como se quisessem prepara-lo para um possível choque. Mas aquilo só serviu para desesperar Kurama ainda mais e ele perguntou, ainda sem acreditar na imagem que se repetia terrivelmente na sua cabeça. – O que houve com Hiei? Fale Yomi! Aquilo que vi foi apenas um sonho, não foi verdade! Diga pra mim, Yomi!

A resposta foi calma e ressentida:

- Não foi um sonho, Kurama. Infelizmente o que viu foi verdade.

- Não! Não pode ser! – os olhos verdes de Shuuichi imploravam para que seu amigo dissesse que aquilo era uma mentira.

- Gomen nasai, Kurama. Mas... – ele respirou profundamente – seu marido Hiei acabou de falecer.

Aquela última palavra tocou o coração da raposa, destruindo-o em duas partes, um vazio profundo cobriu sua alma. Seus olhos encararam a face de Yomi, procurando alguma possibilidade dele estar mentindo. Mas não encontrou. E então, ele se desesperou, entrando em choque, as lágrimas voltaram a deslizar e sua fala perdeu o controle.

- Não pode ser! Hiei! Ele não pode ter morrido! Não ia me deixar sozinho neste mundo... não ia... não tinha o direito de morrer antes de mim ... Você está mentindo, Yomi! Ele está vivo! Vivo! Hiei está vivo! – Kurama começou a gritar loucamente, sacudindo os ombros do youkai. Sua sanidade se perdeu no pânico das lágrimas e ele começou a rir, em meio aos

gritos de que Hiei estava vivo. Yomi o segurou firmemente, sacudindo-o para que acordasse para a realidade fria da morte.- Não Kurama! Pare de se enganar! Hiei está morto!

- Não! Ele está vivo e eu quero vê-lo!

- Pare! Ouça, Kurama! Hiei está morto!! – aquela frase ecoou na mente de Kurama e ele afastou os braços de Yomi, em pânico, caindo na realidade dos fatos. As mãos abraçaram as

pernas cruzadas sobre o colchão e Kurama levantou cabeça, deixando as lágrimas rolarem sem parar de sua face, quando um forte grito saiu de seus lábios.

- NÃOOOOO!!!!! NÃOO!!! HIIIIIEEEEEIIIII!!!!!!!!!!!

Aquele grito foi tão alto e forte que ecoou por todo o castelo de Gandara. Mas não só aqueles que estavam lá o ouviram, todo o reino de Gandara pôde sentir o desespero de seu rei.A dor do governante do Makai transpareceu por cada canto das trevas, cada youkai foi tocado pela enorme tristeza de seu rei que havia perdido seu companheiro e amante. Pelos quatro cantos do Makai, se ouvia os gritos desconcertantes e sofridos do Youko. Seus amigos, Yusuke, Kuwabara, Keyko, Shizuka, a irmã do koorime- Yukina – Além de sua mãe, irmão, os youkais

mais próximos, Shura, Yomi, Mukuro, Jin, Toya, Shishiwakamaru e todos os outros que foram seus pupilos e companheiros de luta por um período, todos, sem exceção foram dominados por um ki de tristeza, angústia e tiveram seus corações destruídos em dois.

Kurama enfiou a cabeça entre as pernas e chorou sem parar, nem respirar direito ele conseguia. Yomi tentou consolá-lo, mas quando tocou nas costas da raposa...

- Não! Saia daqui, Yomi! Eu quero ficar sozinho!

- Mas.. Kurama...

- Deixe-me sozinho com a minha dor! Eu não quero ninguém ao meu lado! Saia daqui, Yomi!

- Se é isso que você quer, Kurama. Eu vou...

Yomi deu um profundo suspiro e olhou para a kitsune uma última vez antes de deixar o quarto, fechando a porta.

Kurama ficou horas naquela posição, chorando. E quando pensava que as lágrimas haviam acabado, os soluços voltavam a dominar o seu corpo e elas voltavam. Ele escorregou para as

cobertas e se abraçou ao travesseiro que pertencera a Hiei. Os cabelos vermelhos encobriam completamente a face pálida e chorosa da raposa enquanto ele tentava sentir o cheiro de seu

koorime, agora morto.

A chama da vida daquela raposa se esvaía a cada conta d’ água. Sua esperança tinha sido completamente esmagada pela sombra da morte, a sua fé em um Deus se desfez. Agora ele o

odiava, por arrancar dele seu único amor, aquele que para ele seria eterno. Tudo tinha acabado, acabado como um simples fechar de olhos! Tudo destruído!

A solidão tinha voltado novamente ao coração magoado daquela kitsune que, neste momento, se encolhia em seu pranto, se agarrando ao pequeno amuleto de dragão, com a primeira gema de lágrima negra, derramada pelo seu amor no dia em que ele havia se declarado completamente para a kitsune.Só lhe restava aquilo, pois o cheiro de Hiei se fora. Seu pranto jamais o deixaria. Seu coração estava irremediavelmente partido e magoado pela perda de seu

Dragãozinho de fogo que era a sua vida, a chama que iluminava todos os seus dias. Agora ele não tinha mais ninguém .

- Ninguém ! eu não tenho ninguém ! por que foi me abandonar? Por que se sacrificou... por mim?

E assim, Kurama chorou e dormiu chorando, abraçado àquele travesseiro como se ele fosse seu pequeno youkai de fogo. Lençóis frios, soluços doloridos e a dor no peito foram seus

únicos acompanhantes durante toda a noite.

* * * * *

- Você já está pronto, Kurama?

- Sim, Yusuke. Pode entrar.

- Ah? Youko?- Yusuke se assustou ao entrar no quarto de Kurama e encontrá-lo na forma de youko. Este usava um traje sombrio. Uma túnica curta na frente e atrás longa até o chão, com detalhes de símbolos chineses trabalhados, calça e blusa de gola alta. as divisões da túnica deixavam a mostra somente o longo fio metálico do amuleto em forma de dragão.

O brilho prata de seus cabelos resplandecia mais do que sua própria face, tão abalada pela tristeza. Seus olhos dourados não brilhavam mais como antes, eram caídos, assim como suas

orelhas e rabo de raposa. Suas mãos deram um último retoque nos cabelos prateados, enquanto ele se virava para Yusuke.

- Podemos ir, Urameshi. – sua voz era fria e apagada.

- Mas... você vai nessa forma?

- Sim. É assim que eu sou realmente, então vou me despedir dele na forma de raposa das trevas, quero deixar Shuuichi descansar... – ele abaixou o olhar e permitiu que os dedos deslizassem por seus olhos como se quisesse enxugar uma lágrima teimosa.

- Kurama, está tudo bem?

- Eu vou ficar bem . mas não estou bem agora talvez não tão cedo. Quem sabe um dia não fique? Agora quero ir embora.

- Tá certo, amigo.

O enterro foi num lindo campo do Makai, a área mais bela já cultivada por um youko, cercada de flores, plantas dos mais diversos tipos, em meio a uma clareira disposta de tão somente um carvalho, que havia sido trazido do Ningenkai e semeado ali para ser o ninho de dois amantes. Agora ele tinha crescido de seus galhos brotavam muitas flores. Ali estava o túmulo do pequeno koorime, adornado por rosas negras. Na lápide, o nome do youkai e data do seu falecimento.

Ao lado do túmulo estava a maioria dos youkais conhecidos por Kurama e Hiei, inclusive sua irmã, desconsolada com sua morte. Todos choravam e lamentavam pelo koorime. Porém, o

mais triste de todos era Youko. Tentava ser forte, embora não conseguisse, ele tomou a fala para a despedida de Hiei.

Se aproximando do caixão, que deixava a mostra somente o pequeno rosto do youkai, com seus olhos fechados, o youko se ajoelhou e tocou no vidro, começando a falar.

- Hiei, meu melhor amigo, marido e amante. Você foi tudo isso para mim. O único amor nesta vida de demônio e de humano. Jamais existiu outro no meu coração e tão pouco poderia, você foi o único que amei em séculos. Cada um de nós dois teve seus problemas, suas dificuldades na vida, coisas que nos abalaram e nos marcaram para sempre, mas, por Inari, nós nos encontramos e mudamos a vida um do outro de uma forma inexplicável. Não tenho que dizer nada sobre o meu amor por você, Hiei. Sabe, sempre soube, o quanto te amei e o quanto o amo. Mas um Deus nos separou nessa maldita vida, uma vida que, a partir de agora, mesmo que me esforce, nunca mais será a mesma, porque eu não tenho o meu amor, a minha vida.

Este Deus, a quem tanto roguei mas não me atendeu, a quem depositei tantas esperanças... mas elas me foram arrancadas de mim, como o vento faz com as folhas. Tudo se foi, nada me restou, a não ser as lembranças. Eu agradeci tanto a quem quer que tenha me dado você, quando nos conhecemos, quando eu descobri que era amor o que sentia. Fiquei tão feliz por poder ser amado por alguém ! Pensei que fosse um presente divino para um se que só teve infelicidade em toda vida, pensei que agora que eu estava no corpo de Shuuichi, tudo estava sendo diferente, estava ganhando uma chance de experimentar o que era, na verdade, a vida. Mas aí, veio a morte e te arrancou de mim. Tudo que construí aqui dentro, no meu coração, destruído, porque o meu amor foi tirado de mim. Eu achava que os pecados tinham, sido pagos. Mas era mentira, não foram e, como prova disso, para pagar todo o mal que fiz nessa forma, VOCÊ me tirou Hiei, arrancando-o dos meus braços e o levou para junto de ti.

Quis dizer o quê, com aquilo? Que eu não o merecia? Era isso? – o youkai gritou, clamando aos céus, assustando a todos os presentes – É por isso que você sacrificou o meu lindo youkai

de fogo? Para mostrar a mim que jamais deveria amá-lo, que jamais devo amar NINGUÉM?!!! Não sou digno do amor, é isso? Responda, vamos! Não pode. Ninguém pode me responder isso, não é verdade? Agora também não adianta. Ele se foi... para sempre!

Kurama acariciou o vidro com os dedos, deixando suas lágrimas de sangue escorrerem por sua triste face novamente. Ninguém pôde falar nada para ele, não havia palavras a serem ditas. Todos ficaram a ver as tristes lágrimas de sangue caírem pelo vidro, manchando-o de um vermelho tão sombrio quanto a própria escuridão da face do youko. E então, ele prosseguiu falando.

- Essas lágrimas são pra você, Hiei! Cada uma dessas gotas de sangue será sempre sua. Já lhe entreguei meu coração, minha alma e minha vida. Nada mais me pertence, tudo é seu, Hiei, para onde for, levará um pedaço de mim. Na verdade, você me levará por inteiro. Aonde você estiver, meu pequenino youkai de fogo, eu estarei ao seu lado. Tudo em mim estará com você, Hiei. A chama que iluminava a minha vida, o calor que aquecia os meus sonhos. Morri com você, koibito. Então não vou dizer adeus, porque para sempre vou estar com você, meus sonhos pertencerão a você, assim como meus pensamentos. Então eu digo até um dia, koorime. Durma em paz e saiba que sempre e por toda a minha existência, eu te amarei.Ai shiteru, koibito.

Com essas palavras, Kurama terminou sua despedida o seu amor, deslizando mais uma vez os dedos pelo vidro como se quisesse acariciar aquela face infantil uma última vez e então, ele fez crescer as rosas negras por todo o caixão, cobrindo-o até que desaparecesse completamente. As enormes rosas negras se abriram , com um esplêndido perfume e tomaram conta de toda região. Aquele maravilhoso brilho de suas pétalas foi o adeus do youko ao seu amado. Alguns minutos se passaram, com a contemplação muda de todos os presentes, a raposa ficou parada ali, com uma das mãos acariciando o amuleto junto ao peito. Até que Yusuke se aproximou dele, apertando suas mãos com força, na tentativa de reanimá-lo.

- Venha, Youko. Acabou.

- Vamos, amigo. Você precisa descansar. – Kuwabara se aproximou, acompanhado da esposa, Yukina.

- Não se preocupe, Kurama-Sama. Hiei é grato por tudo que fez por ele. Hiei sempre soube do seu amor e retribuía com a mesma intensidade. – disse Mukuro, enquanto os demais

concordavam com a cabeça.

Kurama se levantou, tentando enxugar as lágrimas com as palmas das mãos. Yusuke lhe deu apoio para juntos caminharem até o Castelo de Gandara. O Youko deu uma última olhada para o túmulo de Hiei e deixou escapulir uma semente que foi levada até a topo da lápide pelo vento, onde uma pequena rosa vermelha desabrochou. E então, o youkai de cabelos prateados sussurrou suas últimas palavras ao seu amor, sem que ninguém , a não ser ele e o seu koorime as ouvisse.

- Ela é pra você. Assim como sou seu eternamente... aceite-a, assim como à minha vida... para sempre sua kitsune... até um dia, itoshii...

Continua...



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