Lily Le Fay
Capítulo 2
You're only just a dreamboat
Sailing in my head
You swim my secret oceans
Of coral blue and red
Your smell is incense burning
Your touch is silken yet
It reaches through my skin
And moving from within
It clutches at my breast
But it's only when I sleep
See you in my dreams
Você é apenas um barco de sonhos
Navegando em minha cabeça
Você nada [por] meus oceanos secretos
De corais azuis e vermelhos
Seu cheiro é incenso queimando
Seu toque é sedoso e ainda
Atravessa a minha pele
E movendo por dentro
Aperta em meu peito
Mas é apenas quando eu durmo
Vejo você em meus sonhos
"Only When I Sleep" – The Corrs
- Senhora – o rapaz entrou, seu par de asas muito brancas esvoaçando atrás dele, o sorriso amável no rosto e a mão tensa no cabo dourado da espada. Era alto, esguio, e usava vestimentas curiosas, uma calça muito branca, quase brilhante, sapatos azuis e uma blusa longa, branca com detalhes azuis. Suas vestes pareciam especialmente peculiares diante de seus cabelos negros muito lisos na altura dos maxilares e seus olhos dourados, grandes e brilhantes. Parecia um anjo.
- Sim, Sakuya? – Kairi respondeu de um jeito delicado do qual aparentemente só se utilizava para se dirigir a seu braço direito – algum problema?
- Receio que sim – sussurrou, apertando os lábios finos, os olhos dourados muito grandes fixos nela. Depois se adiantou mais um pouco e retirou um papel dobrado do bolso interno da capa, entregando-o a Kairi.
Esta leu-o calmamente e sorria quando anunciou, em um tom muito descansado:
- Se Hisoka deseja morrer, Sakuya, faça sua vontade.
Sakuya apertou os olhos, como se tentasse compreender o que Kairi poderia estar querendo dizer. Então pegou o bilhete que esta lhe oferecia, e leu, incrédulo:
"Kairi: Não vou mais trabalhar nisso. Estou indo embora de Okinawa. Hisoka."
- Então... o que eu devo fazer?... Eu devo...
Kairi deu uma risada baixinha, e bebeu um gole do vinho tinto contido em um copo de cerâmica na mesa à sua frente.
- Conhece minhas regras, Sakuya. Sabe como são rígidas. Hisoka, como todos os incapazes que estão sob minhas ordens, me deve mais do que poderá um dia pagar. Como a de todos os outros sob minhas ordens, a vida de Hisoka me pertence – ergueu os olhos violeta para Sakuya, e havia um brilho frio neles – e eu posso fazer o que eu quiser com ela. O que eu quiser. Admito – sorriu docemente, bebendo mais um gole do vinho – que as vidas de tantos homens é muito poder para ser detido por apenas uma mulher... mas Sakuya, querido... eu fiz por merecer. Retirei-os todos, alguns do que parecia a beira de suas covas, e outros do fundo da sepultura! E tudo o que eu peço é um pouco de cooperação... – o brilho frio retornou aos seus olhos, duros e cruéis agora, de uma forma que raramente se dirigiram a Sakuya – cooperação em um trabalho simples, e eles não se demoram em querer ignorar minhas ordens. "Estou indo embora de Okinawa.", que direito Hisoka tem de afirmar assim com essa convicção uma desobediência clara às minhas ordens? Me diga, meu querido Sakuya.
- Nenhum... – sussurrou timidamente, suspirando aliviado pela aprovação nos olhos de Kairi perante a resposta.
- Exatamente! É esse o ponto. Ele não tem direito nenhum. E agora me diga: se sua vida pertence a mim, e eu exijo que fique em Okinawa, qual a providência que devo tomar diante de um desafio claro como esse?
Sakuya suspirou, apertando ainda mais o cabo da espada com sua enluvada mão esquerda.
- Vou providenciar a execução do seu irmão Hisoka, Senhora.
Fez uma reverência e se foi, deixando Kairi sozinha na sala.
- Pode sair daí – Kairi sussurrou após alguns segundos de silêncio.
Um homem usando um caro terno preto de corte elegante, de cabelos negros e lisos na altura dos ombros e um belo par de olhos azuis brilhando no rosto branco saiu detrás das cortinas de veludo cor de vinho que ornamentavam a sala.
- Vai executar o próprio irmão? – disse de um jeito sarcástico, enquanto sem cerimônias caminhou até o bar na extrema esquerda da sala, servindo-se de uma taça de vinho tinto – mas que mulher malvada – sussurrou, entre irônico e divertido. Kairi só sorria para ele, observando-o enquanto bebia um gole do vinho e se aproximava da mesa para se sentar elegantemente na cadeira acolchoada defronte, como um gato.
- Você tem que parar de escutar as conversas dos outros. Isso é muito feio – Kairi o repreendeu de um jeito bem-humorado, malicioso e até sarcástico. Ele dispensou o comentário com um gesto.
- E você devia tomar cuidado com o que fala sobre as pessoas... você pode acabar magoando alguém... – bebeu outro gole de vinho – como foi que você disse mesmo?... Ah, sim, "todos os incapazes que estão sob minhas ordens me devem mais do que poderão um dia pagar" – fez uma pausa – que coisa feia de se falar sobre uma pessoa como eu.
Kairi deu uma risada cristalina, puramente divertida.
- Sakyo – disse o nome dele, e ele sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Nunca mais ouvira aquele nome, seu nome, desde que...
Bem, desde aquele pequeno acidente envolvendo um desabamento, há anos-luz de distância agora.
- Kairi – retrucou, sem deixar transparecer a própria inquietação. Ela tornou a sorrir e acariciou a borda do copo de cerâmica com um indicador, os olhos baixos. Sakyo respirou fundo, e quando Kairi ergueu os olhos, ele já estava exibindo um sorriso malicioso – mas me diga... vai mesmo matar seu irmão?
- Executar – ela corrigiu, com um ar de desagrado – e ele nem ao menos é meu irmão de todo... é apenas meio-irmão.
- Ah... – retrucou, com sarcasmo, um meio-sorriso brincando em seu rosto – meio-irmão... – sussurrou.
- Faça seu trabalho, Sakyo – Kairi pronunciou seu nome cuidadosamente, e se levantou, se dirigindo a uma porta para a qual esteve sentada de costas – diga a Sakuya que não desejo ser perturbada – ordenou, antes de desaparecer atrás da porta.
O sorriso de Sakyo desapareceu junto com Kairi. Depois de alguns segundos, levantou-se e saiu da sala de Kairi, o pensamento fixo no tal irmão. Meio-irmão. Que não queria mais trabalhar "nisso". E que seria morto por ser um incapaz cuja vida pertence a uma maluca. Morto não, executado, Sakyo corrigiu mentalmente, com um sorriso. Executado por ser um incapaz cuja vida pertence a uma maluca. A vida de Sakyo pertencia a uma maluca. Mas Sakyo não era um incapaz. Definitivamente. Talvez Hisoka, o meio-irmão que seria executado, fosse um incapaz. Mas Sakyo, não.
Incapazes não arquitetam planos de fuga.
* * * *
Ah, por favor, aquele sonho de novo não.
Mas ela já o via...
Droga... agora ele vai apertar a droga daquele botão... e me jogar a porcaria do isqueiro... e então ele vai...
Ele vai morrer.
- Shizuka... – ele disse seu nome.
Mas espera, isso é impossível, ele não sabia meu nome quando morreu, ele não...
Shizuka olhou em volta. Não, aquele não era o estádio.
O que...
Estavam em um corredor subterrâneo... tochas espalhadas lançavam uma luz difusa em seu rosto...
- Shizuka, você está bem? – ele perguntou, o rosto sobre o dela.
- Estou... acho que... só torci o tornozelo – ela ouviu sua própria voz responder.
- Consegue andar?
Shizuka assentiu. Ele ajudou-a a se levantar, mas uma dor lancinante a fez gritar e se agarrar a ele.
- Shhh!... – fez ele, com um ar de desespero nos olhos azuis – vão nos ouvir... vamos, venha comigo.
Shizuka tornou a assentir, e se deixou guiar, apoiando-se pesadamente nele.
Mancaram por muito tempo pelo corredor, ele escolhendo o caminho com extrema perícia, como se conhecesse o lugar como a palma da própria mão. E estar tão perto dele, Shizuka pensou, fazia com que quase se esquecesse da dor lancinante no tornozelo. Shizuka ficou olhando-o, quase embevecida. Ele percebeu, e lançou-lhe um sorriso malicioso.
- Logo estaremos longe daqui – ele disse.
- Amém – ela respondeu, se apoiando mais do que o necessário em seu ombro, colando o corpo no dele.
E então... tudo foi muito rápido.
Havia uma mulher, alta, bonita, de cabelos negros. E um homem que parecia um anjo, de olhos dourados e cabelos negros e vestes brancas muito brilhantes.
E de repente ao lado da mulher estava, não o homem que parecia um anjo, mas Kurama Youko, o chicote de rosa firmemente seguro em sua mão direita.
Sakyo a colocou atrás de si, protegendo-a com o corpo. Mas Shizuka o empurrou delicadamente para o lado.
- Kurama... que bom que te encontramos... – Shizuka sentiu uma felicidade extrema invadi-la. Se Kurama estava lá, ela estava salva.
- Shizuka, não – Sakyo ordenou, segurando seu pulso com força, puxando-a para trás.
- Não seja bobo... Kurama é meu amigo, ele...
- Não – Sakyo retrucou, e parecia muito irritado – cuidado... ele não é quem você pensa que é...
- Não diga besteira!... Me solta! – Shizuka tentou se libertar da mão que a prendia mais uma vez – vamos, me solta! Droga! O que você está PENSANDO?! – Sakyo a soltou inesperadamente, e ela tropeçou, a dor no tornozelo jogando-a no chão.
Shizuka ouviu uma par de risadas, e ergueu os olhos para a mulher e para Kurama. Continuavam parados no mesmo lugar, observando-os.
- Shizuka, eu... – Sakyo se abaixou ao seu lado, e estendeu-lhe a mão. Shizuka olhou-o irritada.
- Eu posso me levantar sozinha – resmungou. A dor em seu tornozelo parecia morder, mas ela se levantou mesmo assim, se apoiando na parede. Olhou para Kurama. Havia alguma coisa em seus olhos. Era... ódio? Não. Impossível. Devia ser o efeito da luz difusa das tochas. É. Era isso – Kurama.... – ela sorriu para o amigo, e estendeu a mão para ele. Por um momento, parecia que ele lhe retribuía o sorriso e ia pegar sua mão. No momento seguinte, ele ergueu o chicote de espinhos e brandiu-o agilmente na direção de Shizuka.
Tudo o que ela ouviu foi a voz de Sakyo chamando seu nome... e algo que descia sobre ela, atirando-a ao chão com um peso agonizante.
Tudo escureceu.
Ela abriu os olhos. Ali estava a mulher de cabelos negros, novamente acompanhada pelo homem que parecia um anjo. Ela sorria cruelmente. Ele parecia infeliz. E sobre Shizuka, as roupas em tiras ensangüentadas sobre os arranhões múltiplos, Sakyo.
Morto.
- Sakyo... – Shizuka sussurrou, olhando para ele horrorizada – Sakyo... – repetiu, e dessa vez seus olhos ficaram turvos enquanto olhava para seus olhos azuis vidrados. Mas... como?
Shizuka recapitulou por um momento as cenas anteriores. Lembrou-se de Sakyo e ela no corredor, da mulher, e do homem... e de Kurama. Kurama... Kurama a atacou. Mas por que...?
Ela olhou para a mulher e para o homem lado a lado em sua frente.
- Onde está Kurama? – perguntou, olhando a mulher de cabelos negros olhar triunfante para o homem ao seu lado, o rosto coberto de lástima enquanto olhava de Shizuka para o cadáver de Sakyo – onde está Kurama? – repetiu, e o homem abaixou os olhos.
- Kurama está morto – ele disse, sua voz rouca e triste – eu o matei.
- Você o quê?! – Shizuka quase gritou, as lágrimas descendo agora pelo seu rosto – mas... mas ele estava aqui agora...
- Não – o homem retrucou, ainda em sua voz estranha, rouca e triste, enquanto se aproximava de Shizuka – não, Shizuka... não era Kurama... era...
- Chega – a mulher ordenou, um brilho perigoso nos olhos quando deu um passo à frente.
- Sim, Senhora – o homem tornou a se afastar de Shizuka, postando-se bem atrás da mulher, seus olhos dourados muito tristes agora baixos.
- Linda menina... – a mulher começou, se abaixando ao seu lado – é lastimável pensar no trabalho que este me deu, para terminar assim – murmurou, olhando para Sakyo demoradamente, antes de tornar os olhos para Shizuka – você é muito bonita. Mesmo – disse com um sorriso que era quase doce – e ele gostava muito de você – continuou, olhando de esguelha para o cadáver de Sakyo – mas não importa – disse mais alto, em um tom definitivo – agora que vocês vão se unir – com essas palavras, a mulher retirou um punhal de um dos bolsos internos do sobretudo negro e ergueu-o com as duas mãos, a ponta afiada brilhando com a luz amarelada das tochas – MORRA!
E Shizuka gritou. Com todas as suas forças, expelindo todo o ar que havia em seus pulmões em um grito alto, agudo, desesperado.
E então ela viu uma luz brilhante sobre ela, e o rosto de Botan, a Deusa da Morte, surgiu sobre o seu, os olhos cor-de-rosa muito aflitos.
- Shizuka, acorde – Botan disse.
- Foi tão real... – Shizuka tremia, abraçada ao travesseiro, observando Botan andar de um lado para o outro enquanto Keiko lhe estendia um copo de água com açúcar.
- Calma, Shizuka-san... seja lá o que for, já passou – Keiko sussurrou, linda amiga Keiko, com seus cabelos castanhos lisos e compridos e seu olhar compreensivo.
- É... – Shizuka respondeu, finalmente pegando o copo e bebendo seu conteúdo. Já passou... o que passou? Um sonho horrível. Mas o que acontecia nele...?
Sakyo. Sakyo... e ela. Eles estavam juntos... e havia uma outra mulher... e um homem. E havia mais alguém... quem? Kurama? Kurama. E Kurama...
Kurama está morto... eu o matei.
Quem disse aquilo? O homem. Que homem? Droga... está tudo confuso!
Kurama está morto...
- Kurama! – Shizuka disse de repente para as meninas. Botan parou de andar pelo quarto, olhando estarrecida para Shizuka – onde está Kurama?
- Kurama-kun está dormindo no quarto dele, oras... – Keiko respondeu, tirando o copo da mão de Shizuka – quer falar com ele?
Shizuka sacudiu a cabeça, se encolhendo contra a parede, o travesseiro bem seguro em seus braços.
- Não... tudo bem. Está tudo bem... estou... estou com muito... muito sono, e... vamos dormir – Shizuka disse, forçando o que ela esperava ser um sorriso tranquilizador.
Assim dizendo, colocou o travesseiro no lugar e se deitou sob as cobertas.
- Boa noite – disse, fechando os olhos.
Keiko e Botan se entreolharam, e Botan sacudiu os ombros para a outra.
- Então boa noite, né – foi o que disse a Keiko, deitando-se em sua cama e se cobrindo até os ombros.
- É... boa noite – Keiko disse após um momento e, apagando as luzes, imitou Botan.
No escuro, Shizuka tornou a abrir os olhos.
Não conseguiria dormir.
* * * *
Silêncio. Sakyo apurou os ouvidos. É, estava tudo silencioso. Levantou-se da cama cuidadosamente, e caminhou até a porta. Apertou a orelha contra a madeira. Silêncio. Decidiu-se. Girou a maçaneta. Caminhou para fora.
Ao contrário do que pensara, até que foi fácil caminhar pelos corredores vazios e silenciosos, mantendo-se sempre nas sombras, os passos leves de um gato. Quando formulara esse plano, imaginou-se passando por dificuldades terríveis para se esconder quando passos se aproximavam em um corredor particularmente difícil, sem refúgios ou esconderijos, nem ao menos uma sombra... viu a si mesmo olhando em volta, tentando encontrar uma saída sem sucesso, e então uma voz – em sua imaginação, a de Kairi – lhe gritava "O que você está fazendo aqui?". Mas qual a sua surpresa ao descobrir os corredores desertos e sem obstáculos. Nenhum guarda, nenhum vigia, nada. Ocorreu-lhe que era bem fácil desobedecer ao toque de recolher de Kairi.
Saiu para o ar fresco da noite, o céu anormalmente estrelado, de uma forma que só se apresenta em ilhas, praias e em alto-mar. Caminhou ao longo da imensa cúpula de metal que agora lhe servia de lar, contornando-a pelas sombras, para evitar que fosse visto. Mais adiante, o primeiro vigia com o qual se deparara a noite toda. Era um homem que ele não conhecia, um tipo de ombros largos, cabelos lodosos e atitude superior. Usava um sobretudo escalafobético sobre alguma espécie de roupa esquisita, a se basear nas ondulações e pontas que se relevavam por sob o tecido negro do casaco em todas as direções.
O homem do sobretudo falava com alguém, e por um instante Sakyo não acreditou no que viu. Gama? Seria o demônio das pinturas malignas do time Mashoutsukai? Sakyo parou, erguendo-se cuidadosamente das sombras. Era Gama. Gama também estava vivo. O que Kairi estava planejando? Sakyo não sabia. Mas sabia de alguém que talvez soubesse, e por isso estava se arriscando essa noite fora da cama muito depois do toque de recolher.
Segundo ouvira, Hisoka, o meio-irmão que seria executado, daria seu último suspiro ao amanhecer. E, com um pouco de sorte, Sakyo falaria com ele antes disso.
Ouvira esta tarde uma conversa entre Sakuya e alguém cuja voz não ouvira. Sakuya explicou a essa pessoa que deveria executar Hisoka ao amanhecer e que Hisoka passaria sua última noite na prisão subterrânea da propriedade. Sakyo não quis ouvir mais nada. Sabia exatamente de que prisão Sakuya falara, já que participara diretamente da construção do lugar, como Kairi lhe fez voltar da morte para fazer. Supervisionara pessoalmente as conexões entre a construção subterrânea que já se encontrava no lugar e a nova construção de metal que tomaria a forma de uma cúpula gigantesca, como era de desejo de Kairi. Sabia, portanto, onde se encontrava a prisão sobre a qual Sakuya falara, e qual seria a melhor maneira de chegar a ela.
Uma passagem da qual poucos sabiam, cujo acesso se dava ao largo do perímetro da propriedade, por meio do oco de um tronco de árvore. A entrada era apertada, mas dava para um homem magro como Sakyo passar. Depois disso, um túnel apertado, e após mais uma passagem estreita, voila! Apenas um grupo de barras o separaria de Hisoka, o meio-irmão que seria executado ao nascer do sol por não querer mais fazer o trabalho misterioso de Kairi. Que trabalho tão desonrado seria aquele para fazer um homem em tamanha dívida com uma pessoa tão louca como Kairi a enfrentar tão categoricamente?
Sakyo não sabia. Já estava lá há tanto tempo que já perdera a conta há muito, e não fazia a menor idéia. Mas Hisoka saberia. Claro que saberia. Ou Kairi não se daria o trabalho de executá-lo como se fosse gado.
- Se você sabe de alguma coisa... – murmurou, encontrando a passagem estreita por dentro do oco da árvore, e dando uma boa olhada antes de içar-se para dentro. Era o oco de uma árvore velha. Sabe-se lá o que poderia haver lá dentro. É sempre melhor prevenir.
Desceu pelo túnel de gatinhas, as pernas primeiro, em descida cada vez mais vertical. Desceu por vários minutos que pareceram horas, até que seu pé bateu em uma superfície dura. A passagem. Agachou-se o melhor que pôde, cutucando a entrada com a mão direita, tentando achar um jeito de abri-la. "Ah, não", pensou. Vedaram a passagem. Agora tudo o que poderia fazer era voltar para de onde veio e se esgueirar de volta para a cama, tentar dormir o resto da noite com seu fracasso.
"Isso se eles não estiverem lá em cima, esperando por mim."
Então viu-se chegando ao oco da árvore e, ao pôr a cabeça para fora, dando de cara com uns mil homens, os brinquedinhos de Kairi. Então a voz de Kairi (sempre ela) lhe diria, sarcasticamente:
- Sakyo? Você por aqui... a essa hora? – e a última coisa que veria seria o sorrisinho cínico dela, antes de sua cabeça rolar pelo chão, separada do corpo.
Clique.
Sakyo olhou para baixo, onde sua mão movia-se furiosamente para cima e para baixo na placa de madeira que fechava a passagem minúscula. A placa estava fora do lugar.
Abrira-se.
Suspirou aliviado e, com um chute, escancarou a entrada para a antecâmara da prisão subterrânea, esgueirando-se por ela cuidadosamente. Os saltos dos seus sapatos tocaram o chão de pedra com um som seco. Estava dentro. Mas não era tão fácil quanto parecera na planta. Ali dentro estava escuro como o breu. Tateou os bolsos internos do paletó, até achar seu isqueiro. Acendeu-o.
Encontrava-se em uma câmara cavada no solo, um lugar frio e úmido. Ouvia os pingos d’água ecoando pelo lugar. Parecia um filme de terror. Ergueu o isqueiro, a pequena chama queimando-lhe o dedo que mantinha o botão do fluido inflamável apertado, alimentando o fogo. A luz iluminou as paredes adiante, e uma entrada esculpida que virava à direita, grande o suficiente apenas para um adulto passar bem abaixado. Sakyo aproximou-se, iluminando o que havia para além da abertura.
Tratava-se de um corredor estreito e baixo. Sakyo se enfiou pela abertura, esticando o braço do isqueiro, lançando o círculo de luz mais adiante.
- Aí está você – Sakyo sussurrou, no momento em que a luz amarelada deixou ver uma pequena janela na parede esquerda do corredor, coberta por uma grade de barras verticais e horizontais. Uma brisa chegou a ele, trazendo o cheiro fresco da noite a metros acima. Só podia ser aquela janela. Não havia outra.
Fechou a tampa prateada do isqueiro e colocou-o no bolso, mal sentindo o polegar queimado. Agora que não havia mais a luz amarelada do isqueiro, notou que uma luz tênue e azulada vinha da janela. Esgueirou-se pela parede, detestando as próprias pernas compridas, que só atrapalhavam na tarefa de chegar ao gradeado que o separava de Hisoka. E de tudo o que Hisoka poderia lhe dizer.
Olhou pela janela, espremendo o rosto contra a grade. Uma luz muito fraca e azulada banhava parcialmente o lugar. Não dava para ver quase nada. Sakyo olhou para cima, e constatou o que já sabia: a luz vinha da noite lá fora, que passava por um círculo gradeado lá no alto, no chão da propriedade. Apurou os olhos. Não conseguia ver Hisoka.
- Hisoka? – sussurrou. Nenhuma resposta. Procurou pelo isqueiro e tornou a acendê-lo, erguendo-o acima da própria cabeça, sua luz amarelada abrangendo todo o ambiente da câmara.
A primeira coisa que Sakyo viu foi o catre na parede oposta. Sobre o catre, um homem de cabelos cinzentos o olhava de um jeito esquisito.
- Você é Hisoka? – Sakyo perguntou. Os olhos dele eram violeta como os de sua meia-irmã.
Ele assentiu, e seus olhos reluziram de um jeito estranho.
- E quem é você? – ele ergueu-se do catre e caminhou até Sakyo, mantendo uma distância segura entre os dois – o que você está fazendo aí?
- Meu nome é Sakyo – começou, e parou. Como ele ia explicar o que estava fazendo ali? – eu vim para saber dos planos de Kairi. Saber exatamente o que ela quer.
Os olhos de Hisoka cintilaram.
- Mas você não trabalha para ela?
- Sim – respondeu, pensando em como moveu montanhas para construir aquele prédio megalomaníaco no prazo. Então pensou em como desobedeceu ao toque de recolher para descer até aquele lugar e descobrir o que pudesse sobre Kairi. E em como pretendia sabotar Kairi e sumir de Okinawa. – E não – corrigiu, para a surpresa de Hisoka.
- Ela sabe que você não é totalmente leal?
- Não sei – Sakyo respondeu, e era verdade. Às vezes parecia que sabia. Às vezes parecia que não.
- O que você quer saber?
- Quem ela é. O que ela pretende. O que você era obrigado a fazer para ela. Porque você queria ir embora.
- Quem não deseja a liberdade, Sakyo? – Hisoka respondeu com outra pergunta, com um sorriso amargo. Por sobre o ombro de Hisoka, Sakyo pôde ver sob o catre um vulto. Parecia o corpo de um homem, mas não dava para ver direito. Ergueu o isqueiro, mas nesse momento Hisoka cobriu sua visão com o corpo e continuou. – Tudo bem, vou responder. Eu era o assassino dela. Meu trabalho era matar quem fosse contra suas ordens. Se eu ainda estivesse sob as ordens de Kairi, teria que te matar agora. Um trabalho injusto, entenda. Mas eu não sei nada sobre o trabalho maior, do qual ela cuida pessoalmente. Sei apenas que ela me tirou do fundo do meu túmulo para ajudá-la, quando a última vez que nos vimos eu era apenas um bebê, e ela, uma garotinha. Não sei de nada que possa ajudá-lo. Perdeu sua viagem. Meu conselho é que volte para a cama e obedeça-a, mesmo que isso fira sua moral. E me deixe aqui para morrer em paz. Não se meta no que não é de sua conta.
Com essas palavras, Hisoka soprou o isqueiro de Sakyo e retornou para seu catre. Sakyo não o viu se deitar, mas ouviu as correntes rangerem.
Frustrado, iniciou seu caminho de volta para a superfície.
Não havia ninguém esperando-o na entrada do oco da árvore, e o caminho para a cama foi rápido e fácil. Quando deitou-se sob as cobertas, o sol já estava raiando.
Kairi estava sentada em sua sala contemplando a superfície de uma bacia de prata cheia de água. A porta se abriu e Hisoka entrou.
- E então? – Kairi perguntou, erguendo os olhos. Lentamente, os olhos violeta de Hisoka foram se tornando dourados, e seus cabelos cinzentos foram escurecendo. Sua pele foi clareando, assim como suas roupas. Suas feições foram se tornando delicadas, doces como as de um anjo.
- Deu tudo certo. Ele acreditou que eu fosse Hisoka – disse Sakuya com muita calma – acho que agora ele vai desistir de bancar o detetive.
- Que bom – Kairi respondeu, voltando os olhos para a superfície da água, onde se podia ver a imagem difusa de Sakyo se deitando em sua cama. Kairi tocou a água com o dedo indicador, e o líquido turbilhonou e se tornou escuro, clareando novamente para mostrar mais uma imagem difusa, essa do enterro de Hisoka nos fundos da propriedade – tem certeza que ele não desconfiou?
- Acho que não. Houve um momento em que ele quase viu o corpo de Hisoka que eu tive que ocultar às pressas, mas acho que consegui desviar sua atenção.
- Que bom – tornou a dizer, e então fez um gesto vago com uma das mãos – pode ir agora, Sakuya.
Sakuya fez uma reverência e saiu da sala.
* * * *
Era quase de manhã quando Shizuka conseguiu pegar no sono. Mas ainda assim foi apenas um cochilo rápido. Quando acordou, o sol entrava pelo quarto com força pela janela. As duas outras camas estavam feitas. Botan e Keiko já haviam se levantado.
Levantou-se e foi até a janela enquanto desfazia a trança em seus cabelos. Olhou para a paisagem lá fora. As pedras, a areia, o mar, os corais, o céu. Estava se sentindo cansada. Quase não dormira... fora uma noite daquelas. Tivera um sonho... sobre o que mesmo?
Kurama.
Kurama...?
Kurama... morto.
Kurama morto. O que isso significava?
Kurama está morto. Eu o matei.
Quem disse aquilo? Shizuka se sentiu inquieta. Precisava falar com Kurama, urgentemente. Tratou de se vestir.
Chegou ao salão do hotel quinze minutos depois, já de calça jeans e blusa, e correu os olhos pelas mesas, localizando rapidamente o lugar onde Keiko, Yusuke e seu irmão Kazuma já tomavam café, Kazuma rindo e falando muito alto. Shizuka se aproximou do grupo e, depois de cumprimentar os presentes, perguntou por Kurama.
- Ele já vem. Foi levar um prato para Hiei – Keiko respondeu, dando lugar para Shizuka sentar ao seu lado.
- O invocadinho não queria comer com a gente!
- Fala baixo, Kazu – Shizuka repreendeu o irmão.
- Ô sujeitinho anti-social! Até dói! – Yusuke comentou, bebendo de seu copo.
- Acho que ele só se dá bem com Kurama – Keiko disse.
- É, suponho que sim – Shizuka respondeu, e então deu pela falta de outra pessoa – e Botan, onde está?
- Foi bater um papo com o limpador de rodapé! – Yusuke respondeu animadamente, se referindo ao filho do Grande Enma Daioh, supremo Deus do Mundo Espiritual.
- Ohayo, Shizuka-san – Kurama se aproximou, sorrindo gentilmente, Hiei sério ao seu lado, analisando tudo com seus enormes olhos vermelhos.
- Oi, Kurama-kun. Oi, Hiei-san – Shizuka cumprimentou-os, e sentiu um aperto no peito ao olhar para Kurama.
Kurama está morto. Eu o matei.
Quem disse aquilo? Um rosto pareceu brilhar na escuridão. Shizuka não conseguiu vê-lo.
- ...então Hiei e eu achamos que ia ser bom se déssemos uma averiguada no lugar, observar o movimento... enquanto você e Kuwabara-kun colhem informações nas redondezas, procuram descobrir o que os moradores da ilha sabem sobre a cúpula, como e quando foi construída, quem a construiu... essas coisas.
- Ééé... boa idéia essa – Yusuke respondeu, com a mão no queixo – só vamos esperar Botan, o baixinho quer se manter informado dos nossos movimentos, sacumé.
- Aaaaaah, tudo beeem, a gente fica e come enquanto isso!... – Kuwabara respondeu espalhafatosamente, comendo um ovo frito inteiro de uma vez.
- Fala baixo, Kazu – Shizuka repetiu, e então olhou para Kurama novamente. Por que se sentia tão inquieta olhando para ele? O que significava a voz que ouviu em seu sonho? – Kurama-kun... posso falar contigo por um minuto?... Quero dizer, em particular.
- Claro, Shizuka-san – respondeu gentilmente. Shizuka se levantou e observou Kurama se abaixar para falar com Hiei – só um instantinho – ele disse, e então sorriu para Shizuka.
Caminharam para fora do salão, para os jardins do hotel. Shizuka pegou um cigarro da carteira e o pôs entre os lábios, acendendo-o a seguir.
- E então, o que queria me dizer? – perguntou cordialmente. Shizuka baixou os olhos para o isqueiro em suas mãos.
Ok, Shizuka, agora você deve dizer, ei, cuidado, cara, porque eu tive um sonho que não me lembro, e alguém te matava no sonho. Quem? Ah, eu não sei quem. Um tipo alto, de cabelos pretos. Talvez eu até tenha inventado o cara! Mas olha, esse é o grande problema. Eu vim aqui porque estou com dor de cotovelo, sabe, nada dá certo pra mim, continuo pensando naquele cara do torneio, e quer saber, talvez eu devesse jogar esse isqueiro fora, porque acho que ele está sabotando os meus romances, você é o único que me entende, o único que me escuta, e a verdade é que eu não posso nem sonhar com você morrendo que me mata de medo, porque não dá pra ficar sozinha, não dá, não dá, não...
- Shizuka-san? – Shizuka olhou para Kurama. Os olhos dele estavam arregalados. – Shizuka-san? O que houve? Por que você está chorando?
Porque sou covarde.
- Eu não sei... é tudo tão difícil... minha cabeça tá a maior zona – Shizuka passou a mão pelos cabelos.
- Vem cá, senta aqui – Kurama ajudou-a a sentar em um banco de jardim.
Shizuka passou quase um minuto inteiro apenas olhando para ele, o cigarro esquecido entre os dedos. Sorriu. Depois começou a rir. Um riso angustiado, que nada tinha de alegre. Kurama riu um pouco também, compreendendo-a sem compreendê-la.
- Você tem sorte, sabia? – Shizuka disse de repente. Kurama riu.
- É, acho que tenho. Mas você também tem, Shizuka-san.
Shizuka olhou-o por uns instantes antes de responder.
É, Shizuka, podia ser pior, não é o que sempre dizem os otimistas? Podia ser pior. Você podia, por exemplo, estar agora no Japão, dentro da universidade, amaldiçoando não ter vindo para Okinawa, se sentindo pequena, sozinha, arrasada. Bem, arrasada e pequena você já está se sentindo, ha, ha, grande novidade. Mas bem, você tem o pobre Kurama em quem despejar os seus problemas, portanto, seja gentil com ele.
- É – disse por fim – apesar de tudo, talvez eu tenha.
Ficaram mais um pouco em silêncio, olhando para a paisagem à sua frente. O gramado verde brilhante, as crianças brincando, um casal caminhando.
- É, meu amigo – Shizuka segurou por um segundo uma das mãos de Kurama, apertando-a brevemente – talvez eu tenha, apesar de tudo.
- Tem a ver com ele, não tem? Tem a ver com Sakyo. – o Youko disse antes que pudesse se impedir.
Shizuka pensou em dizer que não, mas achou besteira. Kurama era seu amigo mais valioso, se não dissesse a verdade a ele, a quem diria?
- É... sonhei... – Shizuka começou, mas sua voz ficou embargada. Respirou fundo antes de recomeçar – sonhei com ele todas as noites... quase todas as noites... nos últimos meses. Tive mil namorados... e fico me sentindo como se eu tivesse fodido tudo por causa de um sonho infantil, uma maldita idealização idiota do cara perfeito... e fico aqui, cheia de esperanças, e agora eu dei para sonhar com coisas que nunca aconteceram e nunca vão acontecer comigo e com ele, porque ele tá morto, e eu fico me sentindo uma idiota e uma estúpida porque fico me negando a admitir pra mim mesma... – conteve um soluço, de repente furiosa consigo mesma por estar fazendo aquela ceninha ridícula na frente de Kurama.
- Você acha que essa pessoa que ressuscitou todos aqueles homens do torneio... você acha que ele... que ele também está vivo, não é?
Shizuka suspirou, juntando suas forças, tentando se conter. Que idéia era aquela, chorar daquele jeito na frente de Kurama?
Ah, que se dane. Ele é meu amigo, não é?
É. O melhor de todos.
- Não é? Shizuka-san?... – Kurama abaixou a própria cabeça, tentando ver o rosto de Shizuka, oculto pelos seus cabelos castanhos – Shizu...?
- É. Eu acho – respondeu, olhando diretamente para o Youko. – Eu acho que ele está vivo. Eu... sinto... sinto que não acabou. E tenho sonhos... eu deito a minha cabeça no travesseiro, e ele está sempre lá. Eu dormia com Akira, mas quando fechava os olhos era ele que eu via. Eu devo estar ficando maluca. Eu nem o conheci. Eu só... droga! – o cigarro que ainda estava em sua mão chegara ao filtro e queimara seus dedos. Shizuka jogou-o fora, e levou o dedo aos lábios, para aliviar a dor.
Kurama não sabia o que dizer. Sentimentos e relacionamentos, coisas confusas demais. Mas dizer aquilo não adiantava. Se ele dissesse que não entendia de relacionamentos seria mentira. Mas achava que também não estava pronto para dizer o que sabia. Não para Shizuka. Em toda a sua vida, como Youko e como humano, Kurama fizera coisas das quais não se orgulhava e muitas outras das quais não se arrependia em seus relacionamentos amorosos. Amorosos? Não vamos exagerar. Em toda a vida de Kurama, apenas um de seus relacionamentos fora amoroso. E ele gostaria de falar a Shizuka sobre isso. Mas não sabia se poderia... se ela estava pronta para ouvir o que Kurama tinha a dizer.
- Essa noite eu tive um sonho... eu não me lembro da maior parte dele... mas me lembro que havia Sakyo... e você também estava lá. E mais duas pessoas. Acho que uma mulher... e um homem de cabelo escuros. Primeiro eu falava contigo... acontecia alguma coisa com Sakyo... depois você sumia... e o homem de cabelos escuros dizia que te matou... acho que... você matava Sakyo... mas você não era você... quer dizer, era você, mas... só na aparência. Foi o sonho mais confuso que já tive. E eu acordei com uma sensação estranha... de que você vai morrer.
Kurama estava atônito. Olhou para ela por uns segundos, se decidindo sobre o que dizer. Por fim:
- Shizuka-san... eu... também sonhei com uma coisa estranha essa noite...
- Com o que você sonhou?
Kurama olhou-a atentamente. Parecia pesar alguma coisa.
- Eu... não me lembro – disse por fim, com uma risada. Shizuka não ficou muito convencida.
- Não mesmo? – perguntou, e dessa vez parecia que ela estava pesando alguma coisa.
- Não mesmo. Vamos voltar lá para dentro? Já devem estar achando que nos perdemos, ou coisa assim – Kurama desconversou. Shizuka resolveu não insistir.
- É, vamos – concordou, seguindo-o para dentro, pensando em como conversar era bom. Tudo resolvido.
Se tudo está resolvido, por que esse bolo na garganta e esse peso no estômago?
Mas Shizuka tratou conscientemente de afastar esses pensamentos nefastos
da cabeça.
Continua...