O Ovo
Sephy-Chan
 

Deslizei pelo quarto quente e apaixonante até o banheiro em total silêncio para não acordar nenhum daqueles ningens que tanto me irritavam constantemente. Entrei no minúsculo recinto e me senti tonto, sabia que precisava de jogar água em minha face afogueada antes que desbancasse no chão. Aquela dor estava me incomodando há horas. Levei as mãos na água bem gelada depois esfregando meu rosto suado. O que estava acontecendo com meu corpo? Olhei minha face vermelha no espelho e assustei com minha própria aparência. Se aquela raposa folgada me visse naquele estado em que encontrava, me jogaria para fora de sua cama quentinha. A dor em minha barriga voltou a doer forte, parece que vai explodir meu estômago. De repente, a dor vai descendo até meu baixo ventre atingindo minhas partes íntimas com insistência. Tenho certeza de que não é vontade de fazer amor com minha kitsune cheirosa. Não faz nem uma hora que havíamos desbancado em sono após aquele ato gostoso. Ouço os passos de Kurama atrás da porta sussurrando meu nome preocupado, respondo dizendo que está tudo bem. Ele era o culpado pelo meu estado deplorável. Olho para minha mão que segurava minhas pernas bambas e me deparo como que mais temia.

- Tem certeza de que está tudo bem mesmo, Hiei? - o olhar preocupado de Kurama me deixa mais nervoso ainda com a situação em que me encontrava.

- Sim, tenho. Me deixa dormir que já vai passar.

Empurro as mãos delicadas dele para longe de meu corpo antes que o fizesse churrasco de raposa.

- Tudo bem, se você é quem diz. Mas se começar a gemer de dor não me peça para ajudá-lo, porque vou estar sonhando tranqüilamente.

Senti um aperto por não conseguir contar a ele aquela novidade, afinal, metade daquilo vinha dele.

- Kurama. - acabei por me render aos pedidos insistentes dele

- Hum.

- Preciso lhe contar algo. - me levantei na esperança de que ele também virasse para mim e me encarasse com aquele olhar tão apaixonado.

- Fala. - foi a única resposta que veio dele sem ao menos virar para mim.

- Pelo que vejo não está muito a fim de saber o que tenho para dizer.

Meu sangue fervia pelo ato de desinteresse daquele Youko safado.

- O que quer que eu faça? - virou para mim sentando na cama.

- Assim está melhor. - sorri maligno para ele que me devolveu um olhar reprovador. - vou direto ao assunto. Eu, ou melhor, nós, temos um ovo.

- Como? - o espanto fora tanto para ele com minha revelação que eu mesmo me arrependi de ter começado aquela conversa. - Que negócio é esse de ovo? E o que eu tenho a ver com isso? Eu sou uma raposa e não uma galinha.

- Não é bem assim, baka. Eu é que criei esse ovo, e você é o culpado. - tive vontade de agarrar aquele pescoço branco e estrangular a falta de consideração dele.

- Mas...

Kurama parou a fala antes mesmo de começá-la. Parecia transtornado com minha declaração. Era melhor que eu explicasse direito.

- As mulheres do país de gelo podem por espontaneidade criarem filhos sem precisarem de qualquer parceiro. Como sou descendente de uma dessas mulheres, jamais pensei que pudesse ter essa capacidade, afinal, sou criação de um amor proibido. Mas, eu acabei por herdar esse poder de minha mãe e disso eu não sabia. E é por isso que você tem haver, pois sem nosso momentos de amor, como poderia ter um ovo?

Olhei para a face apavorada de Kurama e não vi sinal de felicidade pelo que contava. Afastei meu olhar dos olhos esmeraldas dele pela vergonha que sentia e depositei minhas mãos unidas em minhas pernas que se lançavam soltas na cama. Ouvi um gemido que mais parecia de ódio para meus instintos assassinos e vi meu Youko se levantar do nosso ninho de amor caminhado desnorteado pelo quarto iluminado pela lua. Vi sua face mudar várias vezes pela dor que deveria estar sentindo pela minha revelação tão repentina. Suas mãos esfregavam com violência uma na outra como se tentasse acalmá-lo daquela situação constrangedora. Pela primeira vez em minha vida tive arrependimento do que fizera. Nunca desejei magoar a única pessoa que me apresentou o amor e a felicidade que jamais pude conhecer sozinho. Tentei falar algo que pudesse confortá-lo, mas minha ignorância mais uma vez atrapalhara meu raciocínio.

- Quando descobriu isso? _sua voz saiu embargada de tristeza.

- Hoje. Havia alguns dias que sentia dores fortes em minha barriga, porém só hoje que foi sair de meu corpo. Acho que como sou homem, veio em forma de ovo.

- Onde está? - olhou para mim meio desorientado, misturado a uma melancólica tristeza.

Estendi minhas trêmulas mãos que retiraram de meu bolso o pequeno ovo que havia saído de dentro de mim como fruto do amor que sentia por aquela raposa sempre tão amável para um ser desprezível como eu. Kurama tomou o ovo em suas brancas mãos e o levou ao peito, no lado que o coração bate fortemente. Parecia sentir afeto pelo pequeno objeto que continha junto de si. Seus olhos verde-esmeraldas, que estavam quase sem cor, voltaram a brilhar intensamente com aquele ovo dourado protegido por ele.

- Estou tão feliz, koibito. Você não pode imaginar quanto.

Se aproximou de mim. Eu ainda estático com a mudança repentina daquele Youko sempre misterioso, me tocando no rosto suado pela situação que ele apresentara alguns minutos antes.

- Feliz? Pensei que me odiasse pelo que fiz?

Levou o dedo indicador aos meus lábios pálidos e depositou um beijo delicado no ovo que ainda permanecia em seu poder como uma preciosa jóia rara.

- Não foi só você que o fez, eu também tenho participação neste ovo. Ou se esqueceu que estamos juntos há muito tempo? Afinal, essas noites de amor tinham que dar em alguma coisa, não acha, itoshiI? _sorriu maravilhosamente e deitou ao meu lado segurando ainda o fruto de nossa paixão.
 
 

O sol quente penetrou pelo vitral da janela despertando-me para um novo dia. Tinha que me levantar rápido antes que a mãe humana de Kurama viesse chamá-lo para o café. Senti meu estômago revirar de fome enquanto vestia minha roupa jogada no chão frio daquele quarto confortável. Olhei para a face adormecida da raposa e tive vontade de beijar os lábios vermelhos dele com violência. Precisava daquele beijo antes de partir, porém, um objeto brilhante em cima do criado ao lado da cama me chamou a atenção. Realmente não fora só um sonho, havia mesmo acontecido. Toquei no ovo dourado e senti um ki poderoso vir de dentro dele. Sorri pelo ser que ainda estava se formando dentro daquela casca protetora e me adiantei para a saída daquele ninho de amor.

- Aonde vai? _a voz sonolenta de Kurama me fez parar no parapeito antes de pular.

- Estou indo embora, sua mãe pode vir aqui e me encontrar. Não quero complicá-lo muito. - respondi ainda de costas para os olhos sedutores da raposa.

- Mas ela não está aqui, se esqueceu que foram viajar para o campo? _ouvi-o sair da cama quente e se aproximar com as mãos delicadas em minha cintura.

- Então não preciso ir embora ainda? - perguntei infantilmente para ele.

- Claro, koibito. Vem, vamos tomar café.

As mãos sedutoras dele se soltaram de minha cintura e ele voltou-se para o banheiro para se arrumar e preenchermos nossos estômagos vazios. Porém, antes de atingir o banheiro, Kurama fitou o ovo brilhante e pousou uma mão sobre ele com carinho. Depois se virou para mim e sorriu maravilhosamente como se a felicidade finalmente tivesse nos encontrado por completo. Sentei no sofá próximo da janela e fiquei a observá-lo deslizar aquelas mãos hábeis pela casca dourada várias vezes.

- O que será que vai sair daí? Um Hieizinho com cara de mau? Ou um Youko de cabelos vermelhos como o fogo? _desatou a rir das próprias palavras.

- Deixe de ser bobo, kitsune. Sabe muito bem que não faço a menor idéia do que vai nascer desse ovo.

- E quando vai nascer?

- Também não tenho idéia. - me olhou com raiva pela falta de conhecimento sobre nossa própria criação.

- Mas você não sabe nada. Que bela mãe você vai me sair. - se dirigiu para o banheiro com raiva pela minha ignorância.

- Me desculpe se quero ser só o pai. - Kurama parou estático pela minha declaração e se voltou para mim com espanto.

- O que foi que disse? Pai? Eu não vou ser a mãe de um filho que você botou, não mesmo.

- Então... - me levantei caminhando na direção do pequeno ovo brilhante. - Acho melhor matá-lo antes que seja o criador de brigas entre nós dois.

- O que pretender fazer? - tomou o ovo de minhas mãos e enlaçou-o com delicadeza. _Está ficando maluco, baka.

- Está vendo só. Você vai dar uma mãe perfeita. Imagine quando todos do Makai descobrirem que o lendário Youko Kurama é mãe de um bebê koorime? - sorri maligno para ele.

- Não me importo. Porque ninguém é mais feliz lá do que eu neste momento. - beijou o ovo como sempre me fazia antes de partir para longe de sua vida ningen.

- Está me dizendo que...

- Isso mesmo, vou ser a mãe desse bebê criado pelo nosso amor. E se você não quiser ser o pai, não vou me importar em ser mãe solteira. Existem tantas mesmo.

- Deixe de ser idiota, raposa. Eu não vou deixar que o Youko Kurama cuide de meu filho sozinho, não mesmo.

Tentei tomar o meu ovo das mãos daquele ladrão milenar antes que ele fizesse algum mal para aquele ser que ainda nem tinha nascido. Naquela briguinha sem razão o ovo escorregou de nossas mãos se estatelando no chão duro e frio. Olhei para a casca quebrada e depois para a figura de Kurama largada no chão na esperança de salvar nossa criação. Tentei tirá-lo de junto do que restara de nosso amor proibido, porém, parecia insano demais para perceber que não havia mais nada para se fazer com relação aquele ovo.

- Não Hiei, não pode ter acontecido isso. Ele nem mesmo nasceu para conhecer nosso mundo. - as lágrimas já corriam soltas pela face apavorada de Kurama.

- Esqueça. Não podemos fazer mais nada. - foi quando olhei para debaixo do criado e vi um pequenino ser mexendo com dificuldade. - Kurama, olhe. - apontei para onde se encontrava o minúsculo corpo.

- Meu deus. - Kurama tomou-o na mão e podemos ver um pequeno menino chorar de frio e medo pela sua saída repentina daquela casca protetora. - Olhe, Hiei. Ele não é lindo?!

- É sim, kitsune.

Abracei Kurama com carinho e deixei-me sorrir pela felicidade que estava dando ao meu único amor. Sabia que nossa alegria estava completada com aquele pequeno ser que resmungava nas mãos quentes e delicadas do Youko.



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