Nívea
Kenshin olhou para o pote de mel que levava em uma das mãos
e depois para as sete garrafas de saquê que estavam na cesta, em
sua outra mão. Não achava certo o mestre da arte Hiten Mitsurugi
Ryu ser um pau d'água. Nem entendia para que era o mel. Certamente,
para misturar com álcool. Mas, na verdade, nunca se importou muito
em atender aos pedidos incoerentes de Hiko. Tinha perdido a conta de quantas
vezes o mestre mandara-o buscar comida e, após caminhar léguas
até a cabana, Seijuurou dizia que estava sem fome nenhuma. Procurava
não tomar isso como ofensa. A distância e a frieza que o mestre
demonstrava já magoava o suficiente.
"Pronto! Trouxe tudo que pediu."
"Pedi? Eu mandei! Pegue um copo para você!"
"Não, obrigado!"
"Pegue a porra do copo e encha! Não perguntei se você queria. Bote para mim também."
"Não gosto de beber."
"Ah, não? Vi você bebendo com Sanosuke um dia..."
"Estávamos comemorando. Era uma ocasião especial. Ele tinha vencido Saitou, e o senhor sabe como Sano o odeia..."
"Pode usar você como tratamento, Kenshin. Por enquanto. Me diga uma coisa, quem come quem nessa história?"
"O quê?"
"Vai se fazer de desintendido, é? Uma amizade forte assim... Óbvio que são amantes!"
"Que absurdo! Sano é um amigo fiel e me entende, por isso nossa amizade é forte. Eu o amo; e se trata de um amor puro, como irmãos."
"Dois homens não podem se amar! Podem fazer sexo, mas, amor? É impossível!
Kenshin sentiu a garganta apertar. Havia muito tempo que não chorava, mas tudo que queria era deixar as lágrimas mancharem seu rosto. Não por ele. Sua relação com Sano estava incompleta. Não fora consumada e, acreditava, jamais seria. Conheciam-se tanto que, caso provassem o corpo um do outro, a amizade acabaria. Mas, seu amigo, ele compreendia. Estava no mesmo patamar que ele, por assim dizer. Porém, Hiko parecia-lhe inatingível.
Fixou o olhar no homem a sua frente. Achava-se uma criança quando estava na sua presença. Seu mestre era um homem magnífico. Não existia dubiedade nele, apesar do belo rosto. Ainda assim, era um rosto de homem. Nunca tinha visto corpo igual. Os músculos que o formavam chegava a oprimir, em sua perfeição. Não deixou de pensar que Hiko poderia ser baixo, para macular sua virilidade. Nem isso. Era alto, imponente. O tipo de macho que as mulheres admiram a aparência, mas não conseguem suportar a personalidade. Seijuurou era um macho, na implicação máxima da palavra e, como tal, estava destinado aos homens.
"O senh... você está enganado! Dois homens podem se amar sim, e não precisam dormir juntos para isso, porque os sentimentos..."
"O que você sabe, aprendiz estúpido? Lembre-se que leio
as emoções melhor que ninguém."
"Decifra as emoções dos outros, Hiko! E as suas? Estáo
enterradas onde?"
"Em lugar nenhum. Não se pode enterrar o que nunca chegou a viver."
"Então, se eu morresse agora, para você, seria indiferente?"
"Não! Criei você, Kenshin. E, apesar de me contrariar com frequência, te admiro. Nosso relacionamento não presta, mas..."
"Sei! Ensinou-me quase tudo e me considera um filho."
"Filho? Que heresia!"
"Heresia? Não me acha digno o bastante? Perdeu a memória? Na sucessão de Mitsurugi eu quase o matei e..."
"Como posso considerá-lo meu filho? A vontade que tenho de te
conhecer..."
"Mas você já me conhece há muito tempo, mestre."
"Puta merda! Vá ser ignorante assim..."
"Seijuurou, você está bem? Já bebeu demais, não quer dormir?"
"Quer que eu durma?"
"Hein?"
"Você entendeu!"
"Escute, mestre! Você está embriagado! Não sabe o que diz! Como pode me desejar se, lembro-me bem, quando vou te abraçar, sempre sou repelido como se fosse um leproso?"
"Vejo que não aprendeu a ler as emoções devidamente,
Kenshin!"
Os lábios de Hiko estavam entreabertos, molhados. Olhava para
o Retalhador, que já não era mais impiedoso, como ele. A
compaixão, agora, estava lá, enfraquecendo-o. Porém,
o desejo mostrava-se o mesmo. Até mais, posto que seu discípulo
tornara-se um homem belíssimo. Avançou, derrubando o copo
com seu movimento brusco.
"Por favor, mestre! Isso é insensatez! Eu não quero!"
"Tem certeza?"
"Tenho!"
"Não me importa!"
Braços poderosos fez com que se deitasse de bruços. Foi
despido com brutalidade, sua nuca entre os dentes de Hiko, como se este
fosse um felino soberbo, com as garras arranhando sua pele enquanto destruia
o pouco que ainda o cobria.
Suas pernas foram separadas pelos joelhos daquele verdadeiro tigre, sorrateiro e impassível. Ia protestar, mas sentiu um líquido aderir a sua pele. Olhou sobre seus ombros, e viu o pote que continha substância tão doce caído no chão. A tentativa de colocar os pensamentos em ordem falhou. Sentiu a língua do mestre devassando sua intimidade, e ela estava escorregadia ao extremo, devido ao mel. Abriu-se mais, para desfrutar daquela sensação, mas foi invadido de súbito.
Não conseguiu apoiar-se mais nas mãos. Afundou o rosto no piso frio, quando o falo imenso, grosso, o transpassou inteiro, fazendo-o gemer alto, completamente inebriado.
Tentou recuperar a posição inicial, mas os lábios de Hiko fecharam-se em sua cicatriz, com tal voracidade, que sentiu o sangue escorrer dela, como no dia em que foi feita. Que imoralidade! Seu sexo estava rijo, dolorido, roçando de encontro ao chão, enquanto era subjugado de forma tão vergonhosa.
Os gemidos do macho incomparável que o possuia eram semelhantes
aos de um animal ferido, agonizante. Continham um desespero incognoscível
para ele. As estocadas, de uma violência indizível, dilaceravam-no.
Ia gozar, mas Seijuurou saiu de dentro dele.
Foi virado de barriga para cima, sua ereção ao ponto
de explodir. Hiko apertou a base de seu sexo, retendo o sangue. Deus! Seu
pau estava imenso! A glande estava quase ígnea, alterada, como fogo.
As veias emolduravam toda a extensão do seu membro, dilatadas, aumentando
seu volume, pressionando-o...
Estava crente que se tratava de mais um teste, de mais uma humilhação,
quando sentiu uma coisa apertada, macia, úmida, deliciosa, envolver
aquilo que despontava, com uma urgência que jamais sentira, entre
suas pernas. Abriu os olhos, para contemplar o espetáculo que tinha
diante de si.
Aquele homem perfeito, cuja auto-confiança jamais alcançaria,
inclinou-se sobre ele e o beijou, machucando seus lábios. E machucando-se,
a medida que se deixava penetrar de maneira tão áspera, rasgando
sua própria carne.
Sentiu o sangue de Hiko escorrer em sua virilha. O mestre mantinha-se
ereto, a beleza personificada, enquanto engolia seu sexo com o corpo.
Ergueu-se até encostar a cabeça no tórax vigoroso
de Hiko, envolvendo seu corpo, acariciando seus longos cabelos castanhos
enquanto gozava dentro dele, encharcando-o.
Ouviu um gemido profundo, que acompanhou os jatos que atingiam sua
boca aberta, inundando-a com aquele sêmem delicoso. Nunca experimentara
prazer tão intenso. Já nem sabia o que proporcionava mais
êxtase. Ter um homem dentro de si ou possuí-lo.
Estava em cima do corpo de seu mestre, agora. A cabeça apoiada logo abaixo de seu queixo, repousando em seu pescoço.
"Por que esperou tanto, mestre?"
"Não era nem para acontecer."
"Lamenta?"
"Sentir você foi a melhor coisa de minha vida, Kenshin!"
"Então, me ama?"
"Não."
"Como não? Eu te amo! Se disse que me..."
"Incorrer em erro tão grave é um desastre, Battousai! Você não me ama. Admira-me, porquanto sou seu mestre e sou o melhor, e deseja-me, assim como o desejo. Não diga que ama com tanta displicência."
"O que acabamos de compartilhar não significa nada para você?"
"Significa! Bastante! Mas, como disse, dois homens não podem se amar."
"Podem sim, mestre! Mas você precisa querer amar e ser amado."
"Eu quero! Acredite, eu quero! Mas não posso."
Kenshin não suportou ver tamanha desolação desfigurar o rosto daquele que sempre mostrou-se impenetrável. Cobriu os lábios de Hiko com os seus, deixando a língua explorar, devagar, carinhosamente, a boca que, em toda a sua vida, servira apenas para proferir palavras duras e amargas.
Seu mestre podia apenas machucar, como sua espada. Jamais matar. Sua lâmina também era voltada para si mesmo, afinal. Não continuou com os pensamentos. Braços perfeitos, braços que nunca deixou de cobiçar, já deslizavam por suas costas, suavemente, despertando seu corpo mais uma vez para... o amor?