Um Tropeço para a Liberdade
Wings Of Mind
 

Parte 1
 Como de costume, o despertador tocou intermitentemente de manhã. Ainda de olhos fechados, Sakura tateava por sobre a cabeceira da cama para descobrir o que é que estava fazendo tanto barulho. Após desligar o despertador, ela se esforçou para poder abrir os olhos e relutantemente conseguiu se levantar da cama. Sentindo-se bastante sonolenta ela olhou em direção à Kerberus, que assistia o sacrifício matinal de sua protegida.
 - Meus parabéns! Por um momento pensei que não fosse conseguir se levantar. -- Comentou o pequeno guardião.
 Sakura franziu a testa e encarou Kerberus, indignada com seu comentário. Sakura estava nitidamente de mau humor, ela se arrumava para ir à escola fazendo gestos bruscos e demonstrando irritabilidade.
 - O que houve? Que bicho te mordeu? -- Perguntou Kero.
 Essa pergunta só deixou Sakura ainda mais irritada, fazendo-a fechar o armário com violência.
 - Não vai falar comigo? -- Insiste Kero, deixando Sakura ainda mais impaciente. -- Não vai me dizer que está irritada só por causa do que aconteceu ontem?
 Sakura parou o que estava fazendo e virou-se de punhos cerrados para Kero, se contendo para não perder a compostura. Kerberus entendeu a mensagem, mas mesmo assim não se sentiu intimidado pelo comportamento da menina.
 - Eu é quem deveria estar aborrecido, você sempre se esquece das minhas necessidades. Ainda bem que você não tem um animal de estimação, ou senão o coitadinho iria sofrer nas suas mãos. -- Diz Kero, se fazendo de vítima.
 Sakura encarou Kero olho a olho e começou a rosnar baixinho para ele. -- Mas precisava comer a torta que o Yukito fez especialmente para mim? O que vou dizer para ele se me perguntar do que achei do doce?-- Descarregou a menina.
 - Ah! Você pode dizer que estava extremamente deliciosa! -- Diz Kero com um sorriso de satisfação ao se lembrar do gosto daquela torta.
 Sakura estava a ponto de explodir de raiva, mas antes que perdesse a linha ela pegou seu material e foi tomar o café da manhã.
 - Quando voltar me traga algo doce para comer. -- Pediu Kero, que em resposta viu a porta do quarto ser fechada violentamente na sua cara. -- Mas que temperamento tem essa menina...
 Sakura desceu correndo as escadas e ao entrar na cozinha foi logo criticada pelo irmão.
- Precisa fazer tanto barulho para acordar? Quase que bota a casa abaixo. -- Disse Touya.
 - Me dá um tempo! -- Diz Sakura, indo se sentar sem cumprimentar a família.
- O que houve? A monstrenga acordou de mau humor? -- Provoca o irmão.
- Acordei sim! E daí? -- Descarrega Sakura, surpreendendo a todos.
- Sakura... -- Diz Fujitaka, olhando seriamente para a filha.
- Desculpa. -- Lamenta Sakura, abaixando a cabeça em arrependimento. -- Me desculpa, Touya.
 O irmão nada disse, apenas olhou preocupado para a irmã e continuou a tomar seu café. Apesar das constantes provocações, ele sabia respeitar os sentimentos de Sakura.
- Há algo de errado Sakura? -- Pergunta o pai, demonstrando preocupação pela menina.
 Na verdade havia algo que a incomodava, mas estava relacionado a um segredo que ela compartilhava apenas com sua fiel amiga Tomoyo. Sakura imaginava se um dia conseguiria revelar este segredo à sua família. Talvez o mais correto fosse confiar neles, embora isso pudesse implicar em algumas complicações e ainda envolve-los em um problema que era de sua responsabilidade. Por hora ela achou melhor manter sigilo, ainda era cedo para decidir sobre isso, afinal, não faz muito tempo que se tornou uma Card Captor. Sendo assim, ela não pôde contar ao pai sobre o que a incomodava, por isso se manteve respeitosamente em silêncio.
 Sakura se remoia de vergonha pelo o que havia ocorrido na hora do café, e de raiva também, culpando Kero por tê-la feito passar por aquela situação. A caminho da escola Sakura imaginava mil maneiras de castiga-lo. Enquanto isso, Kero observava a menina pela janela e lamentava por ela tê-lo deixado com fome.
- Se ela pensa que pode me deixar sozinho em casa passando fome, está muito enganada. Quem ela pensa que é para me manter preso neste quarto? Afinal eu sou o guardião do livro Clow, sou suficientemente capaz de me cuidar. -- Kero estava pensativo, mas ainda relutante em tomar aquela decisão. Mas por fim deixou que seu orgulho falasse mais alto. -- É isso aí! Vou sair pela cidade em busca de comida e um pouco de diversão.

Parte 2

 No intervalo da escola Sakura se encontrava bem mais tranqüila, e disposta a discutir o assunto com sua estimada amiga.
 - Eu ainda não acredito que apesar de tudo o que fez, ele sequer se mostrou arrependido. -- Desabafa Sakura.
 - Você esta falando do incidente de ontem à tarde? -- Pergunta Tomoyo já sabendo pela resposta.
 - É... Ele não deveria ter feito o que fez. Se ele quisesse um pedaço da torta eu teria dado, mas precisava comer ela toda? Eu gostaria que ele tivesse tido uma indigestão. Aquele guloso!
 - Talvez você devesse olhar do ponto de vista dele.
 - Tomoyo... -- Diz Sakura, não acreditando que sua própria amiga esteja defendendo o pequeno glutão.
 - Você sabe que estou sempre do seu lado Sakura, mas acho que dessa vez você deveria dar um pouco de razão ao Kero. Afinal não deve ser fácil passar o dia todo se escondendo das demais pessoas.
 - É verdade, não deve ser fácil para ele. Mas ele também não precisava ser tão arrogante.
 - Talvez ele esteja somente querendo te chamar a atenção.
 - Pode ser. O Kero é um guardião muito mimado.
 Sakura se sentia ainda mais aliviada. A grande vantagem de se ter uma amiga como a Tomoyo é que ela é bem mais consciente, não se deixando levar facilmente pelos sentimentos. A compreensão é sua maior virtude. Agora a raiva que Sakura sentia por Kero passou a se tornar um sentimento de culpa. Ela estava sentindo pena de seu pequeno amigo, embora no fundo ainda não o tenha perdoado por ter comido a torta feita pelo seu amado Yukito.

 Neste meio tempo Kerberus se mantinha no pedestal da janela, tomando coragem para sair fora de casa. Ele estava naquela condição por horas, por um lado ele queria sair de casa para provocar a Sakura, mas por outro ele estava relutante por não saber ao certo o que poderia lhe ocorrer depois. Após tanto hesitar ele finalmente pula da janela e ganha a liberdade para voar pela cidade.
 Kerberus não duvidava de sua valentia, sabia que não havia desafio que pudesse lhe preocupar. Porém esse espírito audaz vive em um corpo frágil, que mais se assemelha ao de um bicho de pelúcia. Se ao menos estivesse sob sua forma natural, não teria demorado tanto para tomar a decisão de sair de casa. Ele sempre foi ousado, mas consciente de suas limitações.
 Porém naquele momento pouco lhe importava as preocupações, ele estava voando livremente sobre a cidade de Tomoeda, desfrutando de sua breve independência. Apenas uma questão lhe via em mente, onde poderia encontrar comida sem que chamasse a atenção?
 Do alto ele avistou uma lanchonete com mesas ao ar livre. Se fosse ágil o bastante poderia enganar as pessoas, tomando-lhes a comida sem que o vissem. Esta era a oportunidade que procurava para comer e ainda por cima se divertir.
 - Já sei quem será minha primeira vítima. -- Disse Kero, que notou que havia dois namorados sentados à uma das mesas. -- Com esses dois distraídos vou faturar meu almoço na maior moleza.
 Era degradante ele ter de se rebaixar tanto a ponto de roubar a comida dos outros, mas havia certas ocasiões em que o estômago falava mais alto que a razão. Sorrateiramente, Kero se espreitava entre as folhas do jardim até poder chegar próximo à mesa onde se encontravam os namorados. Os dois olhavam fixamente um para o outro, jamais desviariam suas atenções para o ousado Kero que não hesitou em subir na mesa e comer toda a comida.
 Kero estava muito confiante de si, chegando a ponto de tirar uma rosquinha da mão de um deles. No entanto sua ousadia fora demasiada, despertando a atenção desta pessoa. Kero imediatamente voou para debaixo da mesa e engoliu a rosquinha de uma só vez, por pouco ele não foi pego em flagrante.
 - O que houve com toda a comida? -- Perguntou aquele que teve sua rosquinha tomada.
 - Puxa vida, você nem viu que comeu toda a comida e não deixou nem um pouco para mim. -- Reclamou o outro.
 Apesar de uma bem sucedida escapada, Kero acabou se engasgando com a rosquinha que havia engolido por inteiro. Desesperado demais para se importar em não ser notado ele voou para uma mesa próxima onde crianças tomavam seu lanche. Sem a menor demonstração de educação, ele toma o suco de uma das crianças para poder empurrar a comida goela abaixo.
 - Faz de conta que vocês não me viram. -- Disse Kero, fazendo com que as crianças saíssem correndo, gritando de medo.
 Kerberus se deu conta que não era mais seguro permanecer naquele local. Na mesma discrição que ele chegou à lanchonete, desapareceu entre as folhas do jardim até se sentir seguro para poder voltar a voar. O que ele não havia percebido, era que todas as suas travessuras foram observadas por uma pessoa que estava sentada à uma das mesas ao lado.

PARTE 3

 De volta a sua casa, Sakura chamou por seu amigo Kero enquanto carregava um pequeno embrulho em suas mãos.
 - Kero! Onde você está? Pára de se esconder e aparece logo, Kero! -- Gritava Sakura enquanto o procurava por todos os cômodos da casa.
 Sakura decidiu dar atenção ao comentário de Tomoyo, por isso sentia-se culpada por não ter dado a devida atenção ao seu amigo. Tudo o que queria naquele momento era pedir desculpas à Kero pela discussão que tiveram de manhã. Mas por onde quer que procurasse, Sakura não o encontrava. Ele não estava dormindo na gaveta e nem estava devorando a comida da geladeira. Isso era muito estranho, a menina começava a temer que algo ruim tivesse ocorrido.
 Mas de volta ao seu quarto, Sakura notou um pequeno bilhete sobre sua escrivaninha. Com um pouco de suspeita ela abriu o bilhete e leu a mensagem: "Fui dar umas voltas por ai. Não espere por mim. Fui!".
 - Ai... Mas que irresponsável! E eu preocupada com ele, acabei comprando esse bolo na confeitaria para dar de presente. -- Disse Sakura revoltada, com fumacinhas saindo de sua cabeça.
 Depois de ter andado de um lado ao outro praguejando injúrias contra seu amigo, Sakura procurou se acalmar um pouco e esperar pelo retorno de Kero, enquanto ela comia o bolo que lhe daria de presente.

 Durante todo o dia Kero voou pela cidade em busca de comida e diversão, mas ao final da tarde ele acabou tendo de admitir para si mesmo que tudo não passou de uma grande chateação. Talvez por nunca ter experimentado isso antes ele ficou sem saber bem o que fazer, ou no fundo aquela liberdade era apenas aparente, pois na maior parte do tempo ele teve que se esconder das demais pessoas para que não chamasse a atenção. Seja como for, a noite estava chegando e ele reclamava de fome.
 - Que azar o meu... O mundo todo livre só para mim e não consigo arranjar nem um lanchinho. Acho melhor voltar para casa antes que a Sakura se meta em algum problema. -- Disse Kero que voava pelo parque.
 Enquanto passeava, Kero viu algo que lhe chamou a atenção. Era uma torta que parecia ser deliciosa, só que ela estava debaixo de um caixote apoiado por um graveto com um barbante amarrado numa das pontas. Era óbvio que se tratava da mais precária de todas as armadilhas, algo que só era visto em desenhos animados de tão rudimentar que era. Mas apesar de Kero saber disso, a torta lhe parecia ser extremamente apetitosa. Ele se aproximou mais para observar e sentiu o cheiro irresistível que o atraiu para o interior da armadilha.
 - Eu preciso ser forte! Devo ter força de vontade! -- Dizia Kero para si mesmo ao caminhar em direção à armadilha, como se estivesse hipnotizado.
 Kero bem que se esforçou para resistir, mas acabou cedendo à tentação e foi vergonhosamente capturado. -- A Sakura esta certa. Preciso controlar essa minha gula. -- Lamentou Kero no interior do caixote.
 Por detrás das moitas surgiu um menino pulando de alegria por ter sido bem sucedido em sua caçada. -- Finalmente o capturei! Fiquei atrás de você o dia todo esperando por essa oportunidade.
 - Quem está aí? É só um moleque? Mas afinal, o que você quer de mim? -- Perguntou Kero, que só podia olhar através de uma das frestas do caixote.
 - Eu quero sua magia! -- Respondeu o garoto.

PARTE 4

 - Quer dizer que ele ainda não voltou? -- Perguntou Tomoyo que falava com Sakura ao telefone.
 - Pois é. Só espero que ele não tenha se metido em alguma encrenca. -- Disse Sakura deitada sobre sua cama.
 - Será que ele ainda se sente magoado com você?
 - Não sei. Mas estou começando a ficar preocupada, ele nunca ficou fora de casa por tanto tempo assim.
 - Não acha melhor sair para procura-lo? -- Pergunta Tomoyo.
 - Hoje não vai dá, sabe, enquanto fiquei esperando pelo Kero acabei comendo todo aquele bolo que havia comprado pra ele, agora estou com uma dor de estômago terrível. -- Reclamou Sakura massageando sua barriga.
 - Que tal se sairmos bem cedo amanhã para procura-lo? Amanhã não temos aula mesmo. -- Sugeriu Tomoyo.
 - Tudo bem. A gente se encontra amanhã cedo no parque do rei pinguim.
 - Está combinado, amanhã a gente se fala. Vê se você se cuida, tudo bem?
 - Ah sim, claro. -- Respondeu Sakura embaraçada, pois sabia que a amiga se referia à sua indigestão. Sakura queria responsabilizar Kero por isso também, mas na verdade ela estava começando a se preocupar com seu pequeno amigo.

 - Finalmente consegui capturar um espírito do bosque! -- Disse o menino todo orgulhoso, que carregava Kero em uma gaiola enquanto caminhava para sua casa.
 - Ah, mas você está enganado rapaz. Eu sou apenas um brinquedo movido a pilha. -- Disse Kero, tentando convencer o garoto do contrário.
 - Não me venha com mentiras, nunca vi um brinquedo que fosse capaz de falar como você.
 - Bom, é que eu sou o protótipo de um brinquedo ultramoderno, sou o único do gênero.
 -- E desde quando um brinquedo precisa comer?
 - É... Fonte alternativa de energia. -- Respondeu Kero, se complicando ainda mais em suas mentiras.
 - E precisa comer tanto assim?
 - Ora seu moleque! O que você está insinuando? -- Disse Kero revoltado.
 - Não seja tolo, nunca irá me convencer do contrário. Eu andei te observando já faz um tempo, estou surpreso por não estar se lembrando de mim.
 Realmente, para Kero aquela pessoa não lhe era estranha. Foi quando ele se recordou do que havia ocorrido no dia anterior, quando Sakura e Tomoyo foram ao parque fazer um pic-nic. As duas meninas estavam sentadas sob uma árvore, prontas para fazerem o lanche, mas ao abrirem o cesto encontraram Kerberus com a barriga cheia e um sorriso de satisfação em sua face. Sakura ficou irada e quis pegar Kero a todo custo, e este, notando imediatamente a situação de perigo, voou para bem longe fugindo da menina que corria logo atrás. Por um momento os dois se esqueceram que pessoas poderiam presenciar aquela cena, e num dado momento Kero dá de cara com um menino, vindo então a tombar no chão. Sakura estava aflita, não sabia que explicação poderia dar, porém, por sorte, nem foi preciso. O garoto pegou Kero que estava desnorteado no chão e o entregou para Sakura, dizendo: "Acho que seu brinquedo perdeu o controle". Sakura concordou com o menino e ficou toda vermelha de vergonha.
 - Então foi isso, nos encontramos no parque! Mas porque você não me levou embora naquela hora mesmo? -- Perguntou Kero.
 - É que naquela hora eu ainda não havia percebido que você poderia me ser útil. -- Explicou o garoto.
 Chegando em sua casa o menino colocou a gaiola por sobre a penteadeira de seu quarto e começou a por em prática seu plano. -- Agora que você me pertence terá que realizar os meus desejos.
 - O que o faz pensar que irei obedecer a suas ordens. -- Diz Kero indignado.
 - Essa é a lei dos espíritos do bosque, uma vez capturado tem que realizar meus desejos com sua magia.
 - Magia? Bom, mas acontece que... -- Kero iria dizer algo, mas naquele momento ele viu uma boa oportunidade para se tirar proveito da situação. -- Bem, é que para utilizar magia eu preciso de muita energia, e só irei conseguir energia suficiente só depois de comer bastante.
 - É... Faz sentido. Mas se esta for mais uma de suas mentiras, saiba que eu irei fazer você se arrepender mais tarde. -- Ameaçou o rapaz.
 - Que coisa feia... As crianças não deveriam duvidar da sinceridade dos espíritos do bosque. -- Disse Kero de braços cruzados, demonstrando desapontamento com o menino.
 Kero estava sendo convincente, pois conseguiu fazer com que o garoto se sentisse arrependido, fazendo-o trazer em seguida um caprichado prato de comida. Diante àquelas circunstâncias, Kero preferiu adiar temporariamente sua volta para casa, afinal, aquela era uma oportunidade única que não poderia ser desperdiçada.

PARTE 5

 Conforme combinado na noite anterior, Sakura e Tomoyo se encontraram pela manhã em frente ao escorregador do rei pingüim.
 - Como está se sentindo Sakura? Está melhor? -- Pergunta Tomoyo, preocupada com o bem estar da amiga.
 - Ah, sim. Sinto-me melhor agora. -- Respondeu Sakura, cheia de entusiasmo.
 - Que bom. Estava preocupada com você.
 - É, mas esta tudo bem agora -- Diz Sakura encabulada. -- Mas de agora em diante nunca mais compro bolo daquela confeitaria.
 - Mas a culpa não foi deles Sakura, você não deveria ter comido tudo sozinha.
 - É verdade. -- Disse Sakura, ainda mais encabulada, com uma pequena gota escorrendo de sua testa.
 - Muito bem, por onde vamos começar a procurar o Kero?
 - Se bem o conheço, ou ele arranjou um lugar bom para comer ou um lugar para brincar com seus jogos eletrônicos. -- Pensa Sakura.
 - Isso se ele não estiver em apuros. -- Lembra Tomoyo.
 - Nem diga isso. -- Disse Sakura demonstrando preocupação pelo amigo.
 - É verdade, ele é muito esperto. É mais provável que esteja só te provocando. -- Confortou Tomoyo. Tomoyo pensou um pouco sobre o possível paradeiro de Kero, mas algo a preocupava. -- Tomoeda é uma cidade muito grande, Sakura. Por onde iremos começar a procurar o Kero?
 - Bem, levando em conta que é o Kero, acho que ele seria preguiçoso demais para voar muito longe daqui. -- Disse Sakura, menosprezando a capacidade de Kerberus.
 - Sakura... -- Contrariou Tomoyo, de braços cruzados e com um leve sorriso no rosto.
 - Mas é verdade Tomoyo! Ele nunca saiu de casa, duvido que ele tenha ido muito longe. -- Explicou Sakura, com uma teoria mais convincente.
 - Tudo bem então, vamos procurar pelas redondezas e ver o que descobrimos.
 As duas meninas passaram a manhã toda procurando em vão. Elas passaram por todos os locais prováveis de se encontrar o Kero, mas não encontraram nenhum sinal de sua passagem por estes lugares.
 - Procuram alguma coisa? -- Pergunta uma menininha que observa Sakura e Tomoyo olhando por todos os lugares em volta numa lanchonete.
 - Na verdade estamos. -- Disse Tomoyo que tirava da bolsa uma fotografia do Kero.
 - Mas Tomoyo... -- Dizia Sakura balançando os braços em pânico
 - Calma Sakura, confia em mim. -- Disse Tomoyo para a amiga, dando uma piscadela. Neste meio tempo mais crianças se aproximaram em sua volta.
 - Vocês por um acaso viram esse brinquedo em algum lugar? -- Perguntou Tomoyo que em seguida se assustou, pois as crianças deram um grito e saíram correndo de pânico. Na verdade elas se lembravam do Kero no dia anterior, quando ele subiu em cima da mesa e lhes tomou o suco.
 - Puxa vida, não sabia que o Kero era tão assustador. -- Disse Sakura, surpresa com o ocorrido.
 - Mas eu achei que a fotografia estava tão boa. -- Lamentou Tomoyo, com uma gota escorrendo de sua testa.
 As duas meninas continuaram a procurar por Kerberus, mas a cada minuto que se passava elas perdiam a esperança. Elas estavam até mesmo imaginando que ele já estivesse de volta em casa, e portanto aquela busca estava se tornando uma grande perda de tempo. Conforme se aproximava a hora do almoço, Sakura começava a desistir cada vez mais, pois ela tinha muitas tarefas para fazer em sua casa e por isso não poderia continuar a procura-lo.
 - É melhor você voltar Sakura, sei que tem muita coisa para fazer ainda hoje. -- Sugeriu Tomoyo.
 - É verdade. O Kero já tem me arrumado problemas demais, não posso arriscar mais. -- Concordou Sakura.
 - Eu daqui a pouco irei voltar para casa. Só vou dar uma última volta pelo bairro e depois eu chamo as guarda-costas para me buscarem.
 Nesse meio tempo um garoto passou entre elas carregando uma pilha de bolos nos braços, quase que passando por cima delas.
 - Isso me lembra um lanchinho rápido do Kero. -- Disse Sakura brincando com a capacidade do Kero de comer além da conta.
 - É verdade... -- Disse Tomoyo bastante pensativa.
 - Algum problema Tomoyo? -- Pergunta Sakura, curiosa com aquele olhar misterioso da amiga.
 - Não é nada não, é melhor você voltar para casa e resolver seus problemas. Mais tarde a gente se fala por telefone, tudo bem? -- Disse Tomoyo que aos poucos foi distanciando da amiga para seguir o menino dos bolos.

 O menino voltou para sua casa carregando todos aqueles doces, na esperança que isso pudesse satisfazer o apetite voraz do faminto espírito do bosque. De volta ao seu quarto, Kero esperava ansiosamente agitando freneticamente as grades de sua gaiola.
 - Finalmente você voltou! Como espera que eu realize alguma magia se me deixa aqui morrendo de fome. -- Reclamou Kero injuriado.
 - Mas eu deixei uma montanha de comida para você antes de sair! -- Disse o garoto espantado.
 - Sabe, é como dizem, um espírito grande tem um apetite enorme.
 - Isso pude perceber. -- Disse o menino com uma mão por detrás da cabeça e uma gota correndo pela sua testa.
 - Vejo que trouxe meu lanche. Já estava na hora! -- Disse Kero impaciente.
 - Lanche !? Bom, é... Espero que seja o suficiente.
 - Não, não é. Mas acho que vou ter que me contentar com isso por enquanto. -- Disse Kero com total arrogância.
 - Só que, por favor, faça menos barulho. Meu padrasto não pode saber que estou te escondendo aqui.
 - Você tem um padrasto é? -- Pergunta Kero, curioso por saber mais sobre seu seqüestrador.
 - Depois que meu pai faleceu minha mãe se casou com ele, mas infelizmente não demorou muito e logo ela se foi também. Agora estou sozinho com meu padrasto cuidando de mim. Ele não costuma ficar muito tempo em casa, mas tem sido muito atencioso comigo. -- Explicou o menino, com os olhos lacrimejando.
 - Entendo... -- Diz Kero, compartilhando da dor do rapaz.
 - E é por isso que preciso de você Espírito do Bosque. Eu preciso que você me ajude a rever meus pais pelo menos por uma última vez.
 - Então é para isso que você precisa da magia? -- Disse Kero sentindo o peso da consciência despencar pesadamente sobre si.
 - É sim, espero que possa me ajudar. Estou contando com você. Mas por hora, alimente-se bastante para que ganhe muita energia. Enquanto isso vou ver o que mais posso arranjar para você. -- Disse o menino, levantando-se para buscar mais comida.
 - Espere, não será necessário. O que tem aqui já é o suficiente. -- Disse Kero, que repentinamente perdeu todo seu apetite.
 - Mas você me disse... -- Dizia o garoto até ser interrompido por Kero.
 - Nunca contrarie um espírito do bosque! Estou dizendo que você não precisa se preocupar mais em me trazer comida. -- Afirmou Kero, tentando amenizar a situação que havia se metido.
 Kerberus nunca havia se sentido tão imundo por dentro em toda sua vida. Seu maior desejo era o de nunca ter pulado do pedestal da janela do quarto da Sakura. Ele nunca deveria ter iniciado essa aventura maluca. Agora ele era prisioneiro de um menino o qual ele sequer podia culpar pelo o que fez. O pior de tudo é que ele alimentou a ilusão do pobre rapaz, e revelar toda a verdade naquele momento iria apenas ferir ainda mais seus sentimentos. Kero estava em uma situação muito delicada.

PARTE 6

 - Oi Tomoyo! Tudo bem com você? Hoje você foi indo embora e nem deu um tchauzinho. -- Disse Sakura ao atender ao telefone celular naquela noite.
 - Sakura, eu saí daquele jeito porque resolvi seguir aquele menino dos bolos. Lembra dele? Achei muito estranho um menino carregar tantos doces, na hora imaginei que ele pudesse estar levando tudo aquilo para o Kero. -- Se explicou Tomoyo.
 - E era para o Kero mesmo? -- Pergunta Sakura.
 - Não dá para ter certeza, mas não me parece que ele pretende dar uma festa. Acho melhor nós voltarmos lá agora à noite e verificarmos. -- Sugere a amiga.
 - Você diz espionar a casa do menino? -- Diz Sakura sentindo o embaraço.
 - Mas é claro. E já tenho em mente uma boa roupa para você usar.-- Diz Tomoyo, que escuta a Sakura tombar no chão do outro lado da linha.

 Pouco tempo mais tarde as duas amigas estavam em frente à casa do menino, onde provavelmente Kero poderia estar. Como sempre, Tomoyo trouxe uma roupa especial para aquela situação. Sakura vestia um traje negro com detalhes em dourado, com uma capa azul presa por um laço vermelho na frente, uma saia preta curta para que lhe permitisse maior mobilidade, um par de meias azuis que chegavam até o joelho, também calçava um par de tênis preto e por fim uma boina lilás com um broche em forma de asa completava seu visual.
 - Sakura, você não faz idéia de como está maravilhosa. -- Diz Tomoyo com os olhos brilhando de alegria.
 - Imagino... -- Diz Sakura sentindo estar sendo consumida pela vergonha.
 Sem mais demora Sakura faz uso da carta salto e começa a pular em volta da casa, de janela em janela na esperança de encontrar seu amigo Kero. Para sua surpresa ela percebe que há uma gaiola no que parecia ser o quarto do menino. Sakura pula novamente para observar melhor e descobre que Kero estava preso dentro daquela gaiola.
 - Sakura, descobriu alguma coisa? -- Perguntava Tomoyo que filmava tudo de lá de baixo.
 - Tomoyo, você não vai acreditar, mas o Kero foi feito refém daquele moleque. -- Responde Sakura indignada.
 - Coitado do Kero... -- Lamenta Tomoyo.
 - Se bem que ele não deve estar sofrendo muito com todos aqueles doces para comer. -- Diz Sakura, tentando entender em que tipo de situação que seu pequeno amigo foi se meter.
 - Precisamos entrar e resgata-lo! -- Afirma Tomoyo.
 - A janela dele esta aberta, acho que vou entrar e dar uma lição naquele menino. -- Disse Sakura com coragem.
 - Não vai ser preciso. As luzes da escada se acenderam e estou vendo ele descer. Essa é nossa oportunidade de entrarmos sem sermos vistas.
 Ainda com a carta salto, Sakura segura Tomoyo entre seus braços e a leva consigo até a janela do quarto do garoto seqüestrador.
 - Sakura! -- Grita Kero com entusiasmo.
 - Kero! Está tudo bem com você? Ele te fez algum mal? -- Pergunta Sakura preocupada.
 - Está tudo bem Sakura, ele não é mau. É melhor você se esconder antes que ele volte. Mais tarde eu te explico tudo. -- Disse Kero. Sakura não entendia muito bem, mas preferiu seguir o conselho do amigo e se esconder com a Tomoyo no banheiro.
 Um minuto mais tarde o garoto estava de volta ao seu quarto, e notou que Kero estava um tanto inquieto. -- Algum problema com você? Está sentindo alguma coisa?
 - Está tudo bem comigo. -- Respondeu Kero, disfarçando sua preocupação.
 - Ótimo. Espere-me enquanto eu vou tomar um banho. -- Disse o jovem indo ao banheiro.
 Kero concordou em esperar, afinal, ele estava preso na gaiola, não havia meio dele sair dali. Mas foi só depois de pensar nisso que ele se deu conta que o menino havia dito que iria tomar banho, e isso era no banheiro em que Sakura e Tomoyo estavam escondidas.
 As duas meninas estavam debaixo do chuveiro, ocultas por uma cortina. Ao ouvir que o garoto iria tomar banho, Sakura fez menção de olhar por uma das brechas da cortina, mas Tomoyo lhe deu um tapa de leve e olhou brava para que ela tomasse jeito. Foi nesse momento que Kero começou a gritar de dor.
 - O que houve? Você está sentindo alguma coisa, não é mesmo? -- Perguntou o rapaz que voltou correndo para o quarto.
 - Acho que é indigestão. -- Reclamou Kero, fingindo estar passando mal para que o menino não descobrisse as duas escondidas no banheiro.
 - Sabia que isso iria acontecer. Nenhuma criatura seja mágica ou não, pode ser capaz de comer dez vezes o seu peso e não se sentir mal. -- Disse o rapaz, fazendo Kero sentir uma ponta de raiva, mas este preferiu não argumentar contra para não revelar sua farsa.
 - Por favor, me traga algo para aliviar minha dor. -- Suplicava Kero.
 - Espere um pouco que vou te trazer algo. -- Disse o menino saindo do quarto. Aquela era a oportunidade para as duas meninas saírem de seu esconderijo.
 - Kero, vamos sair logo daqui enquanto temos tempo! -- Disse Sakura, tirando seu amigo da gaiola.
 - Certo! Mas antes há algo que você precisa saber. -- Avisou Kero.
 - Você prefere remédio ou chá? -- Perguntou o rapaz de volta ao quarto, que presenciou uma tentativa de fuga em andamento. -- Você! O que faz aqui?
 - Hei! Estou me lembrando de você agora. Nos encontramos naquele dia no parque. -- Disse Sakura, segurando Kero firmemente em suas mãos.
 - Isso mesmo. Foi assim que descobri esse Espírito do bosque, e o capturei para usar sua magia.
 - Magia? Ele não tem magia nenhuma, ele é apenas um monstrinho comilão. -- Disse Sakura, tentando contrariar o menino.
 - Um o quê!? -- Gritou Kero com raiva, obrigando Sakura a tapar sua boca com a mão.
 - É verdade, tudo o que ele sabe fazer é dormir, comer, jogar videogame, comer e... -- Dizia Sakura até que Kero lhe deu uma mordida que a fez dar um grito histérico.
 - Não grite assim! O padrasto dele pode te ouvir. -- Disse Kero.
 - Ele não está em casa. -- Explicou o garoto.
 - Você me mordeu! -- Gritou Sakura.
 - É que você estava me sufocando. Escuta garoto, eu vou satisfazer seu pedido, mas para isso eu peço que me liberte. -- Pediu Kero.
 - Eu não sei se devo confiar em você. -- Disse o rapaz desconfiado.
 - Eu já falei para não duvidar da sinceridade dos espíritos do bosque. -- Disse Kero, mas o menino cruzou os braços e olhou feio para ele. -- Tudo bem, eu sei que não nos demos bem no começo, mas você precisa confiar em mim agora.
 - Está certo Espírito do bosque. Faça o que achar melhor. -- Disse o menino, já sem esperanças.
 - Espírito do bosque? Do que estão falando? -- Perguntou Tomoyo para sua amiga.
 - Não sei, e acho melhor não sabermos. Parece que o Kero está mais enrolado do que imaginávamos. -- Comenta Sakura.
 - Sakura, eu preciso de um favor seu. -- Disse Kero.
 - O quê!? Você me morde e ainda pede minha ajuda? -- Grita Sakura.
 - Ora, foi uma mordidinha de leve, você nem chegou a conhecer meus dentes afiados. Ou acha que eu iria machuca-la de verdade? -- Disse Kero, esperando obter perdão.
 - Tudo bem, o que você está tramando afinal? -- Pergunta Sakura desconfiada.
 - Vamos até lá fora que eu te conto no caminho.

PARTE 7

 Fora daquela casa, Sakura já estava ciente de toda a situação, e também estava muito desapontada com a atitude do pequeno, mas ainda assim achou melhor fazer o que ele pedia. Ela ficou de frente à janela do quarto do garoto e se preparou para usar sua magia.
 - Kero, você acha que isso é certo? -- Pergunta Sakura, duvidosa quanto à moralidade do uso da carta.
 - Não podemos deixar ele assim, e tudo o que ele quer é ver seus pais novamente. Além disso, não se preocupe, não estaremos fazendo nada de ruim se ele não souber que você está usando magia. -- Justificou Kero.
 - Se está dizendo... -- Concordou Sakura, que com um movimento de seu báculo mágico e o lançamento de uma carta no ar, ela fez uso da magia da ilusão.
 No quarto, o menino estava inconsolável. Ele certamente havia perdido a última oportunidade que teria de poder rever seus pais. Só de pensar nisso, seus olhos se enchiam de lágrimas. Mas naquele justo momento um brilho intenso tomou conta do quarto e de uma fonte de luz surgiram as imagens de seus falecidos entes queridos. Sua mãe sorria gentilmente para ele e o pai o olhava com afetuosidade. O garoto não conseguia definir a intensa felicidade que sentia naquele momento, era o momento mais glorioso de sua vida. Após um breve momento, seus pais se despedem e a luz se desfaz. Apesar de ter sido tão rápido, o garoto estava muito feliz e grato pelo espírito do bosque ter cumprido sua promessa.

PARTE 8

 Ainda naquela noite, Sakura e Kero conversaram mais um pouco.
 - Sabe Kero, eu estive pensando sobre suas necessidades. -- Inicia Sakura.
 - Sério?
 - Sabe, estive muito preocupada com você.
 - É... Bom, fico feliz por pensar assim.
 - Pobrezinho, deve ter sofrido tanto nestes últimos dois dias. -- Dizia Sakura enquanto acariciava a cabeça de seu amigo.
 - Oh sim, não faz idéia do sufoco que passei. -- Concordou Kero, aproveitando-se da situação, afinal, se Sakura queria lhe bajular, por que não satisfazer a menina?
 - É verdade... Acho que não se alimentou muito bem nestes últimos dias.
 - Tem razão, estou me sentindo tão fraco... -- Disse Kero, com uma expressão desoladora.
 - Mas não se preocupe Kero! Vou garantir que você fique muito bem alimentado, e em breve estará novinho em folha!
 - Puxa, que bom. -- Disse Kero, começando a desconfiar da excessiva benevolência da card captor.
 - Foi pensando nisso que preparei uma refeição especial para as próximas semanas. -- Disse Sakura entregando uma tigela cheia para ele. -- Mas o que é isso? Vegetais? -- Kero estava desolado.
 - Isso mesmo, coma tudinho. Afinal, não quero que fique doente.
 - Mas Sakura, estes vegetais são muito amargos. -- Reclamou Kero.
 Sakura cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar. -- Eu me preocupo com você, preparo uma refeição rica em vitaminas e proteínas e ainda tem coragem de reclamar? Seu insensível!
 - Calma Sakura, não fique assim. Veja, estou comendo, não é tão mal quanto eu imaginava. -- Disse Kero que mal conseguia disfarçar o desgosto que sentia.
 Sakura demonstrou estar mais feliz ao ver Kero comendo sua refeição especial. Enquanto ele comia, ela se levantou e discretamente desligou a filmadora que Tomoyo havia lhe emprestado para registrar aquela ocasião. "A Tomoyo vai ficar impressionada com a minha atuação", pensou Sakura, que se esforçava para não rir de si mesma.

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FIM



Notas do Autor

 Minha segunda fic de Sakura Card Captors, que quase que não fica pronta. O que aconteceu é que comecei a escreve-la antes de ter assistido o episódio número 15 ("A briga de Sakura e Kero"), e por incrível que pareça a minha fic ficou muito parecida com a história do desenho. Mais desanimado fiquei quando vi que uma das cenas que botei na fic apareceu no episódio 63 ("Uma onda gigantesca"). Eu estava quase desistindo de escrever, mas então tive a idéia de trabalhar mais com os personagens do que com o enredo em si. Por isso a fic não tá lá super original, mas ainda assim tem seu valor. =o)
 É importante avisar que essa fic se passa logo nos primeiros episódios da série. Para ser mais preciso, entre os episódios 06 e 07.
Término em 08/Julho/01



Card Captor Sakura
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