Lágrimas de Chuva

Vi-chan
 
 

Acabara de amanhecer e os primeiros raios de sol iluminavam o quarto, uma leve brisa soprava entre as frestas da janela semi-aberta.

Estavam dormindo, abraçados, o lençol cobrindo seus corpos desnudos. Deitado à esquerda de Heero, Duo mantinha a cabeça apoiada sobre o peito dele, uma das mãos sobre o abdômen, a outra entrelaçada numa mão do amante, que o envolvia pelo ombro.

Duo abriu os olhos lentamente, bocejando. Respirou fundo, e sorriu ao sentir o perfume almiscarado que emanava da pele de Heero. Adorava aquele cheiro...

Já faziam oito meses que estavam juntos como amantes, e o relacionamento se tornava cada vez melhor acompanhando o amor que os unia, crescia a confiança, o respeito e o companheirismo que já havia na amizade entre eles.

Se levantou em movimentos lentos e preguiçosos, tomando cuidado para não acordar Heero, que ainda dormia profundamente, e foi até o banheiro. Após escovar os dentes e tomar um longo e gostoso banho, já estava totalmente livre do sono, e voltou para o quarto.

Heero ainda dormia... "Será que é tão cedo assim?", pensou. Olhando em volta, procurou o relógio e constatou que já eram nove horas da manhã. "Acho que ‘exagerei’ um pouco ontem à noite..." Sorrindo, seus olhos brilharam maliciosos enquanto cenas de algumas horas antes passavam pela sua mente.

Se aproximou de seu amante e sentou na cama, contemplando a beleza dele. Como Heero era lindo... principalmente enquanto dormia... parecia um anjo; tão vulnerável e inocente... Bem diferente de quando estava acordado. Acariciou de leve os cabelos castanhos do rapaz, que se remexeu, abrindo os olhos lentamente. Sorriu ao ver Duo ao seu lado, e pegou sua mão, passando o polegar sobre ela. Os dois se olhavam, o silêncio pairando no ar. Não precisavam de palavras, com tanto tempo de convivência tanto como amigos ou como amantes; um simples gesto, um toque, um olhar, tudo significava muito, e era bem compreendido por qualquer um deles. Os dedos se tocavam, se entrelaçavam, uma mão envolvia a outra, graciosa e lentamente.

O momento foi interrompido pelo insistente "bip" que vinha do lep-top. Imediatamente Heero se levantou, enrolando o lençol na cintura, e sentou-se na frente da máquina, enquanto Duo praguejava baixinho.

- É um e-mail da Aliança.

- E qual é a missão?

- É ... secreta.

- Como assim? – aproximou-se, ficando de pé atrás da cadeira onde Heero estava sentado, e só então notou que ele estava tenso.

- É uma missão MINHA e não posso revelar nada Duo, nem mesmo a você... E... também lhe enviaram um e-mail. – levantou-se, dando lugar ao piloto do Deathcythe.

- Heero... – começou ele, após ler a mensagem, e se virou de frente para o outro, o olhar revelando que estava confuso – Eu estou na mesma situação que você...
O piloto do Wing não disse nada, continuou fitando-o, muito sério.

Duo ficou mais apreensivo ainda ao perceber que a expressão no rosto de Heero estava mudando... e voltando pr’aquela de quando eles se conheceram: fechada, fria, sem emoção. Ou seja... era o Soldado Perfeito. Mas... por quê?

Ainda em silêncio, Heero foi ao banheiro, fechando a porta com força. Duo se encolheu ao ouvir o estrondo, e se sentou na cama, pensativo.

Uns poucos segundos foram suficientes para que chegasse às suas próprias conclusões.

Era óbvio que a Aliança desconfiava de algo, se é que eles já não tinham certeza sobre seu relacionamento com Heero.

O problema era que não aceitariam aquilo, sob hipótese alguma.

Havia outra coisa, da qual só agora Duo se conscientizava: desde que haviam se tornado amantes, Heero deixava de ser o Soldado Perfeito, pois tal não deveria ter emoções. Assim, ficava praticamente impossível controlar o Zero System, e isso ia piorando a medida em que o tempo passava.

Foi então que ele se lembrou das últimas missões que tiveram. Notara que Heero não estava bem, mas apesar da sua insistência, o outro não dizia nada, e também não o deixava ajudá-lo. E na missão mais recente... o piloto do Wing quase chegara a desmaiar. Isso acontecera porque a mente dele não estava "vazia", não estava totalmente concentrada na missão. Por isso o Zero System deixava-o assim!

Eles sempre realizavam as missões juntos, e não havia nenhum segredo entre os dois.

Era óbvio que a Aliança sabia. As missões ‘individuais’; aquilo era um aviso... E também, uma forma de tentarem reativar o Soldado Perfeito.

Queriam acabar com o relacionamento deles.

Duo se encolheu mais ainda, dobrando as pernas e abraçando-as, apoiando a cabeça sobre os joelhos.

Para a Aliança, se aquele problema não fosse resolvido, em conseqüência, novos surgiriam, e a solução para tudo aquilo seria...

Duo escondeu o rosto, com vontade de chorar. Mas não o fez. Talvez fossem apenas hipóteses, mas mesmo assim não gostava de pensar naquilo. Não deveria se precipitar, afinal, só tinham lhes ordenado que realizassem missões separadamente. Mas o que será que estava no e-mail de Heero, para tê-lo deixado tão tenso assim? Será que a Aliança não tinha dito algo a mais?... Bem, não tinha como saber, a menos que perguntasse a ele.

"É melhor eu ir resolver essa missão e me livrar logo disso!", pensou. Se vestiu, e já ia sair quando seu olhar voltou-se para a porta do banheiro, ainda fechada. Heero continuava lá. Com um longo suspiro, saiu fechando a porta do quarto, sem se importar se o outro tinha ouvido o barulho ou não. Se o piloto do Wing não estava a fim de encará-lo, o problema era dele, não seu.

Desceu as escadas e ao chegar na sala, encontrou Chang, Quatre e Trowa. O clima entre eles não parecia dos melhores e Duo ficou mais desconfiado ainda quando pararam de falar ao notar sua presença.

Quatre sorriu, cumprimentando o amigo. – Bom dia.

Seu olhar passou de Wufei para Trowa, e só então o encarou. – Bom dia, Quatre. – não esperou mais e saiu.

* * * *

Heero só saiu do banheiro quando ouviu a porta do quarto se fechando.

O que havia acontecido, afinal?

Aquilo não poderia ser chamado de desentendimento e muito menos de discussão, pois nem sequer falaram alguma coisa.

Ele simplesmente tinha sentido raiva e se trancara no banheiro.

Quase riu. Que cena ridícula! Se trancar no banheiro!

Mas não pôde suportar o olhar de Duo depois do que havia lido. A Aliança foi bem clara em suas exigências. Mas... como explicar tudo a Duo? De que jeito faria aquilo?...

As frases do e-mail ecoavam em sua mente, deixando-o inquieto.

"A partir de hoje, vocês não serão mais uma dupla. E estão cientes do porquê disso tudo; é óbvio.

Cada um terá missões em lugares extremamente afastados, e não poderão revelar nenhuma informação um ao outro, e a mais ninguém!

Sua missão agora é na colônia L7. É SECRETA!

Se mesmo após ler essa mensagem você não voltar a ser o Soldado Perfeito, esqueça que um dia pilotou o Wing. E esqueça também tudo que sabe sobre a Aliança. Do contrário, você morre.

Isso também vale para Duo Maxwell. Esses avisos não estão presentes no e-mail dele e esperamos que você lhe explique tudo.

Nos falaremos novamente após o término da missão."

As íris estavam ‘no chão’, os pensamentos vagando em sua mente. Ficou assim durante longos minutos.

Seus olhos se voltaram para o computador, faiscando de raiva.

Bem... A Aliança tinha descoberto seu relacionamento com Duo... Mas, com certeza, alguém havia ajudado. Afinal, eles tomaram cuidado contra as evidências e (na maioria das vezes) não faziam nada na frente de ninguém. Só alguns deslizes de Duo... Heero sorriu, se lembrando de um desses momentos.

-> FLASHBACK <- Já era tarde da noite, a casa estava silenciosa, todos dormiam. Na verdade, nem todos... [quarto de Duo e Heero]

- Estou com sede...

O piloto do Wing ergueu os olhos, encarando o amante. – Vá buscar água e problema resolvido. - Mas eu não quero ir sozinho... – seu tom de voz era manhoso.

- O que foi? Deu pra ter medo de escuro agora?

Se lembrou das histórias de terror que Wufei tinha contado, horas antes. – Eu estou com medo... – disse ele, fazendo biquinho.

Heero ergueu uma sobrancelha. Duo tentava persuadi-lo. E com certeza, não era só um copo d’água que ele queria pegar na cozinha. – Você normalmente não é tão ‘inocente’ assim...

- Ah, Hee-chan, não me olhe desse jeito, eu só não quero ir sozinho... Só isso...

- Ah... tá...- Onegai...

[cozinha]

Heero puxou uma cadeira e sentou-se, os dedos tamborilando sobre a mesa enquanto observava os movimentos de Duo.

Primeiramente, ele foi até o armário aéreo e pegou um copo, depois foi até a geladeira e, com a garrafa de água numa mão e o copo na outra, fechou a porta empurrando-a com o pé.

Ciente do olhar de Heero sobre si, bebeu a água de olhos fechados, a cabeça pendendo levemente para trás, os cabelos cor de mel, no momento soltos, lhe cobrindo as costas, descendo abaixo do quadril. Uma gota d’água escorreu do canto de sua boca, deslizando até o pescoço.

Heero arfou, virando a cabeça pro lado. Duo foi até ele, com o copo vazio na mão, e sem que este esperasse, lhe deu um beijo. Antes que ‘a coisa esquentasse’, ele afastou o rosto, sorrindo. Colocou o copo gelado na pele quente do pescoço dele, que quase deu um salto.

- Quer, bebê?

- Não me chame assim!

- Ih... Acho que você não quer... – disse ele, irônico. Pôs o copo na pia e a água na geladeira.

Quando Duo estava quase saindo da cozinha, foi surpreendido por Heero, que o puxou, colocando-o contra a parede, os braços estendidos com as mãos espalmadas nos azulejos, uma de cada lado da cabeça dele, deixando-o sem saída.

- Você me provocou... - Heero aproximou seu rosto, roçando seus lábios nos de Duo, descendo até o pescoço. Deslizou a pontinha da língua até a orelha, mordiscando, fazendo o outro gemer baixinho. Ele finalmente o beijou, os lábios se unindo em movimentos praticamente desesperados.

Com isso, Duo se rendeu num completo abandono, enlaçando Heero pelo pescoço, deixando que ele explorasse sua boca com a língua, provando seu gosto suave e quente.

Quando se separaram, ofegantes, os lábios de Duo estavam vermelhos, se curvando num sorriso, os olhos brilhando insinuantes, maliciosos, querendo mais...

- É melhor a gente subir... Antes que alguém nos veja...

- Ah, não... Agora que você começou, não dá mais pra parar não...

Antes que Heero pudesse protestar, Duo o empurrou até que ficasse contra a beirada da mesa, com o corpo dele pressionando o seu.

- Agora é você quem não escapa!

Os dois não perceberam mas, próximo à entrada da cozinha, alguém os observava, boquiaberto com a cena à sua frente.

Heero acabou sentando na mesa, enquanto os lábios de Duo tomavam os seus, as mãos fervendo seu sangue em carícias atrevidas.

"Inconscientemente", Quatre recuou alguns passos e acabou tropeçando em uma planta de vaso que ficava próxima à escada; e chamou a atenção dos dois, que imediatamente pararam o que estavam fazendo e foram até ele.

- QUATRE?! O quê você está fazendo aqui? – perguntou Duo, preocupado com o que ele poderia ter visto.

- E-eu estava sem sono e... e resolvi descer... – respondeu ele, baixando a cabeça após o olhar que Heero lhe dirigiu. Era óbvio que o loirinho vira o que aconteceu na cozinha.

- Sobre o que você viu... – Duo estava meio envergonhado, mas tinha que falar algo. Quatre ia explicar-se, mas ele fez um sinal para que o deixasse falar. – Não diga nada a ninguém, por enquanto. No momento certo, eles vão saber.

Duo subiu as escadas, seguido por Heero.

-> FIM DO FLASHBACK <- Franziu o cenho, pensando. Lembrou-se de que não era a primeira vez que um dos companheiros viram ele e Duo em circunstâncias equivalentes, e que também não fora a última... De repente, as coisas começavam a se encaixar...

Se a Aliança tinha tanta certeza assim, somente alguém que convivia com eles poderia ter confirmado.

- Hn...

Rapidamente, levantou-se e colocou uma roupa. Estava decidido a pôr um fim naquilo tudo. E começaria pelas causas...

No corredor, viu Quatre passando com uma pilha enorme de livros nos braços.

- Bom dia, Heero. – Ergueu as sobrancelhas ao ver a expressão de pura raiva no rosto do soldado perfeito. – Se você está procurando o Duo, ele saiu há pouco tempo...

Heero se aproximou lentamente, os olhos faiscando. – Não. É com você mesmo que eu quero falar...

Quatre recua, temendo o que iria acontecer e acaba derrubando os livros.

Trowa e Wufei, que ainda conversavam na sala, ouviram o barulho e um deles perguntou: - Ô Quatre, o que é que está havendo aí?

Heero o joga contra a parede violentamente e envolve seu pescoço com uma mão, erguendo-o do chão. – O quê vocês andaram falando? – indagou, a voz fria com o gelo, cortante como uma navalha. Enfim, ameaçador.

Quatre tenta erguer as mãos para livrar-se e Heero lhe dá um soco. Um filete de sangue lhe escorre até o queixo. Ele não responde à pergunta do outro, tentando engolir o choro.

Heero aperta ainda mais sua garganta. – RESPONDA!

Trowa ergue uma sobrancelha ao ouvir o berro. Mas logo em seguida dá de ombros. – Heero deve estar discutindo com Duo.

- Impossível. Duo saiu.

Os dois se levantam imediatamente. – QUATRE?? – Chamam os dois, aguardando resposta.

Uma voz embargada sai entre soluços. – Tr... TROWA!!!

Os dois sobem as escadas correndo.

Sem nem ao menos parar de correr, Trowa parte pra cima de Heero e lhe dá um soco no estômago, fazendo com que soltasse Quatre.

Heero encara os dois, com mais raiva ainda e se retira, saindo de casa. Afinal, tinha mais o que fazer do que agüentar dois panacas e um chorão mimado. Era melhor ir resolver aquela missão idiota e também os seus problemas com a Aliança.

Trowa esperou Heero sair para então pôr seus olhos em Quatre, que chorava compulsivamente, encolhido no chão. Se agachou ao lado dele, segurando seus ombros. Esquecendo-se por um instante da presença de Wufei, que os observava sem saber o que fazer, tocou o rosto do rapaz limpando as lágrimas que desciam pelo seu rosto e sussurrou ternamente: - Shh... Calma... (...) Agora, levante--se... – De cabeça baixa, Quatre atende ao seu pedido, e os dois se levantam.

Ainda com as mãos nos ombros dele, Trowa permanece encarando-o, esperando que se acalme. Mas o que acontece é bem o contrário e, inesperadamente, Quatre se atira em seus braços, enlaçando-o pelo tronco e escondendo o rosto de encontro ao seu pescoço, chorando mais do que antes.

Trowa ficou levemente ruborizado, ciente de que Wufei os observava, pasmo. Mas mesmo assim ele envolveu o loirinho num abraço reconfortante. Afinal, o que interessava no momento era Quatre, e não o que qualquer um fosse pensar sobre os dois. Mas não conseguiu evitar que suas faces ficassem mais vermelhas ainda, e observou seu companheiro com um olhar preocupado. Precisava chorar tanto assim?... Precisava, concluiu... Definitivamente precisava... Quatre era muito sensível e estava nervoso; se era assim que ele iria ‘desabafar’, tudo bem...

- Eu não sei o que está acontecendo com o povo dessa casa, mas acho que estou sobrando por aqui... – disse Chang, saindo em seguida.

Lentamente, Trowa desliza um dedo pelas costas do loirinho, subindo e descendo num carinho delicioso. Após algum tempo, o choro foi cessando, mas não completamente. Quatre ergueu o rosto, fitando os olhos de Trowa em silêncio. Tentou falar, com a voz embargada: - Eu... eu...

Não pôde continuar pois os lábios de Trowa se uniram aos seus delicadamente. O beijo era calmo e acolhedor, inebriava o loirinho de modo confortante. – Não é preciso que fale agora... Por enquanto, é melhor você ficar bem quietinho, e quando tiver certeza de que isso passou, nós falaremos sobre o que aconteceu.

Quatre sorriu timidamente com as palavras de seu amante. Apesar de não falar muito, principalmente na frente dos outros, Trowa tinha o dom da palavra certa na hora certa, e mais do que ninguém, ele sabia disso.

- Obrigado, itoshii... Trowa sorriu também e levou-o até o quarto, fazendo com que se deitasse na cama. – É melhor você ficar aqui e descansar, ok? Eu vou descer e pegar um calmante pra você.

Mal se virou para sair, teve seu pulso segurado gentilmente pela mão do loirinho. – Não precisa, eu já estou melhor...

- Mas...

- Por favor, Trowa... – puxou-o para mais perto, de modo que teve de apoiar a mão livre na cama para não cair em cima de Quatre, que o enlaçou pelo pescoço. – Nenhum medicamento poderia superar você... Ninguém consegue mexer comigo desse jeito... VOCÊ é a minha cura... – Buscou seus lábios num beijo apaixonado e faminto; logo sentiu as mãos de Trowa deslizando pelas laterais de seu corpo, entrando por baixo de sua camisa, acariciando seu peito e abdômen. Quatre interrompeu o beijo e sentou-se na cama para livrar-se da fina peça de roupa, em seguida fez o mesmo com a de seu amante.

- Depois não adianta ficar envergonhado se alguém entrar aqui... - Não tem ninguém em casaa... E mesmo que tivesse... DANE-SE! – dizendo isso, Quatre empurrou Trowa, deitando-o na cama e debruçando-se sobre ele.
 
 

* * * *

De repente, Trowa ficou sério. – Sabe?... Acho que você tem razão... – enquanto falava, ia acariciando os cabelos do loirinho. – Nos preocupamos demais em manter nossa relação em segredo, e acabamos não aproveitando certos momentos... Como agora; nós nunca fizemos isso de manhã, era sempre de noite, de madrugada, para que ninguém visse ou escutasse alguma coisa..

Quatre sorriu. – Bem, agora nem adianta mais; o Wufei já deve estar consciente, o Heero... Hn, deixemos ele de lado, não me interesso pelo que ele pensa... e o Duo, do jeito que é, pode até ter percebido antes mesmo de nós começarmos... – Deitou-se ao lado dele, aconchegando-se entre seus braços. Beijou seu peito algumas vezes, antes de apoiar a cabeça ali. – A Aliança não faria nada contra nós, se soubesse?

- Não... A nossa situação é diferente, pois nem eu, nem você pilotamos um Gundam com o Zero System... O problema deles é que a partir do momento em que se apaixona por alguém, novas emoções são vividas, e por isso o Heero deixou de ser o Soldado Perfeito, agora ele sente.

- Ou seja, a mente dele não fica completamente voltada para a missão...

- Exatamente. Bem, ao menos penso eu que ele se preocupa com o Duo, né?

Quatre concordou com um movimento de cabeça.

- Agora que tocamos nesse assunto; por que ele te bateu?

- Não sei exatamente o porquê, mas acho que ele já foi avisado pela Aliança, e pensa que nós somos culpados...

- Ah... eu só espero que ele não tente nada outra vez, senão eu mesmo me encarrego de eliminá-lo, antes que ordenem alguma coisa!

- TROWA!

- Que foi?

- Falando assim, você está parecendo com ele! Esse instinto de vingança... A raiva transmitida pela voz... Não combina com você...

Trowa ergueu uma sobrancelha. – Gomen ne... Acho que acabei te assustando, não é mesmo?

- Não é isso Trowa, eu... – antes que pudesse continuar, foi beijado fervorosamente, o amante explorando cada canto de sua boca com a língua. Quando pararam, o loirinho piscou algumas vezes. – Por que você sempre me interrompe?

Trowa riu, deixando o outro surpreso. Falou num tom cinicamente inocente: - Ué... e você não gosta, por um acaso?

- Ei, ei, ei... ‘Calma lá’!... eu gosto, e muito, de ser beijado por você, mas não de ser interrompido, por ninguém...

- Mas eu só faço isso quando você não sabe o que dizer...

- Nani?

- É – sorriu. – Você se perde nas palavras, e às vezes os gestos são bem melhores pra entender, e para qualquer outra coisa, do que elas...

- ...?

Trowa sentiu vontade de rir novamente da confusão que se via no semblante de Quatre. – Se eu te interrompo e te beijo, ou faço alguma outra coisa, é uma forma de dizer que eu te compreendo, e que não é necessário...

Desta vez foi o loirinho que o interrompeu, passando a língua em sua orelha, fazendo com que mordesse o próprio lábio. Os dedos de Quatre caminharam pelo seu rosto, enquanto sussurrava ao seu ouvido: - De agora em diante, eu lhe interromperei assim, ok? – Disse ele, enfatizando a palavra "assim". Trowa sentiu um arrepio lhe subir pela espinha. – E realmente, gestos são mais... apreciáveis do que palavras. – Sua voz ia ficando cada vez mais rouca, extremamente sexy. Quatre continuou caminhando com os dedos pela pele de Trowa enquanto trocavam vários e demorados beijos; desceu pelo pescoço, foi para trás da orelha, e roçou levemente os dedos em sua nuca.

Estava começando a perder o fôlego. Não, era o controle mesmo. – Itoshii...

Quatre sorriu ao ouvi-lo chamando-o desse jeito. Esfregou a pontinha do nariz na bochecha de Trowa, que sentiu cócegas.

- Vem cá... – Trowa o puxou gentilmente pelos ombros, fazendo com que se deitasse em cima dele.

Os olhares se encontraram. Se perderam um no rosto do outro, observando-se durante um longo tempo, como se fosse a primeira vez.

O quarto só foi desocupado no dia seguinte.

* * * *

(Alguns dias mais tarde) "Silencioso demais", pensou.

Heero andava pelos corredores do prédio, se direcionando à ala onde ficavam os membros mais importantes da Aliança. Se dependesse de sua real vontade, não estaria ali; mas fugir dos problemas não iria resolvê-los.

- Se eu fosse você, não iria até lá...

Parou ao ouvir a voz baixa mas imponente de Zechs. Porém, não se virou. – Você nem sabe...

- Relena já tem um visitante.

Heero rangeu os dentes. Detestava ser interrompido.

- Vai negar que pretendia falar com ela?

Desta vez ele se virou, encarando-o. – Não me interessa quem está ou não com Relena. Além disso, você e eu não temos nada em comum. Portanto, eu vou até lá.

Zechs sorriu cinicamente. – Duo chegou não faz muito tempo... E está discutindo com ela. – esperou alguma reação do outro, que parecia indiferente. – Você veio pelo mesmo motivo que ele, não é?

- Não sabia que você andava fuxicando por aí, Zechs... – sua voz soava num tom de sarcasmo. – Mas agora, dá licença que eu não ‘tô com saco’ pra fofocas... – se virou novamente, e continuou seu caminho, deixando Zechs confuso com suas palavras.

* * * *

[Sala de Relena, momento da chegada de Duo]

A garota ergueu uma sobrancelha, olhando-o como se fosse um objeto insignificante. Não se preocupava em disfarçar a raiva e a inveja, o ciúme, o desprezo, etc... que sentia dele. – O quê você quer?

Ele foi se aproximando devagar, enquanto começava a dizer: - Muito sonsa mesmo...

- Escute aqui, seu...

- É melhor você me ouvir em silêncio, Relena. Não estou disposto a agüentar um de seus ataques histéricos.

- Sobre o que você quer falar, então?

- Uma das coisas é essa sua obsessão pelo Heero.

- E o que tem demais?

Duo sentiu vontade de pular no pescoço dela. Mas se conteve. Saiba que seria difícil. Tinha refletido muito sobre o que faria, se iria ou não se arriscar a essa conversa... Precisava escolher as palavras certas e tomar cuidado com o tipo de reação que teria diante daquela víbora. – Tem que, você está disposta a tudo por ele...

- Hn. Quem ama é capaz de qualquer coisa.

- Amor? Você chama isso de AMOR? É ridículo!

- O que eu chamo de ridículo é a relação entre vocês dois...

- Nossa... É tanto ciúme assim, senhorita Suprema do Mundo? Ora, não me faça rir...

- Ciúme de você? Não... É apenas um garoto... Não pode competir comigo...

- Ah, não? Então por que o Heero está comigo e não com você? – começou a caminhar pela sala. – Aliás, você não chegaria aos meus pés se tentasse alguma coisa com ele, minha querida... – Percebeu os maxilares dela se contraindo. – Eu posso ser um garoto e estar me envolvendo com um, mas justamente por isso é que estou em vantagem...

- Quanto convencimento...

- A verdade dói, né?... Além de você ser totalmente inexperiente no assunto... ...quando são duas pessoas do mesmo sexo, o prazer é duplo e igual pros dois... sabe por quê? Quando um toca o outro, os dois sentem a mesma coisa... Porque somente um garoto sabe onde tocar e como, por ser um também, e sabe do que o outro gosta, sabe como se sente, o que espera, sabe entender...

- Quanta bobagem...

- Pode até ser. – sorriu cinicamente. – Mas eu ainda não acabei. – o sorriso sumiu de seu rosto.

- Hunf...

- Você pensa que nos separando vai mesmo conseguir alguma coisa? Muito pelo contrário! E essas ameaças só pioram a situação da Aliança!

- O que a Aliança tem a ver com isso?

- Não seja cínica! Está querendo dizer que não é a responsável pelo que estão tentando fazer comigo e com o Heero?

- Isso é profissional, e não pessoal.

- Ah, é mesmo?

- Claro que sim!

- Pois eu não acredito!

- Pode até não acreditar, mas enquanto trabalhar aqui, terá de aceitar a situação!

Duo ficou quieto, sem argumentos.

Relena sorriu triunfante. – Agora é você quem vai ouvir umas verdades.

- Vindo de você?

- Cale a boca!

- Hn.

- Se você continuar aqui, terá de me obedecer, ou eu mando matar você.

- Oh... claro, porque assim o Heero ficaria livre... e então, você nem esperaria muito tempo para pôr essas mãos imundas nele!

- Já disse pra ficar quieto! Não admito que fale assim comigo!

- Baka!

- Insolente! Eu juro que mato você!!

Neste momento, a porta é aberta bruscamente, chegando a bater na parede. Heero entra na sala, com uma expressão nada amigável em seu rosto.

Duo e Relena imediatamente olham para ele, surpresos.

- Você pode até ser a Dona do Mundo, Relena, mas não manda na vida de ninguém. – diz ele, a voz séria.

Duo vai até ele e pega a arma que estava na barra da calça de Heero, e antes que alguém se desse conta, dispara. O som dos vidros na janela se quebrando é estridente, o tiro havia sido bem próximo à cabeça de Relena, mas ele não a atingiu de propósito. Ela assustou-se, ficando exatamente como ele queria. – Você não disse que iria me matar? Pois então; aproveite, e atire logo de uma vez! Ou você prefere chamar um de seus comparsas para que execute o serviço e assim você sai de mãos limpas?

Relena ficou parada, encarando-o, sem saber o que fazer.

- Vamos! Não era isso que você tanto queria? Tirar-me do seu caminho? Aproveite!

O silêncio ia se tornando ensurdecedor, enquanto a tensão entre eles crescia. Após algum tempo, um deles se fez ouvir.

- Deixe-nos a sós, eu quero conversar com ela.

- Nani?!

- Depois eu lhe explico.

- Mas, Heero...

- Faça o que eu estou lhe pedindo.

Duo observou a expressão no rosto de seu amante, que não o encarava. Praguejou baixinho, emitindo um muxoxo, mas saiu.

Heero fechou a porta e Relena suspirou. Foi até a mesa dela, pegou sua arma e voltou a colocá-la no lugar, para em seguida sentar-se próximo aonde Duo estivera momentos atrás.

- Muito conveniente a sua intervenção; já tinha perdido a paciência com aquela peste.

O olhar que ele lhe dirigiu demonstrou que não gostara do comentário. – Você deveria tomar mais cuidado com o que diz, Relena. E com o que faz também...

- ?

- Você precisa de muita coragem pra falar mal dele na minha frente. E outra coisa... Disse que iria matá-lo e quando teve a chance, desperdiça-a.

- Eu estava... nervosa; falei sem pensar.

- Pois então.

- Certo, Heero... – disse entre um suspiro. – Sobre o quê você veio falar comigo?

- Chega dessa história de ameaças, entendeu?

- Mas eu já disse que...

- Estou me referindo aos e-mails, Relena. Se vocês me matarem, ficam sem o Soldado Perfeito. E vai ser muito difícil encontrar outro.

- Nós já estamos sem. Desde que você cometeu essa loucura de se envolver com o Duo.

- E que diferença faz? Encare a realidade: com ele ou qualquer outra pessoa, eu deixaria de ser o Soldado Perfeito. Afinal, não posso sentir emoção alguma, não é? E não tem mais como mudar isso.

Balançou a cabeça em desalento. – Desse jeito, você não vai conseguir pilotar o Wing... e todos nós sairemos prejudicados, principalmente você.

- Hn... Existe um modo de alterar a velocidade de processamento do Zero System, ne?*

- Não é 100% seguro; fizeram testes, mas nunca colocaram em prática.

- Bem... Chegou a hora de tentar.

Franziu o cenho, encarando-o por um instante, pensando. – Você não vai desistir do Duo, não é mesmo?

- Tsc, tsc. – pronunciou, enquanto balançava a cabeça numa negativa. – Eu sei o que você sente Relena, mas nem sempre podemos ter tudo o que queremos...

Relena sorriu. – Neste ponto nós temos algo em comum, Heero.

- E o que é?

- Eu não desisto.

Ele ficou sério.

- Não se preocupe, não pretendo prejudicar vocês. E... pode ficar tranqüilo quanto às missões, você e o Duo voltarão a trabalhar juntos... E tentaremos alterar o Zero System, de modo que você não receba tanta informação em tão pouco tempo.

- É... Acho que assim as coisas melhoram...

Relena se levantou e deu a volta na mesa, ficando de pé na frente de Heero e se escorou na borda do móvel com as mãos apoiadas sobre este. Respirou fundo, percorrendo o corpo dele de cima a baixo com os olhos, e este parecia não se importar. – Estou começando a achar que o Duo estava certo em algumas coisas...

- Hã?

- Olha só o efeito que ele causa em você...

- Relena, por favor...

- Não; me escuta. Deixa eu falar, está bem?

Heero suspirou, mas fez o que ela pediu, ficando em silêncio.

- Ele praticamente eliminou o Soldado Perfeito. Você mudou muito... – ela fez uma breve pausa, o olhar perdido no teto, mas logo voltou a encará-lo para continuar falando. – Você sorri com freqüência, principalmente quando está com ele. Acho que o Duo te faz um bem enorme, ne? – encolheu os ombros, suspirando. – Você está mais paciente, mais amigável, receptivo... claro que ainda tem um pouco do Heero que eu conheci tempos atrás, mas você está... mais maduro, e a cada dia fica mais lindo, mais irresistível, tentador...

- Aonde você quer chegar, Relena? Pra quê essa conversa toda? Você vai acabar se machucando.

Balançou a cabeça numa negativa. – Eu já estou, Heero. Se é que dá pra piorar, não faz diferença...

- Não fale assim, Relena...

- Tudo bem; você nem precisava ouvir tudo isso... – baixou o olhar. – É melhor você ir. E... peça desculpas a ele por mim.

Heero levantou-se, mas com esse movimento seu corpo roçou no de Relena, as faces de ambos à uma distância perigosa. Ela ergueu os olhos para encará-lo. Ele ia se afastar, mas para sua surpresa foi segurado por ela, que o beijou antes que pudesse evitar. Não correspondeu, e após um tempo de insistência, ela se afastou.

Um silêncio constrangedor pairava no ar.

- Me desculpe Heero, eu...

Pôs dois dedos sobre os lábios dela, que se calou. – Mais uma palavra e daí sim você terá motivos pra se arrepender. – Havia um sorriso enigmático em sua boca. – Só espero que não se repita, ok? Será o nosso segredo.

Não estava entendendo a reação dele, que deveria estar irado; mas consentiu.

Heero se retirou da sala e fechou a porta atrás de si, deixando Relena inquieta, perdida na confusão de seus pensamentos; cheia de dúvidas.

* * * *

Começara a chover, e as pequenas gotas d’água pingavam insistentemente, formando um único som que ecoava pela região.

Duo continuou penteando seus longos cabelos cor de mel, enquanto observava o tempo lá fora através dos vidros da janela fechada. Colocou o pente sobre a cômoda, levantando-se. Saiu do quarto e desceu as escadas, indo até a sala, onde Wufei assistia TV.

- Boa noite, Chang.

- Boa noite. – franziu o cenho ao ver a expressão intrigada no rosto do amigo. – Aconteceu alguma coisa, Duo?

- Não. Ainda. Eu acho...

- Hei!... Você está confuso; ou é impressão minha?

O americano se sentou numa das poltronas. – Um dia desses eu te explico...

- Se você não quer falar sobre isso, tudo bem... – Wufei deu de ombros, voltando seus olhos para a TV, mas sem prestar muita atenção.

- Não tem mais ninguém em casa? Quatre? Trowa?...

- Me parece que os dois saíram hoje de manhã, mas não sei aonde foram... O Heero mal voltou da missão e já saiu de novo, sem dizer nada. Ele chegou pouco tempo depois de você sair, eram umas 18h30min...

Quatre e Trowa chegaram em casa, um com a mão na cintura do outro, conversando animadamente. Ao se depararem com Chang e Duo na sala, ficaram parados como estátuas, ou melhor, como verdadeiras pimentas, de tão vermelhos.

- Boa noite, pombinhos!! – Provocou Duo, deixando-os mais vermelhos ainda. – Ei!, não precisam ficar ‘tããããããão’ envergonhados assim! Além do mais, eu já sabia mesmo... e aposto que você também, né Wufei?

- Tinha quase certeza...

- Pois então! Vamos, não fiquem parados aí, sentem-se.

Os dois se olham, se olham... Até que Trowa dá de ombros e praticamente arrasta Quatre até o sofá, onde sentam-se lado a lado.

* * * *

[Quase 8 horas da noite, ainda chovendo]

Duo estava na varanda, debruçado sobre o parapeito; os olhos perdidos no pátio da mansão.

Viu Heero abrir o portão e adentrar o terreno. Estava encharcado pela chuva, mas parecia não se importar. Andava devagar, a cabeça baixa e as mãos nos bolsos, pensativo. Ele finalmente chegou até a varanda, sorrindo ao ver seu companheiro.

- ‘Cê tá louco, Heero? Vai pegar um resfriado!

- Boa noite pra você também, Duo...

- Hn. Como foi a conversa?

Engoliu em seco, lembrando o que aconteceu. – Não muito agradável...

- Ela te agrediu?

- Não; tivemos um breve desentendimento, mas consegui convencê-la a mudar de idéia.

- E aonde você foi, que só voltou agora?

- Quanta pergunta, hein...

Duo lhe dirigiu um olhar desconfiado. – Hn. Não dá pra responder?

- Ah, eu dei umas voltas por aí...

- Hn. Vem, vamos lá para dentro; você precisa trocar essas roupas...

- Ei! – Heero segurou seu braço. – Que recepção mais fria é essa? O quê há com você?

- Nada...

- Mesmo?

Confirmou com um movimento de cabeça, emitindo um "hm-hm".

O moreno sorriu, puxando Duo, e lhe deu um beijo, enlaçando-o pela cintura. No início ele correspondeu, mas de repente começou a empurrá-lo, lutando contra seu abraço até que foi solto. – Duo?, mas o quê...

Foi interrompido pelo violento tapa que atingiu seu rosto. O americano limpou a boca, esfregando as costas da mão com força sobre seus lábios. Heero estava chocado, sem entender o porquê da atitude de seu amante. – Que merda, Heero! Você pensou que eu não iria perceber?

- Do que você...

- Você beijou outra pessoa! O gosto da sua boca tá diferente, a sua pele tá com perfume de mulher! Grrr, e só pode ter sido aquela vadia! Foi por isso que você pediu pra eu sair? Excelente maneira de convencê-la a ‘voltar atrás’...Como você teve coragem de fazer ‘sei lá o quê’ com a Relena pra depois vir aqui e me tocar?

- Não diga bobagens!

- Vai negar? Me diga que não é verdade; quem sabe assim eu detenho meus sentidos e faço de conta que não percebi nada...

- Você está se precipitando Duo, deixe eu me...

- Me precipitando?! – foi até o pátio, andando sob a chuva que com rapidez lhe deixou totalmente molhado; a franja grudando em sua face assim como a cabeleira em suas costas; a água escorrendo por todo seu corpo. – então me explica o que aconteceu...

- Ela me beijou...

- Ah! Grande diferença!

- Cale a boca, Duo! Droga! – respirou fundo, tentando se acalmar. – Ouça... Você sabe como é a Relena, ela...

- ...é uma puta-vagabunda e vive dando em cima de você, que sabendo disso ficou sozinho com ela e se aproveitou da obsessão que ela lhe tem para conseguir ficar vivo!

Heero foi até ele e lhe deu um soco, derrubando-o na grama. – Vê se agora fica quieto e me escuta! – disse ele, ofegante. – Eu nunca venderia a minha vida desse jeito! E prefiro morrer do que ficar sem você!

Duo se levantou. As lágrimas se confundiam com as gotas de chuva, e graças a isso o outro não percebeu que ele chorava, ao menos, era o que ele pensava. – A sua agressividade não combina com o que você acabou de dizer. – Tentou manter a voz firme, mas pareceu não dar muito certo.

Heero passou a mão pelos cabelos, impaciente e agitado. – Gomen ne... – suspirou, fechando os olhos por um instante. – Eu não queria te machucar...

- Não é só ao soco que eu estou me referindo, Heero... – Duo ergueu os olhos aos céus, enquanto continuava a falar. – Por que você não fugiu dela? Por que deixou que ela chegasse tão perto; que conseguiu te tocar, te beijar...? Por quê?...

- Você precisa acreditar em mim...

- Acreditar...? – Repetiu ele, distante.

Heero se aproximou devagar, temendo que ele se afastasse. Felizmente permaneceu ali, mas sem encará-lo. - Olha aqui... – pediu, enquanto tocava seu rosto.

Duo ergueu os olhos, encontrando os de Heero. – Você está... – engoliu em seco. "Não, não são gotas de chuva...", pensou. - Você está chorando...?...

- Bem, não é a primeira vez... – disse ele, encolhendo os ombros.

- Eu nunca tinha visto você chorar...

- Talvez esse seja um dos efeitos...

- Nani?

- O que você faz comigo...

Duo ficou quieto, e momentaneamente sério.

- Ok, você está me obrigando a dizer isso... – viu ele franzindo o cenho, confuso. Se aproximou mais ainda, deslizando os dedos pela face molhada. – Eu lhe amo, e não vivo sem você, é como uma parte do meu corpo, da minha alma.... Você entrou no meu coração de um jeito que eu não posso e nem quero tirar... Fiquei sem você durante alguns dias, e a minha pele está suplicando pelo seu toque, minha boca está ansiando pela sua... Eu amo você, Duo...

Ao final de toda essa apaixonada declaração, Duo estava, literalmente, de queixo caído. Abobalhado.

Heero esperou que ele dissesse alguma coisa. E esperou... – Sabe?, eu nunca fiquei tanto tempo parado debaixo da chuva com alguém, sabendo que tem um lugar muito próximo pra gente ficar.

- Se você quiser...

- Não, eu não estou reclamando; foi só um comentário. Nesse caso, ficar debaixo da chuva tem suas vantagens...

- Nani?

Heero sorriu. – Com essa blusa que, como era fina e branca, ficara transparente por causa da água, colada no peito, essas gotinhas correndo pela sua pele, o cabelo grudado nas costas e a franja cobrindo sua face... Você está mais irresistível do que já é! – traçou o contorno dos lábios de Duo com o polegar, para em seguida beijá-lo. Ficou satisfeito ao ser correspondido, o americano se movia denunciando todo seu desejo, toda sua paixão. Heero beijou todo seu rosto, pescoço, ombro; para em seguida abraçá-lo com força, de forma possessiva. – Perdoe-me...

Duo sorriu. – Não precisa pedir perdão, itoshii, não foi sua culpa... – Acariciou suavemente a nuca de Heero, puxando de leve as pontinhas de seu cabelo.

- Então você acredita em mim?

- Ai shiteru, Hee-chan... Como não iria acreditar em você?

Heero sorriu também, beijando-o mais uma vez.

[Na sala, três criaturas espiando pela janela]

- Ah... Acho que agora, sim, eles estão se acertando... – comentou Quatre.

- Ih!, não fica muito feliz não; que logo, logo eles tão brigando de novo!...

- WUFEI! Só você mesmo pra ser tão pessimista assim!

- O problema dele não é pessimismo, mas sim, inveja... – Trowa se aproximou de Quatre, pegando sua mão.

Chang ficou irado com a insinuação. - Nani?! Sai pra lá! Xô! O meu negócio é mulher! MU-LHER, entendeu?

- Não é disso que eu estou falando, baka! Eu quis dizer que você está com inveja da situação...

- Como assim?

- Porque você está sozinho! Sem nenhuma "MU-LHER", como você mesmo disse... Entendeu agora?

- Aaahhh booom... Mas não é bem assim... De onde você tirou essa história de que eu estou sem mulher? Quem disse?

- Ninguém, mas é o óbvio... – o tom de sua voz soou cínico.

- O que você está insinuando? – Wufei estava prestes a saltar no pescoço de Trowa para sacudi-lo como a um saco de batatas.

- Tá, tá, tá!!!! Chega, vocês dois! – Quatre interrompeu. – Eu tenho uma proposta a fazer...

* * * *

Quando Heero e Duo entraram em casa, Wufei, Trowa e Quatre estavam colocando casacos, um deles usando o telefone.

- Vocês vão sair? – perguntou Duo, com um olhar interrogativo.

- Sim, nós vamos passar nuns lugares aí...

- Mas... Tá chovendo...

- A gente já chamou um táxi...

- Aliás, nem se preocupem conosco, porque a casa é todinha de vocês, aproveitem que só voltaremos amanhã...

- Mas... por quê?

- Ah, Duo! Um pouco de privacidade não faz mal a ninguém... Ainda mais depois do que aconteceu entre vocês dois... É bom passarem um tempo sozinhos...

- E aonde vocês vão passar a noite?

- Num hotel, é óbvio...

- Mas não precisam fazer tudo isso, nós...

- Ah, precisamos sim! E chega de argumentações, certo? Vocês deveriam era estar agradecendo...

Eles ouvem o som de uma buzina.

- O táxi chegou! Agora, com licença, e... Boa noite pra vocês!

Os três saíram. Duo, meio confuso, olhou para Heero, que encolheu os ombros e... – Atchim!

O americano ergueu uma sobrancelha, preocupado. – Bem... É melhor irmos lá para cima tirar essa roupa molhada e tomar um banho, antes que alguém aqui fique realmente doente... – pegou sua mão, levando-o até o quarto. Enquanto enchia a banheira, ouviu vários espirros de Heero, cada vez mais freqüentes. – Humm... Acho que já temos um doentinho por aqui... – Duo foi até ele e o guiou ao banheiro onde com todo cuidado e carinho o despiu e a si também, para em seguida entrarem na banheira de água quente.

* * * *

[Quase uma hora depois, os dois terminaram de ‘tomar banho’. Em parte, até que fizeram isso mesmo]

Heero sentou-se na beira da cama, e Duo começou a secar seus cabelos, esfregando-os com uma toalha.

- Eu posso fazer isso, Duo, e... Atchim!... não estou tão mal assim...

- Claro que pode... – jogou a toalha em algum canto do quarto e entregou um pijama a ele que, meio contrariado, vestiu. – Agora, deite aí, e fique bem quietinho que eu farei um chá...

- Mas...

Duo empurrou-o, fazendo com que se deitasse, e o cobriu. Beijou sua testa e em seguida sua boca, rapidamente. Colocou um pijama e se dirigiu à cozinha.

Não demorou muito e ele logo entrou novamente no quarto, trazendo uma bandeja com chá, mel e alguns biscoitos de chocolate. Heero continuava na cama, só que... sentado e com o lep-top no colo, fazendo o relatório da última missão. Duo indignou-se e colocou a bandeja sobre a cômoda, olhando-o de cara amarrada. – Eu não acredito! Doente... e mexendo no computador!... Desse jeito, você vai ficar pior do que eu tentando pilotar o Zero System...

- Hein? Como assim?

- Dor de cabeça, seu teimoso! E passa essa coisa aí pra cá! – disse ele, já tirando o instrumento de seu colo e fechando-o.

- Duo! Você o desligou!

Deu de ombros, colocando-o sobre a escrivaninha. – Bem... – começou, pegando uma xícara de chá e entregando-a a Heero. – Agora, vê se bebe isso, pois vai fazer você sentir-se melhor...

Olhou de esguelha para o objeto à sua frente, e em seguida para Duo. – Você está parecendo uma daquelas enfermeiras chatas de hospital.

- E você, um paciente metido a besta, que fica se achando "o saudável, o bom"...

Heero respirou fundo, e sorveu um gole do chá. Fez uma careta. – Credo! O que você colocou aqui, hein?

Duo olhou-o com desdém. – Nada! O gosto é que é amargo...

- E você não colocou açúcar?!

- Chá perde o efeito com açúcar, sabia? Mas eu trouxe mel... Você quer?

- Hn. Tá... – Duo pôs um pouquinho; e sem dizer mais nada, Heero tomou todo o chá.

- Bom menino... – pegou a xícara e colocou na bandeja. - Depois eu trago mais... Você precisa tomar bastante líquido...

- Ok, ‘doctor Maxwell’.

Duo tocou seu rosto de repente, o olhar cheio de ternura. Heero pegou sua mão e beijou, roçou a ponta do nariz, fez um monte de carinhos, até que puxou-o gentilmente, e o americano se inclinou em sua direção, buscando seus lábios num beijo sedento, cheio de desejo e necessidade. As mãos de Duo passearam pelo corpo de Heero, enquanto lhe beijava levemente o rosto e o pescoço.

- Você não disse que eu precisava ficar quietinho, aqui na cama?

- ...Foi você quem começou...

Ele riu, mas se arrependeu em seguida ao sentir que lhe faltava ar, tossindo. – Acho melhor você também ficar quieto...

- Então você admite que não está tão bem?

- Ah Duo, não começa...

- Ok, ok... - Sentou-se ao lado dele na cama e o puxou, de modo que ficasse "encostado" nele, as costas contra seu peito. Uma mão enlaçou na de Heero, enquanto que a outra acariciava seus cabelos, passando os dedos entre as mechas castanhas. O Soldado Perfeito foi fechando os olhos devagar, sentindo as pálpebras pesadas e o corpo exausto; logo adormeceu. Duo sorriu e beijou o topo de sua cabeça; ajeitou-se na cama, tentando dormir também.

* * * *

[Dia seguinte]

Quando Heero acordou, Duo já não estava mais no quarto. Puxou as cobertas para um lado e levantou-se, sentindo uma forte dor de cabeça. – Ai... Maldita... atchim!... gripe... – o vento frio e repentino fez com que sentisse leves arrepios; pegou um chambre e vestiu por cima do pijama. Desceu as escadas devagar, indo até a cozinha. Estranhou que não tivesse visto Duo em nenhum lugar da casa, nem ouvido sua voz. Não havia rastro dele. Mas não deu muita importância, estava mais preocupado em conseguir manter-se de pé sem ter que se apoiar e preparar o chá sem fazer muita bagunça na cozinha.

- Que droga... Onde é que estão os saches...?... – foi até a porta da cozinha. – Duo!!!... cof... cof... Ô DUO!!!

Alguns segundos depois, o americano aparece. – Itoshii!... Você já acordou...

- Não, eu ainda não acordei... Estou lá na minha caminha, debaixo das cobertas, dormindo profundamente. – a ironia soava evidentemente em sua voz.

- Vejo que você já está melhor, ne? O mau humor voltou...

Heero respirou fundo. Definitivamente, era a pior hora possível para discutirem. – Tá... Agora; diga-me onde encontro ‘os coisinhas’ para preparar o chá...

- Os saches?

- Não, Duo; o café...

- Ai, Heero! Que coisa... – foi até o balcão e pegou alguns saches, colocou-os em uma pequena jarra de plástico, juntou água e pôs no microondas. - Pronto. É só você esperar um pouquinho, tá?

- Ah... ah... atchim!!!

Duo vai até ele. – Nossa, Hee-chan... – este arqueou uma sobrancelha, ‘não gostava’ de ser chamado assim. – Você está horrível, hein... olha só esse cabelo, todo bagunçado; essas olheiras enormes; e essa vozinha enjoada...

- Bah... Obrigado pelo incentivo... Já estou me sentindo melhor...

- Hn... – Duo depositou alguns beijinhos nos lábios de Heero. – Eu já volto, tá bebê?

- Aonde você vai?

- Terminar de estudar a próxima missão...

- Como assim? E eu, não recebi nada?!

- Quem disse? Eu só não deixei você ler, ainda...

- NANI?!

- É... Mas não se preocupe, eles já sabem que você está ‘doentinho’...

- E o relatório da minha última missão? Como é que eu vou fazer?

- Quando você fizer, já estará totalmente bem; daí vai poder se preocupar com isso... E a próxima missão é só daqui a 5 dias...

Duo voltou para o escritório e trancou a porta, para que ninguém tentasse entrar.

- Hunf... Quando eu estiver em plenas condições, ele me paga...

[Os outros três chegam em casa, aos berros, causando baderna]

- E AÍ, GENTE!

- COMO FOI A NOITE?

- TUDO LEGAL COM VOCÊS?

Heero pôs a mão sobre o rosto, sentindo a cabeça latejar novamente.

- Bom dia, Heero! – saudou-lhe Quatre.

- ÊPA... O que o Duo fez com você? – indagou Chang.

- Ai... Será que vocês poderiam parar de gritar? – a paciência ia esvaindo-se.

- Ih... Mas ele acabou com você, hein...

- Wufei. Mais uma insinuação, uma única palavra; eu esqueço que estou doente e dou-lhe uma boa surra! Entendeu?

- Doente? Você está gripado? – Perguntou Quatre.

- Hai.

Chang, que havia se afastado a uma distância segura, implica mais um pouco – Ah, então é por isso que você está de mau humor! Não conseguiu aproveitar a noite... ne?

- Grr... Cale a boca!

Duo, que ouvira tudo do escritório, interfere – Parem com essa gritaria, agora! Todos vocês! E, Heero, se você ainda não pegou o seu chá, faça isso e vá direto para a cama!

- Não me dê ordens!

O americano abre a porta do escritório, com uma expressão não muito amigável no rosto. – Você não me ouviu ou quer ficar mais doente ainda? – Heero lhe dirige um olhar ameaçador, mas Duo permanece irredutível. – Vamos! O que você está esperando?

Resolveu pegar o chá e subiu as escadas, indo para o quarto, com o olhar do americano sobre si.

- Desde quando ele lhe obedece? – Perguntou Quatre, curioso sobre a ‘submissão’ do Soldado Perfeito.

- Artimanhas minhas... Nem pense em dizer alguma coisa, Chang!

- Mas eu nem...

- Sabemos como você é. Certo?

Quatre e Trowa concordaram com um movimento de cabeça.

O olhar surpreso de Wufei passou por cada um dos três. – Eu, hein... Ô pessoal que não sabe brincar...

Duo deu de ombros, voltando a fechar a porta do escritório.

- Bem; eu vou preparar o café da manhã, pois estou morrendo de fome... Vocês também vão querer?

* * * *

[Três dias depois]

Quatre olhou em volta, certificando-se de que não havia ninguém no corredor, e voltou sua atenção para o amante, colocando-o contra a parede. – Vamos, Trowa... Só um pouquinho...

- Não insista, Quatre... Eu não estou afim de ir para a piscina... Além disso, não está tão quente assim...

O loirinho franziu o cenho por um instante. – Então; eu terei de esquentar as coisas por aqui...

Trowa ergueu uma sobrancelha, duvidando do que ele iria fazer. Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, Quatre tomou seus lábios, num beijo cheio de volúpia e totalmente lascivo; enquanto isso, forçava seu quadril contra o dele, fazendo com que este gemesse, lânguido. Ia pedir para que parasse, que não fizesse isso ali onde estavam, mas suas tentativas de protestos foram esquecidas quando as mãos do loirinho adentraram sua camisa buscando seus mamilos, para em seguida acariciá-los e dar leves beliscadinhas, deixando-o louco. Quando Trowa pensou que seu fôlego já estava no fim e a respiração suficientemente ofegante, Quatre intensificou ainda mais o beijo, a língua cada vez mais voraz e faminta. Trowa apertou-o mais contra si, sentindo a pressão do baixo ventre dele contra o seu aumentando à medida em que as carícias evoluíam.

E justamente nessa hora... Heero aparece, arqueando as sobrancelhas ao ver a cena. – Que coisa mais feia pra se fazer no corredor... – Disse, irônico.

Quatre e Trowa ficaram sem reação, como duas crianças pegas fazendo alguma travessura.

- Ei, eu já estou saindo, não me importo se vocês continuarem...

- Espera, Heero. – Quatre o deteve. Estava ao lado de Trowa, ambos de mãos dadas. – Nós precisamos falar com você. E com o Duo também.

* * * *

[Sala, todos os cinco sentados nos sofás]

- Pois bem... Qual é o motivo da aparente reunião?

- Nós três... – começou Chang – ...Aquele rolo que deu na Aliança por conta de vocês dois, ham... Ah, vocês entenderam...

- Ok, Wufei... Mas o que tem isso?

- Naquele dia em que você e o Quatre brigaram...

- Melhor dizendo, no dia em que você bateu nele... – interrompeu-o.

- Trowa! – foi censurado pelo loirinho. – O momento não é para acusações; estamos tentando esclarecer o que aconteceu...

- Tá, mas ‘peraí’, gente! – interferiu Duo. – Que história é essa, Heero?

O Soldado Perfeito respirou fundo, lhe dirigindo um olhar de pouco caso. – Eu pensava que esses três fossem culpados pelo que estava acontecendo conosco, e descontei a raiva no primeiro que me apareceu.

- Não acredito que você fez isso!

- Pois eu fiz... E aproveito este momento para me desculpar com vocês, principalmente com o Quatre...

- ... Agora que essa parte da história foi esclarecida, continuemos com o resto...

- Só queríamos que vocês soubessem que não tivemos culpa; pelo menos não diretamente...

- Mas o que vocês fizeram, afinal?

- A Relena havia insinuado certas coisas sobre vocês dois, como se tivesse certeza de que estavam juntos... Pensamos que ela realmente soubesse, e por isso não negamos nada.

Duo mantinha uma expressão serena em seu rosto. – Eu nunca pensei que vocês tivessem alguma relação com o que aconteceu. Sei que não fariam ou diriam algo para nos prejudicar. – Disse ele, com um sorriso confiante nos lábios.

- O que eu tinha pra dizer já foi dito... Então, isso acaba aqui, certo? – conclui Heero.

* * * *

[Madrugada]

Duo rolou na cama e esticou um dos braços, procurando pelo amante. Vazio.

Contra a vontade, abriu os olhos; o que não ajudou muito, já que estava tudo escuro. Silêncio.

Escondeu o rosto no travesseiro, emitindo um manhoso "nháaa...", seguido de um longo e preguiçoso bocejo. Sono.

Apoiou as mãos na cama, erguendo o rosto, para em seguida ficar de joelhos, sentado sobre os calcanhares. Esfregou os olhos, tentando manter-se acordado. Respirou fundo e levantou-se, saindo para procurar Heero.

* * * *

"Ele deve estar aqui..." A porta do escritório estava encostada, e ele entrou silenciosamente, os passos curtos e lentos. "Está na frente do computador outra vez... mas... por que justamente à essa hora?..." Ficou ao seu lado, observando o que estava fazendo.

Heero desligou o lep-top. Com um cotovelo sobre a mesa, apoiou a cabeça em uma das mãos, admirando a beleza de seu amante.

Duo ficou perplexo ao perceber que agora a atenção de Heero estava voltada para ele, e não para o computador. – Você já terminou?

Sorriu. – Já. – mentiu. "Prefiro dar atenção a você; a missão pode esperar..." Levantou-se e tocou seu rosto com os nós dos dedos, olhando-o cheio de ternura. Beijou-o docemente, afundando as mãos entre os cabelos sedosos, que no momento estavam soltos.

Duo acariciou sua nuca, envolvendo-o pelo pescoço. – Por que... você veio... pra cá... e me deixou... sozinho... no quarto...? **

Heero suspirou animado e deslizou as mãos pelas costas de Duo, enlaçando-o pela cintura. Sentiu a pele dele arrepiar levemente sob o seu toque. – Eu acordei de repente e como não conseguia mais dormir, resolvi terminar meu relatório e começar a analisar a próxima missão.

- Mas ainda restam dois dias...

- Por isso mesmo... – sorriu maliciosamente. – Eu quero aproveitar o tempo. – beijou-o de novo, e antes mesmo dos lábios se separarem, sussurrou: - Ai shiteru...

Aquilo caiu como uma carícia sobre os lábios de Duo, que sorriu e abraçou Heero com força, dizendo alegremente:

- Ai shiterumo!

Fim


Notas da autora:

* Isto é só um fanfic, então essa "alteração" não existe... pelo menos, não que eu saiba... ¬.¬

* * cada "..." é um beijinho que o Heero está dando nele

Me apresentando... (coisa mais estranha pra se dizer...)

Bem... Esse não é o primeiro e muito menos o último fanfic que eu escrevo (dã) ...

Eu não sei se ficou bom, se a personalidade dos personagens está de acordo com a original ou se eu modifiquei muita coisa... É que eu só assisti ao Ova de Gundam, e isso já faz bastante tempo... Ah, e pretendo acompanhar o anime pelo Cartoon Network – espero que estréie logo...

O final não está lá grande coisa, mas não tinha o que escrever. Ah, e me desculpem pelas várias cortadas nas cenas mais ... quentes ... da história, mas eu ainda não estava, digamos, preparada para escrever lemon...

Vocês leram "não estava", certo? É que eu estou escrevendo um fanfic de Weiss Kreuz e tomei coragem pra colocar alguma coisa de lemon... talvez vocês cheguem a lê-lo (pode parecer estranho dizer "talvez vocês cheguem a lê-lo" – ou eu estou ficando convencida - mas é que eu já escrevi vários fanfics e nem sequer tentei enviá-los para alguma página da net...), mas ele é longo e está me dando trabalho (incompatibilidade com os estudos, falta de tempo, desculpas e desculpas)...

Não se preocupem que eu já parei com a enrolação, certo? Mas podem cortar os meus dedos, se quiserem.

Finalizando:

Como sempre, quaisquer dúvidas, críticas, sugestões, opiniões principalmente – são muito importantes para mim, talvez até algumas conversas sobre algum assunto (eu adoro conversar, se não deu pra perceber ainda), enviem um e-mail para:

[email protected]



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