Gotas de Paixão e Desejo

Mica-Chan
 

O sol despontou por entre os montes, banindo de uma vez a escuridão noturna. Os filetes ainda delicados da luz matinal tocaram a superfície inquieta das águas, tornando quase transparente o azul escuro do lago.

Com um movimento quase inaudível, a figura masculina emergiu das águas, respirando profundamente e fitando o astro que começava a brilhar.

Satisfeito, colocou-se de pé e caminhou para fora das águas do lago, o sol matinal lambendo-lhe a pele nua. Vestiu a tradicional calça escura que usava para treinar, e começou a seqüência de exercícios que o colocariam consciente de todo o seu corpo e de tudo o que se passava ao redor.

O corpo movia-se sozinho, acostumado ao ritmo intenso dos treinamentos. A face inexpressiva não demonstrava cansaço ou prazer. Os membros eram ágeis, os movimentos flexíveis.

Explorou ao máximo o tempo que separara para cuidar do próprio corpo, exigindo mais de si mesmo do que seria necessário. Quando se deu por satisfeito, caminhou até o local onde deixara o restante das roupas e pegou as suas kodachi.

Desembainhou as duas espadas e deu início a um treinamento mais intensivo, forçando o corpo além dos próprios limites. As lâminas das kodachi resplandeciam ao sol, que agora já ia alto. A pele reluzia com o suor, apesar de sua respiração continuar inalterada.

O corpo esguio dominava o ambiente, os pés descalços absorvendo energia da terra coberta pelo verde. As kodachi pareciam extensão do seu corpo, dançando em movimentos precisos e mortais.

Ela o observou por entre as árvores, deliciada com os movimentos perfeitos do corpo masculino. Faziam quase dois meses que ele relegara a meditação apenas para o período vespertino, dedicando-se ao treino forçado por toda a manhã.

Misao costumava ir até ele pouco antes do horário do almoço, permitindo-se assim um vislumbre da força que ele adquiria. Mas nesta manhã em particular, algo a impelira a segui-lo.

Aoshi acordara tão cedo quanto todos os dias, e saíra silenciosamente enquanto todos os membros da Aoiya ainda dormiam. Os passos seguros quase não eram ouvidos pelos corredores. Ela, no entanto, tivera uma noite agitada e somente por isso conseguira perceber os passos suaves que denunciavam a saída de Aoshi.

Sem pensar muito, Misao trocara suas roupas e saíra atrás do rapaz, bendizendo a escuridão que a camuflava. Mesmo Aoshi tendo um sentido extraordinário e a noite sendo como seu habitat natural, ela fora bastante cuidadosa para que ele não a notasse.

Quando ele chegara ao lago, ela permanecera escondida nas folhas densas das árvores que o cercavam, seus olhos atentos a cada movimento que ele fizesse. Observara em silêncio enquanto Aoshi meditava e chegara a pensar que ele apenas havia trocado o local para sua habitual meditação. Talvez cansado da eterna paisagem do Templo. Então, subitamente ele se levantara e começara a despir-se.

Os olhos dela arregalaram-se como olhos de pombos.Os movimentos dele eram naturais e graciosos, as roupas macias sendo retiradas uma a uma e deixadas em um pequeno monte no chão. As kodachi igualmente colocadas entre as vestes abandonadas.

Misao não conseguira acreditar no que vira. Aoshi-sama, o Okashira do Oniwabanshuu despira-se diante de seus olhos. Amaldiçoara a distância que os separava e a pouca luz, desejando loucamente cruzar o espaço entre eles e tocar na pele nua, deslizar os dedos pelos ombros largos, a espinha longa, as coxas firmes...

O seu corpo reagira imediatamente diante da visão que lhe era exposta. Acompanhara com atenção quando Aoshi entrara no lago, as braçadas possantes, o esgotamento pelos quilômetros que percorrera nadando. E quando enfim ele saíra, seus olhos passearam gulosos e satisfeitos pela pele dourada resplandecendo com os raios do sol nascente.

Então ele começara o treino. Assim como antes Misao satisfizera-se com a beleza do corpo de Aoshi, imaginando-se enroscada naquela pele macia e desenhada com as cicatrizes de inúmeras batalhas, agora dedicava sua atenção às técnicas com a kodachi, a busca pela força, os movimentos leves e perfeitos, quase rápidos demais para que ela pudesse acompanhar.

Ficou ali até a metade da manhã, embebendo-se da força e disciplina de Aoshi. Então, como se só agora o pensamento surgisse em sua mente, uma fúria insana dominou seu ser e Misao sentiu-se pequena, frágil e inútil. Quem era ela para ser Okashira do Oniwabanshuu? Uma garota de apenas 17 anos, com modos e sonhos infantis. Nunca estaria a altura do que Aoshi-sama fora. Muito menos agora, com o treinamento árduo que ele se auto impingia.

Num arroubo, deu as costas ao homem que continuava concentrado na profusão de movimentos, ora lentos, ora rápidos, e se afastou. Cansara de ser a menina da Aoiya. Não era mais a pequena Misao de Aoshi. Era a Okashira do Oniwabanshuu e faria por merecer o título.

Afastou-se, buscando um local apropriado para treinar. Ela fora relapsa, agora percebia. Aoshi-sama fora Okashira aos 15 anos, e sua força era tamanha que era respeitado por todos Ela, apesar de já estar com 17 não era muito diferente de dois anos atrás. Sabia que podia ser melhor. Dentro dela ardia o mesmo fogo que queimava em Aoshi, a mesma chama que a levara a ser Okashira do Oniwabanshu.

Por fim encontrou o lugar que procurava e se preparou, desligando a mente do mundo que a cercava. Em sua mente visualizou os movimentos que observara Aoshi praticar pela manhã e começou a mover-se devagar, permitindo que a mente ficasse consciente de cada movimento que o corpo fazia, repetindo-os à exaustão, até que a mente e o corpo pudessem agir separados, movimentando-se puramente por instinto.

Quando sentiu o estômago reclamar furioso, percebeu que a noite já havia caído. Estivera tão obstinada em ultrapassar os seus limites, que não notara o dia passar.

Encerrou o treinamento rígido e voltou para a Aoiya, ansiando por um banho quente e pela massagem habilidosa e reconfortante de Chieko. Mas a verdade é que estava tão faminta que quase abandonara a idéia do banho. Se não fosse os outros estarem tão atarefados com os clientes, ela teria de bom grado trocado a água e a massagem por um prato de comida.

Demorou-se no banho mais do que o normal, o corpo exausto relaxando ao contado com a água quente. Quando terminou a massagem, quase uma hora depois, vestiu a yukata e entrou sorrateira na cozinha onde preparou algo para comer.

Enquanto ouvia o burburinho da Aoiya, deixou sua mente vagar. Lembrou-se do corpo nu de Aoshi movendo-se sob o sol e o desejo que sentira então, voltara a dominar seu corpo. Podia sentir aquela estranha sensação que nascia dentro dela somente quando via Aoshi. O seu sangue ficou agitado e um arrepio percorreu seu corpo.

Não sabia exatamente o que fazia um casal quando encerrado em um quarto, mas as finas paredes de papel arroz permitiam que ouvisse os sons que seus companheiros na Aoiya faziam quando acompanhados. Por mais que soubesse que era errado ouvir, que deveria fechar a mente à intimidade dos amigos, a sua curiosidade falava mais alto, e não foram poucas as vezes que imaginara como seria se fosse ela e Aoshi encerrado em um dos quartos.

Os sons foram ficando mais distantes, e ela recostou-se na parede, fechando os olhos. Sentia-se tão cansada. Nunca forçara tanto o corpo quanto neste dia. A imagem da perfeição dos movimentos de Aoshi incitando-a a prosseguir, mesmo quando achava que não tinha mais forças para tal.

Novamente a cena que presenciara pela manhã invadira sua mente. As kodachi cortando o ar, o cruzamento de ambas no Gokou Juji, os cabelos molhados resplandecendo ao sol, a estocada das kodachi no Onmyou Hasshi, a água escorrendo pelo corpo nu, a flexibilidade dos membros em um movimento lento e de equilíbrio, a hakama negra que ele usava apenas para treinar, deslizando até o chão, o salto ágil e letal, o corpo colado ao dela enquanto as mãos percorriam seu corpo...

Misao abriu os olhos sentindo um calor agradável percorrer seu corpo. O coração batia em antecipação e uma moleza tomou conta de todo seu ser. Olhou ao redor, sentindo-se confusa. A casa estava em silêncio e não havia nenhuma luz no interior.

Teria cochilado? Não duvidava, estava tão cansada que escorregar para a inconsciência parecia a melhor coisa a fazer. Levantou-se, pensando em como ninguém a vira sentada no canto da cozinha.

Que horas seriam? Estariam todos dormindo? Onde estaria Aoshi?

Pensar em Aoshi a fez lembrar-se do sonho, onde imagens reais e imaginárias misturavam-se maliciosamente. Gostaria que ele a visse como uma mulher. Não era assim tão nova. A diferença entre eles era menor do que a de Kenshin e Kaoru. Então por que Aoshi-sama não podia deixar de enxergá-la como uma menina?

Olhou-se no espelho, os olhos grandes e expressivos olhando-a de volta. Tocou a trança longa e negra e sorriu consternada. A resposta era óbvia: ela parecia uma menina, pequena e rebelde, não muito diferente da garotinha que o Okashira deixara para ser cuidada por Okina-san.

Soltou a longa trança e passou os dedos entre os fios negros, deixando que caíssem ao longo do corpo. Lembrou das palavras de Kenhin quando o conhecera. Ela era muito velha para mostrar as pernas daquela maneira. Mas nunca preocupara-se com isso. O uniforme curto facilitava a sua mobilidade, e não havia ninguém com quem precisasse se preocupar realmente. Todos a sua volta eram como uma família, e o único que ela ansiava que a visse como mulher, jamais a enxergaria de outra forma que não a de uma garotinha. Então, por que se importar?

Ou seria justamente aí que residia a diferença? Deveria ela vestir-se como uma mulher comum, com kimonos delicados, penteados elaborados e maquiagem?

Deu de ombros, descartando a idéia. Mesmo que fosse esse o problema, não poderia fazer nada a respeito. Ela não nascera para kimonos, obis e a servidão feminina. Era um espírito livre, precisava vagar sem correias para sentir-se viva. Talvez fosse realmente muito criança ainda.

Subiu os degraus em direção aos quartos, cuidando para não fazer qualquer barulho. Parou em frente à shoji de Aoshi, sentindo uma vontade insana de vê-lo. Mesmo sabendo que era loucura, deslizou silenciosamente a shoji e adentrou alguns passos, fechando novamente o quarto.

Observou Aoshi deitado sobre o shikibuton, vestindo apenas uma calça creme. Ele parecia tão tranqüilo, o rosto relaxado, sem a constante inexpressividade que podia ser tão irritante as vezes. A respiração era profunda e aconchegante.

Ela sorriu para si, e aproximou-se do homem adormecido. O corpo era tão bem feito, os ombros largos, a cintura estreita, a calça folgada e macia enroscando-lhe nas pernas. Ele parecia imponente e grandioso mesmo dormindo.

Ajoelhou-se ao seu lado, pensando no quanto era pequena perto dele. E a pele, que parecia aveludada como o pêssego, era coberta por cicatrizes de anos de lutas. Algumas tão antigas e esmaecidas que mal se notavam, outras recentes e ainda sendo suturadas. Mas não diminuíam a beleza daquele corpo esguio e letal.

Misao estendeu a mão, pretendendo tocar o peito masculino, mas parou à centímetros da pele nua. Aoshi a mataria se a encontrasse em seu quarto, no meio da noite. E ela não teria desculpa nenhuma para a invasão.

Puxou a mão novamente para si, repousando-as sobre as pernas. Os olhos, no entanto, continuavam a explorar as linhas do corpo de Aoshi, o subir e descer do peito a medida que ele respirava , as mexas negras do cabelo caindo sobre o rosto, os cílios longos e os lábios vermelhos. Sentiu os seus lábios implorando por tocarem os dele. Era uma sensação tão forte que quase não conseguia resistir.

Sua cabeça estava leve, o sangue fluía por suas veias com tal rapidez que ela sentia cada parte de si ganhando vida, um desejo irracional percorrendo todo o seu ser.

Ele parecia profundamente adormecido. Acordaria se ela o tocasse? Mas se não o fizesse, quando teria outra oportunidade?

Segurou os longos cabelos e inclinou-se, tocando suavemente seus lábios sobre os de Aoshi, tão quentes e doces. Fechou os olhos, querendo prolongar o contato para sempre.

Ele estremeceu e mudou de posição, fazendo-a retroceder mortificada. Teria ele percebido? Esperou alguns minutos no mais completo silêncio, o coração batia descompassado e ela fazia um esforço sobre humano para controlar a respiração que começava a agitar-se.

Quando achou que estava suficientemente fora de perigo, decidiu deixar o quarto. Começou a se levantar com cuidado, mas parou no meio do movimento. Em um ato de rebeldia, reclinou-se sobre Aoshi e depositou um beijo no abdômen liso, lambendo-lhe delicadamente enquanto seu cabelo caía, totalmente esquecido sobre o peito do homem adormecido.

De repente sua cabeça foi puxada para trás com brusquidão, e ela sentiu a kodachi tocar seu pescoço, enquanto os cabelos jaziam enroscados nas mãos firmes de Aoshi .

Ela o olhou assustada, amaldiçoando-se por estar tremendo. O rosto dele era uma máscara de fúria, os olhos faiscavam com desprezo, o que a fez encolher-se apesar da dor que sentia na raiz do cabelo ainda bem preso na mão dele.

A súbita explosão de ira nas feições do Okashira logo cederam espaço para o olhar gelado e a face inexpressiva.

"O que faz aqui?"

O tom era ríspido e perigosamente baixo. Ele estava irritado, isso era óbvio.

Misao tentou falar, mas a kodachi roçando a pele de seu pescoço fez com que todas as palavras lhe fugissem.

"Eu..."

"Você...?"

Não adiantava, nada saída de seus lábios. O terror de vê-lo acordado, segurando-a com tamanha força pelos cabelos que a impedia de reagir, aliada à ameaça da lâmina que por nenhum momento se afastou de sua carne, impediam-na de pensar. Não conseguia arranjar uma boa desculpa, e nem mesmo dizer a verdade. As palavras simplesmente não saíam.

"Vamos, Misao, estou esperando. Por que veio ao meu quarto?"

Ela sentiu lágrimas aflorando em seus olhos e maldisse a própria estupidez. O que dera em sua cabeça para ir até o quarto de Aoshi? Deveria saber que ele...que ele...Mas a verdade é que no fundo jamais acreditara que ele a trataria dessa forma.

"O que estava pensando fazer?"

Ela balançou a cabeça numa negativa, o terror impedindo-a de falar, as lágrimas agora rolando livremente por sua face diante do tom monocórdio, mas extremamente perigoso da voz do Okashira.

Aoshi moveu a kodachi do pescoço de Misao, deslizando-a pela pele macia da garota, contornando a linha dos ombros, o colo imaculado, a fenda na yukata...Com um movimento único, abriu o tecido que a cobria, de modo que pudesse visualizar a pele nua de Misao sob a yukata. O vale entre os seios, o ventre macio, o quadril arredondado.

Misao estremeceu ao toque da lâmina percorrendo sua pele. Fitou os olhos de Aoshi, que pareciam faiscarem enquanto a analisava. Não conseguia entender o que realmente acontecia ali. Por que ele a estava tratando desse jeito? Por que a despia e ameaçava-lhe com a kodachi? Já estava incapaz de mover-se devido a força com que ele a segurava, então para que o terrorismo com a espada? Por que os olhos não se desviavam do seu corpo? Estaria interessado nela ou era uma punição por sua intromissão? Mas então, por que estava tão diferente? Mesmo quando o atormentava incessantemente, desobedecendo claramente suas ordens, ele jamais a tratara dessa maneira. O que fazia dessa noite diferente?

Aoshi esquadrinhou o corpo de Misao, sentindo o íntimo estremecer. Quem ela pensava que era para invadir seu quarto e tocar seu corpo? Era ainda uma menina, pouco mais que uma criança, como ousava tentar seduzi-lo?

A revolta jorrava em sua mente, explodindo em uma fúria que ele não conseguia controlar. E vê-la ali, na penumbra de seu quarto, a yukata semi aberta, a pele aveludada à mostra, despertou seu desejo, o corpo pensando por si mesmo.

A sensação que tivera ao ser acordado pelos lábios de Misao, pela língua quente deslizando em seu abdômen, ainda estava vívida, e o arrepio de prazer e desejo que sentira, crescia a cada minuto que passava diante da garota semi vestida.

Reagira por impulso, permitindo que a raiva por vê-la ali, o dominasse. Gostara de subjulgá-la, a kodachi que traçava uma linha fina sobre a pele nua o excitara ainda mais. Os olhos aterrorizados de Misao não o comoviam. Ela brincara com fogo, e ele estava disposto a mostrar o estrago que um incêndio poderia provocar.

Chegou a lâmina no seio exposto e feriu levemente a carne, arrancando um filete do sangue rubro e quente. Ela estremeceu, surpresa, enquanto tentava olhar para o próprio corpo que começava a sangrar. Os olhos dele estreitaram-se e desejou tocar a pele alva.

Sem realmente pensar no que fazia, inclinou-se sobre a figura delicada e tocou a ponta da língua no sangue, sentindo-lhe o gosto sutil de metal. Foi como se algo explodisse em seus nervos, um ardor percorrendo seus órgãos e turvando seus sentidos.

Puxou-a para junto de si, e tocou-lhe a pele com lábios ansiosos, lambendo o líquido acre que escorria sensual sobre os seios macios. Sua respiração alterou-se ligeiramente, os olhos azuis acizentados escureceram tomados de um desejo insano e incontrolável.

Embainhou a espada, deixando a mão livre para explorar o corpo de Misao. Tocou-lhe os ombros, descobrindo-os pouco a pouco, satisfazendo-se em observar a pele sendo desnudada enquanto a yukata deslizava inútil para o chão. Ela era linda, pequena e delicada. Os olhos grandes e assustados o hipnotizavam, a boca macia e rosada, o pescoço elegante, o colo perfeito...uma antecipação dos seios pequenos mas deliciosamente atraentes.

Tocou a cintura estreita, correndo o polegar em uma circunferência até a base da espinha dorsal, onde espalmou a mão e desceu para o quadril arredondado. Inconscientemente, soltou a mão que prendia o cabelo da garota, garantindo a imobilidade de Misao, e colocou-se de joelhos, permitindo que as mãos explorassem as coxas sensuais e os lábios traçassem um caminho de fogo e desejo pelo ventre liso e bem trabalhado.

Ela permanecia imóvel, incapaz de pensar com clareza. As mensagens que seus nervos emitiam ao seu cérebro a confundiam. Sentia-se ultrajada pela brutalidade, assustada com a reação de Aoshi, queria correr e refugiar-se em seu quarto, enroscar-se no seu futon e fingir que jamais adentrara àquele quarto, mas o corpo recusava-se a obedecê-la, suas entranhas queimando, um calor anormal nascendo em seu íntimo a medida que a língua ávida de Aoshi deslizava em sua pele.

Ele sentiu os dedos de Misao entre seus cabelos, e levantou o olhar para ela. Um meio sorriso perverso surgiu em seus lábios e voltou sua atenção à exploração do corpo feminino. Com movimentos leves como um felino, percorreu com a língua ansiosa o caminho até o vale dos seios de Misao, capturando os mamilos entre os lábios, permitindo-se saborear o gosto adocicado da garota.

Quando ela ameaçou afastar-se, num reflexo tardio ao seu ataque súbito, ele a enlaçou com um dos braços, trazendo-a novamente para junto de si. Ele, de pé, parecia terrivelmente intimidador diante da pequenez da jovem, fazendo-a parecer mais frágil do que realmente era.

Inclinou a cabeça, aproximando-se do ouvido de Misao, onde sussurrou com voz rouca, mas ainda assim austera e feroz.

"Era isso o que queria, Misao? Foi isso o que veio buscar?"

Ela engoliu com dificuldade, os olhos arregalados de pavor, mas o corpo reagindo por conta própria ao contado com a pele quente de Aoshi. O peito dele arfava, atraindo a atenção da garota. Desejou tocá-lo, mas tinha medo que ele interpretasse mal o seu gesto. Desviou os olhos do peito largo, descendo para onde começava a tocar o tecido claro que o cobria, mas que não conseguia esconder que o desejo que ele demonstrava não era apenas uma forma de puni-la. Ele a queria, o corpo denunciava a intensidade do seu querer.

Misao pensou nas inúmeras vezes que imaginara estar nos braços de Aoshi, os corpos enroscados em fogo, a ânsia irracional de senti-lo junto a ela. Mas agora que era real, sentia-se indefesa, sem saber com agir, incerta sobre o que realmente passava na mente do antigo Okashira do Oniwabanshu. Queria tocá-lo, provocar seu corpo como ele provocava o dela, mas não sabia como começar, uma timidez que jamais sentira, tomando conta de seu ser.

Aoshi observou as faces coradas de Misao e a dúvida que a corroía refletida nos olhos azuis. Ela estava com medo, mas ele podia sentir o corpo da garota reagindo ao seu, e, malgrado fosse, o seu reagindo ao dela.

Como se um súbito ataque de consciência a tivesse atacado, Misao o empurrou, afastando-se das mãos que a prendiam. Ele fitou aquele rosto inocente, as curvas sensuais do corpo feminino e se perguntou como uma garota tão nova como ela poderia despertar-lhe tanto desejo?

"A- Aoshi-Sama, eu..."

Ele a observou ruborizar enquanto tentava alcançar a yukata que jazia ao chão.

"Está pretendendo fugir, Misao?" A voz, enrouquecida pelo desejo, destilava um escárnio que ela não estava acostumada a ouvir de Aoshi. "Não era isso o que procurava todo o tempo?" Os olhos dele faiscaram desafiadores enquanto avançava novamente na direção de Misao.

Ela tremia involuntariamente, cônscia de sua nudez, mas incapaz de fazer algum movimento. Sentiu a mão de Aoshi segurá-la pelo queixo e erguer seu rosto, de modo que pudesse ver seus olhos.

"O seu problema, criança, é que sonha alto demais."

As palavras dele foram como um tapa em seu rosto. Sentiu a indignação ferver em seu sangue enquanto o via afastar-se dela. Queria fazê-lo engolir o desprezo com o qual a estava tratando. Ela errara ao invadir o quarto de Aoshi, mas em momento algum dera vazão ao comportamento irracional do antigo Okashira.

"Aoshi-sama."

Ele parou, ainda de costas para ela.

"Talvez eu estivesse querendo muito, mas não sou a única aqui, não é mesmo?"

Aoshi voltou-se para a garota, o rosto encoberto na tradicional máscara inexpressiva, mas o brilho profundo nos olhos azuis acinzentados denunciavam o desejo que ainda o corroía, a despeito de sua palavras ferinas.

"O que quer dizer?"

Ela passou a mão nervosamente pelo cabelo longo, soltando-o logo em seguida em uma moldura atraente pelo corpo nu. Aoshi acompanhou o gesto, tentando refrear o impulso de ir até Misao, toma-la nos braços e possuí-la sem pensar realmente nas conseqüências.

A garota inspirou profundamente, refletindo sobre a importância do que estava prestes a fazer. Cruzou a curta distância que os separava, parando em frente a Aoshi. Podia sentir os olhos dele sobre ela, a respiração alterada, por mais que ele procurasse demonstrar indiferença.

"Quando eu entrei aqui, não esperava nada de você, Aoshi-sama."

A despeito de suas palavras, as mãos dela tocaram a cintura de Aoshi, subindo suavemente pelo tórax largo e bonito. Ele sentiu uma fisgada agradável em seu corpo ao contato com as mãos delicadas de Misao. Pensou nas palavras da garota. Seria ele, durante todo esse tempo, que a desejava? Isso não fazia sentido. Como poderia ansiar pelo corpo de alguém que vira crescer, que o olhara com olhos infantis, e que, apesar dos anos que a separavam daquela pequena criança que ele abandonara, ainda mantinha a inocência de outrora?

As mãos dela ainda percorriam seu corpo, e ele involuntariamente fechou os olhos ao senti-las em sua nuca, dirigindo-o até os lábios de Misao. O beijo foi suave, muito diferente da fúria descontrolada de minutos antes.

Colocou suas mãos na cintura da garota, sentindo o calor do corpo feminino tão próximo ao seu.

"Você tem idéia do que está fazendo, Misao?" A sua voz era pouco mais que um sussurro.

"Na verdade, não."

Ele afastou-se ligeiramente, fitando os olhos azuis e ingênuos da garota.

"Eu permiti que se afastasse uma vez, não permitirei uma segunda."

"Eu...", ela inspirou profundamente antes de continuar. "Eu só queria que soubesse que...que apesar de me parecer com uma, eu não sou mais criança, Aoshi-sama."

Os olhos dele percorreram o corpo bem desenhado, de pele sedosa e seios pequenos. Esquadrinhou a cintura fina, o quadril arredondado e sensual, as coxas macias e atraentes, e ela pôde sentir o escárnio em seu olhar.

"Você escolheu uma forma um tanto quanto ousada de demonstrar a sua saída da infância, não acha?"

Ela afastou-se indignada, sentindo toda a vergonha pelo que tinha passado desde que adentrara o quarto, desabar sobre ela.

"Você...você não entendeu nada!"

Aoshi ouviu a explosão de Misao, e, antes que a garota saísse do quarto, segurou-a pelo pulso, puxando-a de encontro ao seu corpo. Não disse palavra alguma, não era necessário. Já não importava a razão que a levara ao seu quarto. Ela estava ali, ele a queria, e isso era tudo.

Os olhos da garota abriram-se, assustados. Mas, ao invés da fúria incontida que ela esperava, foi surpreendida pelo toque suave dos lábios do ex-Okashira. Ela abriu os lábios ao sentir a língua de Aoshi, permitindo que ele explorasse sua boca.

Aoshi tentou não pensar no que estava fazendo. Não havia motivos para analisar as batidas aceleradas de seu coração, o frenesi agradável que percorria seu corpo, a sensação de calor que o acometia. Sequer tentou dar nome ao sentimento de perda que o invadiu quando a garota se revoltou e decidiu sair do quarto. Tudo em que podia pensar era no corpo delicado encostado ao seu.

Deslizou os lábios pelo pescoço atraente e mordiscou o lóbulo da orelha de Misao, e pôde sentir o corpo da garota estremecer. A respiração acelerada dela era como o ronronar de um gato, suave, mas excitante.

Afastou-se ligeiramente e a fitou. Os olhos de Misao brilhavam de expectativa. Ela parecia insegura e um pouco tímida, mas ele não duvidava que o desejo dela era tão forte quanto o dele.

"Eu acho que nenhum de nós havia entendido muito bem."

Ela sorriu em resposta, abaixando o olhar. Ele tocou o queixo de Misao e a fez olhar para ele. Parecia querer dizer algo, mas abandonou sua intenção inicial e beijou novamente a garota, um beijo sensual e exigente, que fez todo o restante de razão que ainda poderia existir na jovem, evaporar como água ao sol do meio do dia.

Ela tocou com a ponta da língua o pescoço do Okashira e o lambeu, fazendo-o estremecer. Então continuou, deslizando a língua ávida pelo tórax trabalhado e pelo abdômen liso. Suas mãos tocaram o tecido leve da calça creme e começaram a descê-la, sem que sua boca abandonasse a pele de Aoshi.

A respiração dele estava entrecortada. Podia sentir a timidez de Misao, o assombro com que o olhara ao despi-lo, a incerteza de estar fazendo a coisa certa. Gostaria de reagir, mas as mãos delicadas da garota estavam fazendo sua mente nublar-se, a língua explorava-o com voracidade, como a saborear sua essência. O calor que percorria sua veias era quase mais forte do que podia suportar, todo o desejo que guardara bem escondido dentro de si, vindo a tona.

Colocou-se de joelhos, mais uma vez fitando a profundidade dos olhos azuis de Misao. Permaneceram parados, um diante do outro por alguns segundos, como a calmaria antes da tempestade avassaladora. Ele a deitou e pegou delicadamente nos pés da garota, mordiscando-o sensualmente. Ela estranhou a princípio, mas acabou rendida à sensação estranha, mas excitante.

Abandonando os pés de Misao, as mãos de Aoshi subiram lentamente pelas pernas da garota, fazendo-a sentir um arrepio percorrer seu corpo. Os olhos dele estavam fixos nos dela, como se quisesse ler cada reação que ela teria.

As mãos dele alcançaram suas coxas, onde ele finalmente deixou de fitar os olhos azuis para beijar a pele macia, deslizando voluptuosamente a língua até o centro do prazer da garota. Podia sentir a umidade que se espalhava, fazendo-o consciente do desejo incontido de Misao. Agora ela era sua presa e o agradava tê-la sob seu domínio.

Continuou seu pequeno jogo, instigando-a e retrocedendo até ver a garota implorar com seu corpo e gemidos roucos. Ele afastou-se ligeiramente, fazendo com que uma corrente de ar lambesse o corpo de Misao, e a fitou novamente, o olhar intenso a queimando. E, antes que ela pudesse se dar conta do que aconteceria, ele a penetrou.

Os olhos de Misao arregalaram-se assustados, o grito sufocado pela boca de Aoshi cobrindo a dela, até que a dor insana cedeu lugar a um frenesi até então desconhecido e todo o seu corpo foi tomado de espasmos de prazer até sucumbir em uma lassidão agradável.

Ele olhou para Misao, ainda incerto do que encontraria nos olhos azuis. Ela respirava com dificuldade e os olhos permaneciam fechados, mas, sentindo o olhar de Aoshi queimando sua pele, ela os abriu e o fitou. Não conseguiu pensar em nada adequado para dizer naquele momento, e apenas sorriu.

Aoshi observou o sorriso doce e feliz da garota e se perguntou como pudera vê-la apenas como uma menina por tanto tempo. Sorriu em resposta, ciente de que era um sorriso singular e breve, mas sincero.

Ela tocou em sua face com delicadeza, contornando seus lábios com os dedos. Então o puxou novamente para si, fazendo-o sorrir intimamente. Misao seria sempre Misao, e ele... ele a faria entender que o incêndio nem mesmo começara.

FIM.

~*~*~*~

Nota da autora: Ok, podem dizer, o final está horrível. Mas é que eu simplesmente havia empacado, estava com a fic emperrada há mais de 01 mês (ou seriam 02 meses?) e não agüentava mais olhar para a cara dela inacabada.

Desculpem-me, eu sei que poderia ter feito melhor, mas...nem sempre a inspiração vem quando precisamos dela.

Seja como for, espero que tenham gostado da coisa de um modo geral. Esqueçam que o final (os últimos 11 parágrafos) está horrível e vamos em frente...

Eu pretendia fazer uma fic onde o Aoshi apenas usava a Misao, mas...bom...na impossibilidade de tal coisa acontecer aqui (graças ao maldito bloqueio que sofri), deixei essa idéia para a fic que estou escrevendo agora.

Agradecimentos: As minhas duas betas que são pessoas maravilhosas e não tem medo de puxar minha orelha quando não gostam do que escrevi. Vocês duas merecem os créditos muito mais do que eu.

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