Fome Youkai
Umi no Kitsune

Capítulo 5 - ... dos  Azedos: O Amor
“Como ousa, seu...!!!”

Dentro de uma cela especial, com apenas duas pequenas janelas de vidro grosso e com a porta selada com youki, Hiei se perdia no meio das explosões que ele mesmo provocava. Algumas vezes aparecia grudando o rosto em uma das janelas e gritava coisas inaudíveis por causa da espessura da cela, mas mesmo assim, seus olhos diziam tudo o que seus receptores não conseguiam ouvir. A raiva extrema. Todos dentro daquela sala sabiam que qualquer falha no sistema seria a morte para eles. Os olhos vermelhos diziam isso. Um vermelho profundo, pareciam ser feitos de sangue. E era exatamente isso que queriam: sangue.

No meio de toda a confusão e estrago que Hiei fazia dentro da cela havia um propósito. Brincar com a mente da pessoa que fez dele um prisioneiro. O Jagan brilhava mais do que nunca, na fumaça da cela era apenas o seu brilho que denunciava os movimentos de Hiei, que se importava pouquíssimo com isso, afinal, estava conseguindo o que queria.

Um som ecoou pela cela e fez o koorime parar e olhar atrevido para a janela.

“Pare com isso!!!”

“Você é um frouxo mesmo, Yomi!”

O rei de Gandara, com a mão ainda prensada contra a parede da cela, tinha a face transtornada com as sobrancelhas franzidas. Hiei entrara na sua mente... como? O youkai de fogo ficou por três horas tentando entrar na mente de Yomi sem sucesso. Agora que conseguiu apenas provocava, xingava, falava de Kurama deliberadamente, deixando o rei louco de raiva. Ele conversava na sua mente, gritando tudo o que Yomi já sabia mas negava em admitir: Kurama não era seu, não o amava. O admirava, mas apenas como um amigo. Um amigo distante.

“O que você quer afinal?”

“Vai me escutar”

“Não tenho outra opção.”

“Hn. Você gosta de perder tempo... me trancar aqui dentro e se recusar a me ouvir foi uma grande burrice!”

“Você atacou os meus soldados, atacou o meu reino! E, principalmente, atacou o meu filho!”

“E você sabe que eu não faria isso sem um bom motivo...”

“Qual é esse bom motivo afinal?”

Hiei esboçou um sorriso e caminhou lentamente do meio da cela até a janela onde dava para ver Yomi.

“Estou com fome.”

Yomi refletiu. Hiei podia ver tudo o que se passava na mente do rei: vazio. Um completo vácuo.

O rei de Gandara, muito inteligente, logo no primeiro instante soube o que estava por trás dessa simples declaração de Hiei. Ele pedia ajuda por não saber como controlar sua própria fome diante de Kurama. Mas Yomi não sabia o que fazer, o que responder, como ajudar. Ele simplesmente não sabia.

Ao ler o vazio de opções que Yomi lhe ofereceu, Hiei deixou de sorrir e seu rosto se contorceu em uma máscara de ódio.

“Eu estou com FOME!!!”, ele gritou, “Não entende? É fome youkai!!!”, Hiei se aproximou da janela, “Eu preciso comer humanos!!!”

Yomi continuava em silêncio. Na verdade, nunca pensara nisso. Ele mesmo ainda comia humanos sem traumas nem culpas. Era o alimento básico de qualquer youkai. Ficar sem comê-los seria cometer suicídio, seria provar ao Makai ser tão louco quanto o Raizen.

Yomi nunca pensou nisso. Nunca ligara-se ao fato de Kurama agora ser humano e que era contra esse ato natural dos youkais, comer humanos... Yomi estava confuso. Por Kurama faria qualquer coisa... mas deixaria de comer?

O rei levantou o rosto e, com seus sentidos, achou a figura irritada de Hiei emanando uma energia forte e destrutiva. Um pensamento passou pela sua mente: Hiei faria qualquer coisa por Kurama... até pedir ajuda a Yomi. Ele fez, ele agüentou, ele quer...

“Sim, Yomi! E por qual outra razão eu estaria aqui?”, disse Hiei lendo a sua mente

“Eu...”

“Você não presta, Yomi! Não presta! Me tire daqui! Você é inútil pra mim!”

De repente Hiei parou de bater contra a parede da cela e ficou estático com os olhos bem abertos e em posição de alerta.

“Se você encostar um dedo nele enquanto eu estiver aqui...”, foi um sussurro cheio de ódio que Hiei falou na mente de Yomi

“... o que quer dizer?”, o rei não sabia o por quê da mudança de comportamento de Hiei

“Me tire daqui!!! Seu verme desgraçado!!!”, Hiei começou a disparar bolas de youki contra a cela, “Eu não quero que você encoste nele!”

“Mas do que você está falando, garoto? Kurama não está aqui!”

“Eu não quero que encoste nele... Não quero...”

Hiei não parava de disparar contra toda a extensão da cela. Em poucos minutos, o koorime foi envolto por uma nuvem de poeira e perdeu o contato com a mente de Yomi. O Jagan fechou-se e junto a isso um silêncio preencheu a cela.

Conforme a nuvem baixava, uma figura negra e encolhida começou a aparecer. Hiei tremia convulsivamente, abraçava as pernas enrolando-se em si mesmo. Ele tentava conter a força que ameaçava explodir dentro dele. A força que doía em seu corpo todo, parecendo rasgar sua carne de tão forte.

“O que está acontecendo...”

Antes mesmo que Yomi pudesse pensar em alguma resposta, um youki muito familiar chamou a atenção dele. Kurama se aproximava de Gandara. Era a resposta que Yomi queria. Hiei notou a chegada de Kurama muito antes de Yomi, por isso a mudança tão brusca de comportamento.

Mas agora...
 

*******
 

Hiei não sabia o que pensar quando, deitado ao chão, se abraçando e tremendo violentamente, viu a figura de um humano gritando e batendo na janela. Ele sabia que era um humano, já tinha o visto antes, não sabia onde, mas... na sua memória a forte lembrança de um perfume era associada aquele humano.

O koorime escondeu o rosto entre os braços e gritou quando a lembrança se fez mais clara. Então era aquele humano... ele é tão lindo...

Com um pulo, Hiei se moveu até a janela onde o humano estava. A expressão deste mudou de desespero para alívio quando Hiei se aproximou, e ele parou de bater e gritar contra o vidro, passando apenas a observar silencioso.

Hiei tocou o vidro no lugar onde estava a mão do humano e imediatamente se afastou, sentindo uma energia muito forte pulsando na sua palma. Ele aproximou a mão novamente, devagar, tocando com as pontas dos dedos primeiro, sentindo a energia estranha passando a barreira de vidro e percorrendo o caminho dos dedos, braço e indo parar acelerando os batimentos em seu peito.

Ao contrário do que esperava, aquilo não o machucava, nem o incomodava. Na verdade, era gostoso e até prazeroso sentir aquela energia entrando no seu corpo. Era uma sensação diferente que não se lembrava de ter experimentado antes, mas sentia-se, de alguma forma, familiar a ela.

Hiei espalma a mão no vidro e se surpreende ao notar um sorriso nos lábios do humano. “Estranho...”, ele pensa, “Por mais que pareça que é ele quem está fazendo isso, alguma coisa me diz que... Por que eu sinto que eu participo? Que é só comigo que essa energia acontece... só comigo que ela se mostra? Dele... pra mim.”

“Hiei...”

O koorime arregala os olhos vermelhos, espantado. A energia que entrava pelo seu corpo crescia e se acumulava, quase sufocando-o, mas ele não queria pará-la, não queria interrompe-la. Hiei colocou a outra mão no vidro e olhou sério para o humano esperando que ele também coloque sua outra mão lá. O humano obedeceu a ordem muda.

Um grito de dor sai de Hiei enquanto ele curva o corpo e fecha os olhos com força. A energia não apenas sufocava mas transmitia a sensação de que seu corpo começou a ser rasgado por dentro. Hiei sentia-se ferido, sangrando... por dentro.

Ele se afasta da janela e dá alguns passos para trás até chegar ao meio da cela. Lá, ele desaba no chão, seu tronco subindo e descendo com a respiração pesada e falha. Suas mãos fechadas em punho, a cabeça pendendo deixando as várias gotas de suor caírem no chão.

Hiei grita de novo. Ele abre os olhos e percebe que o que sente já não é mais nenhuma brincadeira da sua mente. O sangue que via escorrendo das suas costas era real. A dor era real. Hiei se curva tentando agora frear a energia, mas que já está muito mais forte do que ele.

A roupa preta é rasgada e uma enorme asa negra surge nas suas costas, o sangue correndo livre pelo ferimento e pela extensão da asa. Ofegando e gemendo de dor, Hiei tenta se levantar mas o peso da asa o faz cair e antes que pudesse se mexer de novo, uma segunda asa surge, fazendo-o gritar, curvando ainda mais o corpo.

A dor é imensa e completamente dominadora, ela tira todos os sentidos de Hiei, deixando-o mudo, cego, surdo... apenas o coração ainda responde por si mesmo, numa batida rápida e descompassada que vai diminuindo até ficar rítmica e lenta.

Lento... muito lento... todo o ambiente a sua volta parece girar lentamente e o koorime pisca várias vezes, sentindo-se cada vez mais tonto, mais sem controle de sua própria força, sem controle da realidade. Então, como num baque, tudo pára. Seu coração, a sala, sua força some por completo e Hiei se vê em uma escuridão.

Ele pisca de novo, espera algum tempo para ver se sua visão se acostuma com a escuridão, mas nada muda, nada acontece... Não era escuridão, ele entende por fim. Era apenas negro. Negro e calmo, negro e silencioso, negro e quente.

Hiei aproxima a mão da massa negra que vibrava a sua volta, bem próxima a ele. Mexia-se curta e lentamente, num movimento quase imperceptível, como uma respiração lenta, e também transmitia calor, uma sensação de proteção, de conforto, de paz...

Os dedos tocam e tremem. A massa negra treme junto e Hiei arregala os olhos assustado. Ele sentiu e tremeu... era como se fosse ele mesmo, como se tocasse a si mesmo, sentia e só agora percebia... aquilo fazia parte dele... era ele! Hiei suspira pesadamente e a massa negra acompanha delicadamente o movimento de seu tronco. Ainda assustado, o koorime aproxima novamente a mão e sente como é essa pele. Grossa e com leves reentrâncias, quente e úmida, como se estivesse suada.

Decidindo-se Hiei fecha os olhos e comanda que aquilo se mova. Ele sente um pequeno movimento e um repuxar de músculos nas suas costas e ao longo das duas... coisas negras que lhe envolviam. Abrindo os olhos, ele faz um movimento mais largo e percebe uma claridade aparecer em uma fresta.

“São duas asas!”, Hiei sussurra surpreso para si mesmo, “A lenda é verdadeira...”

“Um youkai de fogo... essa é a raça dele.”, a voz imponente e grave do chefe do bando se fez ouvir, calando todas as outras.

Um bando inteiro conversava e debatia sobre a raça do jovem youkai capturado. Ele fora pego roubando comida, amarrado e enjaulado. Apesar de pequeno era muito forte e dera muito trabalho. Isso fez que a maioria do homens discutissem de que raça ele era para explicar a possível força do moleque.

“Esse pirralho é um maldito youkai de fogo...”, ele riu levando a caneca de bebida a boca, “Vocês conhecem a lenda dos youkais de fogo?”, apenas os mais velhos responderam que sim.

Qual youkai velho não conhecia a lenda dos youkais de fogo? Era antiga demais e quase ninguém comentava mais sobre ela, mas os antigos youkais ainda podiam se lembrar das histórias da época em que o Makai e o Ningenkai eram um mundo só.

“Os youkais de fogo... descendem dos dragões antigos que sobrevoavam o Makai e o Ningenkai quando os mundos ainda eram unidos...”, o chefe disse pausadamente, “Foi a raça youkai que mais deu trabalho a Enma-daio quando o maldito resolveu nos separar de nossa comida... eles eram terríveis, destruíam a tudo e a todos, sem se importarem se era youkai ou ningen, apenas queriam ver morte. Eram os que mais matavam humanos, pois comiam sem parar... alguns sábios diziam que eles precisavam sempre de muita energia para repor o que gastavam voando e lutando. Como tinham uma velocidade incrível quando voavam e o faziam durante horas e horas, precisavam de energia. Eu acho que eram um bando de esfomeados!”, uma seqüência de gargalhadas bêbadas preencheu o ambiente até que o chefe voltou a falar, “Mas a festa desses dragões malditos acabou quando o safado do Enma-daio os transformou... ele confinou o corpo de um dragão em um corpo humano... foi a desgraça. Toda aquela força, aquelas asas enormes, tudo preso num corpo ningen. Com isso eles perderam grande parte da força. Os primeiros tentaram se libertar, mas não entenderam que não era apenas um corpo novo cobrindo o original... era pra ser uma substituição lenta e dolorosa. Era uma fusão... então a maioria da raça morreu ao destruir-se tentando soltar-se. Os que sobreviveram... morreram em seguida por não conseguirem controlarem pedaços do corpo de um dragão em um corpo tão fraco como o de um ningen. A raça dos youkais de fogo quase foi extinta. Mas sobreviveu. Alguns poucos conseguiram dominar o corpo ningen e o poder voltava aos poucos através dos séculos e conforme a reprodução deles... cada youkai de fogo jovem tinha mais controle de sua força e de seu corpo que seus antepassados, mas até hoje o número desses youkais ainda continua pequeno e até onde eu sei nenhum deles conseguiu ter todo o seu poder de volta.” [1]

“Essa é a lenda dos youkais de fogo?”, perguntou um dos mais jovens cheio de curiosidade e encantado com a história que acabara de ouvir

“Não.”, respondeu o chefe, tomando mais um gole de bebida logo em seguida, “A lenda dos youkais de fogo é bem menos interessante... por isso quase ninguém conhece. A lenda diz que o motivo real de Enma-daio aprisioná-los em corpos humanos foi o amor.”, ele esperou que o burburinho baixasse e então continuou, “Conta a lenda, que uma criança ningen, da janela da sua casa, que ficava escondida nas montanhas, via todo o dia um bando de dragões indo e vindo da cidade para de trás da montanha. Como a menina não saia da montanha, não imaginava o que eles faziam na cidade, achava apenas que eles ficavam voando de um lado para o outro, a idiota...”, alguns risos depois ele continuou, “Mas ela acabou encantada pela beleza dos dragões, negros e com olhos cor de sangue, asas enormes que faziam ventos fortes e potentes e a cauda que balançava livre. Um dia... um desses dragões caiu na montanha, era o maior deles e fez a terra tremer com o baque. A menina, feliz, correu para vê-lo de perto. Ela não pode conter a excitação pois ficou mais encantada ainda ao ver quão mais belos eles eram de perto. Só que o dragão que caíra não estava ferido, estava cansado, estava velho. O que ele conseguia na cidade, a energia que conseguia comendo ningens, não o sustentava mais nem para voltar para onde o bando repousava. Ele então resolveu descer e morrer ali mesmo. Foi quando ele viu a pequena menina e, faminto, devorou-a.”, todos riram do jeito com que o chefe contara essa última parte, dando de ombros, para enfatizar a naturalidade do fato narrado, “Claro que ele morreu do mesmo jeito, pois a menina era muito pequena para sustentar um dragão tão grande, nem bater as asas ele conseguiu com a energia dela. Conforme a lenda, Enma-daio achou isso a gota d’água e aprisionou todos os dragões em corpos humanos para que eles saibam como uma pessoa fraca e ao mesmo tempo tão complexa pensa e sente sobre o que acontece a sua volta... como os humanos são fáceis de se encantar, de se apaixonar... de amar... mesmo que esse amor represente um perigo, eles amam e sofrem. Antes do último dragão ser aprisionado, ele perguntou: por que? Você sabe que nós nunca sentiremos essas dores que os ningens sentem... por que perder tempo, Enma-daio? Então, Enma-daio respondeu: Vocês vão aprender... são mais fortes por fora, mas os humanos são mais fortes por dentro. Enquanto vocês vencem as batalhas de fora, perdem as de dentro. Aproveitem, que esse castigo é também uma benção.”, o chefe disse dramaticamente mudando o tom de voz e estufando o peito, “Pois a mim parece que Enma-daio deve se arrepender até hoje do que fez... é só olhar pra esse pirralho pra saber que ele é mais selvagem que qualquer dragão antigo. Se tiver algum sentimento humano nele... deve ser apenas o amor... o amor pelo sangue.”

Hiei escutou tudo encarando friamente os olhos amarelos do chefe do bando, amarrado e enjaulado, não movia um músculo sequer, não fazia barulho, apenas encarava, os olhinhos vermelhos prometendo uma vingança a essa situação humilhante.

“Mas...”, o velho voltou a falar de repente, “Tem mais lendas dos dragões de fogo... dizem que alguns, não agüentando a fome, pois os youkais de fogo sempre comeram muito, enlouqueceram e alguns explodiam de insanidade... quando controlados por essa fome louca... alguns conseguiam voltar a ter asas e a ter grande parte da força recuperada. Mas isso de nada adiantava... porque eles já estavam loucos com a ruptura da estrutura humana que, dizem, dói como a própria morte. Outras lendas ainda dizem que o castigo de Enma-daio não se resumiu apenas nisso... que ele não contou tudo o que fez ao mudar os corpos dragões dos youkais de fogo para corpos ningens... mas são muitas histórias, algumas podem ser verdadeiras, outras falsas... o que importa é que Enma-daio falhou!”, ele levanta a caneca cheia de álcool e grita acompanhado dos outros.

Hiei, no canto escuro da jaula, começa a cortar as cordas que o amarram com os próprios dentes, aproveitando que todos os olhos pararam de examiná-lo como a uma aberração.

“Verdadeira...”, Hiei sussurrou de novo, assustado com a própria descoberta, “O maldito velho não inventara... é verdadeira!”

Sem saber direito o que fazer agora, Hiei tenta com desespero se lembrar de todas as histórias que já ouvira falar sobre a raça dele. Estava confuso, muito confuso. Além de assustado e, tinha que admitir, com medo. Tinha um buraco enorme em sua mente que atrapalhava seus pensamentos. Hiei se desesperava cada vez mais interiormente pois lembrava-se bem das palavras do velho youkai... que ninguém sabia exatamente qual era o castigo que Enma-daio dera aos seus antepassados.

Será que era apenas isso? Ou tinha mais? Iria apenas ficar com essas duas asas negras enormes, machucando-lhe as costas, e louco de fome? Iria morrer de loucura? Mesmo sendo só isso que o castigo de Enma-daio poderia lhe causar, Hiei se desesperava em pensamentos. Morrer desse jeito humilhante... de fome... morrer de fome youkai!

Algo na mente conturbada do koorime lhe disse para não ficar parado, pensando no que irá acontecer. Devia, isso sim, pensar em fazer acontecer. Não deixaria que um castigo aos seus antepassados prejudicassem a sua vida. Não morreria! Não se permitira morrer. O único motivo que o fazia pensar assim era...

“Hiei!!!”

O grito inflamado de desespero quebrou seus pensamentos. Só então Hiei percebeu mais sons à sua volta. Batidas fortes, o barulho de metal contra metal, de algo se esforçando para não romper-se. Gritos e mais batidas. Podia escutar o som de gotas caindo em uma poça, a respiração pesada de alguém, o roçar de peles grossas.

Abrindo as asas, Hiei se viu no cenário mostruoso do qual se escondia. O roçar de peles era uma asa contra outra, a respiração pesada... era sua. As gotas eram seu sangue que caía na poça formada nos seus pés. A sala onde estava... era uma névoa de poeira cinzenta... podia perceber que as paredes de metal rangiam contra a força externa de algum ki...

Quando a névoa baixo um pouco, Hiei pode visualizar uma janela... e alguém do outro lado batia com força contra ela... e gritava... e gritava... não parecia querer desistir. Por que alguém gostaria tanto de entrar nesse lugar horrível? Era dessa pessoa a força que tentava destruir as paredes de aço do lugar onde estava.

Por que? Por que alguém se importaria? Quando a poeira abaixou mais, de onde estava, do centro da sala, o koorime percebeu o movimento de plantas ao redor do rosto assustado na janela. Kurama...

Hiei abaixou o rosto triste. Todos os seus sentidos voltaram nesse instante. Todos os seus sentidos e recordações. Não morreria. Não morreria porque Kurama se importa. E ele se importa com Kurama. Mais do que a si mesmo. Fechando os punhos com força, Hiei decidiu que não morreria, não desistiria de Kurama.

“Mesmo que ele me odeie... odeie o que eu me transformei...”, Hiei murmurou essas palavras enquanto suas asas fizeram um elegante movimento, abrindo-se e ocupando grande parte da sala, “... eu vou amá-lo... eu o amo... eu nunca vou deixá-lo!”
 

Com essa resolução, Hiei nem percebera que ele, como youkai de fogo, admitia a dor e o sofrimento do castigo de Enma-daio.
 
 



[1] Coisas importantes sobre os dragões de fogo: eles são youkais mesmo e não têm nenhuma ligação com aquelas divindades bondosas chinesas, é só mais uma raça só que com forma de dragão que cospe fogo... e esses dragões têm asas, até onde eu sei as divindades chinesas voam, mas não têm asas. Enma-daio não usou humanos para prender os youkais, ele prendeu os youkais em corpos tipicamente humanos, ou seja, com a mesma força e estrutura de um humano. Eu achei essa idéia legal já que com tantos youkais feiosos que aparecem em YuYu (estou falando dos figurantes, não metam meus lindinhos Yomi, Karasu e Kuronue nisso!!!), Hiei teve a sorte de ser lindinho e fofo com um corpo humano (tá certo que a gente não viu como é dentro daquelas calças, mas... imaginemos!^_~). Outra coisa... o negócio de fusão e de filho ser mais forte que o pai não é embalação de Dragon Ball, não. É só imaginar: dois corpos completamente diferentes foram forçados a uma fusão. A com-fusão de células, órgãos e secreções novas não é brincadeira... o processo é lento, muito lento, demora séculos... ou seja, é natural que o filho já venha com um corpo mais capaz e conseqüentemente a volta da força original fica mais fácil pra ele. Mas não é aquele troço de pai e filho já com diferenças enormes. Como o negócio é lento, pra quem tá dentro da coisa (ou seja, os youkais de fogo), não se vê diferença nenhuma entre, pelo menos, o vovô, o papai e o filhinho, e sim, diferença entre o menininho que tá começando e seu tataravô. Imaginem como se fosse o negócio do siso conosco humanos, alguns tem, outros não, mas quem não tem, tem algum parente velho que já teve.^___^ Eu sei que o Raizen participou da época quando o Makai e o Ningenkai era uma coisa só... e que ele só viveu mil anos e alguma coisinha, ou seja, faz menos de mil anos que, no calendário do tio Togashi, o Makai se separou do Ningenkai. Ou seja... a minha conta estaria errada, pois não daria para o Hiei ter tataravô com corpo humano se houve a fusão na época da separação dos dois mundos, mas vamos imaginar que Raizen foi um youkai feliz com seus mais de seis mil anos (melhor ainda, vamos esquecer que Raizen existe!^^ por enquanto, claro!)e imaginar que passaram-se séculos e séculos, porque eu quero estender a família do Hiei a muito mais que míseros tataravôs... para explicar a força do koorime agora eu preciso disso, né? Última informação chata da autora: essa lenda foi inventada por mim, eu não me baseei em nenhuma lenda do Japão, mas eu também duvido que possa existir alguma do gênero nas lendas japonesas ou chinesas já que eles cultuam muito os dragões como sendo bons e não... comilões.^^ Ah! Não esqueçamos que Hiei é um miscigenado, ele não é um youkai de fogo puro, tem o problema (ou vantagem) do sangue de koorime. Pronto, acabei... podem ir embora!^_~


capítulo 6
Umi no Kitsune
Yu yu hakusho
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