Eclipse Lunar

Yoko Hiyama

Parte 1

- Yuki! Yuki! Você está bem? Yuki?! - a voz preocupada de Touya puxou Yukito do seus sonhos bruscamente.

- Hñ? To-ya? O que aconteceu?

- Você dormiu novamente. Chegou a cair da carteira!

Foi nesse momento que Yukito olhou em volta com um pouco mais de atenção. Estava no chão da sala de aula e todos olhavam pra ele num misto de espanto e preocupação.

- Você está bem, Tsukishiro-San? - a professora perguntou.

- Sim... eu acho... apenas caí no sono de repente e perdi o equilíbrio. Sinto muito...

- Não é melhor voltar pra casa e descansar um pouco?

- Não é preciso. Eu estou bem. Prometo que não vou voltar a dormir.

- Bom, então está bem. Vamos voltar a aula.

Touya puxou o amigo do chão sem dizer uma palavra sequer, sabia que qualquer coisa que dissesse acabaria por fazer com que o amigo se sentisse ainda mais constrangido. E foi por isso mesmo que Touya fez força para voltar a se concentrar na aula, mesmo que aquilo lhe parecesse uma missão difícil demais.

Como se concentrar na aula quando estava perfeitamente ciente de que seu mais querido amigo logo deixaria aquele mundo?

Touya cerrou os punhos com força, afastando aqueles pensamentos de sua mente.

"Não! Yukito não vai desaparecer! Eu não vou permitir que isso aconteça de maneira alguma!"

******

Era hora do almoço.

Touya demorou um pouco mais para sair da sala, conversando com a professor, mas quando finalmente foi liberado a primeira coisa que fez foi procurar pelo amigo.

Foi encontrá-lo sentado debaixo de uma árvore. Parecia ainda mais abatido do a alguns minutos atrás. Touya fingiu não ter reparado naquilo e sentou-se ao lado dele enquanto desembrulhava seu almoço.

Mas não pôde continuar indiferente frente a aparência sombria do amigo.

- Que cara é essa, Yuki? Nem parece que esta é a sua hora preferida do dia...

- Desculpe, To-ya. - ele forçou um sorriso - Mas é que estou com muito sono. E com muita fome também.

- Então coma!

Yukito olhou pra ele, perturbado.

- Eu já comi... acabei de comer....

Em momentos normais, Touya soltaria uma piada qualquer sobre a constante gula do amigo. Então os dois simplesmente dariam uma risada e mudariam de assunto. Mas as feições de Yukito não sugeriam nenhuma piada. Sua perturbação era evidente.

Touya voltou a embrulhar seu almoço e o depositou no colo do amigo.

- Toma. Deve ajudar. E quanto ao sono... volte pra casa depois do almoço e descanse. Não quero vê-lo caindo da carteira de novo.

- Não To-ya! Eu não posso aceitar! - Yukito tentou devolver a comida, envergonhado - É o seu almoço. Eu já tenho o meu.

- Deixa de ser bobo! Só estou te dando porque detesto esse prato. Coma e não reclama! - Touya deitou-se sobre a relva e tratou de ignorar solenemente os apelos do amigo para que pegasse a comida de volta.

Por fim, a fome falou mais alto e Yukito devorou a comida em poucos minutos. Quando terminou de comer, estava longe de deixar de ter fome, mas sentiu que seu espírito tão perturbado nos últimos dias tinha se saciado.

- Muito obrigado, To-ya! - ele sorriu - estava uma delícia.

Touya sentou-se novamente na relva e olhou para Yukito.

- Yuki!

- Sim?

- Yuki.... preste atenção... - Touya segurou o queixo do amigo com os dedos como se quisesse força-lo a olhar nos seus olhos - eu sei que isso deve ser difícil pra você aceitar, mas... eu... queria dizer....

A expressão do amigo tornou-se confusa. O que Touya tanto tentava lhe falar nos últimos dias? Será que tinha finalmente descoberto toda a verdade? Será que sabia que o que sentia por ele era um amor muito distante do amor de amigo?

Não.. era impossível. Mais do que tudo no mundo, Yukito tinha se preocupado em esconder essa verdade até dele mesmo e agir como sempre tinha agido antes de perceber aquele indesejado sentimento dentro do seu coração.

Não que Touya não o merecesse. Merecia sim cada gota do seu amor e até muito mais do que isso. O que Touya não merecia era a decepção de saber que ele se aproveitara de toda a sua amizade para cultivar um sentimento completamente... errado...

- To-ya... do que está falando? - Yukito se forçou a perguntar.

- Eu estou tentando lhe dizer que eu...

- TOUUUUUUUUUUUYAAAA-KUUUUN!!!!!! - uma voz conhecida o impediu de continuar.

- Nakuru... - Touya resmungou o nome dela com impaciência quando a viu tomando impulso para se lançar no seu colo onde se aninhou como uma gata, as mãos deslizando pelo tecido de sua blusa numa carícia provocante.

- Onde se enfiou? Eu estava tão solitária....

- Por que não procura outro para atormentar, Nakuru? - Touya perguntou, já há muito esquecido das boas maneiras.

- Não seja tão rude, queridinho...

- E saia do meu colo.

- Não quero! Estou muito confortável aqui. Além do mais, não estou nada disposta a ceder meu lugar! - Nakuru olhou pra Yukito de uma forma desconcertante.

Como sempre, o rapaz procurou ignorar as provocações da garota e se limitou a sorrir pra ela, como se não tivesse compreendido a indireta. Afinal de contas, era muito inocente se deixar levar por uma rivalidade tão tola. Mesmo porque, sabia que as chances dela era ainda menores do que as dele próprio.

Convencido a não dar mais motivos para espetadas, levantou-se.

- Yuki, aonde vai?

- Vou jogar isso aqui no lixo. Não demoro.

- Eu vou com você.

- Não será preciso.

- Yuki!

- Deixe ele ir... - Nakuru falou - você não precisa dele... tem a mim agora!

A reação de Touya foi um brusco empurrão.

- Ai, por que fez isso, seu grosso? - Nakuru gritou.

- Não torne a repetir isso!

- Do que está falando?

- Você sabe!

Touya se afastou, visivelmente irritado:

- Ora, Touya... por que não aceita a partida dele logo? Seria tão mais fácil... - Nakuru falou pra si mesma, sorridente.
 
 

******

- Acorde, Yuki! Yuki!

- Ah? Eu dormi de novo? - Yukito esfregou os olhos.

- Parece que sim. - foi a resposta de Touya.

- Droga... estou com tanto sono.... quantas aulas eu perdi?

- Todas!

Yukito arregalou os olhos:

- Não está falando sério!

- Sabe que não mentiria.

Yukito apoiou a cabeça sobre as mãos:

- Eu não entendo... o que está acontecendo?

Seu coração quase pulou da boca quando sentiu as mãos grandes de Touya forçando-o a olhar diretamente pra ele e então seus dedos deslizando por sua face.

- Yuki... talvez você ainda não tenha se dado conta... ou... quem sabe esteja com medo... mas eu preciso lhe dizer que eu... já sei de tudo.

Yukito estremeceu de susto, mas foi incapaz de falar uma palavra. E se Touya realmente soubesse de toda a verdade? O que faria? Riria como se ele tivesse contando uma grande piada? Ou assumiria a verdade se arriscando a perder tudo, até sua amizade?

Indiferente à confusão que se fazia em sua mente, Touya prosseguiu, decidido.

- Yuki... eu já sei de tudo. Sei que você...

- Por que demora tanto, Touya?! Todos já saíram da sala! - Nakuru se pendurou no pescoço do rapaz e então sorriu maldosamente para Yukito. Ele devolveu com um sorriso aliviado. As intervenções de Nakuru adiavam uma conversa que ele não tinha muita certeza que queria enfrentar. Por isso, tratou de reunir suas coisas, aproveitando a distração de Touya, e se levantar.

- To-ya. Nos vemos amanhã.

- Espera, Yuki! Eu vou contigo! Me larga, Nakuru!

- Nem pensar.

- Não é preciso. Eu estarei bem. Vou pra casa dormir um pouco. Até amanhã.

Yukito deixou a sala visivelmente abatido.

******

Touya pegou o telefone pela terceira vez, indeciso. Não foi preciso mais do que três segundos para que o colocasse novamente no mesmo lugar.

"Falo com ele amanhã."

Sentindo-se esgotado, subiu as escadas lentamente e foi pro quarto. Sem dúvida, observar o melhor amigo definhando dia a dia sem poder fazer nada era uma provação muito dura pra ele.

Não podia permitir que Yukito desaparecesse daquele mundo, que saísse de perto dele! Não! Isso ele não deixaria acontecer!

******

- Touya?! - Nakuru se voltou com um sorriso quando viu Yukito entrando na sala de aula mas logo se decepcionou ao perceber que o rapaz vinha sozinho - Ah... é só você...

Yukito apenas sorriu e fez uma pequena reverência antes de se sentar.

- Madrugou hoje, foi?

- Não foi isso.

- Já sei! Finalmente largou um pouco do pé do Touya! - ela deu uma risada - Legal! Assim eu posso ficar com ele só pra mim!

Yukito inclinou a cabeça, realmente intrigado.

"Ela realmente pensa que eu sou um obstáculo?"

Esse pensamento lhe provocou um sorriso.

- Nakuru-San...

- Mas hoje eu darei o meu golpe de misericórdia! - Nakuru mostrou um pequeno embrulho, triunfante.

- O que é isso?

- Você é mesmo muito bobo! Não sabe que hoje é dia dos namorados? Nada mais natural do que oferecer um chocolate pro meu futuro namorado.

- Futuro namorado?

- Isso mesmo! Meu namorado... Touya-Kun...

Yukito coçou a cabeça.

- Hum... bem... boa sorte, Nakuru-San.

A jovem respondeu com um sorriso malvado e logo depois correu pra janela.

- Lá está ele!! Ele chegou! Touya-Kuun!!!

Yukito olhou para ela bem a tempo de presenciar a inacreditável cena que se seguiu. Nakuru simplesmente tinha pulado da janela sem pestanejar!

- TOUYA-KUUN!!!

- ...

******

- O quê?! - Touya tomou um susto quando viu Nakuru despencando bem em cima dele. O impacto foi bastante doloroso.

Indiferente aos resmungos de dor de Touya, Nakuru atirou o embrulho enfeitado pra ele.

- O que é isso? - ele perguntou mal humorado.

- Seu presente!! Hoje é dia dos namorados, esqueceu?! Eu gosto de você!!

- Escute...

Nakuru não permitiu que ele continuasse.

- E aí? Não vai retribuir o meu presente?

Touya arregalou os olhos quando viu Nakuru se aproximando dele perigosamente. Era claro o que ela queria em troca do presente.

"Santa paciência... não tenho tempo pra isso..."

Nesse mesmo segundo, sentiu um olhar sobre ele e olhou pra cima. Deu com o Yukito, que observava a cena toda pela janela. Mas o que deixou Touya realmente intrigado foi a expressão do amigo. Aquele estranho olhar lhe deu uma sensação de desconforto tamanha que a única coisa que lhe ocorreu no momento foi empurrar Nakuru imediatamente.

- Você vai ter que dar isso pra outra pessoa. - ele avisou devolvendo o chocolate.

- Do que está falando?

Touya levantou-se e completou:

- Eu já tenho alguém.. alguém que eu gosto.

Touya não esperou resposta. Tratou de entrar no colégio deixando Nakuru pra trás não antes de olhar para a janela da sala de aula uma outra vez.

Yukito não estava mais lá.

******

Sentindo-se ainda mais cansado, Yukito voltou pra sua carteira e sentou-se. Sua cabeça estava tão pesada! Foi com um longo suspiro que se debruçou sobre o tampo e fechou os olhos, deprimido. Touya precisou sacudi-lo várias vezes quando finalmente chegou na sala de aula.

- Yuki... o que há com você?

- Ah? To-ya... não é nada. Eu só estou com muito sono.

- Não conseguiu dormir bem ontem?

- Muito pelo contrário. - ele bocejou - dormi muito e bem.

- Yuki... isso não pode continuar assim.

Yuki respirou fundo, desanimado. É claro que sabia que o amigo estava certo. Mas estava com sono demais para pensar numa solução.

******

- Você vai ficar bem, Yuki? - Touya não podia deixar de se preocupar com seu melhor amigo.

- Vou sim, não precisa se preocupar. Eu não vou dormir enquanto estiver indo pra casa.

- Yuki... eu...

- To-ya, você vai acabar se atrasando pro seu trabalho. A gente se fala com calma amanhã.

Touya olhou pro relógio e constatou que Yukito tinha razão. Se não partisse naquele mesmo instante, chegaria atrasado no serviço. Por isso, a contragosto, Touya cedeu:

- Está certo. A gente se vê amanhã.

- Até. - Yukito sorriu e acenou.

Tinha fugido da verdade por mais um dia.
 
 

******

- Um filme? - Touya perguntou, pouco interessado.

- Isso mesmo! - Nakuru estava radiante - Nosso grupo decidiu fazer um filme que exibiremos no festival escola.

- Tá bom. E o que eu tenho com isso?

- Bem, na verdade.. eu queria que você fizesse o papel principal.

- Tô fora!

- Por que?

- Porque eu já sei que isso na passa de um pretexto pra você se pendurar em mim!

- Ah... mesmo que eu quisesse não poderia... - desta vez, ela passou um ar de sincera tristeza. - eu vou ser a diretora, não vou ter nenhum papel no filme.

- Tem certeza? - Touya olhou para a garota desconfiado.

- Se não acredita em mim, pode perguntar pros outros componentes. - ela desafiou, fingindo a irritação.

- Não.. tudo bem...

- Isso quer dizer que aceita participar?

- Ei! Eu não disse isso!!

- Uáá! Bom dia... - uma voz cansada interrompeu a discussão.

- Yuki? - Touya se voltou - Bom-dia.

- Hunf! - Nakuru resmungou.

- Sobre o que estão conversando? - Yukito perguntou, na tentativa de que a conversa lhe fizesse esquecer do sono e das preocupações que andava tendo.

- É que a Nakuru quer me enfiar numa furada daquelas! - Touya respondeu, mal-humorado.

- Não é uma furada! É um filme! E o roteiro é muito bom, viu? - Nakuru desafiou, balançando as folhas do script que estavam nas suas mãos.

- Um filme? - Yukito sorriu, mais animado - parece interessante. Por que não aceita, To-ya?

- Você tá doido?

- Não mesmo. Você tem que fazer alguma coisa pro festival, não é mesmo?

- Mas não um filme!!

- Ah, To-ya! Que bobagem! Aposto que seria divertido.

- Só porque não é com você... espere aí... você me deu uma boa idéia...

- Idéia? - Yukito não entendeu.

- Nakuru, aceito o seu convite.

- Mesmo? - ela pulou de alegria.

- Mesmo. Mas com uma condição.

- Que condição? - ela perguntou, desconfiada.

- O Yuki também vai ter que ter um papel. E de preferência o mais difícil possível, com muitas falas.

Nakuru olhou para Yukito, contrariada e pensou por alguns instantes. De repente, sua mente se iluminou:

- Já sei! Tenho um papel perfeito pra você.

Yukito nem tinha se recuperado da surpresa de ter que participar de um filme quando recebeu a segunda bomba.

- Você será o criminoso!

- O criminoso! - Yukito e Touya fizeram coro, espantados.

- Isso mesmo. É o papel mais difícil do filme! - Nakuru deu um sorriso malvado - mas não sei se nas condições em que está...

- Eu aceito! - Yukito interrompeu a garota - posso levar uma cópia do script para estudar em casa?

- Com toda certeza. - Nakuru concordou - e então, Touya? vai participar?

- Me dê isso aqui! - Touya arrancou os papéis das mãos de Nakuru e deu as costas.

- Que ótimo! Vai ser maravilhoso trabalhar com você. - Nakuru gritou antes que Touya pudesse ficar longe o suficiente para não lhe ouvir as tagarelices - Quanto a você, vê se fica acordado tempo o suficiente para estudar tudo direitinho!

- Pode contar comigo. - ele sorriu e pegou o script que Nakuru estendia.

- Mas pode ficar tranqüilo. Não creio que você terá muitas dificuldades em interpretar seu papel.

- Por que diz isso?

- É que ele é muito parecido com você. Esconde um segredo terrível por trás da carinha de anjo.

Yukito arregalou os olhos.

- Por...

- Mesmo assim... vê se estuda bem esse texto. Vamos começar a filmar amanhã de tarde.

Yukito sentiu as pernas enfraquecerem por alguns instantes.

- O que devo fazer? - ele se perguntou.

******

Touya só aceitou fazer aquele filme porque viu que Yukito tinha se animado com a idéia. Era só isso que o animava a passar a noite estudando o texto com afinco até que a madrugada o pegasse ainda acordado.

O jovem esfregou os olhos e respirou fundo. Teve um impulso de atirar aquelas folhas pela janela mas se conteve.

- É.. até que o roteiro é bem interessante... - se consolou enquanto levantava-se da cama. Justamente hoje tinha treino mais cedo e depois da aula as gravações do filme começariam.

- Que droga...

*******

O despertador tocava desesperadamente e num volume que acordaria até mesmo um surdo.

Mesmo assim, Yukito demorou a despertar.

Quando finalmente abriu os olhos e começou a se dar conta da realidade. Saltou, procurando o roteiro do filme.

- Droga! Eu acabei dormindo. - ele lamentou o tempo perdido, desanimado.

Mas a sua enorme força de vontade lhe dera tempo de ler o roteiro até o final. Revisaria as cenas que seriam gravadas à tarde durante as aulas e tudo daria certo.

Animado como a muito não ficava, Yukito preparou-se para ir ao colégio. Trocou a roupa com um certa agilidade, ainda tentando deixar de lado aquele sono quase doloroso e tratou de tomar seu café da manhã, sem abandonar o roteiro um minuto se quer.

Tinha simplesmente se apaixonado pelo texto.

A história era simples, porém, muito interessante. O seu personagem era um jovem muito rico mas que carregava consigo o peso de um terrível crime: Um assassinato! Já Touya faria o papel do detetive encarregado de descobrir seu segredo.

O final era trágico, pelo menos pra ele. Descoberto seu crime, o detetive não teria pena e trataria de cuidar da devida punição. Incapaz de pensar na própria existência sem sua pequena irmã e sua fortuna, seu personagem terminava optando pela própria morte.

Ia morrer nos braços do seu algoz.

- Ficaria feliz se esse também fosse o meu fim. - Yukito pensou alto mas logo depois se penitenciou por ter imaginado uma coisa tão absurda - O sono deve estar afetando a minha cabeça...

Espantando de vez tantos pensamentos tolos, Yukito se apressou. Não poderia chegar tarde na escola novamente.
 
 

******

- E aí? Gostou da história? - Nakuru perguntou assim que viu Touya entrando na sala depois de ter se recuperado de uma disputada partida de futebol.

- Só você mesmo pra escolher um roteiro desses para ser exibido no festival do colégio.

- Você não respondeu a minha pergunta... custa assumir que você adorou? - Nakuru pulou no pescoço de Touya.

- Me solta! Isso não é motivo pra grudar em mim deixe jeito.

- Seu inseparável amigo está demorando... aposto que dormiu em cima do roteiro e não acordou até agora.

- Yukito não é um irresponsável! Se ele se propôs a participar do seu filme, então vai fazer isso da melhor forma. Como sempre fez.

- Nossa! Quanto mau humor! Eu só estava comentando...

- Então faça o favor de guardar seus comentários pra si da próxima vez. - Touya deu um empurrão mais brusco em Nakuru, finalmente se livrando do seu abraço e indo sentar-se.

Tinha certeza que Yukito não demoraria muito a chegar.

******

- Prontos ou não... nós vamos começar a gravar... - Nakuru avisou, utilizando de um enorme megafone.

- Droga, estou me sentindo ridículo com essa roupa. - Touya resmungou.

- Não reclame, Touya. Você ficou muito bem. - Yukito respondeu - vamos, temos que gravar as primeiras cenas.

- Já tô indo...

- Vamos começar gravando o primeiro encontro dos dois, certo? - Nakuru explicou - Yukito, você deve aparentar algum nervosismo. Já você Touya, tente olhar bem nos olhos dele. Como se quisesse arrancar deles toda a verdade.

- Está bem. - Touya concordou.

- Prontos? Gravando!

- A que devo a ilustre presença, detetive? - Yukito perguntou, inclinando-se numa referência.

- Na verdade, o assunto que me trás aqui não é muito agradável.

- Verdade? - a voz de Yukito tremeu quando tentou conter um bocejo.

- Sim... venho investigar um assassinato.

- Um assassinato? - Yukito pareceu perturbado.

- Sim. Um crime bárbaro que estou investigando faz um tempo.

- E... obteve algum resultado?

- Tenho somente uma certeza decisiva sobre o caso. Estou certo de que o assassino mora ou morou nesta casa.

- O quê?! - Yukito deu um passo atrás, assustado. - Mas... como pode ter tanta certeza?

- Não posso revelar os detalhes da minha investigação. Mas ficarei nesta casa até descobrir o verdadeiro culpado e então ele terá a sua merecida punição.

Touya olhou friamente para Yukito. E mesmo sabendo que aquilo não passava de uma filmagem, este não pôde deixar de estremecer.

- E... esta punição... será muito severa.

- Pode estar certo de que garantirei todo o rigor da lei ao culpado!

O coração de Yukito se apertou e a voz tremeu. Mas desta vez, não era pelo sono.

- Fico aliviado com suas palavras, detetive. Mas... me.. mesmo que ele tenha tido sérios motivos...

- Que motivos podem justificar um assassinato, meu senhor? Um crime é sempre um crime. Mesmo que tenha motivos, o criminoso sofrerá com a mão implacável da justiça que eu mesmo me encarregarei de manejar.

- Parece muito empenhado...

- Mas isso é compreensível. A alma da vítima só descansará quando ver a desgraça cair sobre o seu assassino. Tudo que posso fazer é o meu trabalho. E da melhor maneira possível. Não concorda comigo?

O olhar de Touya era terrível. Era preciso muita força de vontade para mantê-lo sem hesitar. Yukito abaixou os olhos.

- Fique a vontade na minha casa... tudo que sua investigação precisar será oferecido. Nada faltará.

- Agradeço a sua compreensão. - Touya não abandonou o tom frio e desconfiado mesmo assim.

- Corta! Vocês foram ótimos! Estou impressionada! - Nakuru comentou e os aplausos confirmaram sua opinião. - Vamos fazer uma pausa.

- Hai. - Yukito e Touya concordaram em uníssono.

******

- Eriol! Eriol! Venha ver uma coisa.

- Nakuru... já chegou em casa? - Eriol sorriu para sua criação.

- Venha ver! Venha! Venha!

Nakuru colocou uma fita no vídeo e Eriol pôde ver, interessado, algumas cenas gravadas naquele mesmo dia em que apareciam Yukito e Touya.

- O que acha? - Nakuru perguntou.

- Muito interessante...

- Yue não vai durar por muito tempo...

- Ainda é muito cedo para se dizer isso.

- Ele está muito fraco. Em breve desaparecerá por completo. - Nakuru riu.

Eriol manteve um sorriso. Na tela, manchas brancas se formavam pelo corpo de Yukito. Felizmente, somente os que possuíam magia poderia perceber aquele estranho fenômeno.

Restava pouco tempo. Mesmo assim, Eriol não voltaria a interceder por sua cria.

Porém, era demasiado cedo para desistir.

Continua... 



Card Captor Sakura
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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