Dia Especial


 Yukina-chan
 

Os youkais passeavam silenciosamente pelas não muito agitadas ruas de Tokyo.

Era domingo e o vermelho triste, quase morto do sol iluminava aquela calma tarde. O vento frio de outono tornava-se mais intenso com o passar do tempo, enquanto acariciava os rostos pálidos dos que vagavam seguindo suas vidas despreocupadamente. O som dos pássaros era o silêncio de seus ninhos vazios, apenas o farfalhar das folhas secas enchia o ar.

Hiei parou de repente. Logo depois o ruivo, voltando-se para trás encarou o youkai, perguntava-se o que poderia haver de errado. Desde que saíra de casa este estava com expressão estranha. Talvez... Triste.

- O que houve? - indagou Kurama com preocupação na voz.

- Nada... Estava pensando... - respondeu sem encará-lo.

- Sobre? - insistiu com ar meio alterado. Odiava quando Hiei fazia isso, guardava tudo dentro de si... Isso fazia tanto mal para ele próprio.

- Certo... Por que não podemos nos tocar? - sua expressão era curiosa e serena.

O youko andou mais para perto de seu namorado. Sua mão foi suavemente depositada sobre o ombro forte de Hiei, que se encolheu ao sentir o contato. Fitando com carinho os olhos vermelhos, disse:

- Itoshii, já estamos indo para casa, logo vamos po...

- É errado? - interrompeu sem lhe dar tempo, nem para pensar em uma resposta.

Kurama corou ligeiramente. Conseguira entender, o demônio do fogo estava em seu "dia especial". Há dias em que Hiei está assim... parece uma criancinha. Faz perguntas tolas, da vazão a toda sua curiosidade; são dias em que seu coraçãozinho se abre para a raposa de forma muito especial.

É mesmo um "Dia especial" e dos favoritos do ruivo.

"Ah! Como ele é fofinho..." pensou. Deu um suspiro sonhador, então olhou com seriedade para Hiei, quase perdendo-se nos profundos olhos amendoados...

- Amor, não é que seja errado... Eu acredito que seja certo, contudo, outros não vêem dessa forma... Entende?

Inclinou-se sobre seu pequeno parceiro para olhar ainda mais dentro de seus olhos. Podia ver todos os sentimentos do youkai; amor, carinho, tristeza, curiosidade e... não! Aquela pergunta... Outra vez? Kurama odiava isso também.

- Não é isso, Hiei! Eu não tenho vergonha de você, tire essa idéia de sua cabecinha linda, por favor!

- E não é?

- Você sabe que não...

- Não sei de nada... - resmungou querendo fugir do toque em seu ombro.

- Ah! Não seja assim, por favor... Nem faça essa carinha... Parte meu coração!

- Eles fazem aquelas coisa por aí... Em qualquer lugar!

- Na rua!? - espantou-se a raposa.

- Fazem! Olha ali.

Com cautela, youko seguiu o olhar de Hiei até encontrar um casal que vinha descendo a rua, muito alegremente, abraçados e de mãos dadas.

Sorriu para o pequeno koorime. Era um pedido tão doce que ele fazia, sim, pois detrás de toda aquela conversa existia um pedido, e por que recusar e magoar seu namorado por uns beijinhos e dar as mãos em público? Resolveu pensar de uma outra forma. Seria uma demonstração de amor e talvez o que faltava para expulsar de vez aquela idéia boba que habitava sua mente.

As mãos macias tocaram os dedos roliços e menores até entrelaçarem-se todos uns nos outros e as palmas se unirem. Kurama mordeu o lábio inferior. Adeus aparência de bom menino, adeus Shuichi Minamino. Isso era muito mais importante que sua aparência ningen! Muito mais mesmo!

Carinho. Era sobre isso que Hiei falava. Apenas isso que ele pedia...

- Olha, darling, eu sei que não há nada demais em darmos as mãos, abraçarmos um ao outro ou até mesmo trocar um beijinho por aí, mas os humanos têm mente pequena e não aceitam estas atitudes. Pelo menos a maioria deles...

- Aqui é errado? - perguntou olhando meio de lado para a raposa.

- Digamos que sim...

Sem avisos, a raposa agarrou o demônio do fogo e tomou-lhe os lábios pequeninos; nem deixava que respirasse.

- Mas raposa, você disse que é errado, por que fez isso? - indagou confuso olhando para os lados para ter certeza de que ninguém tinha visto a cena.

Ninguém...

- Esqueça! Nós nos amamos, isso não é errado! Seria errado ficarmos nos escondendo pelos cantos ou preocupando com o que as pessoas dirão. Concorda?

- Nunca achei que fosse de outro jeito...

- Então, abrace sua raposa! Está frio...

Prontamente o koorime obedeceu. Envolveu a cintura do youko com os braços e aconchegou seu rostinho no peito quente que tanto amava. Kurama também abraçou Hiei e juntos, foram para casa.

Nada mais importava, apenas o amor que dividiam naquele gesto...



Yukina-Chan
 
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