O Destino é Uma Gota que Surge

Mica-Chan
 

Aki abriu a porta da cozinha com o silêncio habitual. O cabelo louro, escurecido pelo suor, caía displicente sobre o rosto bonito.

Ele olhou ao redor e sorriu ao ver a irmã na ponta dos pés tentando alcançar um pote de sorvete no congelador. Ela estava linda, as pernas longas e macias totalmente a mostra sob o shorts curto verde claro, a camiseta creme, de alcinhas, mal escondendo o corpo sensual da garota de quase 16 anos.

O ar pareceu ser roubado do corpo de Aki ao constatar o quanto a irmã era bonita. Sentiu um calor percorrer seu corpo e um sentimento estranho possuí-lo, como se a figura angelical de Aya não lhe fosse totalmente desconhecida, como se seus corpos já tivessem estado unidos em tempos remotos.

Chacoalhou a cabeça, tentando se livrar dos pensamentos impróprios, mas a sensação era semelhante a de águas há muito represadas e que repentinamente viram-se livres para voltar a correr, e agora explodiam com fúria, sem qualquer controle.

Aya finalmente alcançou o sorvete e virou-se, quase desequilibrando com o pote nas mãos.

"Aki! Não sabia que você estava aí."

"Acabei de chegar."

Ela sorriu, matreira como sempre, e estendeu-lhe o pote.

"Vai querer provar?"

Ele deslizou os olhos pelo corpo bem feito, as curvas sensuais, os cabelos longos presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça e sentiu novamente uma pontada de desejo.

"E precisa perguntar?", ele respondeu, sabendo que a voz estava mais rouca do que ele pretendia, algo estranho surgindo dentro dele.

Aya se aproximou um pouco do irmão, esquadrinhando a pele dourada do sol, os cabelos úmidos de suor, o peito ofegante, e estendeu a mão, como se a impedi-lo de caminhar.

"Nem pense em chegar perto antes de tomar um banho."

"Banho?" Ele olhou desconcertado para a garota parada no meio da cozinha.

"Sim, senhor, banho. Já notou como está suado? Eu é que não quero ser responsável por você cair de cama com uma bela pontada. Ou você não sabia que não se deve tomar gelado com o corpo quente?"

Ele pensou no calor que estava sentindo e chegou a conclusão de que o ardor que ela estava provocando nele era muito maior que o provocado por todo o esforço físico que tivera há pouco.

Suspirou, tentando clarear os pensamentos, mas se viu completamente incapaz de desviar os olhos da pele macia e atraente de Aya.

*Aki, ela é sua irmã, esqueça-a!* Ele tentava dizer para si mesmo, mas um desejo que ele não sabia de onde vinha, impedia-o de abandonar a visão da irmã. De repente ela não lhe parecia a garota de 15 anos com quem crescera, era como se uma força dentro dela brotasse e o forçasse a olhá-la, admirá-la, desejá-la.

"Vamos, vamos", ela deu pequenos tapinhas em sua cabeça, fazendo seus cabelos espalharem-se enquanto gotas de suor voavam pelo chão da cozinha. "Se continuar a demorar desse jeito o sorvete vai derreter. Ou...eu irei comê-lo todo", disse sorrindo.

Ele aquiesceu e foi para o banheiro, deixando a porta apenas encostada, como sempre fazia.

O que estaria acontecendo com ele? Antes desse dia jamais olhara para a irmã com outros olhos que não o de um irmão. Por que hoje esse desejo insano começara a corroer seu corpo?

Deixou a água quente correr pelo corpo, lavando seu pensamento e purificando sua alma, procurando uma paz que não estava certo que encontraria. Quando ouviu um barulho do lado de fora do box, divisou a figura da irmã, bastante embaçada pelo material escuro que o separava dela.

"Aki-kun, vai demorar muito nesse banho? Com este calor o sorvete vai para o espaço!"

O que ela fora fazer ali atrás dele? Não sabia que ele estava tomando banho? Não sabia o que a presença dela tão perto lhe provocava?

"Não, estou quase acabando."

Abriu a torneira o máximo que pôde e desligou o aquecedor, sentindo o jato de água fria tocar sua pele, fazendo-o arrepiar-se momentaneamente. Ele estava sendo paranóico. Aya sempre invadira o banheiro enquanto ele tomava banho, muitas vezes fazendo com que ele ficasse com a pele toda enrugada por recusar-se a sair enquanto ela não fosse para fora, e como ela sempre recusava veementemente, obrigava-o a ficar séculos sob a água.

Desligou o chuveiro e pegou a toalha felpuda, enrolando-a na cintura, deixando o corpo molhado e os cabelos pingando, sem se dar conta do quanto ficava atraente desse jeito. Olhou para a irmã sentada em um banquinho alto diante do espelho, as coxas completamente a mostra, parecendo terrivelmente convidativas para Aki.

"Esqueça, ela não é para você", murmurou.

"O que você disse?"

Aki arregalou os olhos quando se deu conta que externara seu pensamento em voz alta.

"Nada importante, só pensei em voz alta. E aí? Tá bom esse sorvete?"

"Hum-hum" Ela colocou a colher no pote, retirando-a cheia. "Agora que você está ‘limpinho’ pode ganhar seu presente"

Ele observou o sorriso da irmã enquanto estendia a colher cheia do creme gelado, colocando-a em sua boca. Doce e agradável, como deviam ser os lábios dela.

Subitamente, sem que desse o menor aviso, Aya descruzou as pernas e enlaçou-o com elas, levando-o para mais perto de seu corpo. O coração dele falhou uma batida, a respiração ficou suspensa, os olhos violetas fitando-a com assombro.

"Aya-chan, o que você..."

"Pssshhh.....", ela colocou dois dedos dentro do pote, lambuzando-os com sorvete. Então, sorrindo mais uma vez, aproximou ainda mais o corpo do irmão e colocou os dedos na boca de Aki.

"Assim é mais gostoso, você não acha?"

O rapaz não conseguia falar, a boca ainda sentindo o gosto dos dedos da irmã, lambuzados com o creme gelado. Lambeu-os lentamente, aproveitando a proximidade que Aya lhe dera. Então, sem pensar realmente, imitou o gesto da garota e introduziu seus dedos pelos lábios vermelhos e gelados, sentindo o corpo estremecer a medida que a língua fria da irmã lambia seus dedos, em movimentos extremamente sensuais.

"Aya...."

Ela deu uma risada rouca e recolocou a mão no pote, pegando uma nova quantidade de sorvete, que espalhou pelos ombros do irmão, vendo-o arrepiar-se ao contato com o creme gelado.

Aki sentiu o corpo todo ferver, a água que escorria pela pele, provocada muito mais pelo calor que Aya o fazia sentir, do que resultante do banho. Estremeceu ao toque da língua da garota em seu pescoço, lambendo o alimento frio em sua pele. Tocou a nuca da irmã, deslizando a mão pelos ombros nus, os braços delicados, a cintura fina, e soube que não conseguiria mais esconder a sua excitação. A verdade era dolorosamente visível, todo o seu corpo ansiava pelo de Aya.

A garota afastou-se por alguns instantes de sua pele, olhando-o nos olhos. Ele era capaz de perder-se no azul brilhante dos olhos de Aya. O que ela pensava estar fazendo com ele? Achava que poderia provocá-lo dessa forma e depois afastar-se como se nada tivesse acontecido?

Recolocou a mão na nuca da irmã, aproximando sua boca do ouvido de Aya.

"O que acha que está fazendo, Aya?", sussurrou.

Novamente aquela risada rouca e sensual.

"Não lhe parece óbvio, Aki? Eu quero saber quem está dentro de você."

"Como assim? O que quer dizer?"

"Talvez você devesse parar de lutar contra aquele que você é, e deixar-me mostrar quem é que me procura."

Aki afastou-se de inopino, novamente fitando os olhos muito claros da irmã. Mas o que viu ali o assustou, não era desejo o que via, muito menos sinais de que Aya estivesse brincando. Aqueles olhos pareciam esquadrinhar sua alma, atravessando seu corpo e olhando no mais profundo de seu ser.

Sentiu novamente aquele desejo incontrolável, algo que o impedia de manter-se longe da pele macia e do aroma suave da irmã. Sem forças para continuar lutando contra seu corpo, Aki inclinou-se e beijou os lábios de Aya, lenta e sensualmente, fazendo-a estremecer sob seus braços. Deslizou a língua pelo pescoço altivo e mordiscou o lóbulo de sua, aspirando o perfume que dela emanava.

Suas mãos desceram ávidas para as curvas do corpo da garota, livrando-se da camiseta minúscula e acariciando os seios fartos com as mãos ansiosas. Os lábios logo seguiram as mãos, e ele se viu provando o gosto da pele de Aya, os seios intumescidos, o ventre macio, o quadril arredondado que ia sendo exposto a medida que descia o shorts.

Sem ele realmente dar-se conta, ela já havia retirado a toalha que o cobria e agora seus corpos estavam unidos em perfeita comunhão, nada mais entre o desejo e a realização.

Ele a possuiu com um ardor que não lhe era conhecido, uma energia adormecida, enquanto ela arquejava diante de seu corpo, moldando-se a ele, lambendo o lóbulo de sua orelha, os brincos arredondados como brinquedos entre os lábios dela.

Sentiu o corpo estremecer com espasmos de prazer, os gemidos de Aya penetrando em sua mente como ele mesmo a penetrava, ambos em uma dança única, movendo-se em uníssono, a reunião de dois corpos e uma só alma.

Por fim, a sensação de ter sido lançado ao céu e ver-se caindo sem salvação, foi arrefecendo e uma lassidão o envolveu. Olhou no mais profundo dos olhos de Aya e sentiu-se estremecer. Enxergou sangue naqueles olhos. Sangue, amor e rancor.

Aki abriu os olhos e olhou ao redor, confuso. Enxergou o aparelho de som no mesmo lugar de sempre, a mesma foto dele com a irmã no porta retratos, os lençóis amarrotados na cama, um líquido quente em seu corpo.

Colocou-se de pé e inspirou profundamente. Um sonho, nada mais que um sonho. Mesmo assim, um sonho terrivelmente real, que o fez estremecer. O que diria Aya se soubesse que ele sonhara com ela desta maneira? Nem ele conseguia acreditar que fora capaz de tal coisa com a irmã, mesmo que em sonho.

Isso não era normal. Ele jamais olhara para Aya dessa forma, por que teria agora sonhado com um ato tão íntimo?

Movido por uma estranha sensação de perda que se instalou em seu peito, Aki foi até o quarto da irmã. A casa estava silenciosa, os pais com certeza dormiam e a madrugada era o seu refúgio.

Abriu com cuidado a porta do quarto de Aya e observou a cama desarrumada, porém vazia. Curioso, adentrou e encontrou a irmã gêmea parada diante da janela, observando a noite mágica.

"Aya-chan? O que faz acordada?"

A garota voltou-se e o fitou, os olhos azuis brilhando. Ela corou e baixou levemente a cabeça.

"Aya-chan? O que houve?"

Ela suspirou e caminhou até ele, abraçando-o com carinho.

"Ah....Aki, eu...tive um sonho tão estranho."

As palavras dela o fizeram gelar.

"Que sonho?"

Aya desvencilhou-se dos braços do irmão e olhou novamente para a janela.

"Eu não sei. Você e eu...nós..." Ela fechou os olhos, incapaz de continuar.

"Hei, não se preocupe", ele a envolveu novamente em um abraço, apoiando seu queixo na cabeça da irmã. "Foi só um sonho."

"Eu sei, Aki, mas....pareceu tão real. Como se não fôssemos nós, você entende?"

Ele aquiesceu. "Sim, eu entendo."

Ainda abraçado com Aya, Aki olhou para a mesma direção que a irmã olhava. Não sabia o motivo de ambos terem partilhado um sonho tão estranho. Era como se algo dentro deles estivesse adormecido e quisesse despertar, mas não conseguia imaginar o que seria.

Aconchegou mais a irmã ao seu corpo e pensou no dia seguinte, quando fariam 16 anos, e sorriu, deixando o fantasma que os visitara em sonhos, no passado.

FIM.

31/10/01.

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