A conclusão: te amo
Umi no Kitsune
 
 

Nunca, nem em situações de extremo perigo, usara uma velocidade tão alta. Mas nem se dava conta disso, a sensação que tinha era que precisava correr mais e mais rápido. Não entendia. Quanto mais longe, mais próximo o sentia de si. Quanto maior a distância, maior o calor que envolvia e queimava seu peito. Quanto maior a certeza de estar sozinho, maior a certeza de querer. Querer o que não lhe pertence.

Naquele momento, escutara a voz de Kurama, mas apenas o som. Não identificara as palavras. Uma lágrima ameaçou cair e, antes que isso acontecesse, ditou sua sentença desaparecendo no segundo seguinte, não impedindo a queda de uma pérola.

Não faria isso. Não se deixaria cair nas pétalas macias da rosa para depois escorregar e experimentar a dor de seus espinhos. Tinha seu orgulho, já tinha sua dor.

*********

As lágrimas, que antes caíam livremente, cessaram. Kurama continuava no mesmo lugar, mas agora estava sentado, com as pernas dobradas e abraçando os joelhos. Com os calcanhares fazia um leve impulso balançando o corpo para frente e para trás, num movimento quase imperceptível, mas rítmico. Tinha o olhar fixo em um ponto, a causa de ter parado de chorar. Mas dessa vez não iria tomar conclusões apressadas. Teria em mente apenas o que escutou, não inventaria um sentimento recíproco sem sua real confirmação, não mais. Já tinha subido muito alto da primeira vez e o resultado foi esse seu tombo doloroso. Ao voltar com os pés no chão viu que deixaram algo em que se apoiar. Desenrolando o corpo para frente e esticando a mão, alcançou seu objeto de apoio, ao qual os olhos verdes não paravam de mirar. Lisa, uma esfera perfeita, negra e brilhante. Hiei chorara. Por quê? Não se atreveria a responder. Afinal, ele não disse que não o amava nem que o amava...Afinal, lágrimas e Hiei eram antônimos em seus pensamentos. Afinal...queria a resposta dos lábios dele. No final, sabia que continuava com os pés humanos no chão e com a cabeça de youko nas nuvens. Mas iria respeitar apenas o que lhe foi dito. Claro, o koorime guardava todas as suas emoções muito bem. Se prestasse atenção, quase todas.
 
 

***********




- Kurama! Kurama!- "mãos fortes o agarravam e a voz distante de Hiei o chamava em desespero. Hiei... uma dor latente em seu estômago, estava morrendo. Não! Não podia morrer agora! Hiei o chamava, estava chamando seu nome. Não podia..."

- Hiei...HIEI!- com um grito Kurama desperta, o corpo todo molhado pelo suor que escorria em gotas pela sua testa e tronco.

- Hiei??? Não ofende não, falô?- era Yusuke, estava sentado na beira da cama tentando esconder o riso com uma cara de indignação- Me confundir com o baixinho, era só o que faltava!

- Yusuke?...eu...bem é que...-Kurama estava como a cor de seus cabelos, tentado explicar o inexplicável. "Yusuke, que diabos você veio fazer aqui? Que eu invento pra você agora? Não consigo pensar em nada! Aquele pesadelo... Hiei." Apesar de Kurama se esforçar o koorime não saia de seu pensamento.

Yusuke parou de rir ao perceber a expressão sem graça do youko. Sempre achou que Kurama se preocupava demais da conta com Hiei, que por sua vez parecia "retribuir" essa preocupação abrindo-se apenas com ele. Mas sempre afastava esse pensamento de sua mente, não querendo julgar antes de conhecer os fatos. Só que agora, vendo seu amigo, que provavelmente despertara de um pesadelo, gritando o nome de Hiei em quase desespero... Yusuke não conseguiu deixar de trazer à tona esse mesmo pensamento. Junto com o pensamento a conclusão sempre evitada: Kurama gosta de Hiei. Gosta mais do que um amigo. Mais do que uma simples atração, simples desejo.

Apesar de tentar demonstrar apenas amizade na frente de todos e talvez do próprio Hiei, quem é mais próximo percebe que seu comportamento muda quando o youkai está por perto. Kuwabara também já tinha notado em outras ocasiões, chegaram até a expor indiretamente o assunto, mas não conseguiram fazer outra coisa a não ser levar pro lado da brincadeira as atitudes de Kurama.

É até engraçado. Primeiro são os olhos, ficam com um brilho diferente, de êxtase talvez. Depois é a voz, seu som fica mais suave, mas seu ritmo aumenta "como as batidas de seu coração", pensa. Mas em alguns casos, geralmente quando Hiei está comum mau-humor sério e não fingido, Kurama fica tenso, a voz fica mais grave e pausada. As palavras pareciam ser medidas, escolhidas, ele falava com receio. Esses eram os únicos "sintomas" que Yusuke conseguia identificar em Kurama. Mas, também, não é tão difícil assim de perceber, pois anteriormente agira do mesmo modo com Keiko. Sabe muito bem que esconder sentimentos tão vivos é difícil...e inútil.

Já Hiei era um caso a parte. A única coisa que poderia afirmar com certeza sobre ele é que confia cegamente em Kurama. Ah! Claro, teve uma vez...Kurama contra Sigure, não sabe dizer ao certo o que viu em seus olhos...desespero, dor, talvez angústia...mas o fato é que ele não era o Hiei habitual. Lembra-se muito bem da expressão de alivio que se formou no youkai quando a luta acabou. Expressão que foi logo substituída por uma carranca, quando sei nome foi chamado para a luta contra Mukuro. Só não se arriscaria a dizer se pequeno youkai sabia que a forma como agia, ou evitava agir, era uma reação do mesmo sentimento que fazia Kurama agir. Hiei é muito metido a saber tudo, mas saber o que é amor...será que o youkai já amou? Ao se fazer essa pergunta, Yusuke se viu atraído por um brilho negro. Vinha da esfera que pendia no pescoço de Kurama presa por um cordão fino de couro avermelhado. "Será que o youkai..."

Foi com esse último pensamento que Yusuke ficou, pois Kurama tinha parado de balbuciar suas monossílabas de explicação, fitando em mórbido silêncio as dobras do lençol que cobria suas pernas. Yusuke se deu conta da situação constrangedora que tinha criado para seu amigo, rapidamente levantou da cama e puxou Kurama pelo braço, quase o fazendo cair:

- AH! Eu não vim aqui pra ler o seu diário, garota!- Yusuke disse numa voz fininha imitando mulher- Tenho fofoca pra contar!!!- "Koenma botou outro bolo em nossas mãos..." pensou enquanto puxava Kurama pra fora do quarto.

- Yusuke??? Espera! O que aconteceu? Espera!!!- Yusuke já estava atravessando a porta quando olhou pra trás e viu Kurama, mais encabulado que antes, segurando o lençol na região da cintura, que mais revelava do que escondia.
 
 
 
 

Em poucos minutos, Kurama aparecia no alto da escada da sala, vestido da cabeça aos pés. Com seu alto controle já refeito e uma cara de reprovação dirigida ao não mais encabulado Yusuke. Que por sua vês, se empanturrava com os mais diversos salgadinhos oferecidos gentilmente por Shiori.

- AH! Kuwana, ouh! Fuichi! Ódibu!... Vanbus, que sewão o... bahirinho me maha!!!- Yusuke disse preocupado (?), entre uma mordida e outra.

- Querido, espero que não esteja bravo.- Shiori mostrou-se preocupada diante da cara carrancuda do filho- Seu amigo disse que tinha algo muito importante pra lhe falar, e eu deixei que o acordasse.

- Tudo bem, mãe.- Kurama não conseguiu deixar de sorrir- O problema não está em meus amigos me acordarem, e sim na forma como o fazem- Yusuke parou de mastigar ao sentir um olhar de soslaio sobre si- Hn. Talvez um dia eles aprendam a serem tão bons quanto a senhora.

Kurama deu um pequeno beijo na testa de Shiori e, delicadamente, puxou Yusuke pelo braço, que com desgosto deixou muitos salgados por comer.

- Mãe, vamos dar uma saída. Talvez eu demore um pouco, mas não se preocupe que estarei bem, te amo!- com um sorriso de despedida Kurama fechou a porta com Yusuke tentando dizer "tchau"com aquele monte de comida ainda dentro da boca.
 
 

Já fora de casa e depois de algumas mastigadas finais por parte de Yusuke, Kurama soube o que estava acontecendo. Um demônio, aparentemente de classe S, está dando um certo trabalho para o pessoal da fronteira. Kurama sabia que Hiei fazia posto no setor leste do território de Mukuro que, de acordo com Yusuke, ainda não foi atacado. Melhor, menos uma coisa para se preocupar...

- ...Kuwabara foi incumbido pela Botan de chamar o Hiei, já que havia rumores de que, como Mukuro está ausente em treinamento, ele mesmo irá mata-lo. Mas eu não acho que ele o enfrentaria sozinho...não é?

- Não sei. Hiei às vezes tem dessas de achar que pode fazer tudo sozinho.- Kurama suspirou profundo fazendo a jóia negra rolar levemente por sob a blusa- Mas não podemos culpa-lo, é da natureza dele ser sozinho...

Yusuke percebeu bem as últimas palavras embargadas de tristeza no amigo e preferiu deixar que o silêncio argumentasse por seus pensamentos. Mas o próprio Kurama quebrou o silêncio.

- Como foi que você disse a Keiko que a amava?

- O ...O Q-QUÊ???

- Como foi que você disse...

- Eu entendi a pergunta!!!

- E eu não entendi o porquê da sua.

- Por que a pergunta?- Yusuke ficou sério esperando qualquer revelação séria de Kurama

- Ora...- Kurama fez uma careta de desconfiança - ... é muito difícil imaginá-lo numa cena dessas. Expondo seus sentimentos com facilidade pra uma garota...ainda mais pra Keiko! Ela que é assim...meio...explosiva, né? A gente nunca sabe do que ela é capaz...

- Seu...- Yusuke já devia saber que seria muito difícil para Kurama admitir um sentimento humano. Afinal, ele ainda era um youkai usando um corpo humano emprestado- Hn. Seu comentário infeliz não me impediu de ver o que você realmente quer saber.- Kurama o observava com o canto dos olhos- Dizer a Keiko que a amo não foi fácil. A cara que ela fez também não ajudou muito. Apesar de conhecê-la desde que me entendo por gente, eu simplesmente não sabia o que os olhos dela diziam, o que o lábio constantemente mordido representava, o que a respiração entrecortada significava...- Yusuke deu um longo suspiro, sentia-se bem por falar disso com alguém- ...eu não sabia nada. Pior! Pela minha cabeça passavam coisas terríveis, como "ela vai rir da minha cara!" ou "eu sou apenas um amigo de infância" ou "quanto falta pra ela levantar a mão na minha cara?"- Nesse momento os dois amigos riram descontraídos- Teve um momento que eu não pensava mais por mim, foi quando saiu a maldita frase! Quando as palavras saíram sozinhas...elas tinham que sair, eu estava lá pra isso! E eu estou preso a Keiko até hoje, como acho que ela está pra mim.- O sorriso que se formara no semblante de Yusuke foi dando lugar a uma expressão séria- Mas se você quer minha sincera opinião, pra confessar o amor que você sente para a pessoa que eu estou pensando...vai ser mais difícil, ou somente...diferente.

Kurama estacou enquanto Yusuke andou mais alguns passos antes de parar virando-se para o amigo.

- Ei! Você não pode negar: essa pessoa, de explosiva e improvável, nem chega aos pés da Keiko...

- Yusuke...tente me "consolar" com mais uma desse tipo que eu corto seus membros!- Kurama ameaçou rindo tirando uma rosa do cabelo- Keiko não vai gostar, pois cortarei todos os cinco!

- Wow!!! Não precisa agradecer cara...Olha lá o Kuwab...- Yusuke parou no mesmo instante que Kurama, mas por razões um pouco diferentes.

Tinham chegado a um descampado. Kuwabara e Botan estavam discutindo diante de uma abertura para o Makai e Hiei...não estava com eles. Kurama sentiu um tremor no peito ao imaginar que Hiei seria tão fiel em não vê-lo mais, que nem lutar juntos seria possível. A possibilidade de não poder ver seu rosto outra vez, sentir seu suor tão característico, se perder naquele olhar tão frio e quente ao mesmo tempo...seu coração falhou, mas bateu com mais força ao sentir sobre a pele a jóia fria, seu apoio. Saindo do devaneio ainda pode ouvir Botan explicando a situação:

- Kuwabara deixou ele ir! Sozinho!

- Ele veio com aquele papo de "posso cuidar disso sozinho, não interfira." Não interferi. Ele se acha muito esperto, pois bem! Vamos apreciar toda a esperteza dele quando o salvarmos do youkai. Claro, como ele disse, "Ele morrerá antes mesmo de saber o que o atingiu." Bah!

- O que você fez???- Kurama gritava enquanto enormes raízes rasgavam o chão e sacudiam Kuwabara no ar.- Sabe muito bem que ele sozinho pode não conseguir matar o demônio! Ele poderá já estar morto quando chegarmos...

Kurama não pode terminar a frase. A abertura espiritual cresceu ferozmente e milhares de youkais cobriram os quatro. Kurama soltou Kuwabara e Yusuke posicionou-se na frente de Botan que já tinha o remo em punho.

Cuidar desses youkais seria muito simples, se não fossem tantos. Kurama nunca idealizaria no governo de Eiki tantos revoltosos. Mas não podia perder tempo com eles. O mais poderoso ainda não atravessou a fronteira, "deve estar lutando com Hiei. Talvez eu chegue a tempo!"

Cortando o caminho, literalmente, Kurama cruzou a fronteira com o Makai sem maiores problemas. O seu maior problema estava no final dela. Um youkai confiante acumulava energia em sua mão, enquanto Hiei, num estado deplorável, se apoiava na katana sem mover um músculo. Kurama então percebeu: o youkai não estava formando um golpe qualquer, estava formando um Kokuryuha!

- Ja ou en Satsu Kokuryuha!!!- Hiei não se moveu. Apenas olhava com cinismo o dragão negro gigantesco que vinha em sua direção.

- HIEI!!!- vendo que o koorime não tinha intenções de desviar, Kurama usou o rosewhip; prendeu Hiei pela cintura e um puxão forte o trouxe para perto enquanto o Kokuryuha explodia a poucos metros a frente. Hiei caiu de costas, mas logo foi amparado por um Kurama transformado pela preocupação e medo.

Hiei ainda estava em estado de choque. Não imaginava escutar essa voz de novo, ainda mais chamando seu nome. Estava preparado para morrer, estava encarando a morte como uma solução para sua vida desgostosa. Queria morrer, mas justo ele, quem queria esquecer através da morte, não permitiu. Por que?

Deixando Hiei deitado sobre uma grama macia, Kurama levantou-se para tomar seu lugar na luta. Apenas não contava em encontrar nas mãos do inimigo um rosewhip igual ao seu, só que negro. Kurama riu.

- Então você imita golpes. Vamos ver se consegue imitar isso...-com um movimento o chicote já tinha seu alvo, em menos de um segundo depois, Kurama desapareceu deixando uma sombra e o chicote sozinhos no ar.

- Então? Consegue fazer igual?

O youkai virou-se para a voz grave as suas costas. Talvez mais pela surpresa do que pelo medo, ele recuou um passo, diante do imponente youko prateado. Não, ele nunca conseguiria fazer igual. Kurama fez um movimento brusco com o braço enquanto o youkai virava-se agora para a crescente movimentação de Ki atrás de si.

- Como...Droga!!!

Do chicote esquecido anteriormente, Kurama fez uma rede. Várias raízes e caules espinhosos sob o comando do youko, sobre o corpo do youkai. Engolido por uma onda de espinhos, que tomou a forma de esfera e começou a perfurar a terra, até sumir sob a mesma, o youkai fora enterrado.

Ao se aproximar de Hiei, Kurama deu um longo suspiro:

- Sei que não te interessa, mas o sangue lhe cai bem.- um sorriso bobo e tímido, evitado a todo o custo, teimava em moldar seu rosto, era o alívio de ainda tê-lo vivo- Você fica mais...sugestivo.- o youko tomou uma expressão séria- Prometa-me que nunca mais fará uma loucura como essa.

Hiei preferiu não se pronunciar. Desviou o olhar quando o youko passou o braço por sua cintura ajudando-o a se levantar. Estava com o corpo moído, sentiu na pele o que seus inimigos sofreram em suas mãos, no fio de sua katana. Realmente não era nada agradável. Mas mesmo com toda a dor, o calor que aquele toque lhe proporcionava...seus músculos responderam a favor dele, relaxaram e a dor diminuíra. Não! Não era pra ser assim! Tem que esquecê-lo, não ansiar por seu toque. Com um impulso bêbado, Hiei empurrou Kurama apenas o suficiente para sair do abraço e cair desequilibrado no chão.

- Hiei...- Kurama parou ao sentir o ki maligno atrás de si.

O rosto do koorime se contraiu em uma expressão de pavor ao ver Kurama ser preso por vários caules espinhosos vindos de um único chicote como o anterior de Kurama, mas negro, de espinhos negros. Kurama ao invés de ser envolto por uma esfera de espinhos, foi suspenso no ar, enquanto caules se enrolavam em seu corpo ferindo a carne.

Os caules apertaram o laço contra o corpo de Kurama fazendo mais sangue escorrer e se espalhar pela roupa branca do youko. Não conseguindo suportar mais, seu corpo youko foi substituído pelo humano, o que fez os espinhos aprofundarem-se mais na carne e o ar começar a lhe faltar. Nesse instante, Yusuke, Kuwabara e Botan chegaram. Os dois primeiros, prontos para atacar, tiveram que frear seus movimentos ante a cena aterradora exposta em seus olhos. Um fio de sangue escorria pelas pernas da raposa e formava-se em poça bordô vivo no chão. Hiei rastejava tentando alcançar sua katana atrás do youkai que, ao ver novas presenças fez uma mensura, cinicamente, para depois voltar sua atenção a Kurama. A rede se moveu mais uma vez em torno de Kurama, rasgando não só a pele mas o cordão de couro que prendia a jóia negra. Esta caiu no chão, rolando lentamente sobre a poça de sangue, antes de parar encoberta pelo líquido bordô.

- KURAMAAAA!!!

Ninguém conseguiu acompanhá-lo, viram apenas o brilho cortante de sua katana nas raízes que prendiam Kurama, que caiu em seus braços. Nisso, Yusuke e Kuwabara viram a deixa para entrarem em ação.

- Idiota! O que acha que estava fazendo? Ele ia mata-lo!!!- Hiei gritou ainda abraçando Kurama, que arfava mais pela surpresa do que pela falta de ar.

- Quê? ...que culpa eu tenho se você resolveu morrer e não pensou...- enquanto inspirava buscando ar, Kurama pensou: "...não pensou em mim?" mas,-...não pensou na conseqüência que levaria todo mundo junto?

Hiei encarou com dor e raiva os olhos verdes.

- Eu não preciso da companhia de vocês para morrer...- de repente, Kurama agarrou os ombros de Hiei e rolou com ele desviando do ataque da Reiken negra, cópia da espada espiritual de Kuwabara. Hiei sentou-se assustado sem, no entanto, soltar Kurama do abraço.

- Não mesmo...- Kurama balançou a cabeça com pesar-...Você precisa de nós para não morrer. Eu preciso de você para viver!- com a expressão séria Kurama afastou os braços que o prendiam, mas ao levantar foi violentamente puxado por estes de encontro à boca de Hiei. Kurama foi agarrado pelos cabelos e roupa, seu corpo ensangüentado foi pressionado levemente contra o não menos machucado de Hiei. Um beijo forte e cheio de dor. Com a sede que precisava ser saciada, a ânsia da pele contra a pele, o gosto doce do prazer, os dois esqueceram por completo a luta que acontecia.

Kurama se desequilibrou quase caindo quando Hiei o soltou e sumiu na sua frente, deixando os lugares por onde tocou queimando e os lábios abertos na esperança de um mais. Voltando a realidade com um grito de Kuwabara, Kurama levantou-se com dificuldade, vendo o amigo cair ao seu lado.

- Kuwabara!

- Kurama...des-desculpe...eu não devia ter...

-...você não tem culpa de nada. Acalme-se. Consegue levantar?- Kuwabara posicionou-se de pé e deu um olhar confiante a Kurama.

Os dois voltaram a atenção para Yusuke que acabara de disparar um Leigun gigantesco. O youkai ainda tentou conter o tiro mas foi envolto pela energia, virando pó no ar.

- HAHA!!! Conseguiu Yusuke!- Kuwabara gritara

- É...vocês estão bem?

Hiei que aparecera naquele momento, apenas virou o rosto, como olhando algo mais importante. Botan chegou voando no remo, fazendo que "sim" com a cabeça. Kuwabara mostrou o polegar num "positivo".

- Kurama, você está bem?- Yusuke perguntou preocupado, nunca o vira perder tanto sangue. Kurama tentou esboçar um sorriso mas as pernas falharam antes fazendo-o cair. Yusuke o amparou e aproveitando a oportunidade confessou em seu ouvido:

- Retificando: Não vai ser diferente. Vai ser igual, vocês vão ficar presos um ao outro também.

Kurama tentou fixar seu olhar no amigo, mas a última coisa que viu foi um koorime que se aproximava estendendo uma mão na sua direção. Logo depois que Kurama desmaiou, Hiei o tomou dos braços de Yusuke.

- Eu cuido dele. Vocês podem voltar ao Ningenkai.

- Certo.- Yusuke nem pensou em discordar, se ocupando em responder aos protestos de Kuwabara e Botan, que acharam que Hiei ficara maluco, pois Kurama devia ser levado a um hospital, dar explicações a mãe...

Enquanto Yusuke já dava seu terceiro grande suspiro de cansaço, Hiei sumia por entre a floresta do Makai com Kurama nos braços.

Ele fez. Ele falou. Hiei viu em seus olhos, sentiu em sua pele, em sua boca. Era o que Hiei achava que nunca iria ver em Kurama, era o que achava que nunca iria escutar, nunca iria sentir, nunca iria provar. Hiei provou, sentiu, escutou, viu em Kurama aquilo que negava acontecer, o que o fez querer morrer. Hummm...seu cheiro. Já tinha reparado nele, mas não desse jeito: tão próximo, tão seu, só seu. Todos os seus sentidos lhe diziam apenas uma coisa, sussurravam em sua mente uma única certeza. Não teria mais dúvidas. Nenhuma.

Kurama deu-lhe o que tanto ansiava por receber, desde que o seguiu até a clareira, não! Desde que saíra daquele quarto, por aquela janela...ou talvez antes? Hiei parou na margem de um grande lago, deitando Kurama, sua carga preciosa na grama verde. Hiei entrou na água até os joelhos e esfregou as mãos e os braços, tirando todo o sangue e sujeira. Depois ainda na água tirou o que restava das roupas da raposa e lavou-lhe as feridas. Estava sério, concentrado. Depois que todos os cortes no corpo de Kurama foram limpos e tratados, Hiei levou uma mão ao bolso da calça e a outra ao peito de Kurama. Esta desembaraçou dos fios ruivos o cordão de couro partido e aquela trouxe a lágrima-pérola negra, suja de sangue, para dentro da água, limpando-a. Com cuidado, prendeu a jóia limpa de volta no cordão que, como encurtara, tornou-se gargantilha. Aproximou a boca da de Kurama e mais que baixinho, mais que um sussurro, apenas o ar passando por entre seus lábios num "eu te amo" mudo seguido de um beijo levíssimo, um toque de pele com pele.

Hiei virou-se e tirou as calças mergulhando no lago em seguida. Seu peito não doía mais, seu coração não estava mais apertado, seus pensamentos não estavam mais confusos. Passou muito tempo mergulhando, esquecendo, lembrando. Conforme escurecia sentia a água esquentar aos poucos. Gostoso. Seus músculos relaxaram e seu corpo amolecia aos poucos. De minuto em minuto vinha à tona para olhar a raposa, que permanecia deitada. Numa dessas, após sacudir o cabelo, não o vira mais. Sua respiração parou, seus olhos vidraram no local onde deveria estar Kurama. Foi quando sentiu algo circundando seu peito embaixo d’água. Quando viu, Kurama aparecia abraçando-o. Primeiro a cabeleira ruiva e brilhante, depois seu rosto encoberto por mechas ruivas grudadas em sua pele que pingavam sedutoramente, então, seu tórax também adornado com os fios ruivos e com a jóia negra. Pingando até a cintura, Kurama mais parecia um deus de beleza física e sedução imponente que estava lá para ser adorado ante seu humilde seguidor. Uma mão ergueu-se, um abraço fechou-se, lábios se uniram. Um corpo encontra no outro respostas para suas vontades. Kurama ergueu o rosto. Uma dúvida restara:

- Te amo. Não quero que pense que é meu brinquedo...

- Somos os dois.- Hiei escondia o rosto na curva entre o pescoço e o ombro do kitsune, que sorriu.

- Entendi...brinquedos do...

- Amor...- antes de Kurama, Hiei terminou a sentença. A conclusão.

Fim

Essa fic é dedicada a Oraide de Paula Adurens.



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