Capítulo 14 - Cicatrizes
do Passado
- Muito bom dia, Kanashiro-Sama.
- Olá, Hiren. Está um dia muito bonito e como Kurama-Sama disse, bem quente.
- Sim. Depois do café eu vou prepará-lo para tomar o banho de piscina que ele tanto quer.
- Ótimo. A propósito, onde está ele?
- No quarto, penteando os cabelos. Eu gosto de deixá-lo um pouco sozinho de vez em quando...
- HIREEENN!!!! – a voz de Kurama o interrompeu.
- Hum... acho que o tempo acabou. Eu vou lá.
Hiren foi até o quarto.
- Vamos tomar café?
- Claro! Eu estou pronto.
- E depois do café, nós vamos pra piscina.
- Isso.
* * *
- Bom, o senhor está pronto. Ponha o robe...
- Tá.... agora só falta você se preparar.
- Eu vou colocar o meu calção agora.
- Faça isso.
Hiren se despiu com agilidade e vestiu o calção.
- Está pronto?
- Só falta enfaixar os braços.
- Eu te ajudo. Sente-se aqui e eu amarro isso.
Hiren sentou-se na cama deixando que Kurama enrolasse as faixas pelos braços.
- Tá muito apertado?
- Não... tá bom.
- Sabe? Eu fazia isso com Hiei também. Ele escondia a tatuagem do dragão negro com elas.
- Hum...
- E foram essas mesmas faixas que também me chamaram atenção quando te vi.
- Eu sei.
- Mas eu não imaginava o que você escondia por detrás daquelas faixa.
- Eu escondia a minha dor.
- Hiren, eu lamento tanto que isso tenha acontecido com você.
- Isso passou. Agora só há cicatrizes.
- Terminei com esse braço. Me dê o outro.
Hiren estendeu o outro braço para que Kurama pudesse enfaixá-lo.
- Aquele maldito!! – Kurama cortou a faixa com uma tesoura – como alguém...
- Pare, Kurama-Sama. Isso não leva a nada.
- Você tem razão. – Kurama segurou o braço de Hiren e, inclinando-se, beijou aquelas cicatrizes.
- Não faça isso. – Hiren corou – por favor...
- Eu te amo... – Kurama beijava o braço do seu querido e acariciava aquelas marcas.
- Eu... também... – Hiren sorriu timidamente enquanto deixava Kurama acabar de enfaixar seu braço.
Kurama terminou de enfaixar os braços de Hiren e falou:
- Bom, agora não falta mais nada. Vamos nadar um pouco?
- Claro. – Hiren sorriu e empurrou a cadeira de rodas de Kurama até a piscina.
Kanashiro já estava de fora da casa, lendo, quando Hiren e Kurama surgiram.
- O dia está ótimo! – Kurama comentou, entusiasmado.
Hiren ajudou a raposa a pular na piscina e o segurou firmemente.
- A água está muito gostosa. – Kurama afundou a cabeça por alguns segundos.
Kanashiro observava a cena com um sorriso nos lábios. Pelo menos até perceber as faixas nos braços de Hiren.
"Por que ele está usando isso nos braços? Será que esse cara é doido?"- Hitsuke se descobriu intrigado com aquilo. – "o pior é que não ia adiantar nada perguntar a Hiren porque não haveria resposta satisfatória."
- Eu vou tentar de outra forma... – Hitsuke falou aquilo para si mesmo com uma promessa – Eu vou descobrir isso custe o que custar!
Mais tarde assim que teve oportunidade de estar a sós com Kurama, Kanashiro disparou a pergunta:
- Afinal, o que o Hiren tem nos braços?
- A sua curiosidade vai lhe causar problemas um dia...
- Kurama-Sama, eu sou um escritor, a curiosidade faz parte da minha natureza. Eu gostaria muito de saber o que aconteceu com os braços de Hiren. O senhor pode me contar?
- Hum... tudo bem. Hiren trás algumas cicatrizes nos dois braços. Ele as escondeu porque tem vergonha delas, isso, desde que era uma criança.
- Eu já esperava por uma coisa assim... Como ele conseguiu essas cicatrizes?
- Bom, antes de me conhecer, Hiren foi escravo.
- Tá. Mas pelos meus cálculos, a escravidão humana acabou quando ele tinha uns oito ou nove anos.
- Exato. Mas nem por isso esse tipo de relação acabou de uma vez. Justamente por ser uma criança, Hiren teve que ficar sob a tutela de seu antigo amo, que o tratou da mesma forma do que antes da lei.
- Bom, isso eu entendi. Por favor, continue a contar.
- O dono de Hiren era um youkai muito cruel, ex-traficante de escravos... ele punia as faltas de Hiren queimando seus braços com ferro em brasa.
- Que coisa horrorosa!!!! Eu não imaginava que Hiren tivesse passado por coisas assim!
- Passou por coisas piores... e se ele não tivesse me conhecido provavelmente seria o marido de um youkai poderoso do Makai e sofreria maltratos pelo resto da vida. Como tantos outros por aí...
- Que história tenebrosa!!! Mas o senhor tem toda razão. Eu também acho que o dono de Hiren o venderia para algum youkai.
- Ah, mas ele criou Hiren só por isso. E até que ele conseguiu porque eu o comprei.
- 0 senhor o comprou?
- Eu paguei uma espécie de dote para que o desgraçado não procurasse mais Hiren. Eu o mataria se Hiren não tivesse impedido.
- Hiren não quis que o senhor matasse o cara que fez ele sofrer tanto?
- Ah... Hiren é um anjo! Ele não guarda nenhum ressentimento.
- Pobrezinho... RÊ! RÊ! RÊ! Quem vê aquele velhinho tão simpático e solícito nem pensa que ele tenha sofrido tanto.
- É...
- Kurama-Sama, eu tenho outra pergunta.
- Eu já esperava... pergunte, vai.
- Por que o senhor não se casou com Hiren?
- Por vários motivos. O principal deles é que eu queria preservar Hiren, protegê-lo. Ser marido do imperador com apenas quinze anos não teria feito muito bem a ele. Hiren não precisava dessa responsabilidade, ele tinha perdido muito tempo, precisava estudar, brincar, se divertir... Ser feliz! Eu optei em transformá-lo em meu filho e cercá-lo com uma proteção de pai. E hoje, eu estou certo de que foi a melhor decisão. Hiren cresceu feliz e nunca demonstrou interesse algum pela política. Ele preferia estudar, tocar, desenhar, cozinhar.... essas coisas.
- E se o senhor tivesse conhecido Hiren já adulto?
- Aí, não tenha dúvidas, eu o tornaria meu marido e o segundo imperador dos três mundos. E ele só não foi imperador quando se tornou adulto porque não quis.
- Tudo isso e ainda escrevem livros e livros dizendo que Hiren é um interesseiro.
- Eu conheço essas obras. Algumas sugerem até que eu era manipulado por Hiren... pura bobagem!
- Esse tipo de livro abatia Hiren?
- No começo, abatia um pouco. O primeiro livro com essa teoria saiu quando ele tinha 19 anos e ele ficou bem triste. Mas depois ele passou a ignorar essas coisas completamente. É isso. Mais alguma pergunta?
- Acho que por enquanto é só isso. Mesmo porque Hiren tá vindo aí.
- Hiren-San! Venha aqui me fazer companhia. Você anda me trocando pela cozinha...
- Ora, o que é isso? Claro que não estou te trocando por nada, seu bobo!
- Então, sente-se aí no sofá e descanse um pouco.
- Tá... – Hiren sentou-se e sorriu – do que estavam falando?
- De você... – Kurama respondeu.
- De mim?
- Exatamente. – Kanashiro confirmou – eu estava aborrecendo Kurama-Sama com minhas perguntas.
- Você não aborrece, rapaz.
- Hiren, eu tenho um pedido pra você.
- Pra mim? O que é?
- Eu gostaria de gravar depoimentos seus também.
- Meus depoimentos?
- Sim. quando Kurama-Sama chegar na parte em que lhe conhece, eu quero gravar os depoimentos dos dois. Isso, se concordarem em fazer isso, lógico.
- Por mim, tudo bem. – Kurama se adiantou – se Hiren quiser.
- Está certo. Se o senhor acha necessário, eu darei esses depoimentos com muito prazer.
- Obrigado, Hiren. E agora, se me derem licença, eu vou me recolher um pouco, vou trabalhar no meu quarto.
- Até mais tarde, Kanashiro-Sama.
Hitsuke foi para o seu quarto e Hiren confessou a Kurama assim que se viu a sós com ele.
- O que eu vou ter que falar?
- Sobre você, Hiren. Sua vida... eu acho muito bom que Kanashiro desenvolva esse tipo de trabalho. Assim, as pessoas vão poder conhecê-lo como você é realmente.
- Não me sinto muito a vontade com a idéia de contar a minha vida. Isso poderia prejudicar Van-Sama, eu soube pelo jornal que ele ainda está vivo.
- Van não é mais nada hoje em dia. E eu pouco me importo que esse livro possa prejudicá-lo. Você só falará a verdade, Hiren.
- Mas eu não quero fazer nada contra ele. Tudo isso já passou a tanto tempo!! Já é um caso encerrado.
- Hiren... não pode esquecer uma coisa tão séria... por favor, faça os depoimentos e não deixe de contar nada.
- Eu vou pensar bem nisso, tá bom?
- Claro! Ninguém vai te forçar se não quiser falar algumas coisas, Hiren. mas, você sabe que se dependesse de mim, esse youkai já estaria morto.
- Kurama-Sama, ele me criou durante quatorze anos, eu devo muito a ele, assim como devo ao senhor.
- Eu não entendo essa sua forma de pensar. Aquele youkai só te criou pra te vender para quem pagasse mais. Ele não se interessava com a sua felicidade.
- Pode até ser, mas se não fosse por ele, eu não seria seu agora.
- Hiren, como você é teimoso! Van não te deu o que você merecia e não há perdão para isso. Eu não tenho pena alguma desse cara e vou odiá-lo pelo resto dos meus dias. Por você e por mim.
Hiren sorriu e fez a sugestão:
- Vamos mudar de assunto?
- Se você quer...
- Não faça essa cara pra mim, Kurama-Sama!
- Não estou fazendo cara nenhuma.
- O que Kanashiro-Sama perguntou sobre mim?
- Ele queria saber o que você tinha nos braços. Eu expliquei a história pra ele.
- Ah... e o quê mais?
- Ele também me perguntou o motivo de não Ter me casado com você. Foi bem difícil explicar isso a ele.... mas acho que entendeu.
- Tá...
- Hiren?
- Hñ?
- Você gostaria de ter sido meu marido?
- Sim, naturalmente.
- Você preferiria ser meu marido?
- Não. Sou muito feliz assim. Além disso, é só um título... eu também sou seu marido, ne?
- E um ótimo marido...
Kurama sorriu e tomou as mãos de Hiren entre as suas:
- Imagine você, um noivinho aos quinze anos.
- Seria um escândalo.
- Não tenha dúvidas... um imperador como eu levando uma criança para cama....
Os dois riram sozinhos...
Continua...