O Amor Nunca Se Esquece
Hakura Kusanagi

Capítulo 7

Como em todos os dias, eles voltaram para pegá-lo, trazendo suas correntes para levá-lo a uma caçada.

Kurama já estava preparado – deitado sobre o colchão, esperava com as mãos erguidas para o depósito das algemas em seus braços.

Mas hoje ia ser diferente: a caçada seria feita em outro lugar, e com outra pessoa.

“Já está preparado, Kurama Youko?”

“Sim, meus senhores.”

Yusuke se aproximou do pescoço de Kurama e apertou um pequeno botão em sua Coleira de Contenção, exatamente aquele que fazia sua forma se modificar. Já acostumado com a rotina, Kurama começou imediatamente a se transformar: suas pernas foram mudando, adaptando-se a formas pequenas e peludas, os braços se tornaram as patas da frente, e o corpo foi adquirindo pêlos, rabo e orelhas felpudas.

Pronto.

Uma raposa. Assim ele estava agora: transformado em uma bela raposa das trevas, o youko assumira novamente sua forma animal, com longas e pontudas orelhas, cauda de pêlos prateados tão brilhantes quanto o dourado em seus olhinhos alongados.

Ela ficou sentada sobre o colchão, repousando a cabeça sobre as patas, a cauda sacudindo levemente,aguardando o momento em que seria levada para fora de sua cela.

Kuwabara se aproximou com a corrente, e a prendeu na coleira, deixando as patas ainda com as algemas, e um singelo guizo preso a uma delas também. Logo em seguida, deu duas puxadas na corrente, fazendo a raposa levantar-se e caminhar ao seu lado, seguindo os passos dos dois.

“Isto mesmo, boa raposinha... Siga-nos.” – falou Kuwabara.

“É! Nosso amo e senhor, Nazago-Sama, pretende caçar!”

A raposa uivou em tom baixo e servil, prosseguindo o caminho até o salão principal do castelo de Nazago-Sama, onde esperavam diversos assistentes e integrantes do seu grupo de caça. Yusuke e Kuwabara o levaram até seu senhor, o qual já estava aguardando-os, sentado em seu trono. A raposa foi posta à sua frente.

“Aqui está, mestre... Como o senhor ordenou.”

“Muito bem, Yusuke e Kuwabara. Mas agora deixem-me ver esta peça rara de apreciação... minha bela raposa prateada. Venha cá, Kurama.”

Nazago chamou-a com os dedos, e o kiitsune, muito calmamente, obedeceu – levantou as patinhas para o colo de seu “dono” e lambeu suas mãos, enquanto ele o acariciava nas orelhas felpudas.

“Meu belo kitsune... Hoje você participará de uma caçada diferente: será um ataque em uma vila. Há rumores sobre traidores lá. Sei que você fará um bom serviço.”

“Senhor!” – chama um dos seus soldados.

“Sim, Kibei?”

“Desculpe-me perguntar, Nazago-Sama, mas... em que  essa raposa haverá de nos ajudar?”

Nazago dá um sorriso cruel.

“Em muitas coisas: ele é um ótimo ladrão, como sabem... e sabe escolher as peças mais valiosas. Além do que, tem uma ferocidade sem limites. Em batalha, poucos são os meus inimigos que conseguem escapar de suas garras e dentes afiados... Satisfeito?”

“Hã, sim, Senhor!” – concorda humildemente o soldado.

“HAHAHA!!! Não se preocupe, mestre. Vamos assaltar logo aquele lugar em pouco tempo... Hatara nos deve um bom dinheiro, e obediência: estou louco para vê-lo implorar para que não o matemos!” – Diz Yusuke, excitado com a promessa de uma boa briga.

“Isto mesmo, Senhor Nazago: queremos ver todos seus inimigos dilacerados!” – conclui Kuwabara.

“E este Youko é ótimo em matar!” – Yusuke termina, parabenizando o mestre em querer usar Kurama no ataque.

Estas palavras fizeram os caninos da raposa saltarem, num rosnado baixo e feroz, sua cauda balançando loucamente. Tinha uma enorme sede de sangue e  morte – fora treinada para isto: matar e destruir, estraçalhar inimigos eram coisas agora bastante comuns e igualmente excitantes para o instinto daquele kitsune.

Nazago sorriu com a reação do animal, e, levantando-se, conduziu-o pela corrente para fora do salão, até sairem do castelo, passando pelos jardins que tanto encatavam a forma humana do seu mais feroz assassino. Caminharam até o campo onde estavam suas montarias, preparadas, cada uma fortemente segura por um soldado, os quais aguardavam seus cavaleiros.

Os demais integrantes daquela “caçada” montaram, enquanto Nazago voltava sua fala a todos, dando-lhes as últimas ordens.

“Escutem, soldados: fiquem aqui protegendo o castelo e avisem aos servos de que nos esperem com um maravilhoso banquete, para que possamos comemorar o sucesso de nossa empreitada! Teremos muito o que comemorar ao voltarmos, podem estar certos!”- voltando-se a Yusuke e a Kuwabara, deu-lhes uma última instrução: -“Quanto a vocês, Yusuke e Kuwabara, antes de virem conosco, ordenem às gêmeas para arrumarem tudo para receberem Kurama mais tarde... e prepará-lo para mim.”

“As gêmeas Sayaka e Sayara, Senhor? Mas... elas não estão mudas?” – perguntou o grandalhão do Kuwabara.

“Claro que estão: eu mesmo lhes tirei a língua para não voltarem a interferirem na “educação”de meu escravo – ele não precisava de ninguém tentando fazê-lo... relembrar coisas que devem continuar esquecidas.” – Nazago concluiu, com um sorriso cruel nos lábios. Mas tornou ao guarda: -“Basta apenas que lhes diga o que quero que façam, e elas o farão, pode ter certeza. É a mim a quem elas devem o fato de ainda estarem vivas. Agora, vão – e retornem sem demora.” – e terminou, aumentando o tom de voz: -“Vamos à caça!!”

“Sim, Senhor!”

“Não se preocupe, Nazago-Sama!”

O Kairui saiu em disparada, então, acompanhado dos demais soldados e aliados e seu animal de estimação já sem suas correntes, para a caçada.

O Grupo de Nazago se dirigiu para a região em que ficava o alvo do ataque, num local cercado de pequenos bosques e montanhas: um  vilarejo pequeno, onde seus habitantes eram donos das mais ricas jóias e objetos valiosos. Um específico youkai morava lá também...

Um koorime de cabelos negros e espetados, com uma marca de estrela branca por entre os fios, que tinha e olhos vermelhos da cor do sangue – possuidor de um jagan e detentor do invencível Kokuryuha, o Dragão Negro.

Finalmente então, Nazago e seus companheiros tinham chegado no seu alvo. Eles estavam parados numa clareira, preparando-se para atacar, enquanto Nazago organizava um plano de invasão.

“Vocês já sabem como vamos atacar, agora, não é mesmo?”

“Claro, Senhor! Entendemos tudo!” – responderam em coro, todos.

“Ótimo!” –respondeu ele. Virou-se então para a raposa ao lado dele, e disse: -“Raposa, prepare-se: hoje vai ser sua melhor caçada... Traga o que eu quero – MATE se for preciso mas traga o ‘tesouro’ de  Hatara... mesmo que seja sua cabeça, entendeu??”

A raposa prateada se ergueu, e lambeu a mão de seu mestre como se assim quisesse dizer que não o decepcionaria.

Seu amo fez um gesto e a raposa saltou para a floresta, rápida e certeira, desaparecendo da vista de todos.

“Agora, senhores... VAMOS AO ATAQUEEE!!!”

“SIM!!!!”

Invadiram então ferozmente a cidade, destruindo a tudo e matando a todos, sem demonstrar piedade com nada – nem com ninguém.

Roubaram o que sobrou do lugar inteiro, deixando atrás de si apenas um rastro de matança, sangue e violência.

Enquanto isso, Kurama assaltava a casa de Hatara, aproveitando a loucura na vila, vinda do ataque de Nazago e seu grupo, atrás de seu ‘tesouro’ para poder levá-lo para seu amo. Tarefa cumprida – uma pena que não pudera esmagar a jugular de Hatara, porém, já que estava com os objetos, a Raposa saiu do local o mais rápido que suas patas e agilidade animal lhe permitiam.

Desse modo, Kurama estava trazendo algusn dos objetos enquanto se dirigia ao lugar marcado para o reencontro do grupo, mas até que na sua última viagem trazendo o restante dos objetos roubados, ele se encontrou com um koorime na floresta.

*************

Hiei não se preocupava muito com o que estava acontecendo com a aldeia.

Ele acabara ficando naquela região – após cinco anos da mais absoluta peregrinação pelo Makai, uma vez que se recusava a parar em um lugar – somente por que não tinha mais motivos para voltar para o Ningenkai: seu amor não estava mais lá – na realidade, ele jamais existira. O Makai era, sempre fora  e sempre seria, seu lar.

O Mundo Demoníaco e todas as raças existentes de Youkais eram o estímulo que ele precisara para continuar vivendo – e lutando – após perder Kurama: há muito, esquecera o que era ter um coração, e um motivo para continuar vivendo... Virara um Kamikaze, um assassino frio, implacável e arrogante, sempre disposto a enfrentar todo e qualquer um que lhe passasse pela frente; não resistia aos desafios, e à constante euforia que sentia ao driblar a morte, a cada vez que lutava fosse contra um reles youkai ou seu bando, ou mesmo participando nas Batalhas das Fronteiras entre os Reinos.

Sim...

O Makai, era, acima de tudo, seu lar.

Só ali, era capaz de lutar durante horas e dias a fio contra inimigos – e assim, conseguir ter paz para dormir à noite e não ser mais atormentado por pesadelos.

Agora, passados cinco anos, já conseguira tudo o que queria: era reconhecido como um dos mais fortes demônios do Makai; tinha poder – o suficiente para acabar com qualquer um que quisesse desafia-lo; trabalhava como mercenário quando queria... e vivia para esquecer Kurama.

Foi quando sentira, pelas emanações sentidas pelo Jagan, o que estava acontecendo na aldeia.

E tambem foi quando, em meio às emanações vindas do que estava acontecendo lá, que ele reconheceu um you-ki.... E assustou-se com a onda de fúria que lhe percorreu o corpo.

Sim! Era mesmo ele!!... Aquele Kairui desgraçado estava próximo – próximo demais, para que pudesse deixar passar em branco aquela chance enviada pelos deuses de livrar o Makai de sua presença imunda.

O you-ki de Nazago era de chamar a atenção, e o fez procurar ir aonde aquele demônio desgraçado estava.

De repente, notou que alguma coisa se aproximava dele por dentro da floresta: ruídos estranhos vinham de cima das árvores.

****************

A raposa avistara em meio às copas das árvores um brilho esfuziante de metal: um espada bem trabalhada na bainha da calça de um pequeno – ok: não tão pequeno assim: era maior que ele!! – youkai, todo vestido de negro.

Seus olhos dourados, alongados, brilharam de interesse.

Sua boca já tinha algumas jóias, mas as mesmas logo foram esquecidas momentaneamente por aquele objeto: uma katana daquelas certamente haveria de contentar seu amo mais até mesmo que aquelas pedras e colares brilhantes!!

O kitsune saltou suavemente do galho em que estava, mas agilmente, sem chamar atenção: seus instintos de ladrão comandavam-lhe os atos, agora, e a última coisa que queria era chamar a atenção daquele Youkai que estava parado um pouco mais a frente, como se a observar alguma coisa... ou mesmo à espera de alguém.

Agora, toda a cautela era necessária, enquanto a raposa media o espaço que havia entre ela e sua mais nova “vítima”. Não poderia errar: algo lhe dizia que, para ser portador de tão bela arma, aquele youkai devia ter feito juz à ela, e provavelmente não lhe daria uma nova chance para roubá-la dele.

Um salto rápido – e tão veloz quanto um raio – juntamente com uma bocada no cabo da katana, entrelaçando seus dentes no metal, seguida por uma fuga em disparada com ela pela floresta.

Foi o que bastou para que se tornasse o novo dono daquela maravilha.

***************

Hiei se assustou – Pelos infernos! Fui pêgo de surpresa!! – e não teve tempo para reagir, a não ser gritar furiosamente com a audácia daquela... Raposa??

“Uma... Raposa das trevas? Então... foi por isso que não senti nenhum ki se aproximando!”

“NANI?!? MALDITO ANIMAL!! Devolva minha espada, raposa imbecil!! Volte aqui!!! – ele gritou, furioso, impotente frente ao inusitado da situação.

“Que diabos!! Como esta raposa das trevas veio aparecer aqui? Provavelmente é um dos animais de caça daquele maldito Kairui... Mas o que ela quer roubando minha katana?? Hunf...É mesmo um animal estúpido se pensa que conseguiu fugir de mim: vou mostrar quem é o mais rápido aqui.”

Hiei corre atrás da raposa, embrenhando-se pelo topo das árvores, decidido a pegar aquele projeto de ladrão e fazê-lo virar torresmo pela ousadia.

Mas logo vê que não seria tão fácil como estava pensando.

“Até que essa raposa é realmente esperta e rápida: utilizou o caminho mais difícil... mas eu vou pegá-la e retomar minha katana... Vai morrer, animal infeliz!”

Hiei aumentou a velocidade até vê-la, correndo, rápida, entre uma vegetação rasteira em direção a uma parte mais escura da floresta: o koorime decidiu resolver logo aquela situação, pois se ela conseguisse entrar no embranhado da floresta, seria muito mais dificíl encontrar aquela criatura outra vez.

Um disparo de chamas negras a faz largar a espada e  cair no chão.

Sem ter sido acertada, porém. Ela conseguiu se esquivar no último segundo.

“Incrível! Ela não foi acertada pelo meu golpe... Como pode?”- Hiei pensa, enquanto se abaixa... e retoma a posse da espada caída.

“O que pensa que está fazendo, animal maldito?”

A raposa grunhe para Hiei e fazendo valer seus instintos assassinos, subitamente avança sobre o koorime, disposta a estraçalhar o inimigo, e enterra os caninos no youkai.

“Está me atacando! IDIOTA!! Ela quer pegar minha katana de qualquer jeito!”

“LARGUE-ME!! SOLTE-ME, RAPOSA MALDITA... KISAMA!!!!!!!!”

Ele puxa a espada, procurando um meio de se livrar da súbita onda de dor que explode no braço – nunca antes realmente enfrentara uma raposa das trevas, e pressentia que aquela iria lhe dar trabalho.

“Como é forte!! E persistente!!”

“LARGUE-ME!!”- “Isso já está me dando raiva!” – “Está pedindo por isso... CHAMAS NEGRAS MORTAIS!!”

Apesar da potência do golpe, e de estar perto demais para que Hiei pudesse vir a errar o disparo, a raposa consegue se desviar, largando-lhe, dessa maneira maneira, o braço – a pingar sangue pelo ferimento.

“Ela desviou de novo do meu ataque... que saco!! Mas pelo menos largou meu braço... ah, e agora começa a correr em círculos, tentando me atacar de surpresa... Hunf!” – um sorriso raro de superioridade, só conhecido pelos inimigos mais ferrenhos, insinua-se nos lábios de Hiei –“Ela que pense que sou idiota – não caio nesta de jeito nenhum!!”

“Bela raposa, acha que este seu ataque vai resultar em algo? Hunf! Você não sabe com quem está lutando!!”

Mas o kitsune se apoia em uma árvore, pega impulso, e salta em sua direção, derrubando-o com seu peso e atacando Hiei com seus dentes e garras afiadíssimas.

“Eu não estou acreditando em como ela é forte e ágil: consegue acompanhar meus movimentos e desviar dos meus ataques com a espada! Nani?” – pensa o Koorime, enquanto luta e fica de pé. De repente, ela salta sobre o fio da espada e... : -“MERDA!! Ela acertou MEU ROSTO!!”

“DESGRAÇADA!!”- grita Hiei, agora sim, enfurecido: -“VAI ME PAGAR!! Pensa que estou brincando?... O quê?” – a Raposa fica em pose de ataque na frente de Hiei, e mostra seus caninos, num gesto acintoso, como se... estivesse rindo da cara do youkai –“VAI RIR DA MÃE!! VOU TE MOSTRAR QUEM VAI RIR POR ÚLTIMO AQUI, SUA...!!”

Valendo-se de sua super velocidade, Hiei a ataca com um golpe rápido e fulminante, que ela não consegue desviar... e nem ver. O koorime  atacara com precisão mortal: exatamente na hora em que a raposa pulava – patas traseiras e barriga foram pegas de jeito pelo fio da espada.

O belo animal cai pesadamente no chão a alguns metros dele.

“Ela caiu!! Acho que agora a peguei de jeito!!”

“HAHAHAAHAH!!! E agora, raposa maldita? Vai rir?? Te peguei, raposa: agora, vou fazer picadinho de você!!” – a gargalhada cínica e vitoriosa de Hiei ecoou na clareira.

A raposa ficou deitada, tentando inutilmente levantar o corpo machucado.

“Nesta posição eu posso visualizá-la melhor... Ela é realmente enorme!” – o youkai pensou, enquanto lutava para normalizar a respiração, e segurava o braço ferido, analizando o porte do animal – uma das raras espécies do Makai na qual nunca antes havia posto os olhos em cima : -“Bem comprida, com pêlos prateados muito brilhantes... quatro caudas que estão se sacudindo feito loucas contra o chão... uma coleira cheia de ferros saltando, no pescoço, e algemas nas patas, além de um instinto assassino muito forte – deve ser como pensei, no início: um dos animais de caça daquele Kairui nojento... Ela realmente é linda; maravilhosa – pena que vou ter que matá-la.”

Assim pensando, e com  a espada em punho, Hiei se aproximou do kitsune.

Ela tremia violentamente, sentindo a dor dos ferimentos nas patas e da barriga... mas mesmo assim, seus olhos arredios e ferozes não perdiam o brilho da fúria.

“Nazago deve tê-la treinado muito bem...” – Hiei pensou, sentindo-se quase na obrigação de reconhecer... e respeitar o espírito combativo daquele animal tão maravilhoso.

O fio da katana toca na pele da raposa: seus pêlos se arrepiam, e ela o arreganha os caninos, rugindo com ódio para o koorime – mas logo ganiu de dor.

“E agora, quem está no comando, animal estúpido?”

E Hiei aproxima ainda mais a katana de sua carne.

“Ela é arrogante, mas está sofrendo. Eu quero matá-la, mas algo me impede: não estou conseguindo acabar com a vida de um reles animal !! O que está acontecendo comigo? Estou com pena?!? Será?”

“Esta kitsune parece me lembrar alguém...”

Minha mão gela e eu abaixo a espada, curvando meu corpo para baixo, aproximando-me do dela... Ela uiva em tom doloroso, tremendo todo o corpo.

Encaminho minha outra mão até sua cabeça, tentando ver o que tinha nos seus olhos que me atraíam tanto.

Mas o gesto de Hiei é interrompido, quando o kitsune ouve um chamado de seu dono: o animal ergue a cabeça subitamente, como se numa tentativa de se orientar de onde vinha o som, sacode as orelhas, e, num relance, morde a mão de Hiei, arrancando rapidamente a espada de seu punho.
A ação foi tão rápida, que o koorime não teve tempo de reagir, e quando se deu conta, a raposa das trevas tinha desaparecido pela floresta, levando, na boca, sua katana.

E deixando cair uma das algemas pelo caminho.

“Sua RAPOSA FILHA DA PUTA!!! Me enganou, mordeu minha mão e levou minha espada!! Mas eu vou pegá-la, e vou acabar com você... KISAMAAAAAA!!!!!!”
 

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“Onde ela está?”

“Não sei, senhor... Espere! Lá vem ela!!”

“Mas... está se arrastando: parece ferida, Nazago-Sama!”

Sem dar mais ouvidos aos soldados que o acompanhavam, Nazago desce rapidamente da montaria e corre em direção à raposa que acabava de chegar: suas patas não tinham mais forças para andar e seu corpo prateado sangrava muito... de repente, caiu, sem ter mais equilíbrio para se manter sobre as patas.

Seu corpo esticou-se então na grama, as caudas balançando fracamente, as orelhas caídas... mas ainda segurava a katana que conseguira roubar na boca.. Ficou ali, largada, esperando a aproximação de seu amo que, desesperado se abaixou e retirou a espada de sua boca, recebendo em troca algumas lambidas de carinho antes que a cabeça da kitsune caísse em seu colo, desmaiada.

“Youko!! O que aconteceu?! Estes ferimentos... quem os fez? Foi o dono desta espada?”- Como respostas às perguntas que tomavam conta de sua mente, Nazago notou, com um relance, o aspecto da arma que agora segurava na mão esquerda. Levando-a à altura dos olhos, o Kairui demorou mais alguns segundos observando-a ... sentindo a emanação de you-ki que provinha da mesma... e logo identificou seu dono.

“Hiei.”

O ki do kairui elevou-se perigosamente ao seu redor, impedindo os demais de se aproximarem, tamanho o ódio que sentiu.

“Aquele koorime desgraçado vai me pagar!!”- jurou, decidido. Porém, ao abaixar novamente a vista para o corpo desfalecido da raposa no seu colo, um sorriso sádico tomou conta de seus lábios, ao imaginar a ironia extrema do destino, no que devia ter acontecido: -“... Mas aposto que você, meu querido youko, deve ter lhe dado uma boa marca em troca! HAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAH”

Ele se levantou, carregando nos braços a raposa, e dirigiu-se para sua montaria, enquanto dizia a todos:

“Vamos embora!! Nosso trabalho aqui já terminou: em meu castelo nos espera uma grande festa!”

Os sons de aprovação e gritaria dos soldados e aliados do grupo de ataque foram ensucerdedores.

Indiferente, Nazago colocou o corpo do kitsune em sua montaria, e voltou-se em direção do seu território.
 

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“E então? Cuidaram dele, como mandei?” – a voz gélida e profunda de Nazago invadiu o lugar.

“Sim, meu Senhor! Ele já está bem melhor!!” – disse, rápido, um dos monges que tinham cuidado do escravo do seu mestre.

“O colocamos no quarto especial, como o senhor nos ordenou. Ele está dormindo, agora... Os ferimentos não foram tão grandes assim, na sua forma humana.”

“Muito bom.” – recebendo então do Kairui um gesto de dispensa, os monges trataram de sair do local.

Satisfeito com as notícias, Nazago aproximou-se então da sacada.

“Yusuke?” – chamou o guarda que estava atrás de si, nas sombras. –“Fale com um dos nossos espiões: ele deverá enviar um convite meu para Hiei.” – notou a reação intrigada do rapaz, mas continou, indiferente: -“Quero que ele venha esta noite aqui: precisa comparecer na festa.”

“Sim, senhor Nazago: não se preocupe; escolherei o melhor.”

“E eu, meu senhor? O que farei?” – perguntou Kuwabara, deixando as sombras.

“Você estará encarregado de montar guarda à Kurama, e impedir qualquer um de se aproximar dele pelo resto do dia: não admitirei que ele seja pertubado em seu descanso. Convoque as servas gêmeas para acordarem-no à noite, e arrumá-lo para a comemoração.”

“Assim será feito, Nazago-Sama.”

Inclinando-se em respeito ao seu senhor, ambos saíram então de sua presença.

Uma vez sozinho, Nazago voltou os olhos azuis na direção para onde se dera o ataque pela manhã.

“MALDITO! Se for você mesmo, irá me pagar pelo que fez ao meu amante!” – jurou.

**********************

“Droga, eu não acredito que fui convidado por aquele canalha!! E a tal festa deve ser para comemorar a destruição da aldeia de Hatara, hoje... É bem do jeito daquele Kairui agir: convidar para uma festa um sujeito que irá ser morto nela!! Aquela mente maligna e traicoeira só sabe agir assim!

“Estou com um péssimo pressentimento sobre isto: ver Kurama novamente - mesmo depois de três anos... não vai ser agradável.

“Mas resolvi ir: quero encontrar aquele maldito animal e pegar minha katana de volta – e nada tira a minha certeza de que ele é um dos animais daquele louco. Só de pensar que minha espada está na posse de Nazago a esta altura, é suficiente para me fazer querer lançar um Kokuryuha naquele castelo inteiro... e matar a todos que estiverem dentro dele.

“Outro motivo é saber como um kitsune daqueles arrumou uma jóia tão bonita.”

Aqui o koorime, que estava no alto de uma árvore, abre um dos punhos que mantivera fechado, ao pensar no Kairui: dentro dele, apareceu uma pulseira na forma de guizo – a mesma a que ele julgara, a poucas horas atrás, tratar-se de uma algema, e que havia caído de uma das patas dianteiras da raposa das trevas que o atacara, no momento em que esta, ao ouvir o chamado do seu “Dono”, fugira... levando sua katana.

“Deve ser objeto de roubo, mas... estou com um pressentimento estranho, em relação a ela – e a quem poderia ter sido seu dono, também.
 
A mente e o coração de Hiei estavam em conflito, apesar de sua postura rígida nada revelar, a olhos que não o observassem atentamente: só o fato de tornar a rever seu ex-amante, depois do que acontecera entre eles na última vez em que decidira jogar tudo para o alto, e ir até o castelo de Nazago numa tentativa ridícula, idiota e imbecil – mas que havia lhe custado a alma – de “salvar” o amante de sua “prisão”, o koorime sentia-se como se um torno lhe apertasse o peito... Depois daquilo, jurara para si mesmo nunca mais tocar no nome de Kurama: haveria de esquecê-lo...não importasse o tempo – ou os séculos que levasse.

E fôra aquele juramento que o fizera continuar levando sua vida durante os últimos anos.

Ainda assim, a angústia dentro dele persisitia – cruel, rotineira... e dolorosamente presente.

“Pois bem, Nazago: não sei dizer o que anda se passando em sua mente, e muito menos o que está por trás desse maldito convite... mas não irei recusá-lo; ao contrário: vou usar você e seu convite para poder descobrir essas coisas estranhas...” – terminando o pensamento Hiei se permite um sorrisinho de escárnio: “Veremos quem vai usar quem.”
 

Continua



Capítulo 8
O Amor nunca se Esquece
Fics de Yuyu
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

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